Cenas marcantes de novelas gravadas na rua: tema do #TBTdaTelevisão desta semana

Publicado em 18/07/2019

Antes da “Era Projac”, quando a cidade cenográfica construída pela Rede Globo passou a imperar na produção das novelas e minisséries, se necessário as equipes iam à rua para fazer tomadas, das mais simples às mais significativas para a narrativa. O #TBTdaTelevisão dessa semana relembra algumas das cenas marcantes de novelas gravadas na rua.

Avenida Paulista: um cenário tão icônico que deu até nome a minissérie

A segunda minissérie brasileira, produzida pela Globo, foi exibida em 1982 e batizada com o nome de seu cenário principal e símbolo da temática da trama. Escrita por Daniel Más e Leilah Assumpção e dirigida por Walter Avancini, Avenida Paulista centrava sua história em Alex Torres (Antonio Fagundes), rapaz ambicioso que ao invés de ser demitido e denunciado às autoridades em virtude de ter dado um desfalque na empresa onde trabalhava, ao contrário, é promovido pelo milionário Frederico Scorza (Walmor Chagas). No entanto, tudo não passa de um golpe perpetrado por ele junto a sua amante Paula (Dina Sfat), que pretendem sumir com grande fortuna e deixar a culpa da operação para Alex.

Rainha da Sucata: duas passagens entre as cenas marcantes das novelas gravadas na rua são dela

Em 1990, Silvio de Abreu escreveu o grande sucesso Rainha da Sucata, sua estreia na faixa nobre da Globo. A personagem-título, Maria do Carmo Pereira (Regina Duarte), apesar de ser cafona e exagerada, era muito rica, dona de uma fortuna surgida do negócio de ferro-velho iniciado décadas antes por seu pai, Onofre (Lima Duarte). Enquanto Do Carmo nada em dólares, os outrora milionários Albuquerque Figueroa, clã ao qual seu amado Edu (Tony Ramos) pertencia, vendiam o almoço para comprar o jantar. Mesmo assim Betinho (Paulo Gracindo), pai de Edu, e a esposa Laurinha (Glória Menezes) não perdiam a pose.

A sede das empresas de Maria do Carmo ficava num prédio da Avenida Paulista. Mais precisamente o da Caixa Econômica Federal, na esquina com a Alameda Ministro Rocha Azevedo. No último andar havia uma lambateria, de nome Sucata. O primeiro suicídio mostrado claramente numa novela foi o de Laurinha, que se atirou do topo do prédio. Outra cena clássica que teve a Paulista como locação foi a da implosão do mesmo edifício, na ficção, claro. Dona Armênia (Aracy Balabanian) toma a decisão de colocá-lo abaixo para afirmar sua condição de proprietária do terreno onde o prédio havia sido erguido. Ela vivia ameaçando Do Carmo de colocar “a prédio na chon”.

Anteriormente, um shopping sediou parte da ação de uma comédia clássica

Todas as novelas de Silvio de Abreu são ambientadas em São Paulo. Com Guerra dos Sexos (1983) não foi diferente. A loja de departamentos Charlo’s, de propriedade dos primos Charlô (Fernanda Montenegro) e Otávio (Paulo Autran), era situada na ficção no Shopping Eldorado, zona oeste. Pelos corredores e escadas rolantes foram feitas cenas como a de Felipe (Tarcísio Meira) andando quase nu em protesto contra Charlô. Além disso, Otávio se apossou de um Fusca no estacionamento do Eldorado. Ademais, o capítulo final mostrou todo o elenco num número musical que lembrava as chanchadas da Atlântida. Dançaram e cantaram por todo o hall de entrada do shopping.

A corrida ao diamante

Uma sequência clássica de Guerra dos Sexos, com efeito, foi gravada no Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo. E nas imediações, como a avenida que futuramente seria Jornalista Roberto Marinho. Trata-se da perseguição de diversos personagens a Veruska (Sônia Clara) e Nenê (Hélio Souto). Eles estavam de posse de um valioso diamante pertencente a Roberta (Glória Menezes), a saber. Só para ilustrar, entre os perseguidores estavam, além de Felipe e Roberta, Nando (Mário Gomes), Juliana (Maitê Proença), Olívia (Marilu Bueno) e Vânia (Maria Zilda Bethlem).

Belíssima: dos escritórios com a Paulista como fachada a modelos de biquíni pela cidade

Já em seu capítulo de estreia, Belíssima (2005/06) mostrou diversas modelos em pontos importantes de São Paulo usando lingeries da empresa fictícia que dava nome à história. Ana Beatriz Barros, Michelle Alves, Isabeli Fontana e Caroline Ribeiro, entre outras, figuraram em locais como o Viaduto do Chá, o Parque do Ibirapuera, a Rua Oscar Freire e a Avenida Paulista. Aliás, nesta ficava a sede da Belíssima, com os escritórios de Júlia (Glória Pires), Bia (Fernanda Montenegro) e Alberto (Alexandre Borges). Todavia, o edifício de número 901 era utilizado apenas “de mentirinha”. Sua fachada era mostrada, mas as cenas dos escritórios da empresa eram feitas em estúdio. A parte de trás do prédio, com um dos acessos à unidade da livraria Fnac que havia ali, era utilizada como fachada da Physical. Era uma academia de ginástica pertencente a Júlia.

Um congestionamento e uma obra de transporte: cenários do Rio de Janeiro para cenas marcantes gravadas na rua

Nos anos 1970, dois exemplos vêm quase imediatamente à cabeça quando o assunto são as cenas marcantes gravadas na rua. O primeiro é o engarrafamento no Túnel Velho em O Espigão (1974), de Dias Gomes. O incidente faz com que diversos personagens se conheçam. Um acontecimento que acaba por mobilizar as atenções de todos é o nascimento de Saulo, o bebê de Dora (Débora Duarte), num dos bancos de um táxi. É em tais circunstâncias que ela conhece Léo (Cláudio Marzo), com quem se envolve. Além disso, outro casal se forma a partir do engarrafamento. Lauro Fontana (Milton Moraes) com a gatuna Lazinha Chave-de-cadeia (Betty Faria).

Um fim trágico gravado em locação real em duas versões da mesma história

O outro exemplo é uma das cenas finais de Pecado Capital (1975/76), de Janete Clair. Após uma série de desventuras envolvendo o dinheiro esquecido em seu táxi, fruto de um assalto a banco, José Carlos Moreno, o Carlão (Francisco Cuoco), termina assassinado por um bandido comparsa de Sandoval (Alfredo Murphy). Os dois desejavam se apossar do dinheiro, que Carlão decidiu devolver. Para isso, ele marcara com a polícia um local para deixar a bolada: o canteiro de obras da futura estação de metrô do Largo da Carioca. O remake de 1998/99 também matou Carlão (Eduardo Moscovis) ao final, a saber. Mas numa entrada da estação Cardeal Arcoverde. Só para ilustrar, dessa vez o assassino foi Tonho (Lima Duarte).

Urca e Leblon: dois bairros eternizados na memória do público por cenas marcantes de novelas

Entre novelas com cenas marcantes de novelas gravadas na rua, não podemos deixar de citar as de dois autores: Manoel Carlos e Ivani Ribeiro. O bairro carioca do Leblon, onde o escritor mora há décadas, já foi mostrado e louvado em histórias como Laços de Família (2000/01) e Mulheres Apaixonadas (2003). Com toda a certeza, uma das cenas antológicas nesse sentido ocorreu nessa segunda novela. Em meio a um tiroteio na Rua Dias Ferreira os personagens Téo (Tony Ramos) e Fernanda (Vanessa Gerbelli) são atingidos. Ele sobrevive, mas a moça morre. E deixa órfãos Salete (Bruna Marquezine) e Lucas (Victor Cugula).

Já a Urca, outro bairro da cidade, inegavelmente marcou os espectadores de A Gata Comeu (1985). Os personagens moravam no bairro e a novela apresentou diversas cenas gravadas pelas ruas da Urca. O tumultuado romance da mimada e voluntariosa Jô Penteado (Christiane Torloni) com o professor viúvo Fábio Coutinho (Nuno Leal Maia) tem no bairro um cenário perfeito.

Nas novelas dos anos 1960 e 1970, as tomadas externas foram inseridas aos poucos

Nos anos 1960 e começo dos anos 1970, fazer cenas externas era bastante complicado. Em virtude de serem as câmeras muito grandes, pesadas e sensíveis a espaços abertos, apenas nos anos 1970 se popularizaram as cenas gravadas em ambientes externos. Todavia, na virada das décadas, Beto Rockfeller (1968/69), de Bráulio Pedroso, mostrava em seus capítulos às 20h por vezes cenas gravadas pouco antes, ou já com a exibição iniciada. Era um dos ingredientes da grande proposta de coloquialidade e modernidade da novela, dirigida por Lima Duarte. Pontos conhecidos do Rio de Janeiro surgiram nas novelas globais da mesma época, como Véu de Noiva (1969/70) e Assim na Terra Como no Céu (1970/71). Um reflexo dos novos ares que chegavam à telenovela brasileira, logo após vários anos de características dos países vizinhos dos quais as histórias eram via de regra importadas.

A Tupi saiu do ar em 1980, e no decorrer da década de 1970 aproveitou São Paulo como grande cenário de suas novelas. Especialmente o bairro do Sumaré, na zona oeste, onde ficava a sede da emissora. Diversos vídeos disponíveis na internet, como os disponibilizados pelo Banco de Conteúdos Culturais (BCC) da Cinemateca Brasileira, mostram a São Paulo dos anos 1970 em novelas. Só para exemplificar, títulos como Ídolo de Pano (1974/75), A Viagem (1975/76), O Profeta (1977/78) e Como Salvar Meu Casamento (1979/80).

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