RecordTV, 65 anos: a história da dramaturgia da emissora

Publicado em 20/10/2018

No ar desde 27 de setembro de 1953, a RecordTV celebra em 2018 seus 65 anos. Das emissoras pioneiras, é a única ainda em atividade no Brasil. Neste ciclo de matérias especiais que marcam a data, vamos tratar hoje da dramaturgia da RecordTV.

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Anos 1950 e 1960: teleteatros e as primeiras novelas

Nos primeiros anos, a exemplo da TV Tupi, a RecordTV investiu em teleteatro, gênero de prestígio. A emissora chegou a ter como sua contratada a atriz Cacilda Becker em mais de uma ocasião. Ainda, em 1954 estreou a série infantojuvenil Capitão 7, com Ayres Campos no papel principal.

Com todas as emissoras seguindo o rastro da TV Excelsior, que lançou em 1963 a novela 2-5499 Ocupado em regime de apresentação diária, e o gênero ganhando cada vez mais força, a RecordTV fez o mesmo. Em 1964 entrou no ar Renúncia, escrita por Roberto Freire e Walther Negrão. Anteriormente, a história havia sido apresentada no rádio, com texto original de Oduvaldo Vianna. Em contrapartida aos elencos dramáticos das concorrentes, em meados dos anos 1960 a RecordTV aproveitou seu vasto elenco de comediantes e exibiu algumas novelas nessa linha. Os Quatro Homens Juntos foi uma, assim como Quem Bate.

Após algumas produções no gênero, a RecordTV deixou as novelas de lado. Concentrou seus investimentos em shows e humor e voltou a elas apenas em 1968, novamente para correr atrás do prejuízo.

A Última Testemunha, de Benedito Ruy Barbosa, renovou os esforços da RecordTV em novelas. Ana, de Sylvan Paezzo, ignorou alguns meses depois um novo horário. Na sequência, Algemas de Ouro, de Benedito e Dulce Santucci, uniu as equipes das atrações antecessoras e chamou a atenção com uma história de crise familiar.

Anos 1970: sucesso de público e crítica

Baseada na obra de Júlio Dinis, adaptada por Lauro César Muniz, As Pupilas do Senhor Reitor (1970) deu à RecordTV grande sucesso e foi a mostra de que a emissora queria investir no gênero. Fúlvio Stefanini, Agnaldo Rayol, Geórgia Gomide, Márcia Maria, Maria Estela e Dionísio Azevedo interpretaram os personagens principais.

Os Deuses Estão Mortos (1971) inaugurou um ciclo na obra de Lauro e também rendeu boa audiência à casa. Todavia, a aposta em obras mais melodramáticas como O Tempo Não Apaga (1972) e os problemas de ordem financeira motivados por incêndios e crises tumultuaram o setor. Em 1973, a emissora apresentou sua última novela no ciclo desses primeiros anos: Meu Adorável Mendigo, escrita por Emanoel Rodrigues.

Anos 1980: terror para atrair o público

Durante toda a década de 1980, a RecordTV não produziu novelas. Apenas projetos breves e espaçados no tempo, como uma série estrelada por José Mojica Marins. O Estranho Mundo de Zé do Caixão foi ao ar em 1981, nas noites de sexta-feira. O estilo era o que consagrou este que é um dos nomes mais importantes do nosso cinema: o terror.

Anos 1990: a volta ao gênero

Em 1997, a RecordTV voltou a investir em teledramaturgia. Canoa do Bagre, de Ronaldo Ciambroni, foi a primeira novela da retomada. Ainda, havia minisséries de teor religioso-cristão no ciclo Caminhos da Esperança, exibido de manhã. Entre os títulos produzidos, Uma Janela Para o Céu e Velas de Sangue.

Estrela de Fogo, de Yves Dumont, foi uma produção exibida às 20h, para competir diretamente com o Jornal Nacional. Gustavo (Fúlvio Stefanini) e Tadeu (Luiz Guilherme) protagonizavam a “luta de dois homens por poder e paixão”, como dizia o tema de abertura cantado pelo hoje político Marcelo Aguiar – que interpretava o peão Ventania, papel de destaque. Os números foram bastante animadores, o que levou ao desenvolvimento de uma segunda fase.

Karina Barum e Mauricio Mattar em Louca Paixão
Karina Barum e Mauricio Mattar em Louca Paixão (reprodução)

Para suceder Estrela de Fogo foi produzida Louca Paixão. Também escrita por Yves Dumont, tratava-se de uma adaptação do mesmo original que inaugurou a nossa teledramaturgia diária em 1963. Maurício Mattar e Karina Barum viveram o advogado e publicitário André e a presidiária Letícia, que cumpria pena injustamente. A história é um dos símbolos de uma fase de mais personalidade da RecordTV nesse reerguimento.

As produções antes da pausa

Na sequência veio Tiro e Queda (1999/2000), de Luiz Carlos Fusco, um grande suspense com uma série de assassinatos. Marcas da Paixão (2000), de Solange Castro Neves, centrava sua história em duas irmãs, Cíntia (Vanessa Lóes) e Guida (Carla Regina), que são obrigadas a conviver após a morte do pai milionário, Jorge Maia (Walmor Chagas). Vidas Cruzadas (2000/01), de Marcos Lazarini, tratava dos conflitos de Luiza (Patrícia de Sabrit), trocada na maternidade por ordem do próprio avô Teodoro (Sérgio Britto). Roda da Vida (2001), também de Solange, falava de um romance indesejado entre primos e uma tragédia que se abate sobre as duas famílias.

A exemplo de Essas Mulheres, outras novelas que a Record TV poderia reprisar

Anos 2000: a RecordTV “A caminho da liderança”

Metamorphoses (Record TV)
Metamorphoses (Record TV)

Com Metamorphoses, em 2004, a RecordTV investiu numa parceria com a produtora Casablanca para ter uma novela no ar. As protagonistas eram as irmãs cirurgiãs Cipriatis, Diana (Luciene Adami) e Circe (Lígia Cortez), além da meia-irmã bastarda Lia (Vanessa Lóes). Circe se casa com um mafioso japonês, Mifune (Kissei Kumamoto), e sua vida passa a correr perigo. Lia morre e Circe se vê obrigada a tomar seu lugar, para não morrer também. Diana transplanta o rosto de Lia em Circe. Com proposta audaciosa, lançamento ousado numa noite de domingo e elenco cheio de grandes nomes, a estrutura confusa e antinovelesca de Metamorphoses foi perdendo a público a cada noite. Isso depois de uma estreia com bons números. Os personagens começaram a deixar a história, em virtude da saída de seus intérpretes da equipe. A primeira foi Joana Fomm, que ainda no começo saiu da novela.

Leopoldo Pacheco e Bianca Rinaldi em A Escrava Isaura
Leopoldo Pacheco e Bianca Rinaldi em A Escrava Isaura (Divulgação/ RecordTV)

Mais para o fim do ano, o diretor Herval Rossano foi contratado para refazer na emissora um sucesso dos anos 1970 na Globo, campeão de exportações. A Escrava Isaura, romance de Bernardo Guimarães, foi adaptado por Tiago Santiago e Anamaria Nunes. Incomodou muito a Globo na faixa das 19h, e desde então, em virtude de seu sucesso, já voltou ao ar em outras três ocasiões. A mais recente delas, a saber, ocorreu em 2017. Com toda a certeza, nos próximos anos deve ser exibida novamente. O magnetismo da história é quase inexplicável.

Novos autores e novos horários: a ampliação do investimento na dramaturgia da RecordTV

Essas Mulheres (2005), atualmente em reprise, deu sequência ao núcleo. Com Prova de Amor (2005/06), de Tiago Santiago, a emissora incomodou muito a Globo na faixa das 19h, que teve ainda Bicho do Mato (2006/07) e Luz do Sol (2007), na sequência e já partindo para faixas mais tardias. Pela mesma época a emissora quis fazer a sua Malhação e produziu Alta Estação, de Margareth Boury. No entanto, a história acabou sendo contada como novela convencional mesmo.

Em 2006, Lauro César Muniz voltou à RecordTV após 35 anos afastado e fez Cidadão Brasileiro. Releitura de Escalada (1975), era a história de Antônio Maciel (Gabriel Braga Nunes) e sua ascensão, dos anos 1950 à atualidade. A saber, a novela inaugurou o horário das 20h, que não foi mantido. Nos capítulos finais Cidadão Brasileiro entrou às 22h e criou o clima para Vidas Opostas (2006/07).

A saga dos Mutantes: um marco na dramaturgia da RecordTV

Letícia Medina em anúncio da estreia de Caminhos do Coração em 2007 (Reprodução)

Para substituir Vidas Opostas, que foi muito feliz em sua dramaturgia crua e realista na trama que tratava da violência urbana carioca, a emissora investiu em ficção científica. Caminhos do Coração (2007/08) inaugurou uma trilogia que ficaria dois anos no ar: a saga dos Mutantes. Com elenco repleto de nomes trazidos da Globo e trama que atraiu o público jovem, a trilogia composta ainda por Os Mutantes – Caminhos do Coração (2008/09) e Promessas de Amor (2009) rendeu bons números para a RecordTV. Todavia, se esgotou logo, até pela grande exploração em pouco tempo. Bianca Rinaldi, Leonardo Vieira, Ítala Nandi e Gabriel Braga Nunes viveram papéis de destaque.

Anos 2010: a crise e o ciclo bíblico da dramaturgia da RecordTV

A novela Máscaras deu início à fase ruim da Record em novelas
A novela Máscaras deu início à fase ruim da Record em novelas (Divulgação/Record)

A dramaturgia da RecordTV continuou chamando a atenção do público. Como resultado de esforços nesse sentido e de um bom momento da emissora, outros títulos tiveram boa audiência. Não apenas a saga dos mutantes, como também Chamas da Vida (2008/09), Poder Paralelo (2009/10), Bela, a Feia (2009/10), Ribeirão do Tempo (2010/11) e Vidas em Jogo (2011/12) fizeram bonito. No entanto, na sequência uma série de problemas levou as produções da casa a uma queda de audiência. De tal sorte que Máscaras (2012) e Dona Xepa (2013) ficaram entre as novelas menos vistas dos últimos 15 anos na RecordTV. Desse modo, não tardou para que o departamento fosse remodelado.

Em virtude de algumas investidas mal-sucedidas, a RecordTV decidiu levar para as novelas o filão que já se mostrava eficaz nas minisséries. Os Dez Mandamentos, de Vivian de Oliveira, foi a primeira das “novelas bíblicas”, em 2015. Anteriormente concebida como minissérie, foi convertida em novela ainda antes de estrear e fez grande sucesso.

A faixa das 20h30 tem sido dedicada ao gênero desde então. Foram exibidas duas temporadas de Os Dez Mandamentos. Posteriormente, a saber, vieram A Terra Prometida, O Rico e Lázaro e Apocalipse. Atualmente, está em cartaz Jesus, de Paula Richard, que busca recuperar a audiência perdida pela antecessora.

As séries e minisséries na dramaturgia da RecordTV

Marcilio Moraes
Marcílio Moraes (Reprodução)

Com efeito, com os altos e baixos e mudanças de orientação geral na teledramaturgia da RecordTV, gêneros além das novelas costumam ter menos vez. No entanto, A Lei e o Crime (2009), de Marcílio Moraes, foi uma exceção. Bem como Conselho Tutelar. Plano Alto (2014), também de Marcílio, aliou bem os bastidores da política a conflitos familiares de três gerações de contestadores. Gracindo Júnior teve aqui um grande momento no papel do governador fluminense Guido Flores.

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