O Descobrimento do Brasil pela teledramaturgia

Publicado em 22/04/2018

Neste 22 de abril em que se celebra mais um aniversário do que se chama de “Descobrimento do Brasil”, vale a pena relembrar algumas produções históricas que nos ajudaram a compreender melhor os primeiros tempos dessa terra tão rica, tão cobiçada e que foi palco de tantas disputas, batalhas e injustiças. Já nos primórdios da TV o Teatrinho Trol da TV Tupi, com suas histórias para o público infanto-juvenil dirigidas por Fábio Sabag, contava a saga do Descobrimento, com Antonio Patiño na pele de Pedro Álvares Cabral.

No ano 2000, a Globo pretendia produzir um ciclo de minisséries, cada uma retratando uma passagem marcante de um dos cinco séculos de Descobrimento que o Brasil completava na ocasião. Devido aos altos custos de produção e outras questões artísticas e operacionais, apenas uma das minisséries foi ao ar: A Muralha, de Maria Adelaide Amaral.

A autora usou como base um romance de Dinah Silveira de Queiroz que já havia sido adaptado para a TV em algumas ocasiões – especialmente pela TV Excelsior, em 1968/69, com texto de Ivani Ribeiro e grande sucesso de público. Mas o curioso aqui foi uma troca de ambientação histórica: o original se passa na época da Guerra dos Emboabas, e a minissérie foi transportada para o início do século 17, cerca de 100 anos depois da chegada de Pedro Álvares Cabral ao nosso território.

Através da família de Dom Braz Olinto (Mauro Mendonça, que repetia aqui seu papel da versão da Excelsior), a história falava dos bandeirantes que desbravaram e expandiram as fronteiras brasileiras, controlando terras e indígenas. Dom Braz tinha consigo os filhos Tiago (Leonardo Brício), Leonel (Leonardo Medeiros) e a sobrinha Isabel (Alessandra Negrini), muito bela e masculinizada, apaixonada pelo primo Tiago e que se enciuma com a chegada de Beatriz (Leandra Leal), vinda de Portugal para se casar com ele.

Recuando um pouco na História, A Invenção do Brasil foi exibida em 3 capítulos, entre 19 e 21 de abril de 2000. Escrita por Jorge Furtado e Guel Arraes e dirigida por este último, a minissérie unia ficção e documentário para falar de Diogo Álvares (Selton Mello), que rouba o mapa que seria utilizado por Pedro Álvares Cabral em sua expedição às Índias (e que veio dar no Brasil) e por isso é degredado de Portugal.

Chega aqui em 19 de abril de 1500, três dias antes da esquadra do navegador, e é batizado de Caramuru pelos índios Tupinambás que encontra tão logo coloca os pés em terras brasileiras. Ele se envolve amorosamente com Paraguaçu (Camila Pitanga), a bela filha do cacique Taparica (Tonico Pereira), e enfrenta também o assédio de Moema (Deborah Secco), a irmã mais nova dela. As passagens em tom de documentário eram narradas por Marco Nanini.

A obra de José de Alencar inspirou três produções. Seu romance As Minas de Prata foi adaptado por Ivani Ribeiro para a TV Excelsior em 1966/67 e serviu de base também a Walcyr Carrasco na criação de A Padroeira (2001/02), novela global das 18h.

No centro da trama um triângulo amoroso que pode ser favorecido caso o mocinho – Estácio (Fúlvio Stefanini) nos anos 1960, Valentim (Luigi Baricelli) em 2001 – encontre as minas de prata que podem torná-lo a se casar com sua eleita – Inesita (Regina Duarte)/Cecília (Deborah Secco). Uma curiosidade é que a novela da Excelsior se passava no século 17 na Bahia, enquanto a da Globo foi transportada para o começo do século 18, no interior de São Paulo.

O mesmo Walcyr também partiu de Alencar em 1991 quando escreveu a minissérie O Guarani para a Rede Manchete, com Angélica e Leonardo Brício na pele de Ceci e Peri, o casal apaixonado separado pelas diferenças étnicas e sociais; ela, filha do poderoso Dom Antônio de Mariz (Carlos Eduardo Dolabella), ele, um índio. Como motivação para diversas atitudes dos personagens de todas essas histórias, as incalculáveis riquezas que o território brasileiro guardava, alvo da cobiça de forasteiros das mais diversas procedências.

No século 18, todo ele ainda com o Brasil na condição de colônia portuguesa, foram ambientadas histórias marcantes como Xica da Silva (1996/97), de Walcyr Carrasco, a história do intrincado amor da personagem-título (Taís Araújo) com o poderoso contratador de diamantes João Fernandes (Victor Wagner); Liberdade, Liberdade (2016), de Mário Teixeira com argumento de Márcia Prates, com trama localizada na Vila Rica de Tiradentes, onde sua filha Joaquina (Andreia Horta) precisava esconder sua origem; e Que Rei Sou Eu? (1989), de Cassiano Gabus Mendes, que embora se passasse num reino fictício chamado Avilan no ano de 1786 – três anos antes da Revolução Francesa, portanto – abordava com muita propriedade e inteligência os problemas do Brasil da época de sua exibição, na expectativa da primeira eleição para presidente da República após quase 30 anos e mergulhado em corrupção e desigualdades.

O século 19 trouxe a Família Real para o Brasil e com ela abriram-se novas perspectivas, já que o Brasil passou aos poucos de simples colônia que serviu de refúgio à Corte portuguesa para uma terra em vias de desenvolvimento e valorização.

Essa época foi visitada recentemente pela novela Novo Mundo (2017), de Thereza Falcão e Alessandro Marson, em 2002 teve um tratamento cômico em O Quinto dos Infernos (2002), minissérie de Carlos Lombardi que tinha início justamente com a vinda da Família Real para cá e mostrou as muitas conquistas amorosas de D. Pedro I (Marcos Pasquim). A minissérie Marquesa de Santos, com a qual a Rede Manchete iniciou suas produções de dramaturgia em 1984, também tratou do príncipe D. Pedro I (aqui Gracindo Júnior) e de seu caso amoroso com Domitila de Castro Canto e Mello, a marquesa do título (Maitê Proença).

https://www.youtube.com/watch?v=pFIqdMf9sl4

Embora as produções de época da nossa TV em geral se concentrem no século 19 ou no princípio do século 20, e para isso existam diversas motivações, desde questões de produção até as mercadológicas, também houve algumas histórias que mergulharam mais fundo no tempo, como as citadas. Nunca é demais conhecer a História, a fim de que com esse conhecimento compreendamos o que ocorre em nosso presente e construamos mais acertadamente o futuro.

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