Amizade Colorida: a comédia do homem fragilizado diante da mulher

Publicado em 20/04/2018

Em 1981, após o encerramento de Malu Mulher (1979/80), série com Regina Duarte que representou um marco das discussões dos temas femininos na teledramaturgia, a Rede Globo estreou uma espécie de resposta bem-humorada ao projeto: Amizade Colorida – que inicialmente se chamaria Edu Homem, o que junto com a tônica da nova série gerou diversas críticas – trazia como personagem central Edu (Antonio Fagundes), um fotógrafo que, em meio a diversos casos amorosos descompromissados, via em xeque sua condição de “macho alfa” diante de um mundo no qual cada vez mais os homens eram acuados pela ascensão e emancipação das mulheres.

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O dia e o horário de exibição da série eram os mesmos de Malu Mulher: segunda-feira, às 22h10min, na segunda faixa da linha de shows. A equipe de criação era composta por Armando Costa, Bráulio Pedroso, Domingos de Oliveira e Lenita Plonczynski, que delineavam juntos os enredos e escreviam um episódio cada.

Antonio Fagundes
Antonio Fagundes (Divulgação)

O estúdio de fotografia de Edu era em seu próprio apartamento, com um laboratório para revelar as fotos no banheiro, totalmente improvisado. Carioca com vivência em São Paulo, na casa dos 30 anos de idade, experiente Don Juan, Edu era um machista tradicional que via as transformações acontecendo e precisava se adequar a elas no tocante à posição das mulheres, mantendo com elas um tipo de relação honesta e sem chauvinismo. Sem emprego fixo, vivendo do que surgia para poder pagar as contas, de sunga pelo apartamento-estúdio tanto tempo quanto pudesse, Edu expressava por meio do bordão “ou não?” ao final das frases suas incertezas, dúvidas, sua necessidade de se encontrar num mundo em transformação.

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Carla Camurati e Tamara Taxman em cena do episódio “Gatinhas e Gatões”
Carla Camurati e Tamara Taxman em cena do episódio “Gatinhas e Gatões” (Reprodução)

Em razão dos envolvimentos afetivos e sexuais sem compromisso de Edu, que originaram o título do programa, Amizade Colorida provocou bastante celeuma com a Censura, ainda plenamente atuante, e com camadas mais puritanas da sociedade que se chocaram com os enredos dos episódios. Escrito pelo próprio Fagundes, “Bagunça” teve sua exibição cancelada porque foram feitos tantos cortes no episódio que sua compreensão tornou-se impossível. No horário previsto para a exibição a emissora exibiu um comunicado explicando a situação e expondo publicamente a atitude que tomara a respeito: a impetração de um recurso junto à Censura. Um pouco antes, “Gatinhas e Gatões”, que mostrou Edu se envolvendo com mãe (Tamara Taxman) e filha (Carla Camurati) gerou manifestação pública de desagrado do então ministro da Justiça do governo João Figueiredo, Ibrahim Abi-Ackel, e do Grupo de Mulheres do Alto de Santana (bairro da zona norte da capital paulista), que chegou a encaminhar para as autoridades um abaixo-assinado com mais de 100 mil assinaturas.

Participaram das aventuras de Edu como atores convidados Renée de Vielmond, Sandra Bréa, Francisco Milani, Maria Lúcia Dahl, Tânia Loureiro, Eduardo Conde, Osmar Prado, Lúcia Alves, Francisco Dantas, Olney Cazarré, Clementino Kelé, Ariel Coelho, Ivan de Albuquerque, Fernando Eiras, Felipe Wagner, Macedo Netto, Mira Palheta, Cláudia Ohana e Ísis de Oliveira, entre outros. Uma curiosidade é que a abertura da série, embalada por Gilberto Gil cantando “Pela Lente do Amor”, mostrava Luiza Brunet e Xuxa Meneghel sendo clicadas pelo protagonista.

Ao todo foram exibidos apenas 11 episódios da série, entre 20 de abril e 29 de junho de 1981, com direção de Dênis Carvalho, Walter Campos e Ary Coslov e supervisão de Paulo Afonso Grisolli. As dificuldades para manter o programa no ar, ante os problemas com a Censura e as diversas manifestações de organizações da sociedade civil que o consideravam um desserviço à discussão de temas importantes, seguramente colaboraram para isso. Alguns episódios foram reprisados em 1990, às 13h30, e em 1995, às 14h, em festivais comemorativos, respectivamente, dos 25 e dos 30 anos da Globo. Menos de uma geração depois e não houve barulho negativo em torno do programa nem de sua exibição logo depois do almoço…

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