Remake

“Enaltece o poder que toda mulher já tem”, diz Glória Pires sobre Éramos Seis

Substituta de Órfãos da Terra estreia em 30 de setembro

Publicado em 16/09/2019

Um dos maiores nomes da dramaturgia nacional, Glória Pires está preparadíssima para voltar ao vídeo na nova versão de Éramos Seis, que a Globo estreia no próximo dia 30 (segunda-feira) como substituta de Órfãos da Terra.

Quinta intérprete da inesquecível dona Lola, a atriz acredita que a valorização da figura feminina através dos tempos é um dos motes da atração. “A grande diferença dessa novela é que ela enaltece o poder que toda mulher já tinha naturalmente. Porque são as grandes mantenedoras dos lares, das famílias, são as mulheres, sempre foram!“, defende.

Glória, aliás, recorreu a muito de sua própria memória afetiva para construir sua visão da personagem – sobretudo no que diz respeito ao universo da costura, ofício exercido por Lola na trama. “A minha mãe adorava costurar pra gente. Eu estava sempre junto com ela ali, acompanhando o processo, quando ela cortava os moldes, quando ia comprar os tecidos“, recorda.

OBSERVATÓRIO DA TELEVISÃO – A dona Lola, como era normal à época, é bastante submissa ao marido, não?

GLÓRIA PIRES – Todas as mulheres dessa época eram assim! A vida era muito dura. A gente sabe que elas dependiam do marido, porque é só isso que a gente ouviu. Eu acho que a grande diferença dessa novela é que ela enaltece o poder que toda mulher já tinha naturalmente. Porque são as grandes mantenedoras dos lares, das famílias, são as mulheres, sempre foram!

O que você acha de, hoje em dia, mais de 55% das mulheres serem arrimos de família?

Acho que é isso mesmo. E não acho que isso vem de hoje. É que hoje a gente sabe. Antes a gente não sabia. [risos]

E, mesmo assim, elas continuam tentando manter os seus sonhos vivos?

Eu acho que os sonhos não morrem nunca. Claro, tem temperamentos e temperamentos, né? Mas eu acho que viver sem sonho é um pouco difícil. Essa novela fala disso. A gente quer mostrar como era uma vida dura, como era uma vida de trabalho muito ‘físico’… Toda essa tecnologia que existe hoje não existia. Então tudo era mais difícil, tudo era mais complicado. E a gente tem procurado trazer isso. A produção de arte é maravilhosa. Então, sempre que a gente propõe alguma coisa, eles já absorvem, já colocam na cena. Outro dia, tinha uma cena em que eu chegava com compras dentro de um caixote. Estavam a Lola e a Durvalina (Virgínia Rosa), as duas carregando caixotes cheios de verduras de outras coisas… A vida era assim [naquela época], era dura. E continua, né? Embora agora de outra maneira.

Você leu o livro que inspirou a novela? Acha que a Lola, nesta nova versão, terá um destino tão triste e solitário como naquela obra original?

O livro é bem mais duro do que será na novela – ou melhor, do que tem sido nas versões todas. Ninguém ousou fazer Éramos Seis como está no livro. Porque é de uma dureza, de uma crueza que a gente termina realmente… no chão. A ideia é ter esse pano de fundo, ter essa personagem que é a Lola, essa família, essa casa, essa história – mas trazer uma coisa que seja inspiradora. Que leve as pessoas a justamente acreditarem nos seus sonhos, nos seus propósitos, se dedicarem pra realizar aquelas coisas que elas desejam.

Ouvi você dizendo que acessou um histórico de memória familiar no que compete ao fato de a Lola costurar, porque a sua mãe costurava pra você e pras suas irmãs. Como foi isso?

Sim, foi demais! A minha mãe adorava costurar pra gente, eu estava sempre junto com ela ali, acompanhando o processo, quando ela cortava os moldes, quando ia comprar os tecidos.

Você ajudava a escolher esses tecidos?

Ajudava, claro! Dava palpite. Agora, com a Lola, é um pouco diferente, porque ela tem isso realmente como ganha pão. Como uma renda pra família. Então aprendi a fazer tricô…

O tricô virou vício, que eu já sei… (risos)

Sim! Mas não tenho tempo pra fazer.

Você costura à máquina, certo?

Eu aprendi a costurar à máquina com a minha mãe. E essa máquina que usamos aqui não era a que a minha mãe usava. Essa é a de pedal, que eu também aprendi. Isso é uma coisa maravilhosa de ser ator, né? A gente tem acesso a tantas coisas, a gente aprende tantas coisas… Quando eu fui fazer O Tempo e o Vento, eu aprendi a fiar. É dificílimo! Mas eu aprendi. E com aquele pedal, a mesma história do pedal da máquina.

Acessar essa memória emotiva te ajudou na composição da Lola? De que maneira?

Totalmente! De todas as maneiras.

O papel também é uma homenagem à sua mãe?

Com certeza! À minha mãe e à minha avó, Deolinda, que tá aqui comigo, com a pulseira que era dela. [mostra o adorno] Ela era mãe do meu pai, mas ela e minha mãe eram muito amigas. Elas tinham essa sororidade, sabe? Esse termo moderno… Elas já tinham isso.

Elas costuravam por gosto? Ou pra trabalhar, pra vender…?

A minha mãe por gosto. Ela adorava, e adorava fazer coisas novas, criativas, pra gente. Os meus pais eram bem engraçados, eram muito criativos! Queriam sempre coisas diferentes. Então eu estou voltando ao passado muitas vezes com esse trabalho. Cada vez que leio uma cena, alguma coisa me remete a uma coisa que minha mãe dizia, ou minha avó, o meu pai… A cidade cenográfica, pra mim, é estar junto com o meu pai, passeando! [risos]

Você chegou a horar de emoção com alguma dessas cenas?

A Lola, coitada, o que ela mais faz é chorar! [risos] Não uma cena em si, mas todo o ambiente, toda aquela dureza, sabe? Você se aproximar desse momento dos anos 20, estar perto de como era a realidade das pessoas… É dura, era uma vida dura. E as pessoas, ainda assim, tinham tanta alegria, tanta esperança. Eu acho que é essa a pegada da novela.

Éramos Seis é uma história que fala de sonhos, de família, de união. Qual a importância de se contar uma história assim no atual cenário social, político, econômico?

Eu acho que a arte, a cultura em geral, tem essa capacidade de fazer a gente pensar, de se instruir, aprendendo com outros hábitos, outras épocas. E também se emocionando. Eu acho que a pegada da novela vai ser essa coisa da emoção, de ‘olho no olho’, de estar próximo… Acho que vai ser isso.

Você e seu marido, o cantor Orlando Morais, têm quatro filhos. Mas a Cleo (Pires) e a Antônia (Morais) já moram fora, então vocês não são mais seis. Você sente saudades da época em que Éramos Seis juntos?

Quando o Bento nasceu, a Cleo já não morava conosco. Eles têm 22 anos de diferença. Então nunca fomos os seis juntos na mesma casa. Não o tempo todo, ao menos, só nas férias, no Natal… Mas pra mim seremos sempre seis!

Você sempre deu força para os seus filhos ‘voarem’?

Sempre! Sempre incentivei cada um a buscar sua realização, o seu desejo.

Você adotaria um filho hoje?

Sim. Eu acho bonito isso.

Ser mãe é um dos seus melhores projetos?

É o que eu mais gosto! [risos]

(entrevista realizada pelo jornalista André Romano)

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