Bom Sucesso

Rômulo Estrela não se acha galã: “Bonito é o Rodrigo Hilbert!”

Ator considera um desafio interpretar Marcos

Publicado em 29/08/2019

Nome em ascensão na TV brasileira nos últimos anos, Rômulo Estrela vive agora o momento mais sólido de sua carreira. O rapaz de 35 anos, que estreou na telinha em 2005, na Record TV, encara seu segundo protagonista na Globo – como o Marcos da novela Bom Sucesso – e pode se gabar hoje de ser um dos galãs favoritos do público.

Rótulo do qual, aliás, ele não se considera digno. “Outro dia eu falei numa entrevista que não me achava bonito. E não me achava mesmo. Bonito é o Rodrigo Hilbert, cara, desculpa! Um dos caras mais bonitos que eu já vi na minha vida!“, divertiu-se, com bom humor e sincera modéstia.

Longe, porém, de se deslumbrar com a posição atual, Rômulo encara o trabalho na trama de Rosane Svartman e Paulo Halm como um dos maiores desafios de sua trajetória nas novelas. “Eu venho de fazer uma série de trabalhos de época, onde você fica mais preso dentro do universo do personagem. Mas fazer o Marcos tem uma coisa contemporânea e próxima de mim que torna esse trabalho um pouco mais árduo, mais difícil“, analisa.

Confira o bate papo completo com o ator.

OBSERVATÓRIO DA TELEVISÃO – Bom Sucesso é, com o perdão do trocadilho, o maior sucesso. Como está sendo a novela pra você – atuando, assistindo e se vendo nela?

RÔMULO ESTRELA – Pode parecer mentira, mas, durante o processo de preparação, já existia uma vozinha dentro de mim, dizendo que a novela ia ser muito bonita e que a gente ia ter muito sucesso, como o nome já diz. E isso acabou se concretizando! Durante a preparação a gente já consegue ter uma ideia do que vai vir, enquanto profissionais, enquanto equipe. E acabou que a gente teve uma ótima estreia, um primeiro mês maravilhoso, batendo recordes. Mas isso tudo só foi possível porque a equipe está toda interligada, interagindo junto. Todo mundo entendendo seu lugar e trabalhando junto pra levar pra casa das pessoas uma história, eu diria, necessária nesse momento.

E a resposta do público, tanto da rua como da internet? Como tem sido para você?

Eu tenho acompanhado muito. Na verdade, eu queria estar acompanhando um pouco mais pelo Twitter, que é uma coisa mais quente, mais ‘do momento’. Estou muito só no Instagram e nas matérias de imprensa, que a nossa equipe responsável acaba distribuindo pra gente. Eu estou muito feliz com essa história toda, muito contente em contar essa história, e acho que a gente está contando isso bem. Toda essa trama de Bom Sucesso – mais uma vez vou falar isso, porque me chama muito a atenção – vem num momento onde muitas histórias estão sendo contadas, e a nossa, diferente das outras, tem todos os ingredientes, mas de uma maneira leve, de uma maneira tranquila, que faz a gente ficar com o coração um pouco mais calmo nesse momento de tanta loucura, de tantas informações, de tantas notícias, e de histórias ruins. A nossa vem pra dar uma acalmada no coração.

Você e Grazi Massafera têm uma química tanto em cena!

Então… Eu estou feliz com a química! [risos] Eu acho que é importante pra construção da história desses dois personagens. A Grazi, como intérprete, ela tem uma verdade muito grande no que ela faz. E isso é básico para que a coisa aconteça. Eu, enquanto espectador, vejo química [de Grazi, como Paloma] tanto com o Marcos quanto com o Ramon [papel de David Júnior], ou mesmo com o Alberto [Antônio Fagundes]. O legal de contar história é, óbvio, defender o personagem, mas também abrir o leque pra que as pessoas reconheçam nessas histórias essas possibilidades. Acho que, em todos os núcleos [da novela], você vê atores disponíveis. E, quando você se disponibiliza para o personagem, essa química aparece. Quando você não fica procurando defesas e outras coisas, você vive a história do personagem. E a história da Paloma é essa dúvida que ela tem. Esse cara que voltou [Ramon], esse encontro que ela teve com um cara na praia [Marcos] que foi arrebatador. E obviamente eu, enquanto intérprete do Marcos, me agarro a esse fiapo de esperança que ele tem de um dia conquistar essa mulher. Aí em cima disso a gente trabalha e, naturalmente, a química acontece.

Marcos se apaixonou pela Paloma tão logo a conheceu. E você? Já se apaixonou à primeira vista, como o personagem?

Eu que acho que já… Acho que, mesmo sem ter certeza, já estava um pouco apaixonado. Acho que em algum momento já aconteceu comigo. Mas, falando dessa relação do Marcos com a Paloma… O Marcos é um cara de muitas paixões. Ele tem uma paixão enorme por esse pai [Alberto], e tem uma paixão enorme pela literatura... Ele é um cara muito intenso. Quando ele encontrou essa mulher e sentiu que ali tinha uma coisa diferente, naturalmente essa forma de amar, essa forma de querer, de se relacionar – que é muita intensa pra ele – aconteceu ali com a Paloma.

Você se inspirou em alguém pra compor o Marcos?

O Marcos é um personagem diferente de tudo o que eu fiz nos últimos trabalhos. Então eu procurei ser um pouco mais tranquilo, emprestar um pouco mais do Rômulo pra ele. E, óbvio, as referências vieram da literatura. O próprio Peter Pan é uma referência pra mim, porque o dinheiro acaba e ele [Marcos] não cresce.

O Marcos realmente tem isso, de ser ou parecer um eterno adolescente. Mas e o Rômulo, como foi? Também demorou pra crescer ou pegou responsabilidades muito cedo?

Eu não peguei responsabilidades muito cedo. Mas comecei a minha vida profissional cedo. Com 17 anos, eu já estava trabalhando profissionalmente como ator. Digo que não foi muito cedo, porque eu consegui entrar na faculdade, o que foi ótimo. Não acho que tem uma regra não. Mas, pra mim, fez muito bem terminar os estudos, ir pra uma faculdade pra depois começar a trabalhar. Eu sou um cara muito alegre, muito feliz com a minha vida. Eu agradeço todos os dias a vida que eu tenho, as coisas que acontecem na minha vida. Acho que o Marcos é um pouco assim também. Trocamos figurinhas, o personagem com o Rômulo. Eu não sou um cara tão galanteador como o Marcos, mas emprestei pra ele essa alegria. Somei a esse coisa de ‘conquistador’ que o Marcos tem. Eu consegui emprestar características minhas pras características do personagem.

Qual o seu grande desafio na construção do Marcos?

Eu venho de fazer uma série de trabalhos de época. Alguns você não pode se distanciar tanto, outros você tem um pouco mais de liberdade. Deus Salve o Rei, por exemplo, eu tinha um pouco mais de liberdade, porque a história se situava na Idade Média Alta, da qual não se tem tantos registros. Mas, no caso do Chalaça, de Novo Mundo, esse personagem existiu. Então você fica mais preso dentro do universo do personagem. Foi difícil? Bastante, por tudo. Mas fazer o Marcos tem uma coisa contemporânea e próxima de mim que torna esse trabalho um pouco mais árduo, mais difícil. Inclusive no sentido de ter a tranquilidade de fazer o personagem de uma forma que ele não soe humano. Isso tudo torna o trabalho bem mais difícil.

O Marcos é, de fato, um personagem de muitas nuances. Ele começa galanteador e tudo o mais. Porém, depois que a Paloma é demitida pelo Alberto, já vemos um outro Marcos, que vai atrás de justiça para a mulher que ama. Para você, como foi encarar essa mudança do personagem?

Isso já traz um tempero a mais. Eu, como intérprete, como ator que buscar evoluir o tempo todo, eu fico muito feliz com esse desafio. E procuro ter calma para realizar essas transições. O que eu tento fazer é não ficar numa tinta só, numa cor só. Porque ninguém é isso. A gente ao longo da vida vai mudando. As experiências, as situações vão fazendo com que a gente muda, reveja nossos pensamentos, nossos quereres. E eu estou trazendo muito para esse lugar essas mudanças do Marcos. Acho sim que ele muda, acho sim que ele vai entendendo, à medida que ele vai tomando uns foras da Paloma, ele vai entendendo o que acontece. E por que ele muda? Porque ele tem um querer, um desejo ali – vários desejos, eu diria: ver o pai bem e feliz, nesta reta final da vida; ver a editora, onde ele cresceu, se educou, não fechar as portas; ver a irmã feliz, numa relacionamento bacana, porque ele não gosta do marido dela [Diogo, de Armando Babaioff]; e obviamente também acalmar o coração dele, com uma pessoa que lhe dê tudo o que ele sempre quis, da maneira como ele sempre acreditou ser o próprio lugar de felicidade. Ele acha que esse lugar é estar solteiro, é viver um dia depois do outro, é na noite com mulheres, sem compromisso. Porque, apesar disso, ele não é um cara mau caráter. É um cara que deixa bem claro: ‘eu gosto da minha vida desse jeito’. E eu acho bacana isso, abrir essa discussão. Porque a gente vive sempre numa relação monogâmica, instituída pela sociedade. Onde homem tem que ficar com mulher, mulher tem que ficar com homem. Onde não se pode ter uma relação aberta, ou ao menos discutir essa possibilidade. Então, as mudanças do personagem, de comportamento, de temperamento, só deixam a novela mais rica.

Então você acha que o fato de o Marcos ter várias mulheres não faz dele um mau caráter?

Na verdade ele não tem várias mulheres. Ele é um cara solteiro que se relaciona com várias mulheres. É um pouco diferente. Ele não mantém [os relacionamentos], ele é um cara que vive a própria vida. E os encontros que tem não são relações firmes, são ‘ficadas’. Ele se sente mais à vontade assim. Não diria que ele é um mau caráter por isso.

Quando o Marcos aparece sem camisa ou deixa cair a toalha, a internet vai à loucura. Você fez alguma preparação física especial pra aparecer ‘bem’ no vídeo?

Tipo passar fome? [risos] Não, eu não passo fome não. Há um bom tempo que eu entendi que o meu corpo é uma ferramenta de trabalho. Isso sem nenhum tipo de demagogia. É sim uma ferramenta do meu trabalho e precisa ser. Por isso, eu sempre mantive uma alimentação boa e um peso OK. O fato de fazer atividade física pra ter o corpo sarado, pra ficar sarado, forte, isso depende muito do que exigem os personagens que eu faço. Acabei de fazer Ilha de Ferro, que eu estava mais pesado do que eu tô agora e com outro corpo. Foi uma escolha minha fazer o personagem, que era um militar, nesse lugar. Porque os militares não têm tempo de ir à academia. Eles fazem preparação, fazem adestramento, se alimentam e descansam. Eu pensei que tinha que me aproximar desses caras, inclusive na estética. E pra isso eu fiquei mais pesado, mais forte do que estou hoje, mas com outro shape, outro corpo, porque o personagem pedia isso. Quando estava no meio desse processo, eu entendi que iria fazer o Marcos, um cara ‘praiano’, meio estilo surfista… Eu poderia estar com o mesmo corpo de Ilha de Ferro. Eu ia, claro, mudar a voz, o jeito de falar, de andar, a métrica e tudo o mais. Mas pra mim seria frustrante como intérprete, como ator. Comercialmente, é bacana também [as constantes adaptações físicas]. Porque a mídia consome isso, o mercado consome isso. Não é um problema, é até legar poder falar abertamente sobre isso. Outro dia eu falei numa entrevista que não me achava bonito. E não me achava mesmo. Bonito é o Rodrigo Hilbert, cara, desculpa! Um dos caras mais bonitos que eu já vi na minha vida! [risos] O que aconteceu comigo foi uma aceitação. Confiança. Acho que é isso o que precisa pra gente se achar bonito ou pra gente não ter problema de falar sobre isso.

Então hoje você se acha bonito?

Hoje eu sou muito satisfeito com o meu corpo, a minha estética. Com o ‘conjunto da obra’. Sou bem tranquilo em relação a isso.

Como a sua esposa, a empresária Nilma Quariguasi, lida com suas cenas mais calientes nas novelas?

É meu trabalho, né? Tá no lugar do meu trabalho, no lugar do profissional. Por isso existe um respeito muito grande com o que eu falo, o que eu escuto… Ela entende isso. Ela sabe que precisa existir um limite pras coisas também, mas que isso é inerente à minha profissão.

Como é sua relação com Ingrid Guimarães, que interpreta Silvana? Existe alguma possibilidade de ela ficar com o Marcos?

Eu te confesso que não sei. Acho que a Silvana foi um bálsamo pro Marcos. Foi necessária pra construção dessa personagem. A Ingrid é uma grande companheira de trabalho. Já é nossa segunda novela juntos – a gente fez Novo Mundo antes. Eu aprendi muito na troca cênica com ela. É uma atriz extremamente experiente, faz um trabalho primoroso no lugar da comédia. E, por outro lado, nessa novela fez um drama, embarcou na verdade, nas dores dessa personagem.

Como você enxerga o futuro da relação entre o Marcos e a Paloma? Existe a chance de ela optar por outro no final, ao invés dele?

Eu diria que o Marcos se encantou pela Paloma e ele ainda não sabe o porquê disso. Ele só não quer perder isso. Só não quer deixar de sentir isso. O que é muito bom. Mas ele não tem essa pressa – coisa que o personagem do David tem, porque ficou muito tempo fora, tem a necessidade de reconquistar essa mulher e recuperar o tempo perdido com ela e com a filha. Isso distancia um pouco o Marcos da possibilidade de ficar com ela – embora eu não acredite na possibilidade de ele perdê-la. Em todo caso, eu não debruçaria o meu personagem somente nessa relação. Eu acho que a gente está contando uma história que é muito mais ampla do que ela [Paloma] ficar ou não com fulano ou com siclano. Ela pode até mesmo ficar sozinha, se ela quiser!

Como você enxerga esse estilo de vida mais free do Marcos? Acharia legal ele continuar a novela assim, sem perder essa essência?

Cara, é tão bom a gente ser livre, até dentro duma relação, né? A gente entender que numa relação tem ‘os dois’ e tem ‘eu e você’. Eu acho que a gente esquece um pouco isso. Acho que estamos vivendo um momento de transição – social, inclusive -, onde isso é uma coisa que precisa ser rediscutido. Porque, até pra você se entregar pro outro, é importante que você se conheça, que você se baste. Que você saiba conviver sozinho com você, com suas angústias… Porque, senão, você transfere muito isso pro outro. Até mesmo isso de a Paloma ficar sozinha, que levantamos na brincadeira, não deixa de ser uma possibilidade real. O legal dessa novela é que, muito em parte graças ao trabalho dos autores que a gente em [Paulo Halm e Rosane Svartman], as discussões saem do óbvio.

Você é de São Luís, do Maranhão. Como é a sua relação com as suas raízes? Como você sente que o pessoal de lá enxerga seu trabalho?

Essa minha essência de lá nunca deixou de existir. Óbvio que, pra eu conseguir avançar, eu precisei ficar muito tempo sem dar a atenção que eu gostaria de nadar a elas, sem voltar pra casa, sem visitar meus amigos, o meu pai. E sem receber esse feedback do público de lá. Mas eu sinto que existe um orgulho muito grande, porque não é comum você ter um nordestino nesse lugar em que eu estou. No último domingo, estava fazendo Criança Esperança e me encontrei com a Dira Paes. Ela me deu um abraço e falou: ‘que legal ver você nesse lugar’. Eu fiquei tão feliz, porque eu entendi o que ela estava querendo dizer. Por vários motivos: por [o Maranhão] ser distante; porque, além de ser distante, é caro; porque existem tantos profissionais batalhando por lá. Eu e o Renato Góes [protagonista de Órfãos da Terra] ocupamos um lugar que é pouco esperado pra um nordestino.

Antes de encerrarmos, conta para a gente: como está o seu filhote (Theo, de três anos)?

O meu filho está lindo! Cheio de saúde. Estou muito feliz com isso.

Bom Sucesso é uma novela que fala muito da vida e da morte. Isso te faz repensar essas questões?

Total! Esses dias estava indo gravar, entrei no carro e recebi uma mensagem sobre [a morte da] Fernanda Young. E ela estava ensaiando uma peça, ia estrear agora, em setembro… O tempo inteiro, se a gente ficar atento, a gente vai ver que existem esses sinais, de que a vida é um sopro, passa super rápido. Eu tive em 2010 um problema do coração, que me fez rever muita coisa. O tempo inteiro eu penso nisso, e ao mesmo tempo penso que o que eu posso fazer é aproveitar o tempo que eu tenho. Porque não dá pra parar, né? É uma coisa que vale a pena a gente pensar, refletir.

(entrevista realizada pelo jornalista André Romano)

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