Remake

“Espero que essa história seja recontada em uns dez anos”, diz Antonio Calloni sobre Éramos Seis

Ator fará par com Glória Pires na nova trama das seis

Publicado em 17/09/2019

A carreira de ator sempre vai significar alguns desafios – mesmo para um nome experiente como Antonio Calloni. Intérprete do controverso Júlio em Éramos Seis, o astro de 57 anos mostra-se plenamente ciente da responsabilidade de revitalizar uma história que já foi contada tantas vezes na televisão.

Não quis ver as outras versões para não ser influenciado. Mesmo sem ter visto, sou extremamente agradecido ao Gianfrancesco Guarnieri e ao Othon Bastos pela história que eles têm. Sou agradecido a estes atores que têm história e fizeram muito pela nossa arte“, derreteu-se Calloni, citando os nomes que deram vida a Júlio nas versões anteriores da trama – respectivamente em 1977 e 1994.

Vale lembrar que, apesar de ser considerado protagonista, sua participação na obra de Ângela Chaves será bastante curta – não passará de 48 capítulos. “Em O Sétimo Guardião foram 16, então estou avançando. Na próxima faço inteira!“, brinca.

Confira o bate papo completo deste grande ator com o Observatório da Televisão.

OBSERVATÓRIO DA TELEVISÃO – Como tem sido interpretar o Júlio?

ANTONIO CALLONI – Tem sido um prazer imenso fazer este personagem, porque é um homem comum daquela época, da década de 20 até 30. É muito legal fazer este personagem porque é um homem trabalhador, esforçado, rígido na criação dos filhos – porque ele teve estava mesma educação e também é assim com os filhos homens, principalmente. Ele quer que os filhos sejam grandes trabalhadores, honestos, íntegros, que vençam na vida. Por isso que ele tem esta atitude rígido e foi assim que ele aprendeu por meio do pai. Quando ele bate ou castiga, é para educar. Ele não consegue demonstrar o amor que sente principalmente pelos filhos homens. Com a única filha, ele é extremamente amoroso. Com a Lola ele também é muito carinhoso, briga com ela, a acusa de não conseguir ter a vida que quer, às vezes desconta na família as frustrações que tem no trabalho, mas a alma do Julio é extremamente bondosa. Ele também é intempestivo às vezes isso atrapalha o conflito que ele tem por não conseguir o progresso que ele tanto almeja. Ele tem uma úlcera grave, então é um personagem muito conflitante porque ele não é bom, não é mau, mas uma pessoa que está em busca da felicidade.

Chegou a ver as outras versões?

Não, não quis ver para não ser influenciado. Queria fazer um trabalho próprio. Eu queria focar no texto e no personagem. Evidentemente, o personagem não anda sozinho nunca. Ele existe em relação aos filhos, à Lola, ao patrão dele, então foi aí que me foquei. O texto já oferece todo material que a gente precisa. Mesmo sem ter visto, sou extremamente agradecido ao Gianfrancesco Guarnieri e ao Othon Bastos pela história que eles têm. Sou agradecido a estes atores que têm história e fizeram muito pela nossa arte. Então vai aí meu agradecimento, espero que as pessoas gostem deste personagem que eu pretendo me apropriar.

O Othon está aí. Chegou a conversar com ele?

Conversamos sim. Ele fez um workshop da novela, falou muito a respeito do Júlio, foi muito generoso neste sentido. E agora vamos ver a estreia. Estou ansioso.

O texto da novela tem um contexto histórico muito grande. Por que é importante recontar esta história?

Eu espero que esta novela seja recontada daqui a uns dez anos novamente, seja sempre refeita. O tema familiar é inesgotável e atemporal. Fora isso, existe uma afetividade que está faltando hoje em dia. Quando me refiro a afeto, não digo apenas de amor [entre duas pessoas], mas também ao desentendimento, brigas, desejos, tudo o que envolva a nossa vida de forma afetiva e humana. Está faltando muita humanidade hoje em dia. Acho que está faltando este sentimento que é tão legal. Acho que se relacionar bem é algo importante para a felicidade de todo mundo.

Qual tem sido seu maior desafio?

É fazer um homem simples. Acho que a simplicidade é o mais difícil. Eu confesso, modéstia à parte, que eu me considero um homem simples e não tenho grandes arroubos de centralidade, como todos podem perceber. Sou um homem simples, mas interpretar um personagem assim é difícil porque você tem de tornar a simplicidade algo interessante. É isso que tenho tentado fazer.

Desafio foi ter feito a série Assédio?

Pois é, Assédio foi um dos trabalhos mais difíceis que já fiz, foi uma honra ter feito esta história que é fundamental para discutir este tema que é tão árduo para as mulheres, né? É algo que tem de acabar, o assédio tem de acabar. Me sinto satisfeito de ter participado de um trabalho que, politicamente, é tão importante para o Brasil e para o mundo todo. Quanto mais a gente discute isso, mais rápido tem a chance de ser resolvido o mais rápido possível.

Em Assédio, você estava mais gordo, e agora mais magro. O que você fez para perder peso?

O Júlio tem essa úlcera. Ele gosta de comer, mas não pode muito porque ataca o estômago, gera um problema. Então achei que este personagem seria melhor perder um pouco mais de peso. Não fiz nada demais, mas comi um pouco menos.

Já tem alguns anos que você mantém este corpo, né?

Sim, em Assédio eu engordei um pouco por causa do personagem, mas voltei. Não foi muito difícil. Eu gosto muito de andar de bicicleta e, quando não é possível, eu subo as escadas do prédio, que também é muito bom. São dez andares.

À academia você vai?

Não vou. Não tenho nada contra, mas nunca tive o hábito de ir à academia e gosto mais do ar livre.

Quantos quilos você perdeu?

Não faço a menor ideia. Quando a roupa cabe já está bom.

Seu papel em Éramos Seis é quase uma participação especial?

Não, são 48 capítulos. Em O Sétimo Guardião foram 16, então estou avançando. Na próxima faço inteira! [risos]

Seu personagem acaba se apaixonando por outra mulher?

Não é uma paixão, mas só um caso com a Marion (Ellen Roche) do cabaré. É uma relação muito bonita com ela. Além de ter as relações sexuais, ele tem um companheirismo, também tem uma intimidade de amigo. Ele quer desabafar tudo com ela, tudo o que acontece em casa e o ela o entende. A Marion tem uma sabedoria de vida muito interessante. É uma relação bacana e não é puramente sexual. Ele precisa desabafar com alguém, tem conflitos, mas não se apaixona por ela.

É uma amiga?

É uma confidente, porém se a Lola soubesse não ia cair bem. É curioso porque essa relação naquela época era algo bem comum: quando o homem tinha uma amante, dava suas ‘saidinhas’ e a mulher fingia que tudo bem, fazia parte. Era algo forte na época. E o sentido contrário era crime. Olha só como as coisas mudaram! De todo modo, o machismo ainda está muito presente, mais ainda do que eu ou as mulheres gostariam. Claro que temos tido uma melhora neste sentido, mas tem de melhorar muito. O empoderamento feminino tem sido cada vez mais presente, a gente tem sentido isso, ainda bem. Os homens ainda têm dificuldade de entender e assimilar isso. Tem havido uma melhora e estamos em um bom caminho.

Curiosamente ainda existe este tipo de relação, né?

Sim, até hoje existem resquícios desta criação machista. A gente ainda carrega isso, mas este tipo de compreensão que ‘tudo bem o homem dar as saidinhas dele’ já não existe mais. Quando um homem faz isso, a mulher também tem este mesmo direito. A gente tem de trabalhar pela igualdade. Isso está mudando e precisa mudar ainda mais.

Você acredita que se o Júlio não tivesse os problemas financeiros que tem, possivelmente seria mais doce?

Com certeza! Eu acho que o peso de ser o provedor é algo muito sério para o Julio. Este peso é muito grande. Hoje tudo mudou e esta responsabilidade do homem ser o provedor é algo absurdo, que realmente adoece uma pessoa.

Ele também tem um problema de alcoolismo, né?

Tem sim, esta é a válvula de escape dele, né? É a maneira que ele se desafoga um pouco deste peso imenso de pagar uma cada imensa, criar quatro filhos… Até hoje isso acontece. É algo que a gente aprende a lidar e acredito que um dia aprende. Não vale a pena.

Ele não vê esta possibilidade de trocar de casa?

Sim, ele até propõe isso para a Lola, vender a casa, mas é o sonho dela e ele aceita. É uma contradição do personagem, porque ele quer ver a família feliz, então cede aos sonhos da mulher. Ele pede empréstimo, a úlcera aumenta.

(entrevista realizada pelo jornalista André Romano)

(colaborou João Paulo Reis)

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade