TV Mulher e os programas que querem fazer TV para a mulher

Publicado em 06/04/2018

Às 9 da manhã de 7 de abril de 1980, a Rede Globo lançou um programa que marcou época e influenciou direta ou indiretamente todos os que procuraram atender à mesma fatia do público até hoje: TV Mulher. Já na abertura, que era embalada por “Cor de Rosa-choque”, composta e interpretada por Rita Lee, e mostrava os diferentes setores de uma emissora de televisão com mulheres desempenhando todas as funções, deixava-se clara a visão da atração: a mulher é capaz de fazer qualquer coisa que o homem faça, com igual ou maior competência.

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O programa era direcionado à mulher moderna, que ainda que não trabalhasse fora encontraria nele informações sobre diversos aspectos da vida e do dia a dia, como dicas de economia doméstica, moda, lazer, beleza, vida sexual, saúde em geral e entrevistas que falassem de temas gerais e não somente de amenidades “para mulherzinha”.

TV Mulher pode ganhar segunda temporada

Marília Gabriela foi a apresentadora do programa em seus primeiros quatro anos. Depois dela passaram pela atração Esther Góes, César Filho e Amália Rocha. Inicialmente a exibição era apenas para as praças de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, até que em 1983 passou a ser em rede nacional. TV Mulher permaneceu no ar até junho de 1986, e a fórmula foi muito copiada, com maior ou menor profundidade, por todos os programas femininos desde então.

Ainda que não assumam oficial e claramente como “femininos”, diversos programas posteriores apresentam características que aludem ao TV Mulher, principalmente na ideia geral da “mulher moderna”, hoje mesclada com a da mulher independente que, mesmo casada, não quer ou não pode depender apenas do marido e participa da composição da renda familiar ainda que não trabalhe fora. As muitas customizações e dicas de projetos do É de Casa, matinal de sábado na Globo (nem sempre fáceis de fazer diga-se), além da infinidade de receitas do mesmo programa e dos diários como Mais Você, Mulheres (Gazeta), Melhor da Tarde (Bandeirantes), Hoje em Dia (Record), Edu Guedes e Você (Rede TV!), por exemplo, colaboram para que o público disposto a copiá-las “ganhe um dinheirinho” com sua comercialização.

A Bandeirantes prepara o lançamento de um novo programa feminino, o Superpoderosas, que ocupará a partir de segunda, dia 9 (a estreia estava prevista para a última segunda, dia 2) as manhãs de segunda a sexta-feira da emissora, das 9h50 às 11h. A apresentação será de Natália Leite, com Ana Paula Padrão por trás do projeto – originado da Escola de Você, desenvolvida por ela –, que pode vir a resgatar o espírito do antigo TV Mulher no sentido de que, nesses quase 40 anos, a mulher evoluiu, tornou-se ativa na sociedade, conquistou e ampliou seu espaço, saiu da sombra do homem à qual as instituições a relegavam para andar com as próprias pernas, enquanto os programas dedicados à mulher na TV foram no sentido completamente inverso, chegando hoje a desfiles de leveza no mau sentido do termo, com fofocas e futilidades.

O espírito do empoderamento feminino, tão em voga nos últimos tempos com essa nomenclatura, será a essência da atração, permitindo ao público o elo permanente através das redes sociais por meio das quais poderão ser enviadas sugestões de pautas para as “Superaliadas”, nome dado às colunistas nos diversos quadros. Dicas sobre empreendedorismo, carreira, autoconfiança, saúde e comportamento estarão frequentemente no Superpoderosas, que funcionará como uma manifestação audiovisual do espírito da Escola de Você, que propicia o aprendizado e desenvolvimento de conteúdos e aptidões. Astutamente, a emissora deseja atrair um público que não a sintoniza, com atrações interessantes e de custo menor do que as dispendiosas transmissões esportivas, por exemplo, essencialmente masculinas.

Os muitos programas ditos femininos que há na nossa TV podem e devem aprender muito tanto com TV Mulher, que aniversaria ainda na vanguarda do gênero, como com seus “irmãos” que surgem na intenção de propor novas visões para o universo da mulher na telinha. Em tempos de discussões cada vez mais amplas sobre igualdade entre homens e mulheres, não cabe ir na contramão e colocar no ar programas que convertam as espectadoras em Amélias.

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