Adaptar ou dialogar?

TV e Literatura: o escritor Felipe Bottini lança livro sobre a possibilidade de renovação da estética televisiva

Livro analisa trabalho de Luiz Fernando Carvalho

Publicado em 03/12/2019

TV e Literatura andam juntas desde os primórdios da primeira. A saber, entre os anos 1970 e 1980 a Globo manteve seu horário das 18h dedicado apenas a adaptações literárias. Além disso, diversas minisséries foram originadas de obras literárias. Embora esteja com quase 70 anos, ela é ainda uma jovem com muito a descobrir e experimentar diante dos séculos de narrativas já criadas. O escritor Felipe Bottini lançou o livro TV e Literatura: Hibridismo na Teledramaturgia. Na obra, ele analisa a relação híbrida existente e a possível entre as duas formas de contar histórias, com a palavra e a imagem. Ademais, o trabalho do diretor Luiz Fernando Carvalho, especialmente a minissérie Capitu (2008), serve de base a Bottini na explanação de suas ideias. Fábio Costa o recebeu para uma entrevista, que você pode acompanhar em duas partes nos vídeos abaixo.

Na minissérie, o ‘diálogo’ com a obra clássica permitiu uma experiência rica para realizadores e espectadores

Não são poucas as pessoas que foram obrigadas, na escola ou às portas do vestibular, a ler Dom Casmurro. De modo que a obra traumatizou muita gente, em que pese sua grande qualidade e a presença incontestável no cânone da literatura brasileira. Para o autor de TV e Literatura, Felipe Bottini, algo que enriqueceu o resultado que se pôde ver em Capitu, a minissérie, foi a proposta de Luiz Fernando Carvalho de se fazer não uma “simples” adaptação do romance, mas um diálogo com ele. Com efeito, essa é uma afirmação bastante válida. Mesmo utilizando frases inteiras de Machado e elementos de sua estrutura como os títulos dos capítulos, a obra audiovisual deu um novo viés a texto e subtexto do romancista.

Capitu traiu Bentinho? Para o autor de TV e Literatura, há controvérsias

Com efeito, Felipe Bottini já deve ter respondido e ainda responderá repetidas vezes a uma pergunta: “Capitu traiu Bentinho?”. O enigma que atormenta os leitores de Dom Casmurro, o romance de Machado de Assis publicado pela primeira vez em 1899, ainda instiga quem conhece a criação do “Bruxo do Cosme Velho”, mesmo passados mais de cem anos. A narrativa é construída de maneira a deixar para o leitor as eventuais conclusões sobre o suposto adultério cometido por Capitu contra o marido Bentinho. E justamente com o maior amigo do casal, Escobar. No entanto, há controvérsias quanto à traição ter de fato se concretizado. O autor de TV e Literatura acredita que a personagem é inocente de todas as acusações nesse sentido, embora reconheça que à primeira leitura do romance também pensou que Capitu fosse culpada.

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