Há sete anos, Globo lançava a segunda versão de Ti Ti Ti

Publicado em 19/07/2017

No dia 19 de julho de 2010, estreava na faixa das 19 horas da Globo a novela Ti Ti Ti. Uma das melhores e mais bem-sucedidas novelas das sete da década, a trama era assinada por Maria Adelaide Amaral, que recriou duas obras de Cassiano Gabus Mendes: Plumas & Paetês, de 1980, e Ti Ti Ti, de 1985.

A espinha dorsal da Ti Ti Ti versão 2010 era a mesma da original de 1985, mostrando a rivalidade entre dois costureiros rivais, Jacques LeClair (Alexandre Borges) e Victor Valentim (Murilo Benício). Jacques era o codinome de André Spina, que era amigo de infância de Ariclenes Martins, o “criador e intérprete” de Victor Valentim. Criados juntos, os dois acabaram desenvolvendo uma inimizade, que se tornou uma intensa rivalidade.

Jacques LeClair está no auge de sua fama como estilista e costureiro, porém passa por uma séria crise criativa. Ele conhece a espalhafatosa Jaqueline Maldonado (Claudia Raia), que passa a auxiliá-lo na criação de seus modelitos. A maluca mulher, no entanto, se apaixona perdidamente por Jacques, e acaba se separando do marido, o mau-caráter Breno (Tato Gabus Mendes), para ficar com o costureiro. Já ele não corresponde a este amor, mas resolve usá-lo para manter Jaqueline por perto, pois sem ela não consegue mais criar. Enquanto isso, Ariclenes, o Ari, vive numa eterna pindaíba, sempre pensando numa maneira de ganhar dinheiro. Ao conhecer a idosa Cecília (Regina Braga), que vive criando vestidinhos para suas bonecas, ele tem uma ideia genial: passa a copiar os modelitos e, com a ajuda do filho Luti (Humberto Carrão) e das amigas costureiras Marta (Dira Paes) e Nicole (Elizângela), se lança no mercado da moda como o misterioso espanhol Victor Valentim.

Paralelamente, desenvolve-se a história da mocinha Marcela (Isis Valverde), que vive em Minas Gerais e é amiga do casal gay Julinho (André Arteche) e Osmar (Gustavo Leão). Ela vai ao Rio de Janeiro com Osmar, mas os dois sofrem um grave acidente. Osmar morre e Marcela, que passa dias desacordada, é amparada por Bruna (Giulia Gam) e Gustavo (Leopoldo Pacheco), pais de Osmar, que acreditam que ela é a namorada do filho. Como Bruna não sabia que o filho era gay, e Gustavo não tem coragem de contar à esposa, tendo em vista sua posição conservadora e sua saúde debilitada, pede à Marcela para manter a aparência. O problema é que ela está grávida de Renato (Guilherme Winter), e Bruna acredita que o bebê é de seu filho morto. Tempos depois, Marcela acaba se envolvendo com Edgar (Caio Castro), irmão de Osmar, e o relacionamento é defenestrado por Bruna. Para piorar, Renato reaparece, formando um intrincado triângulo amoroso.

Assim, Maria Adelaide Amaral fundiu, com muita habilidade, as tramas de Ti Ti Ti e Plumas & Paetês. Da primeira, manteve a abordagem do mundo da moda, centrada em André e Ari, além de várias tramas paralelas; e da segunda, adaptou a saga de Marcela, além de manter a história de amor entre a rica Rebeca (Christiane Torloni) e o humilde Gino (Marco Ricca). As tramas se encontravam por meio da revista Moda Brasil, editada por Suzana (Malu Mader), ex-mulher de Ari, e que pertence a Gustavo, pai de Edgar. Assim, com duas histórias principais, Maria Adelaide Amaral conseguiu fazer uma novela que atendesse a todos os públicos, pois, com a briga entre Jacques LeClair e Victor Valentim, ofereceu um humor nonsense da melhor qualidade, enquanto o folhetim tradicional era bem representado pelo triângulo envolvendo Marcela, Edgar e Renato.

Jacques LeClair e Victor Valentim, assim, foram mostrados bem carregados nas tintas, sobretudo o primeiro. Alexandre Borges adotou um tom afetado caricatural, que divertiu muito. Cheio de trejeitos, tornou-se uma atração à parte. Já Murilo Benício apostou num tom carregado de ironia, fazendo de Ari um malandro adorável. A trama também trouxe uma nova Jaqueline, aqui Jaqueline Maldonado, uma figura inusitada e que caiu como uma luva para Claudia Raia, num momento absolutamente genial. À Jaqueline cabiam as melhores frases da novela, já que a figura sempre tinha uma história inusitada sobre a sua vida para contar.

Jaqueline teve uma banda de rock, a Boletim de Ocorrência, que tocava hits como “Papai me Empresta o Sutiã” e “Sergio Chapelin Apaixonado”. “Quando eu tinha minha banda de rock, toda semana ia pro xilindró! A última vez foi em Blumenau. Um fã pediu pra eu cantar uma música do Roupa Nova e eu ateei fogo no cabelo dele. Tem gente que não tem o menor senso de humor!”, revelou. Jaqueline também já contou detalhes inusitados de um certo carnaval. “Depois da quinta tequila, não consigo pensar em mais nada! Mas diz a lenda que eu rolei Pelourinho abaixo, gritando para todo mundo me morder porque eu era um acarajé! No dia seguinte, eu parecia uma peneira de um e oitenta de altura. Que grande carnaval aquele!”, exclamou. Jaqueline assistiu a muitas novelas, já que disparou sentenças como: “faça como Laurinha Figueiroa: se joga!”. A estilista também chegou a se internar num convento, onde virou a “Irmã Desgosto”.

Em entrevistas, Maria Adelaide Amaral afirmou que o sucesso dos diálogos nonsense de Jaqueline era creditado a Vincent Villari, na época colaborador do texto. A autora afirmou que toda a construção de Jaqueline havia saído da cabeça dele. Depois de Ti Ti Ti, Villari seria promovido a autor principal, assinando junto com Maria Adelaide as novelas Sangue Bom e A Lei do Amor.

Com Ti Ti Ti, além de mesclar duas novelas de Cassiano Gabus Mendes, a autora também fez várias homenagens ao novelista durante a obra, resgatando diversos personagens de outras novelas dele. Assim, passaram pela trama nomes como Mário Fofoca (Luiz Gustavo), de Elas por Elas; Kiki Blanche (Eva Todor), de Locomotivas; a divina Magda (Vera Zimmermann), de Meu Bem, Meu Mau; e Rafaela Alvaray (Marília Pera), de Brega & Chique; entre outros.

Com 209 capítulos, Ti Ti Ti foi escrita com a colaboração do já citado Vincent Villari, além de Álvaro Ramos, Letícia Mey, Rodrigo Amaral e Marta Nehring, e com direção de Marcelo Zambelli, Maria de Médicis e Ary Coslov, e direção-geral e de núcleo de Jorge Fernando. A trama recuperou a audiência do horário das sete, que vinha em baixa depois do fracasso de Tempos Modernos, e entregando em alta para Morde & Assopra, de Walcyr Carrasco, que manteve o bom momento do horário.

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Relembre divertidos momentos de Jaqueline Maldonado em Ti Ti Ti:

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