“Nossos comerciais, por favor!”: o polêmico Flávio Cavalcanti nos deixava há 32 anos

Publicado em 26/05/2018

Há exatos 32 anos, no dia 26 de maio de 1986, o jornalista e apresentador Flávio Cavalcanti faleceu aos 63 anos, quatro dias após passar mal durante a apresentação ao vivo de mais uma edição de seu programa semanal no SBT, que levava seu nome.

Flávio ingressou na televisão ainda em seus primórdios na década de 1950, no lugar do jornalista e colunista social Jacinto de Thormes, na TV Tupi. Depois foi fazer para o semanal Noite de Gala, exibido pela TV Rio e patrocinado por Abrahão Medina, da loja O Rei da Voz, nos anos 1960 esteve na Excelsior e depois se estabilizou na Tupi novamente.

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Seu estilo circunspecto, sério e formal contrastava com outro fenômeno de comunicação seu contemporâneo, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, personificação do espírito do tropicalismo.

Flávio, Chacrinha e Silvio Santos, três dos maiores nomes da nossa televisão, desenvolveram estilos de condução próprios para programas com auditório, jurados, atrações musicais, entrevistas e brincadeiras como muitos de seus sucessores, com variações, ainda copiam, por limitações do formato e pela aceitação comprovada desses estilos.

Marcas inesquecíveis de Flávio à frente de seu programa eram o frenético uso de seus pares de óculos, tirados e colocados constantemente, e o modo de chamar os intervalos comerciais, com o dedo em riste, que era focalizado pela câmera, com a frase: “Nossos comerciais, por favor”.

Os principais quadros do programa de Flávio Cavalcanti, que na Tupi ao longo dos anos chegaram a ser programas isolados, exibidos em dias distintos, foram A Grande Chance, em que atores, cantores, humoristas e outras figuras de talento ainda desconhecidas tinham a oportunidade de se revelarem para o grande público, e Um Instante, Maestro, focado na música brasileira e sua qualidade, ou a falta dela.

Flávio tinha atitudes polêmicas e controversas que entraram para a história da TV, como quebrar diante das câmeras discos que considerasse ruins, abominar o comunismo e rock and roll e defender abertamente a necessidade da existência da Censura.

Esse tipo de declaração e a fama de dedo-duro em tempos de ditadura lhe renderam desafetos e muitas críticas, mas na conjuntura em que apresentava seu programa rendeu também seguramente admiradores que concordavam com essa posição.

Nos anos 1970, Flávio chegou a ter seu programa suspenso por 60 dias, após apresentar uma entrevista de um homem que afirmava “emprestar” sua esposa a um amigo, porque estava impotente.

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Na mesma época, em 1971, a disputa de audiência entre Chacrinha e Flávio levou ambos a exibirem apresentações da mãe-de-santo Cacilda de Assis, que incorporava a entidade Seu Sete da Lira, e deu mostras disso em pleno palco. O caso desencadeou uma grande discussão sobre a qualidade e os limites da TV na época.

Seu Sete/Cacilda de Assis no programa de Flávio na Tupi (Reprodução/O Cruzeiro)
Seu SeteCacilda de Assis no programa de Flávio na Tupi ReproduçãoO Cruzeiro

O Programa Flávio Cavalcanti foi exibido por anos nas noites de domingo, competindo diretamente com o Fantástico, da Rede Globo. Essas circunstâncias favoreciam que em seu programa Flávio entrevistasse pessoas com histórias interessantes e/ou inusitadas, e também que se debatesse questões de interesse público naquele momento, ou que suscitassem mobilização da audiência.

Era a manifestação de um teor jornalístico-crítico-informativo que o apresentador sempre fez por onde imprimir a seu programa, com o qual se preocupava em transmitir algo para o telespectador, que ele aprendesse, que lhe acrescentasse algo. Esse espírito, aliado a um eventual sensacionalismo em torno dos entrevistados, renderam-lhe conversas históricas como as que teve com o presidente norte-americano John Kennedy e com Tenório Cavalcanti, o temido político da Baixada Fluminense.

Logotipo do programa no final dos anos 1970 na Rede Tupi Reprodução

Entre os jurados do programa de Flávio, que foi quem criou os júris de TV, ao longo dos anos estiveram: o costureiro Dener; a modelo e apresentadora Marisa Urban; a atriz Márcia de Windsor (que dava apenas nota 10 aos candidatos); o futuro líder do PL, hoje PR, Álvaro Vale; a atriz Vera Fischer; o maestro Erlon Chaves; a jornalista Marisa Raja Gabaglia; o jornalista e produtor musical Nelson Motta; a jornalista e apresentadora Sônia Abrão; a atriz Bete Mendes, que teve de deixar o júri por imposição dos militares; e o radialista José Fernandes.

No início dos anos 1980, após o fim da Rede Tupi, Flávio transferiu-se para a Rede Bandeirantes, na qual comandou o diário Boa Noite, Brasil, exibido em horário nobre, com diversos quadros de periodicidade que variava entre diária, semanal e quinzenal. Em 1983, nova mudança: passou para o recém-formado SBT, e o programa voltou a ter seu nome.

Flávio Cavalcanti em seu programa no SBT Reprodução

No dia 22 de maio, durante a apresentação do programa ao vivo diretamente dos estúdios do SBT, como fazia todas as noites de quinta, Flávio passou mal e, numa volta do intervalo, quem o público viu à frente da atração foi Wagner Montes, que disse que Flávio havia sofrido “uma pequena indisposição” e na semana seguinte estaria outra vez no comando do programa.

Não foi possível. Internado no hospital Unicor, com problemas nas coronárias, ele faleceu aos 62 anos no dia 26, após uma parada cardíaca. Com a notícia de sua morte, o SBT cancelou a programação e manteve no ar uma mensagem de luto até a hora do sepultamento do apresentador.

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