O Auto da Compadecida: 20 anos de um raro momento da TV

Publicado em 06/01/2019

Há exatos 20 anos, em 5 de janeiro de 1999, a Rede Globo lançava a minissérie O Auto da Compadecida. Baseada no texto teatral de Ariano Suassuna, teve direção-geral de Guel Arraes, que também respondeu pela adaptação, com João Falcão e Adriana Falcão.

Logotipo da minissérie O Auto da Compadecida (Reprodução/TV Globo)
Logotipo da minissérie O Auto da Compadecida ReproduçãoTV Globo

Fruto Proibido é o nome provisório de nova minissérie da Globo

A trama de O Auto da Compadecida

A minissérie se passa na década de 1930 na cidade de Taperoá, interior da Paraíba. João Grilo (Matheus Nachtergaele) e Chicó (Selton Mello) são grandes amigos, unidos em todo tipo de peripécia. Não fazem nenhuma das suas por mal, são fruto da triste realidade de flagelo e sofrimento do nordestino sertanejo. Eles se empregam na pequena padaria de Eurico (Diogo Vilela), que é deslavadamente traído pela esposa Dora (Denise Fraga) com todo tipo de homem. O valentão da cidade, Vicentão (Bruno Garcia), é um deles. João e Chicó se revoltam com o fato de comerem mal, ao passo que a cadela de estimação de Dora come suculentos bifes fritos na manteiga.

A chegada do temível Severino

Taperoá é assolada pela chegada do cangaceiro Severino (Marco Nanini). Após ter assassinado muitas pessoas ao longo da vida, para ele matar não significa grande coisa. Ele rouba tudo que pode de todos na cidade, e os condena à morte. Vai matando um por um, até que sobram apenas João Grilo e Chicó. São assassinados o Padre João (Rogério Cardoso), o Bispo (Lima Duarte), Eurico e Dora. João usa de sua grande esperteza para enganar o cangaceiro. Faz com que ele pense que Chicó está morto e que, conforme toque sua gaita supostamente mágica, seu amigo voltará do Além. Fascinado pela figura do Padre Cícero, Severino cai na história e aceita ser golpeado para, assim, morrer, encontrar o “padrinho” e voltar, ao toque da gaita de João. Claro que se trata de uma mentira, e para vingar-se outro cangaceiro (Enrique Diaz) mata João Grilo, vingando seu chefe.

O julgamento no Tribunal das Almas

Padre João, o Bispo, Eurico, Dora, Severino e João Grilo vão parar no Tribunal das Almas, cheios de medo de irem para o inferno. O Diabo (Luís Melo) aponta todos os pecados e falhas dos recém-chegados. No entanto, Jesus (Maurício Gonçalves), que Lúcifer chama jocosamente de Manuel, intercede por todos. O Padre e o Bispo acabam perdoados, apesar da simonia, arrogância e venalidade. Eurico e Dora, apesar da avareza, humilhação dos empregados e do adultério da mulher, também acabam perdoados. Idem para Severino, tomado como fruto de um trauma de infância e do meio violento em que cresceu sem pai nem mãe. Apenas João Grilo segue na mira do Diabo. Mas a Compadecida (Fernanda Montenegro) atende ao chamado do espertalhão, e intercede por todos. Especialmente por ele, que por pouco não foi o único a padecer eternamente no inferno.

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Outros personagens da minissérie O Auto da Compadecida

O Major Antônio Moraes (Paulo Goulart) e sua filha Rosinha (Virgínia Cavendish) merecem destaque. A jovem e Chicó se enamoram, mas como o rapaz não tem onde cair morto, o Major precisa ser driblado para que a união se efetue. Sem dote a oferecer, Chicó por pouco não tem arrancada de si uma tira de couro, pelo próprio fazendeiro e futuro sogro. Todavia, Rosinha vê na porca herdada de sua avó, cheia de dinheiro, uma saída para o casal. A porca, ao ser quebrada, revela uma verdadeira fortuna – que não tem mais qualquer valor, devido à passagem do tempo. Ela acaba expulsa de casa, mas sai pelo mundo com Chicó e João Grilo.

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As reprises de O Auto da Compadecida

Em sua íntegra de quatro capítulos, a minissérie só foi reapresentada pelo Canal Viva, em 2012 e em 2014. Nesta segunda ocasião, a saber, a reprise se deu em homenagem a Ariano Suassuna, por ocasião de seu falecimento. A Rede Globo voltou a exibir O Auto da Compadecida em diversas ocasiões desde 1999, mas na versão editada para cinema. Lançada em 2000, esta ultrapassou a marca de 2 milhões de espectadores.

Este foi um trabalho “mágico” afinal, no qual tudo deu certo. A feliz adaptação do trio de roteiristas valorizou a picardia e o ritmo frenético do texto teatral. Um momento raro na televisão, com texto, direção, elenco e produção perfeitamente afinados. O resultado foi um produto de qualidade artística bastante alta, que consegue a proeza de fazer rir mesmo o espectador “careca” de acompanhar as peripécias dos dois amigos.

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