Conheça outras novelas brasileiras baseadas em clássicos da literatura estrangeira, como Orgulho e Paixão

Publicado em 20/03/2018

Nesta terça-feira, dia 20, a Rede Globo estreia sua nova novela das 18h, Orgulho e Paixão, de Marcos Bernstein, baseada não apenas em Orgulho e Preconceito (1813) como em outras obras da escritora inglesa Jane Austen (1775-1817), como Emma (1815) e Lady Susan (1805), que originaram tramas e personagens paralelos à história de amor entre Elisabeta (Nathália Dill) e Darcy (Thiago Lacerda), ambientada no interior paulista do início do século 20. A casamenteira Ema (Agatha Moreira), aqui amiga de Elisabeta, e a ardilosa Susana (Alessandra Negrini), terão tramas baseadas nas personagens desses outros romances e obras curtas de Austen. Também A Abadia de Northanger (1818), Mansfield Park (1814) e Razão e Sensibilidade (1811) serviram a Marcos Bernstein para o desenvolvimento de sua história.

Além dos vários romances e contos brasileiros já adaptados para a televisão, diversas obras internacionais serviram de base a novelas por aqui. Vamos relembrar algumas delas.

Os Miseráveis (Bandeirantes, 1967)
A emissora da família Saad já em sua estreia exibiu esta novela, escrita por Walther Negrão a partir do clássico romance do francês Victor Hugo (1802-1885), lançado em 1862 e planejado desde três décadas antes. Uma narrativa calcada na injustiça social e na miséria de boa parte da população francesa da época, Os Miseráveis tem como protagonista Jean Valjean (Leonardo Villar), que passou muitos anos preso apenas por ter roubado um pão para dar de comer à família, e sua trajetória se une à de Cosette (Maria Isabel de Lizandra), jovem de origem pobre e vítima de muitos abusos. Foi a primeira novela a ter capítulos mais longos, de 45 minutos, contra a média de meia hora vigente até então.

Orgulho e Paixão: Elisabeta e Darcy sofrem acidente de carro

O Morro dos Ventos Uivantes (Excelsior, 1967) e Vendaval (Record, 1973)
Lançado em 1847, o romance inglês O Morro dos Ventos Uivantes foi escrito por Emily Brontë (1818-1848) e já originou duas novelas na televisão brasileira. Em 1967, na TV Excelsior, Lauro César Muniz adaptou a história e inseriu elementos que a transferiam para a realidade rural do Brasil, embora com o mesmo título e ambientação do livro – a Inglaterra do fim do século 18. Heathcliff (Altair Lima) era impedido de viver seu romance com a irmã de criação Catherine (Irina Grecco), em razão de suas origens nada aristocráticas. Ela acaba se casando com o nobre Edgar (Egídio Eccio), e Heathcliff se une a Isabel (Maria Estela), irmã de Edgar. Todos são infelizes.
Em 1973 a Record recorreu ao mesmo livro para fazer Vendaval, novela escrita por Ody Fraga. A história foi atualizada e isso, mais a perda do forte título original, que aludia também ao famoso filme de William Wyler (1939) com Laurence Olivier, Merle Oberon, David Niven e Geraldine Fitzgerald, a levou uma perda de força. Alfredo (Hélio Souto) era o protagonista, impedido de ser feliz ao lado da irmã de criação Catarina (Joana Fomm).

A Cabana do Pai Tomás (Globo, 1969/70)
Em 1969, a Globo recrutou um elenco predominantemente paulista e produziu em São Paulo, para atrair e agradar o público desta praça, a novela A Cabana do Pai Tomás, baseada no romance da norte-americana Harriet Beecher Stowe (1811-1890) que se tornou fenômeno de vendagem desde sua publicação em 1852 e é considerado fundamental no contexto da Guerra Civil Americana, ou Guerra de Secessão, ocorrida na primeira metade da década de 1860 em torno da questão escravagista. Causou polêmica a escalação do ator Sérgio Cardoso (1925-1972), branco, para interpretar Pai Tomás, o escravo negro marido de Tia Cloé (Ruth de Souza) – e ele interpretava outros dois personagens: Dimitrius, um galã bastante identificável com o Rhett Butler (Clark Gable) de … E o Vento Levou (1939), filme de Victor Fleming baseado em romance de Margaret Mitchell, que se envolvia com Bárbara (Miriam Mehler); e o presidente norte-americano Abraham Lincoln. Logo no início das gravações, um incêndio na TV Globo de São Paulo provocou a transferência dos trabalhos para os estúdios do Rio de Janeiro, e pelo meio do caminho houve ainda uma mudança de horário – das 19h30 para as 19h, cobrindo a vaga deixada por A Ponte dos Suspiros (1969), de Dias Gomes, baseada em Michel Zevaco, transferida para as 22h em setembro de 1969, a fim de motivar menos problemas com a Censura. Inicialmente escrita por Hedy Maia, a novela teve também texto de Péricles Leal e do próprio Sérgio Cardoso, até que já se encaminhando para o final passou a ser escrita por Walther Negrão, que fazia assim sua estreia na Globo. Ainda no elenco as presenças de Paulo Goulart, Edney Giovenazzi, Gésio Amadeu, Isaura Bruno, Maria Luiza Castelli, Eloísa Mafalda, Turíbio Ruiz, Lola Brah e Dalmo Ferreira, entre outros.

As Pupilas do Senhor Reitor (Record, 1970/71 e SBT, 1994/95)
Lauro César Muniz chegou à Record em 1970 indicado pelo diretor Dionísio Azevedo, e escreveu uma adaptação de um conhecido romance do português Júlio Dinis (1839-1871), passado numa aldeia do Minho, em Portugal. Lançado em 1867, o livro centra sua narrativa numa “crônica da aldeia”, conforme o subtítulo da obra literária, tendo como eixo as relações dos irmãos Das Dornas, Daniel (Agnaldo Rayol/Eduardo Moscovis) e Pedro (Fúlvio Stefanini/Tuca Andrada), com as tais pupilas do Senhor Reitor, o padre Antônio (Dionísio Azevedo/Juca de Oliveira): as órfãs Margarida, a Guida (Márcia Maria), e Clara (Geórgia Gomide, substituída no terceiro mês de exibição em 1970 por Maria Estela/Luciana Braga). José das Dornas (Rogério Márcico/Elias Gleizer) enviou Daniel para a universidade, a fim de que estudasse Medicina, enquanto Pedro ficou com ele cuidando dos negócios no interior. O médico João Semana (Sérgio Mamberti/Luís Carlos Arutin), as beatas fofoqueiras Rosa (Lia de Aguiar/Miriam Mehler), Brásia (Lucy Meirelles, substituída por Célia Rodrigues/Cláudia Mello) e Zefa (Linda Gay/Ana Lúcia Torre), o órfão Manuel do Alpendre (Carlos Augusto Strazzer/Cláudio Fontana) e o usurário Pereirinha (Oscar Thiede/Rogério Márcico) são outros personagens de destaque. A versão do SBT partiu do texto de Lauro e teve adaptações e incrementos feitos por Ismael Fernandes, Bosco Brasil, Analy Alvarez e Zeno Wilde. Em 1972, a Record tentou retomar o sucesso fazendo a adaptação de outra obra de Dinis, Os Fidalgos da Casa Mourisca, que foi adaptada por Dulce Santucci e teve nos papéis principais Rodolfo Mayer, Maria Estela, Geraldo Del Rey e Ademir Rocha, mas a repercussão não foi a esperada.

O Príncipe e o Mendigo (Record, 1971)
O inglês Mark Twain (1835-1910) escreveu diversos livros de sucesso, entre os quais As Aventuras de Tom Sawyer (1876) e As Aventuras de Huckleberry Finn (1884). Entre esses dois, que se complementam, foi lançado em 1881 O Príncipe e o Mendigo (ou O Príncipe e o Pobre, a depender da edição e da tradução), adaptado em 1971 para uma novela da Record por Marcos Rey (1925-1999) – também ele um consagrado escritor, tanto de obras para adultos quanto de juvenis, como Memórias de Um Gigolô (1968) e O Mistério do Cinco Estrelas (1981). A história se passa pouco antes do final do reinado de Henrique VIII, que durou de 1509 a 1547. Tom Canty (Kadu Moliterno), um garoto muito pobre, consegue entrar no castelo de Gales e ver de perto o príncipe Edward, que é idêntico a ele. Os dois garotos acabam trocando de lugar devido a uma grande confusão, já que ao trocar de roupas com Tom e sair do castelo Edward não consegue mais entrar, uma vez que não é reconhecido pelos oficiais do reino, enquanto Tom espanta a todos por ter “esquecido” ser filho do rei, bem como suas maneiras. No elenco ainda as presenças de Nádia Lippi, Manoel de Nóbrega, Mauro Mendonça, Suzana Gonçalves, Célia Helena, Miriam Mehler, Ademir Rocha e Fernando Baleroni, entre outros.

O Julgamento (Tupi, 1976/77)
Carlos Queiroz Telles (1936-1993) propôs a Carlos Zara, diretor do departamento de teledramaturgia da Tupi, uma novela baseada no clássico Os Irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski, publicado em 1880. Em parceria com a poeta e dramaturga Renata Pallottini, Queiroz desenvolveu uma história bem brasileira, ambientada na cidade interiorana fictícia de Feira das Almas, embora contivesse todos os ingredientes do romance original que rendia uma novela bastante substanciosa, com todos os ingredientes que fazem a glória deste gênero. Os Karamazov aqui viraram Paixão, nome apropriado em razão de seu arrebatamento por diversos elementos na vida, e o patriarca Lourenço (Cláudio Corrêa e Castro), uma figura detestável, disputava o amor da bela Sônia (Eva Wilma) com o primogênito Dimas (Zara). Os outros filhos tinham também seus conflitos, ao mesmo tempo em que orbitavam em torno do triângulo central: o intelectual Ivan (Adriano Reys), o religioso Aleixo, o Lico (Tony Ramos), e o adotivo Zé Maria (Ewerton de Castro), que sofria de problemas psicológicos. Na época a Globo exibiu o filme Os Irmãos Karamazov (1958), de Richard Brooks, com Yul Brynner, Maria Schell, Lee J. Cobb, Richard Basehart, William Shatner e Albert Salmi, e deslindou ao público o final da novela da Tupi, que a exemplo do romance havia retirado da trama o personagem do pai, assassinado misteriosamente. Este incidente, aliado a um alongamento inesperado que a emissora solicitou e que jogou por terra os minuciosos planos que Queiroz havia feito para a novela inteira, acabou por comprometer o saldo final. Ainda no elenco as presenças de Cleyde Yaconis, Lélia Abramo, Henrique Martins, Maria Luiza Castelli, Elaine Cristina, Wanda Stefânia, Sílvio Rocha, Elias Gleizer, Carminha Brandão e Laerte Morrone, entre outros.

Carmem (Manchete, 1987/88)
A sedutora cigana da novela literária de Prosper Merimée (1803-1870), publicada em 1845 e celebrizada por uma versão em ópera de Georges Bizet, encenada pela primeira vez em 1875, além de diversas versões cinematográficas, chegou à telenovela brasileira pela Manchete. Escrita por Glória Perez, a novela era ambientada no Rio de Janeiro de sua atualidade e apresentava Carmem (Lucélia Santos) como uma mulher sedutora e envolvente, apaixonada por Ciro (Paulo Betti), mas desprezada por ele. Ferida em sua vaidade e seus sentimentos, ela acaba por fazer um pacto com a Pombagira (Neusa Borges) em troca de ter para si o poder de sedução sobre qualquer homem, e enlouquece ainda mais de paixão o humilde policial José (Paulo Gorgulho), seu vizinho de subúrbio e noivo de Micaela (Júlia Lemmertz), além de se envolver com Camilo (José Wilker), um piloto automobilístico. Merece destaque o núcleo do milionário Jean-Pierre Junot (Maurice Vaneau), viúvo, pai de César (Odilon Wagner), sogro de Virgínia (Juliana Carneiro da Cunha) e avô de Duda (Dedina Bernardelli), que devido à chantagem de Ciro, que se aproxima da família por interesse, sofre com a perspectiva de que sua condição de homossexual se torne pública. Ainda, através da personagem Rosimar (Theresa Amayo), uma dona de casa de classe média, a autora abordou a problemática da AIDS, que na época (e mesmo hoje) ainda é alvo de muito desconhecimento e preconceito. No elenco ainda as presenças de Beatriz Segall, Rosita Thomaz Lopes, Selma Egrei, Nélia Paula, Luís Carlos Arutin, Liana Duval, Guilherme Karam, Darlene Glória, Roberto Bonfim, Sônia Clara, José Dumont e até de Silvio Santos, numa inusitada participação especial como ele mesmo, que no quadro Namoro na TV de seu programa recebeu Creusa (Bia Sion), irmã de José, que estava em busca de um namorado.

Paixões Proibidas (Bandeirantes, 2006/07)
Aimar Labaki partiu da obra do escritor português Camilo Castelo Branco (1825-1890) para desenvolver o enredo de sua novela, especialmente de Amor de Perdição (1862), com o complicado romance de Simão de Azevedo (Miguel Thiré) e Teresa Dias (Anna Sophia Folch), filhos dos inimigos Domingos de Azevedo (Flávio Galvão) e Tadeu Dias (Antônio Grassi), no Rio de Janeiro do início do século 19, antes da vinda da Família Real portuguesa, para onde parte da ação foi transposta. Outros livros de Castelo Branco que serviram de inspiração a Labaki foram Mistérios de Lisboa (1854) e Livro Negro do Padre Dinis (1855). A novela tinha temas e cenas bastante “pesados”, embora adequados à faixa horária na qual foi alocada pela emissora (22h), mas foi transferida para o insólito horário das 17h30 e perdeu muito com os impedimentos naturais da classificação indicativa. Integrante das comemorações dos 70 anos de atividades do Grupo Bandeirantes de Comunicação, completados em 2007, a novela acabou vítima de algum descaso da emissora e só não foi retirada do ar antes do previsto em razão de compromisso firmado com a Rádio e Televisão de Portugal (RTP), coprodutora do projeto, para o qual inclusive delegou um de seus profissionais mais destacados, Virgílio Castelo, que integrou a equipe de direção e deu vida a um dos papéis principais, o Padre Dinis. Em 1965, a TV Cultura de São Paulo (então uma emissora dos Diários Associados, antes da criação da estação estatal) produziu uma novela baseada em Amor de Perdição, com o mesmo título do romance, escrita por Leonor Lambertini e dirigida por Lúcia Lambertini, com Roberto Orosco e Ivete Jayme nos papéis centrais.

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