A Viagem: os 43 anos do clássico de Ivani Ribeiro

Publicado em 02/10/2018

Em 1º de outubro de 1975, portanto, há exatos 43 anos, a Rede Tupi colocou no ar o primeiro capítulo de A Viagem, de Ivani Ribeiro. A história ocupou o horário das 20h da emissora por seis meses e atraiu atenção pelo modo de aliar dramaturgia e noções da doutrina espírita. É uma das novelas mais lembradas não só da emissora, mas também da obra de Ivani.

Para desenvolver o tema a contento, Ivani teve a assessoria de J. Herculano Pires. A saber, ele adaptou a trama da novela para o formato de livro. A publicação ocorreu em 1976 pela editora gaúcha Bels, na série “Grandes Novelas da TV”.

O contexto da estreia de A Viagem

No final de junho de 1975, a Tupi havia estreado no horário das 20h a novela Ovelha Negra. Escrita por Chico de Assis e Walther Negrão, a história tinha como protagonista Júlio Monteiro (Rolando Boldrin), que se coloca contra toda uma cidade. No entanto, Ovelha Negra não empolgou tanto quanto sua antecessora, Ídolo de Pano (1974/75), de Teixeira Filho.

Em agosto, com a proibição da exibição de Roque Santeiro pela Censura, a Tupi se valeu dessa dificuldade da Rede Globo e decidiu acabar com seu cartaz de então a toque de caixa. A emissora carioca colocou um ar uma reprise de Selva de Pedra (1972/73), de Janete Clair. Assim, a intenção foi ganhar terreno no horário com uma concorrente inédita. A convocada para a empreitada foi Ivani Ribeiro. Além da experiência e competência comprovadas, ela vinha de três grandes sucessos: Mulheres de Areia, Os Inocentes e A Barba Azul, entre 1973 e 1975.

A história principal de A Viagem

A história inspirada na filosofia do espírita Allan Kardec começa quando o inconsequente Alexandre (Ewerton de Castro) mata um homem que o flagra numa tentativa de roubo. Ele pede a ajuda de um dos irmãos, Raul (Adriano Reys), e do cunhado Téo (Tony Ramos), para fugir da polícia. Acaba preso, e rumina na cadeia um forte desejo de vingança contra os dois. Principalmente, contra o advogado César Jordão (Altair Lima), que se recusa a defendê-lo ao ser procurado pela mulher de Téo, Dinah (Eva Wilma). César tem motivos pessoais para a recusa. Além de seu apreço pela real justiça, ele era amigo do assassinado e padrinho de seus filhos pequenos.

O casamento de Dinah e Téo vai mal. Mais velha, ela tem um ciúme doentio do marido e enxerga assédio de todas as mulheres que surgem no caminho. A insegurança de Dinah enfraqueceu a união.  Muitos são os conselhos de toda a família, especialmente da mãe, Dona Isaura (Carmen Silva), e da irmã Estela (Irene Ravache). Todavia, Dinah acaba fazendo com que Téo se afaste. Ele se envolve com a ex-namorada de Alexandre, Lisa (Elaine Cristina). Ao passo que Dinah, quem diria, reencontra o amor justamente nos braços de César, que é viúvo. Eles iniciam um relacionamento que vai ficando cada vez mais forte com o passar do tempo.

O espírito obsessor de Alexandre tumultua a vida no plano terrestre

Alexandre acaba se suicidando na prisão. Após sua morte, seu espírito obsessor ainda está apegado aos fatos e figuras do plano terrestre. E coloca em prática os planos declarados a todos, especialmente ao médico Alberto (Rolando Boldrin), amigo da família. Alexandre passa a se vingar de todos aqueles que julga responsáveis por ele ter ido parar na cadeia, ignorando o fato de que ele mesmo fez coisas que levaram a isso. Para atingir César, influencia negativamente Júnior (Carlos Alberto Riccelli), seu filho. De estudioso, responsável, o jovem passa a ser rebelde, rude e se torna motivo de preocupação para todos.

Téo também sofre a influência de Alexandre, e por isso cria muitos problemas para si mesmo, quer no campo profissional, quer na vida privada. O irmão, Raul, passa de homem feliz e bem casado com Andrezza (Joana Fomm) a infeliz, insatisfeito e alvo das críticas e aporrinhações da sogra Guiomar (Carminha Brandão), que antes o via e tratava como um filho. E é claro que as vidas de todos que se relacionam com eles acaba impactada.

Entre as tramas paralelas de destaque, havia a de Carmem (Ana Rosa), bela jovem que precisava se disfarçar para parecer feia. Por causa de Dinah, sua patroa, para que não a demitisse da loja onde trabalhava. Posto que poderia ser atraente aos olhos de Téo. E também a história do casamento fracassado de Estela com o mau-caráter Ismael (Serafim Gonzalez), que havia abandonado a esposa e a filha, Maria Lúcia (Suzy Camacho), quando ainda criança. Já adolescente, a jovem agora sente muita falta do pai, o que a torna um prato cheio para o bandido. Ele reaparece e se reaproxima de Estela com a desculpa de recuperar o tempo perdido com a menina.

Lúcia Lambertini, a inesquecível Dona Cidinha

Lúcia Lambertini em A Viagem (Reprodução/Rede Tupi)
Lúcia Lambertini em A Viagem ReproduçãoRede Tupi

O núcleo de humor era liderado por Dona Cidinha (Lúcia Lambertini). Ela era a simpática e fofoqueira dona da pensão que abrigava diversos personagens. Entre eles, o simpático Seu Tibério (Abrahão Farc), que conversava com seu guia espiritual que apenas ele via. A cabeleireira Fátima (Wilma de Aguiar) disputa sua atenção com Cidinha. A jovem Nenê (Tereza Sodré), namorada de Júnior, era outra moradora. A atriz é ícone de uma geração em virtude de seu trabalho como a primeira Emília do Sítio do Picapau Amarelo. Exibida ao vivo, foi ao ar entre as décadas de 1950 e 1960 na Tupi. Lúcia Lambertini faleceu inesperadamente, pouco depois do final de A Viagem.

O reencontro do casal, em “Nosso Lar”

Altair Lima, Eva Wilma e Cláudio Corrêa e Castro em A Viagem (Divulgação/IMDB)
Altair Lima Eva Wilma e Cláudio Corrêa e Castro em A Viagem DivulgaçãoIMDB

Ao longo da novela, César morre. Posteriormente, a morte de Dinah faz com que ela também vá para um novo plano espiritual. Com a ajuda do Irmão Daniel (Cláudio Corrêa e Castro), ela reaprende a se relacionar com as pessoas e os sentimentos em “Nosso Lar”, para onde vai. Em seu aprendizado, Dinah tem que lidar especialmente com seu ciúme e o sentimento de posse. Ao reencontrar César, ela o vê na companhia de Verônica. Acreditando-se “fora da jogada” em virtude da reunião do casal Jordão, Dinah sofre. Mas os acontecimentos caminham para uma união das almas que de fato se amavam: a dela e a de César, para toda a eternidade. O casal passa a neutralizar os atos do irmão dela sobre os vivos. Entre estes, o Dr. Alberto ajuda a todos, com orientações acerca do caráter obsessivo e maléfico do espírito de Alexandre.

Ainda, após o sofrimento motivado por suas escolhas erradas na vida à qual dera fim por si, Alexandre também aprende muitas coisas. E ganha a chance de sair do Vale dos Suicidas e ir para “Nosso Lar”. Junto da irmã mais velha e de César, o rapaz enfim pode iniciar uma nova caminhada, envolto em luz e bons sentimentos.

Há 24 anos, Globo estreava A Viagem, um dos maiores sucessos da emissora

A reprise e o remake

Em 1980, já vivendo grave crise, a Tupi reprisou A Viagem às 20h, de fevereiro a julho. Na ocasião foi exibida uma nova abertura, criação de Cyro Del Nero. Esse repeteco ocupou a vaga deixada por Como Salvar Meu Casamento. A história de Edy Lima, Carlos Lombardi e Ney Marcondes saiu do ar sem exibir seu último capítulo, inclusive.

Em 1994, a Globo surpreendeu ao programar para seu horário das 19h, usualmente dedicado às comédias, um remake de A Viagem. Escrito por Ivani com a colaboração de Solange Castro Neves na adaptação, o remake estreou em abril e alcançou grande sucesso. Foi a maior audiência do horário em toda a década. Nesses 24 anos a novela já foi exibida quatro vezes. A mais recente no Canal Viva, e anteriormente outras duas reapresentações ocorreram no Vale a Pena Ver de Novo. Dinah, César (agora Otávio) e Alexandre foram interpretados por Christiane Torloni, Antonio Fagundes e Guilherme Fontes.

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