Assim como Topíssima, relembre outros casos de novelas que foram adiadas, mas acabaram sendo mesmo produzidas pelas emissoras

Publicado em 18/09/2019

Atual atração da Record TV em seu horário das 19h45min, a novela Topíssima, de Cristianne Fridman. Ela foi adiada ainda em 2018 e depois teve a produção cancelada. Posteriormente, o projeto foi retomado, agora já com os capítulos todos escritos pela autora, as gravações iniciadas. E a estreia enfim ocorreu em 21 de maio deste ano. Partindo desse exemplo, vamos recordar alguns folhetins eletrônicos que passaram por situação semelhante. Algumas novelas que foram adiadas e que depois, com ou sem modificações sensíveis, conseguiram chegar ao público.

Fogo Sobre Terra

Após mais de cinco anos seguidos sem pausa, escrevendo uma novela atrás da outra para a Globo, Janete Clair tirou merecidas férias ao longo de 1973, após encerrar Selva de Pedra em janeiro. No entanto, em agosto do mesmo ano já deveria estrear uma nova história sua, e a novelista criou Cidade Vazia. A proposta era tratar das mudanças na vida dos habitantes de uma pequena cidade do interior, obrigados a deixar o lugarejo porque ele seria tragado por um rio. O motivo: a construção de uma usina hidrelétrica, que desviará o curso natural das águas.

Tarcísio Meira e Francisco Cuoco seriam os protagonistas, dois irmãos em lados opostos da questão da obra governamental. Justamente o teor crítico da história de Janete incomodou a Censura. Afinal, a usina da novela poderia ser identificada com Itaipu, cujas obras estavam a todo vapor. Com efeito, para o governo não pegaria bem a novela das 20h falando mal de uma obra como aquela.

Cidade Vazia foi vetada e para cobrir sua vaga Janete criou uma história nova às pressas, O Semideus. Tarcísio e Cuoco foram seus protagonistas, junto com Glória Menezes e Juca de Oliveira. Após negociações com os censores, a sinopse de Cidade Vazia acabou liberada, agora com o nome de Fogo Sobre Terra. Foi a substituta de O Semideus, em 1974. Nos papéis principais, Juca de Oliveira, Jardel Filho, Regina Duarte e Dina Sfat.

Roque Santeiro: ícone das novelas que foram adiadas

Provavelmente, este é o caso mais emblemático quando se fala em novelas que foram adiadas. No caso, o adiamento foi de 10 anos. Com exibição proibida pela Censura Federal em 1975, Roque Santeiro, de Dias Gomes, ganhou as telas apenas em junho de 1985. Foi quando iniciou uma trajetória de oito meses de sucesso, com seus 209 capítulos alcançando a maior média de audiência de uma novela em todos os tempos na televisão brasileira. Anteriormente, a Globo tentou retomar o projeto, como em 1982, para a faixa das 22h. Mas a proibição governamental seguia firme e forte.

O motivo foi descoberto apenas anos depois. O telefone de Dias Gomes estava grampeado e, durante uma conversa com o historiador Nelson Werneck Sodré, autor de História da Imprensa no Brasil, entre outras obras, o dramaturgo “soltou” que estava desenvolvendo uma versão para TV de seu texto teatral igualmente proibido desde os anos 1960, O Berço do Herói. Trocou a condição do protagonista, de militar para fazedor de santos de barro, e a sinopse fora aprovada. Foi o que bastou para que Roque Santeiro tivesse sua exibição impedida, no dia da estreia.

Irmãos Coragem, segunda versão

Desde meados da década de 1980 se falava numa segunda versão de Irmãos Coragem, clássico de Janete Clair de 1970/71. Por exemplo, em 1986 a história foi pensada para substituir Cambalacho, de Silvio de Abreu, na faixa das 19h. Era um momento no qual até o horário das 20h estava ocupado por um remake, no caso o de Selva de Pedra, atualmente em reprise no Canal Viva. A segunda versão de Irmãos Coragem não saiu totalmente dos planos da Globo e na primeira metade dos anos 1990 a ideia de fazê-la ganhou novo fôlego. Nesse ínterim, a primeira versão foi reprisada num compacto de 20 capítulos no Festival 25 Anos, em 1990, à tarde.

Para 1993, novamente às 19h, o texto seria atualizado por Sérgio Marques e José Mayer chegou a ser considerado para o papel central de João Coragem, vivido por Tarcísio Meira no original. Após adiamentos e revisões, enfim Irmãos Coragem voltou à telinha numa nova versão, às 18h, em janeiro de 1995, marcando o início da celebração dos 30 anos da emissora. Dias Gomes liderou na ocasião uma equipe de autores-roteiristas, entre eles Marcílio Moraes e Lilian Garcia, que tocaram a adaptação.

Perigosas Peruas

A novela de Carlos Lombardi inicialmente ocuparia a faixa das 19h da Globo no final de 1990, em substituição a Mico Preto, de Marcílio Moraes, Leonor Basséres e Euclydes Marinho. No entanto, acabou adiada na época, em virtude de terem sido consideradas necessárias readequações de narrativa. Ademais, também para facilitar a produção, ganhando tempo. Perigosas Peruas acabou estreando apenas em fevereiro de 1992, três novelas depois na fila do horário, com Vera Fischer, Sílvia Pfeifer e Mário Gomes nos papéis centrais e direção-geral de Roberto Talma.

A saber, a história que entrou no ar em dezembro de 1990 em seu lugar foi Lua Cheia de Amor. Ana Maria Moretzsohn, Ricardo Linhares e Maria Carmem Barbosa fizeram uma nova adaptação do texto teatral de Pedro Bloch Dona Xepa, que já havia originado uma novela homônima em 1977. Gilberto Braga, autor dessa versão dos anos 1970, aqui voltou na condição de supervisor do trio.

Mulheres de Areia

Em 1992, uma nova versão de Mulheres de Areia, de Ivani Ribeiro, seria a novela das 18h da Globo em substituição a Felicidade, de Manoel Carlos. Mas alguns problemas de produção a preferência por Glória Pires, então grávida, para os papéis das gêmeas Ruth e Raquel, levaram a um adiamento de oito meses na estreia da novela. Nesse ínterim, o cartaz do horário foi Despedida de Solteiro, de Walther Negrão, criada a toque de caixa.

Renascer

Após o sucesso de Pantanal (1990) na Rede Manchete, Benedito Ruy Barbosa voltou à Globo já em 1991, recontratado. Inicialmente sua nova história entraria no ar no segundo semestre de 1992. E o autor ganharia o horário global das 20h, que sempre desejara, mas acabava relegado à faixa das 18h. Só que Bumba-meu-boi (título provisório da novela) terminou adiada por questões ligadas à produção. Além disso, duas outras produções exibidas em 1992 também foram ambientadas na Bahia, a exemplo da história de Benedito: a novela Pedra Sobre Pedra e a minissérie Tereza Batista. Estreou no lugar De Corpo e Alma, de Glória Perez, em agosto de 1992, e apenas sucedendo-a, em março de 1993, chegou à tela Renascer, título definitivo dessa criação de Benedito protagonizada por Antonio Fagundes, Marcos Palmeira e Adriana Esteves.

Celebridade

Como o tema principal da história pensada por Gilberto Braga era a fama e as diversas formas de lidar com ela, bem como os problemas e dissabores provocados pela celebridade na vida de alguém, a estreia da novela que marcaria a volta do autor à faixa das 20h após mais de 10 anos ausente acabou adiada em mais de um ano.

De junho de 2002, Celebridade estrearia apenas em outubro de 2003, duas novelas depois. Ademais, a Globo acabava de lançar o filão do reality show Big Brother Brasil (em janeiro de 2002). Logo, achou-se por bem dar uma “segurada” na história a fim de não atingir negativamente os participantes do programa. A protagonista Maria Clara (Malu Mader) teve sua profissão trocada durante o adiamento do projeto. De jornalista ela passou a ex-modelo e produtora de eventos.

A Lei do Amor: entre as novelas que foram adiadas, aqui um componente de estratégia

Essencialmente autora de minisséries, num formato que demanda muito trabalho, mas também possibilita outro tipo de relação de criação, já que as gravações em geral ocorrem com o texto já todo escrito ou quase, entre outros pontos, Maria Adelaide Amaral não fazia nem faz questão de escrever novelas. Menos ainda para o horário das 21h, de grande peso comercial para a emissora. No entanto, a Globo queria que ela desenvolvesse uma.

Em março de 2016, Maria Adelaide e Vincent Villari substituiriam A Regra do Jogo com Sagrada Família. Mas após uma sucessão de novelas urbanas e modernas, os planos mudaram e a vaga foi dada a Velho Chico, um projeto de Benedito Ruy Barbosa que inicialmente seria novela das 18h e nem previsão de estreia tinha. Adiada, a novela da dupla foi rebatizada de A Lei do Amor e sucedeu Velho Chico, a partir de outubro de 2016. Entre outros itens que podemos destacar, antes o título tivesse permanecido Sagrada Família, que faria muito mais sentido diante da história que foi contada e da que se poderia ter contado.

O Sétimo Guardião: entre as novelas que foram adiadas e que por muito pouco não ficou entre as descartadas

Exibida de novembro de 2018 a maio deste ano, O Sétimo Guardião não deixou saudade. A novela de Aguinaldo Silva seria exibida no decorrer do ano passado, mas os planos mudaram. Em meio a acusações de plágio, já que a sinopse da novela surgiu de uma das Master Classes que promove de tempos em tempos com interessados em aprender a escrever telenovelas, Aguinaldo chegou a ter O Sétimo Guardião descartada pela emissora. Com a encomenda de um novo trabalho, o autor desenvolveu A História dos Lobos. Mas não haveria tempo hábil para produzi-la sem perder a previsão de estreia. Devido a isso, Segundo Sol foi antecipada. Nesse ínterim, os problemas relativos a O Sétimo Guardião foram sanados e ela voltou a ser confirmada como em produção. Agora para suceder a Segundo Sol, como de fato ocorreu.

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