Eu, a Vó e a Boi

“Uma história ácida e contemporânea”, garante Paulo Silvestrin, diretor da série Eu, a Vó e a Boi, da Globoplay

Crônica inteligência, ácida e contemporânea para emocionar

Publicado em 16/11/2019

Uma história de inimizade de mais de 60 anos. Uma guerra declarada entre duas vizinhas capazes de tudo para prejudicar a vida uma da outra. De um lado, Turandot (Arlete Salles); do outro, Yolanda (Vera Holtz), a “Boi” – apelido dado pela primeira, ao concluir que “vaca” está fora de moda. Ninguém sabe quando tudo começou, mas já aposentadas, viúvas e, portanto, dispondo de tempo livre o suficiente nas mãos, nenhuma delas tem a menor intenção de propor um tratado de paz.

Eu, a Vó e a Boi é uma série original Globoplay, desenvolvida pelos Estúdios Globo. Criada e escrita por Miguel Falabella, com Flávio Marinho e Ana Quintana, a partir de uma ideia original de Eduardo Hanzo, a obra tem direção artística de Paulo Silvestrini e direção de Mariana Richard. Confira a entrevista com Paulo Silvestrini:

Paulo Silvestrini tem mais de 20 anos de carreira na Globo. Em 1997, comandou Malhação e, de 1999 a 2002, esteve à frente da direção do seriado Sandy e Júnior. Em sua trajetória, constam trabalhos como diretor das novelas Torre de Babel (1998), Da Cor do Pecado (2004) e muitas outras. Em 2017, assinou a direção artística de Malhação: Viva a diferença, que ganhou o prêmio Emmy Internacional Kids de melhor série (2019). Confira a entrevista com ele:

Como foi trabalhar pela primeira vez com um texto de Miguel Falabella?


Eu nunca tinha frequentado o universo do Miguel Falabella. Quando eu li o texto de ‘Eu, a vó e a Boi’ pela primeira vez, tive uma percepção muito atraente das possibilidades que o projeto oferecia. Eu achei muito original, tanto na proposta de realização quanto no conteúdo. Ainda que eu fosse capaz de perceber o DNA que o Miguel tem em todos os trabalhos dele, eu também enxerguei coisas novas com as quais ele queria entrar em contato. É uma série de entretenimento. Mas a primeira coisa que me chamou a atenção foi que, para muito além de uma comédia, o que o Miguel descreveu foi uma crônica inteligente, como tudo que ele escreve, e ácida a respeito do comportamento humano contemporâneo. E tem um tanto de fabular. Ele escreveu uma história não-realista dentro de um ambiente não-realista, mas não desvinculada das questões que nos são caras.

Como você colocou a sua assinatura neste trabalho?


Os personagens são todos alucinados, as relações são alucinadas. São fatias de emoção. Eles reagem aos estímulos das situações propostas. É como se fosse a toca do coelho da Alice, em que a gente mergulha e vai viver esse universo paralelo. Para passar essa sensação para o público eu queria sugerir flertar com a linguagem do gamer. Temos um protagonista que quebra a quarta parede e fala com o público. Às vezes ele narra com distanciamento, às vezes narra contando um flashback, às vezes narra no momento presente, afetado pelo que está acontecendo, com um pequeno olhar para o público. Eu comecei a enxergar o público como uma figura participante e invisível do nosso universo. É como se eu desse um joystick e ele criasse um avatar invisível dele para acompanhar a história.

Por que construir uma cidade cenográfica monocromática para a série?


O universo onde os personagens vivem é um universo desprovido de possibilidades. Por isso a cidade cenográfica é como um presídio. Ela é toda cinza, de concreto e grade, não tem uma cor. A única cor são os personagens. Essa foi uma ideia conjunta minha e do Miguel. É um universo não-realista e eu queria que tivesse algo de teatral no tom, nas interpretações. Então tudo tem um tom acima: o figurino, a cor, a interpretação. Eu achava que a cidade cenográfica criaria um ambiente teatral. Uma vez que o ambiente é cenográfico você se distancia da realidade imediatamente. Como o Tim Burton fazia quando criava um universo meio doido. É feito para que tudo seja verdade ali, porque em outro lugar não seria.

Como é trabalhar em uma série feita para o streaming?


Há 22 anos eu dirigi ‘Malhação’, depois ‘Sandy e Junior’ por quatro anos e meio. Eu sempre quis trabalhar com o jovem, é o que eu gosto, onde eu me reconheço e me sinto capaz de acessar a ideia por trás do projeto. Esse projeto não é destinado ao jovem, como é a ‘Malhação’, mas é um projeto que pode ser assistido como entretenimento por jovens porque estará num ambiente frequentado por eles, que é o da internet. O nosso protagonista tem 18 anos, está tentando entrar na vida adulta apesar de toda adversidade. O Miguel olhou uma pesquisa que dizia que 75% dos jovens do Brasil não têm qualquer esperança no Brasil. É curioso. Então não deixa de ser instigante para um jovem acompanhar o desdobramento de uma vida, se não parecida, pelo menos próxima a dele. Com uma reflexão crítica e ácida do país e das questões em torno dele.

Como você gostaria que as pessoas enxergassem essa série?


Como uma crônica inteligência, ácida e contemporânea capaz de entreter, emocionar, encantar e divertir.

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