Há nove anos, estreava A Favorita

Publicado em 02/06/2017

Duas mulheres com versões distintas da mesma história. Donatela (Claudia Raia) afirmava que Flora (Patrícia Pillar) havia assassinado seu marido Marcelo (Flavio Tolezani). Já Flora, que passou 20 anos presa pelo crime, insistia que Donatela era a culpada, e saía da cadeia disposta a provar sua inocência. Afinal, quem estava falando a verdade? Com este enigma, estreava em 02 de junho de 2008 a novela A Favorita, estreia de João Emanuel Carneiro no horário mais nobre da Globo.

Em entrevistas, o autor João Emanuel Carneiro afirmava que, com A Favorita, ele queria colocar em xeque o julgamento que fazemos das pessoas. Por isso, propôs uma espécie de brincadeira ao seu público, quase como induzindo-o a fazer um veredicto incorreto. Flora saía da cadeia com cara de coitada, fazendo de tudo para “provar sua inocência”. Já Donatela aparecia como uma perua fútil, que fazia vista grossa diante das armações de seu marido Dodi (Murilo Benício). Assim, era bem fácil concluir que Flora dizia a verdade, e Donatela era a verdadeira assassina da história.

Entretanto, aos poucos, a narrativa de A Favorita vai ganhando novos contornos. Para se aproximar de Lara (Mariana Ximenes), sua filha e que foi criada por Donatela, Flora passa a fazer algumas armações não muito de acordo a alguém que se dizia inocente. Enquanto isso, Donatela também armava, mas com a clara intenção de que queria proteger Lara da aproximação de Flora. Aos poucos, Flora vai se mostrando uma mocinha capaz de fazer vilanias, enquanto Donatela tomava atitudes que não condiziam muito com uma vilã.

Até que, no capítulo 56, a verdade vem à tona: Flora e Donatela, num embate, conversam sobre o crime, e Flora afirma, com todas as letras, que é a assassina de Marcelo. A partir deste momento, fica claro aos olhos do público que Flora é a grande vilã da história. Já Donatela passa a viver um calvário, graças a uma série de armações da vilã, tornando-se a mocinha acusada injustamente. Para fazer com que Donatela se dê muito mal, Flora chantageia Cilene (Elizângela), a única testemunha do crime, e a obriga a mudar seu depoimento e afirmar que Donatela era a assassina. Cilene havia criado Halley (Cauã Reymond), sem saber que ele era o filho sequestrado de Donatela, e tinha medo de que todos descobrissem a verdade. No passado, o menino fora sequestrado por Silveirinha (Ary Fontoura), ex-marido de Cilene e ex-empresário da dupla sertaneja Faísca & Espoleta, formada por Donatela e Flora.

Ao mesmo tempo, Flora mata o Dr. Salvatore (Walmor Chagas), médico que havia ouvido Marcelo afirmar que foi Flora quem atirou nele, e coloca a culpa em Donatela. Assim, a mocinha passa a ser perseguida pela polícia. Após uma fuga cheia de reviravoltas, Donatela é presa e, na cadeia, conhece Diva (Giulia Gam), inimiga de Flora, Com a ajuda dela, Donatela foge da prisão e passa a viver escondida, tentando reunir provas de sua inocência. Ela conta com a ajuda de Zé Bob (Carmo Dalla Vecchia), um jornalista apaixonado por ela.

Ou seja, não faltava emoção e reviravoltas em A Favorita, uma estreia com o pé direito de João Emanuel Carneiro no restrito time de autores das nove da Globo. Ele foi “promovido” ao emplacar duas das mais bem-sucedidas novelas das sete da década de 2000, Da Cor do Pecado e Cobras & Lagartos. A trama começou em baixa em razão da forte concorrência com Os Mutantes – Caminhos do Coração, novela de grande sucesso da Record. Entretanto, aos poucos, a novela foi engrenando, ganhando seu público a partir da revelação de quem era a vilã, permitindo com que Flora fosse alçada a uma das maiores pestes da dramaturgia. Ardilosa, dissimulada e muito bem-humorada, Flora fez história na teledramaturgia, fazendo com que Patrícia Pillar ganhasse diversos prêmios por sua excelente construção da psicopata.

A Favorita também abriu caminho para que João Emanuel Carneiro emplacasse seu maior sucesso, Avenida Brasil. O novelista afirmou que foi quando percebeu que Flora fazia sucesso junto ao público que lhe veio a ideia de criar uma mocinha capaz de cometer algumas vilanias, culminando com o nascimento de Nina (Débora Falabella) e sua rival Carminha (Adriana Esteves) da trama de 2012.

A Favorita ganhou status de cult, e conta com fãs ardorosos até os dias de hoje. Personagens como Irene (Gloria Menezes), Gonçalo (Mauro Mendonça), Copola (Tarcísio Meira) e o vilão Dodi caíram nas graças do público, que também se compadeceu do drama de Catarina (Lília Cabral), filha de Copola e dona da melhor trama paralela do enredo. Dona de casa humilde, Catarina apanhava do marido, Leo (Jackson Antunes), e precisaram muitos capítulos para que ela, finalmente, se livrasse das garras do mau-caráter. Para isso, ela contava com a ajuda de Vanderlei (Alexandre Nero), um verdureiro apaixonado por ela, e também de Stela (Paula Burlamaqui), uma dona de restaurante que também nutria um forte sentimento por Catarina.

A Favorita tinha como tema de abertura o tango Pa’Bailar, do grupo argentino Bajofondo. Os acordes eram marcantes, combinando perfeitamente com a ótima abertura da produção. Vale lembrar que os nomes de Claudia Raia e Patrícia Pillar apareciam em ordem alternada a cada capítulo, já que as duas eram as grandes protagonistas do enredo.

Escrita por João Emanuel Carneiro, com colaboração de Denise Bandeira, Fausto Galvão, Márcia Prates, Vincent Villari e Antônia Pellegrino, A Favorita contou com direção de Paulo Silvestrini, Gustavo Fernandez, Roberto Vaz, Pedro Vasconcelos, Marco Rodrigo, Roberto Naar, Rogério Gomes, Ary Coslov e Isabela Secchin, e direção-geral e núcleo de Ricardo Waddington. A novela fechou com média de 39,5 pontos no Ibope da Grande São Paulo, e foi considerada um sucesso.

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Relembre a cena em que Flora mata Gonçalo, uma das mais tensas da trama:

https://www.youtube.com/watch?v=yBdI9aqjr8I

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