Há 30 anos, Jô Soares estreava no SBT

Publicado em 26/03/2018

No final de 1987, Jô Soares deixou a Globo e foi para o SBT, que lhe deu a oportunidade de fazer um programa que sonhava há tempos: um talk show no final da noite. Mas também era interesse de Silvio Santos que Jô fizesse um humorístico nos moldes do Viva o Gordo, sucesso na Globo desde 1981 nas noites de segunda-feira e consequência do trabalho do artista em outras três atrações anteriores desde 1970: Faça Humor, Não Faça a Guerra (1970-1973), Satiricom (1973-1975) e O Planeta dos Homens (1976-1982).

Com a saída de Jô de sua faixa noturna das segundas, a Globo perdeu na ocasião cerca de 40 milhões de cruzados mensais, entre patrocínios e ações de merchandising. Perdeu também os roteiristas Max Nunes e Hilton Marques, e também nomes de seu elenco de humor, que seguiram com Jô para o SBT. Entre eles, Eliezer Motta, Marlene Silva, Suzy Arruda, Bia Nunnes, Maria Cristina Nunes (ambas filhas de Max), Alexandre Régis e Paulo Celestino Filho. Houve represálias da Globo, que cancelou os dois programas especiais de fim de ano de 1987 do Viva o Gordo que estavam planejados, tirou Jô do Jornal da Globo, onde ele fazia comentários, e barrou a exibição de comerciais com Jô – e de Jô, anunciando seus shows de teatro.

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Na época, Jô foi muito questionado tanto sobre a proposta financeira que o teria convencido a deixar o conforto de quase 20 anos de Globo, mais do que estabilizado, quanto a respeito das condições técnicas do SBT, inferiores às da emissora carioca. Sobre o primeiro assunto ele sempre foi reservado, chegando mesmo a dizer que os valores só interessavam a Silvio Santos, que era quem pagava, a ele, que recebia, e ao Imposto de Renda, como numa entrevista à jornalista Antônia Chagas publicada pela revista Afinal em novembro de 1987. Em relação ao segundo, Jô respondeu que um programa como o dele, calcado no trabalho dos atores e não em aparato técnico, poderia perfeitamente ser feito com bastante qualidade também na TVS – nome pelo qual o hoje SBT era conhecido na época e foi durante mais de 10 anos.

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Num convite para o espectador que não o encontraria mais na Vênus Platinada, o programa de Jô no SBT ganhou o nome de Veja o Gordo, exibido no mesmo dia e no mesmo horário aos quais o público estava acostumado: segunda, por volta das 21h30, com estreia em 7 de março de 1988. Como a atração que a Globo programou para concorrer no mesmo dia e horário foi a sessão de longas-metragens Tela Quente, o início dos programas de Veja o Gordo traziam a seguinte locução, enquanto se viam cortinas com a logomarca da atração: “Veja o Gordo! Se você quiser autógrafos dos nossos artistas, venha a São Paulo; se quiser dos artistas da concorrente, vá aos Estados Unidos… No ar, mais um vice-campeão de audiência!”

Vovó Naná, Rochinha e Dalva Mascarenhas foram alguns dos personagens retomados por Jô na TVS, enquanto a propagadora de más notícias Lilian Bife Quibe foi uma entre os novos lançados. O último quadro de cada programa continuou sendo com o telespectador Zezinho, ávido pelo “istripitrisi” prometido por Jô, que contracenava consigo mesmo (ladeado por belas garotas), enquanto tomava sua cerveja Antarctica e criticava o que havia acabado de ir ao ar no próprio programa.

Veja o Gordo durou até o começo de 1990, quando Jô encerrou o humorístico e passou a se dedicar exclusivamente ao programa de entrevistas, Jô Soares Onze e Meia. Como havia o humor nas segundas, inicialmente as entrevistas eram exibidas apenas de terça a sexta-feira. A estreia ocorreu em 16 de agosto de 1988, após cinco meses no ar na nova casa. Entre os primeiros entrevistados estiveram o cantor e compositor Zé Rodrix; os atores Paulo Autran e Marcelo Gastaldi (este também dublador, dono da consagrada voz de Chaves e Chapolin); o ator e cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão; o ex-ministro da Fazenda do governo Sarney, o empresário Dilson Funaro; os políticos Esperidião Amin e Fernando Lyra; a atleta Hortência; o navegador Amyr Klink; e a “Cicciolina do Bixiga”, Mokerley Reis. Não era a primeira vez que Jô comandava um talk show – foi um dos entrevistadores do programa de Silveira Sampaio no início dos anos 1960, na Record, e teve o Globo Gente em 1973, que era exibido às terças e durou pouco –, mas as circunstâncias eram novas e uma grande inspiração, no norte-americano Johnny Carson, também.

Uma série de contratações e lançamentos de novos programas, sendo os de Jô alguns deles, na ocasião faziam parte de uma grande estratégia da TVS para se credibilizar junto a uma faixa do público (e dos anunciantes) que a emissora não alcançava com uma grade mais popularesca, calcada em shows de auditório e enlatados. As estreias de Hebe Camargo em 1986 e de Carlos Alberto de Nóbrega com A Praça É Nossa em 1987, seguidas das de Jô Soares e de Boris Casoy no TJ Brasil, não foram promovidas ao acaso e sim bastante calculadas.

Jô Soares Onze e Meia ficou no ar até dezembro de 1999, ano ao final do qual o artista voltou para a Globo, onde em abril de 2000 estreou o Programa do Jô, encerrado em dezembro de 2016 e cujo espaço na grade global fora ocupado pelo Conversa Com Bial.

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