Éramos Seis: relembre todas as versões desse clássico da TV

Publicado em 21/02/2018

Quando se fala em teledramaturgia de outras emissoras que não a Globo, é inevitável citar Éramos Seis como a melhor, ou ao menos uma das melhores produções do SBT. Exibida em 1994, a novela de Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho baseada no romance homônimo de Maria José Dupré conquistou sucesso de crítica e público ao contar com delicadeza e cuidado de produção a história da sofrida Dona Lola (Irene Ravache), ao lado do marido Júlio (Othon Bastos) e dos filhos. Foi reprisada uma única vez pelo SBT, em 2001, e até hoje é uma das mais lembradas pelo público para uma nova reprise.

Mas essa não foi a única vez em que o romance de Maria José Dupré, publicado em 1943, foi transformado em novela e emocionou o público. Antes de 1994, haviam sido produzidas outras três versões da história. Vamos relembrá-las.

A primeira delas ocorreu em 1958, na TV Record, ainda na fase anterior à teledramaturgia diária. Eram exibidos por semana apenas dois capítulos da história de Dona Lola, interpretada por Gessy Fonseca, tendo Gilberto Chagas no papel de Júlio.

A segunda foi na TV Tupi, em 1967, com texto de Pola Civelli e direção de Hélio Souto – ele mesmo, o galã da época. Cleyde Yaconis interpretou Dona Lola, Sílvio Rocha viveu Júlio e a já veterana Dina Lisboa deu vida à rica tia da protagonista, Emília. Numa fase em que a emissora investia em produções de curta duração para o horário das 19h, Éramos Seis durou apenas um mês.

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A terceira versão da história foi ao ar de junho a dezembro de 1977, também às 19h e também pela Tupi. Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho haviam sido contratados pela emissora e encomendaram a eles a sinopse de uma novela-catástrofe, algo como Aeroporto, Inferno na Torre, filmes em voga na época. Mas o diretor que os contratou, Roberto Talma, saiu da Tupi antes que o projeto entrasse em produção, e Carlos Zara, ator e diretor que por muitos anos ocupou cargos de chefia no departamento, solicitou à dupla uma história no mesmo estilo de Locomotivas, de Cassiano Gabus Mendes, o sucesso do horário na época. Silvio e Rubens argumentaram que seria mais interessante para o público que houvesse uma alternativa e propuseram fazer uma novela diferente, familiar, mais dramática e tradicional. Carta branca dada, eles resolveram adaptar o romance de Maria José Dupré, que marcara a trajetória de leitores de ambos e a partir do qual erigiram também retratos de familiares e pessoas conhecidas, que foram retratados nos parentes e amigos de Dona Lola.

Nicette Bruno e Gianfrancesco Guarnieri foram os escolhidos para dar vida a Lola e Júlio, e seus quatro filhos foram interpretados por Carlos Augusto Strazzer (Carlos), Carlos Alberto Riccelli (Alfredo), Ewerton de Castro (Julinho) e Maria Isabel de Lizandra (Isabel). O núcleo de Tia Emília era composto por Nydia Lícia (a própria), Carmen Monegal (Adelaide) e Lourdes de Moraes (Justina, a filha frágil psicologicamente). Os habitantes de Itapetininga, ramo “caipira” da família de Lola, era, Leonor Lambertini (Dona Maria, a mãe), Geny Prado (Tia Candoca), Jussara Freire (Olga, a irmã com mania de grandeza) e Paulo Figueiredo (Zeca, o cunhado farmacêutico). Geórgia Gomide vivia Clotilde, irmã solteirona de Lola e Olga, que se envolvia com um homem desquitado, Almeida (Edgard Franco). Ainda no elenco as presenças de Sílvio Rocha (o Júlio de 1967, aqui como o turco Assad, patrão de Júlio), Carminha Brandão, Nara Gomes, João José Pompeo, Maria Célia Camargo, Flávio Galvão, Beth Goulart, Gésio Amadeu, Reny de Oliveira, Maria Luiza Castelli, Rogério Márcico e Adriano Reys, entre outros.

Maria José Dupré não gostou quando soube que os adaptadores Silvio e Rubens haviam criado uma relação extraconjugal para Júlio – no caso, com Marion (Carmem Marinho). Ela declarou na época: “Sempre me culpei por ter criado a Dona Lola tão sofrida, e agora o marido a desrespeita!”.

A versão de 1994 marcou a volta do SBT ao setor de teledramaturgia após uma pausa de quase quatro anos, desde o final de Brasileiras e Brasileiros (1990/91). Marcou também a volta de Irene Ravache à televisão, seis anos após o fim de seu trabalho anterior no gênero novela, Sassaricando (1987/88). Dirigida por Nilton Travesso, Henrique Martins e Del Rangel, três craques, a adaptação era basicamente a mesma gravada pela Tupi em 1977, com acréscimos e modificações feitos apenas por Rubens Ewald Filho, já que àquela altura Silvio de Abreu era, como ainda é, contratado da Globo.

O elenco reunido era estelar, com diversos nomes egressos da Globo. Os filhos de Lola e Júlio eram Jandir Ferrari (Carlos), Tarcísio Filho (Alfredo) naquele que pode ser considerado seu melhor papel na TV, Leonardo Brício (Julinho) e Luciana Braga (Isabel). As irmãs de Lola eram interpretadas por Denise Fraga (Olga) e Jussara Freire (Clotilde), que na nova versão trocou de personagem, mas manteve o par romântico Paulo Figueiredo, agora na pele de Almeida. Dona Maria e Tia Candoca foram vividas por Yara Lins e Wilma de Aguiar. Coube a Osmar Prado viver Zeca, e a Nathalia Timberg a elegante Tia Emília. Suas filhas Adelaide e Justina foram as personagens de Bete Coelho e Mayara Magri, ambas ótimas em cena, com destaque para a criação comovente de Mayara para sua personagem, a bela jovem que devido a um trauma de infância “parou no tempo” e permanecia agindo como menina. No elenco ainda merecem destaque as presenças de Antônio Petrin, Angelina Muniz, Luciene Adami, Marcos Caruso, Jandira Martini, João Vitti, Flávia Monteiro, Eduardo Silva, Eliete Cigarini, Nina de Pádua, Umberto Magnani e Marco Ricca, entre outros, além da estreia de Ana Paula Arósio e da presença de Chica Lopes repetindo seu papel da versão de 1977: a bondosa Durvalina, empregada de Dona Lola.

Alguns meses atrás a Globo adquiriu os direitos sobre o texto de Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho para a produção de uma nova versão da história (já a quinta) no prazo de cerca de três anos. A emissora que há quase cinco décadas é líder no gênero enfim se rende ao encantamento desta que é uma das histórias mais queridas do público. Com o devido cuidado, tem tudo para dar certo mais uma vez.

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