Os 50 anos da morte de Assis Chateaubriand, fundador da pioneira TV Tupi

Publicado em 04/04/2018

Em 4 de abril de 1968, morreu o jornalista, advogado, político e empresário Assis Chateaubriand, fundador da revista O Cruzeiro e do grande conglomerado dos Diários e Emissoras Associados, primeiro grande grupo de mídia do Brasil, antes da Abril, da Globo, da Bloch… Nascido na cidade paraibana de Umbuzeiro em 4 de outubro de 1892, Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello era gago na infância e foi analfabeto até os 10 anos de idade. Formou-se em Direito no ano de 1913 e antes disso já teve seus primeiros contatos com a imprensa. Exerceu a advocacia com sucesso, tendo inclusive ganhado uma causa em cujo lado oposto estava o renomado advogado Epitácio Pessoa, presidente da República entre 1919 e 1922 e também pernambucano de Umbuzeiro. Sem deixar o jornalismo de lado, chegou a exercer a função de redator-chefe do Jornal do Brasil após se mudar para o Rio de Janeiro, o que ocorreu em 1917.

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Em meados da década de 1920, Assis Chateaubriand iniciou o que se tornariam os Diários Associados com O Jornal, seguido do Diário de Pernambuco, do carioca Jornal do Commercio e do Diário da Noite paulistano. Ao longo dos anos foram sendo criadas ou incorporadas novas empresas entre jornais, emissoras de rádio e televisão, com destaque para O Cruzeiro, lançada em 1928 e que pelo menos até a década de 1950 – quando perdeu terreno para a Manchete, de Adolpho Bloch – foi a maior revista de atualidades da imprensa brasileira, e a TV Tupi, primeira emissora de TV da América Latina, que entrou no ar em 18 de setembro de 1950.

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Analisando a história do nosso país, não se torna difícil compreender o porquê de Assis Chateaubriand ter sido o que foi e conquistado o que conquistou: o segundo quarto do século 20 foi justamente o período no qual o Brasil viveu uma série de mudanças sociopolíticas motivadas pelos diversos movimentos da troca de poder de mãos, das oligarquias cafeeiras para os empresários e industriais, integrantes da burguesia emergente que possuíam consigo o dinheiro e os meios para a economia enquanto o sistema antigo entrava em colapso. Valendo-se dessas condições e das benesses que poderia angariar – e não desprezando em momento algum seu grande tino comercial e seu pendor para as inovações tecnológicas – foi que Chatô tornou-se figura proeminente.

Chateaubriand teve uma vida bastante polêmica, e jamais perdeu a oportunidade de usar seus veículos de comunicação para atingir seus desafetos. Sempre alcançava seus objetivos, por vezes usando de expedientes nada convencionais – a exemplo de quando ameaçou figuras do empresariado e da sociedade com a virulência de seus jornais no caso de não colaborarem na compra de quadros para o museu que pretendia fundar – e que veio a ser o Museu de Arte de São Paulo (MASP), que justamente por ter sido fundado pelo jornalista carrega o nome dele. Especialmente os jornais foram usados por ele de acordo com seus interesses políticos e/ou particulares, e mesmo o leitor mais desavisado podia perceber que o Conde Francisco Matarazzo, por exemplo, não era bem quisto pelos Associados. Tudo porque o italiano fazia absoluta questão de receber em dia os aluguéis do prédio de sua propriedade onde estava sediado o Diário da Noite, além de não anunciar nos jornais de Chatô.

Entre 1959 e 1962, o jornalista distribuiu 49% de seu conglomerado entre 22 funcionários de sua confiança, mais os filhos que tivera. Cada um deles foi denominado “condômino”, e o Condomínio Associado deu origem com o tempo a uma série de problemas pontuais que ameaçaram a estabilidade do grupo de empresas, uma vez que os condôminos nem sempre seguiam diretrizes únicas, especialmente no negócio de televisão. Em 1960 Chatô sofreu uma trombose cerebral, que prejudicou sua saúde para o resto da vida, mas mesmo doente permaneceu trabalhando enquanto pôde, assinando diversos artigos, até que em 1965 seu estado se agravou mais e com ele o de suas empresas.

Assis Chateubriand ironicamente nunca aprendeu a utilizar máquinas de escrever, e durante toda a vida redigiu seus textos a lápis. Sua vida foi contada (por sinal, muito bem) por Fernando Morais em seu livro Chatô, o Rei do Brasil (lançado em 1994 pela Companhia das Letras) e por Guilherme Fontes num filme cuja produção fora iniciada em 1995 e após diversos problemas teve seu resultado lançado nos cinemas apenas em 2015, com Marco Ricca no papel-título. Foi ainda interpretado por Antonio Calloni num trabalho memorável na minissérie Um Só Coração (2004), de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira. Seu nome, que batiza entre outros logradouros públicos um trecho da Marginal Tietê na zona norte da capital paulista, ficará para sempre marcado por ter sido Chatô o nosso “Cidadão Kane” (em alusão ao norte-americano William Randolph Hearst, magnata da imprensa, e ao filme de Orson Welles que o retratou), e também pelo caráter intempestivo e excêntrico.

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