Estreando novo programa no GNT, Fábio Porchat revela admiração por Regina Casé: “É a nossa Oprah”

Publicado em 06/08/2019

Fábio Porchat estreia sob o comando do programa Que História é Essa, Porchat? nesta terça-feira (06), às 22h30, no GNT. Trazendo uma proposta diferente do tradicional talk show, o formato será um espaço onde famosos e anônimos narram casos inusitados.

Em entrevista ao Observatório da Televisão, o apresentador e comediante conta todos os detalhes de sua nova atração, desde o processo de idealização até a dinâmica das gravações. Porchat também revelou ter Ellen DeGeneres e Regina Casé como duas grandes fontes de inspiração.

A Regina Casé é a nossa Oprah. Ela vai, fala com a plateia, vai pro meio da galera. Claro que ela é uma comediante e atriz. Então me inspiro nas duas, que tem a ver com isso”, afirmou o artista. Confira tudo a seguir:

A criação do programa

Esse formato é seu?

Sim. Eu criei esse formato, me juntei com redatores e fomos construindo juntos. Temos as pesquisadoras e o Maurício Arruda é o diretor, que foi uma sugestão do GNT que achei sensacional. Ele trabalhou na TV Cultura com o Serginho Groisman, que é um cara foda que sabe tudo de plateia, arena, essas coisas, depois no Altas Horas, e também trabalhou com a Fátima num programa ao vivo. O que falei para o Maurício era que a gente não podia ficar parando o programa porque história não dá para contar de novo, porque quebra o tesão. E como ele fazia programa ao vivo, eu pensei: ‘esse cara não vai pedir pra parar nunca’. Ele vai fazer a coisa acontecer, o que está se mostrando. De modo geral eu queria isso, porque é um programa de 52 minutos, a gente grava 1 hora e meia no total, e queria que a gente tivesse coisa para cortar, mas não tanto assim. Eu quero pegar a manha para fazer em 1 hora e 10 minutos, para já saber qual é a boa.” 

Amadurecendo a ideia

Quando você fala que é uma ideia sua, é algo que foi amadurecendo ou você viu algo desse tipo que te inspirou?

Tem um quê de Porta Afora, porque lá eu sento no sofá para conversar. Mas quando decidi sair da Record, eu comecei a pensar o que queria da vida. Fui falar com o GNT e nas férias me veio o questionamento: ‘Por que eu não quero fazer um talk show no GNT?’. Pensei que para fazer um programa desse eu precisava ter os convidados da Globo, porque são as pessoas que não convidei lá. Claro que tem que pedir autorização. Conversei com a Globo, expliquei que faria um programa que dependia de convidados, e eles disseram ‘lógico, fica à vontade’. Me dei conta de que não queria talk show por causa de lacração, Twitter, pessoas, raiva, opinião, Bolsonaro, e queria fazer algo que não tivesse nada disso. Não tem ninguém fazendo algo só assim. Tem muita gente perguntando: ‘Ingrid Guimarães, como você descobriu que queria ser comediante?’. Ótimo, mas queria algo cut the bullshit. Quando contei que queria fazer algo só com histórias, o pessoal (do GNT) se assustou e perguntou se isso iria funcionar.”

Convidados impossíveis

Você pode citar nomes de quem você queria trazer? Porque tem sempre aqueles nomes complicados que nunca vão em nenhum programa.

Eu já aprendi uma tática que é a seguinte: falar nomes das pessoas que você quer e está sendo difícil, porque aí sai no jornal, a pessoa vê… Maisa vem… Todo lugar que eu vou, só vou se me vier também. Maisa vem, chamei Bial também, Roberto Carlos eu queria. Eu não entendo nada de música, mas tem duas pessoas que conheço todas as músicas que são Rita Lee e Roberto Carlos. Seria maravilhoso. Faustão também seria incrível, bota aí pra ele ver (risos). Vou pensar um difícil…William Bonner, pronto.” 

As pessoas já passaram a conhecer melhor você como pessoa no Papo de Segunda, mas você acha que elas vão conhecer você mais ainda agora neste programa?

Vou fazer uma coisa estranha que é falar em terceira pessoa, mas ali é um outro Fábio, falando de assuntos mais sério, tudo bem que a gente até brinca, falo de coisas que o GNT fica apavorado, mas aqui sou mais eu, contando histórias, falando besteira e sendo do meu jeito  o máximo possível. Mais uma vez, o formato está a meu favor, como fui eu que criei, então ajuda.”

Inspiração

Queria saber sobre suas inspirações. Quando entrei nesse estúdio e depois de assistir ao programa, te achei muito mais humano. E me perdoe, mas te comparo a Oprah porque achei muito isso, humanizou os convidados. 

Eu amo a Ellen DeGeneres, que é a nova Oprah, porque tomou o lugar da Oprah, e é uma pessoa que me inspiro para ter esse contato. A Regina Casé é a nossa Oprah. Ela vai, fala com a plateia, vai pro meio da galera. Claro que ela é uma comediante e atriz, então me inspiro nas duas, que tem a ver com isso.”

Como está a decoração do cenário do programa?

No cenário tem uma foto minha com a minha trisavó, chamada Alice e do lado tem eu pelado numa caverna na Islândia. Foi um lugar em foi gravado Game Of Thrones. Estava fazendo cinco graus negativos do lado de fora, eu olhei para minha esposa e falei: ‘acho que essa água é quente. É pra nadar, essa é a graça dessa caverna’. Tirei a roupa mergulhei, a água estava com cinquenta graus. Minha mulher se recusou, mas foi o máximo. Para quem assiste Game Of Thrones, foi ali que Jon Snow perdeu a virgindade.”

As histórias

As pessoas trazem histórias que não sejam engraçadas?

A do Escobar, por exemplo, ele quase morreu. Não é exatamente uma história feliz. Como é um programa que tem um cunho de humor, pode contar história triste. Talvez aquelas coisas tipo ‘fui abusado pelo meu tio’ não seja o ideal para trazer aqui, mas uma história engraçada de uma anônima que estava aqui: Ela tinha feito uma mastectomia, e saiu para um primeiro encontro, foi transar com o cara sem mamilo. É muito doido, mas ao mesmo tempo você pensa ‘caramba, ela teve câncer e tirou o seio’. Ela contou de forma muito engraçada porque não achou que ia transar, achou que ia dar uns beijos, e aí começou a rolar. E ela ficou com as mãos no peito, o cara pedindo para ela tirar, e ela dizendo que estava com vergonha. Aí ele tirou o olho dele, porque ele tinha um olho postiço, e perguntou: ‘e agora tudo bem?’. E ela disse: ‘ta, vem logo’. E são casados até hoje. É uma história linda, quase emocionante, mas tudo muito simpático, emocionante. Tristíssimo não surgiu nada até agora.”

Formato talk show

Você acha que o formato talk show esgotou? Até porque nessa linha a gente parece ter o talk da direita e o talk da esquerda.

Eu não acho que esgotou, porque nos Estados Unidos tem muito mais talk shows que os nossos, e lá fica. Para eles, esse formato é tipo a novela para a gente. Então não acho que esgota, mas acho que como no Brasil estamos vivendo essa polarização e pessoas com muita vontade de dar opiniões e falando, estamos chegando num ponto assim: ‘posso só hoje no aniversário do meu sobrinho, a gente não falar do Paulo Guedes?’. Tenho essa sensação. Eu gosto de talk shows. Estive recentemente no do Bial, é gostoso, é legal. Fui no da Maisa também. Sempre tento artisticamente ir contra a corrente ou tentar pensar no que vai acontecer. Quando está todo mundo indo para um caminho, eu tento ir para o outro para ver o que acontece. Eu olhei para esse lugar de conversar com gente, mas de ouvir e contar histórias. Você vai conhecendo um pouco das pessoas, e elas vão se soltando, se esquecendo que tem plateia. Quando eles vão ali para o bar (parte do cenário), eles começam a beber mesmo (risos). E as pessoas ficam curiosas em ouvir o outro. É um programa para ouvir.” 

Sem lacração

Aqui você é mais você, assim como no Papo de Segunda, não é um humorista. Eu até li que você falou que com este programa queria fugir da cultura da lacração. Como é isso?

Está todo mundo dando opinião o tempo todo nas redes sociais. O Facebook virou um inferno, é uma chatice tão grande as pessoas dando opinião. E eu vi uma coluna no caderno de cultura, que um leitor pediu para o colunista não falar de Bolsonaro porque ele já lia sobre o nome do presidente em todas as páginas do jornal e no caderno de cultura queria ler outra coisa. Achei tão bonitinho, e é isso aqui. Vamos apenas contar história, porque não quero saber o que fulano acha disso ou daquilo. E às vezes as pessoas começam a dar opiniões sobre aquilo que elas nem sabem. ‘Fabio, o que você acha do Brexit?’. Eu não faço a menor ideia e vou dizer que acho importante? É uma coisa para pensar na diversão, esquecendo a opinião. Claro que podem surgir histórias politizadas. Eu perguntei para o Lucinho quem ele queria ser por um dia e ele falou ‘o presidente’. Então pode ter, mas não tem opiniões nem a lacração.” 

Se você pudesse ser outra pessoa por um dia, quem você seria?

Ah, eu gostaria de ser o Obama por um dia, mas gostaria de ser a Malala por um dia também, ia ser legal.”

Desejos

Você tem fama de ser boa gente e é querido por todo mundo. Você falou que a Regina era um nome que você queria muito trazer, mas tem outros nomes de desejo?

Muitos. Meu amor, agora me abriu uma lista. O mar vermelho foi aberto de verdade (risos). Eu tenho uma sala, aqui tem tudo, tem até Moisés, se eu quiser ele vem. Aqui realmente tem uma lista de pessoas. Lá (Record TV) em dois anos e meio eu entrevistei quase mil pessoas, então foi muita gente. Aqui na reunião íamos falando nomes e eu dizia ‘já entrevistei’, o que não é problema repetir, porque aqui é um programa de contação de história, porque elas vão contar histórias. Quando o Lúcio Mauro Filho terminou a história maravilhosa dele, perguntou: ‘quando é que eu volto’? A Claudia Raia terminou e falou: ‘semana que vem eu volto para contar uma que não contei ainda’, então pode repetir. A Dani Calabresa, por mim, eu teria ela no programa toda semana porque ela conta história muito bem, é muito engraçada. Então dá para repetir pessoas, o que é bom desse formato. Eu sentia que o talk show era um formato que estava lá criado e já incrível, mas era eu em função do formato e aqui é o formato em minha função. Para criar eu me perguntei: ‘o que eu sei fazer?’. Eu sei bater papo, contar história e improvisar, e esse programa é isso, sentado com a galera, por isso eu queria um programa intimista.”

O dom de se comunicar

Você fala bastante. Nesse processo você vive esse momento de querer se comunicar?

Aqui eu posso falar mais, mas não tenho tanto isso. Eu fico mais modulando porque são muitas histórias, eu conto uma mais curtinha. Eu fico mais medindo a temperatura das histórias, para onde está indo para ver onde posso encaixar.”

Duração do programa

O programa fica no ar até quando?

Ficaremos no ar até dezembro. O interessante é que nessa de contar histórias as pessoas começam a contar, contar, e quando você vê tem um monte de história e história legal. Eu não gosto de ficar cortando no meio porque as histórias têm que ser naturais. Se você faz uma história toda certinha, cortadinha, ela perde a naturalidade. Às vezes, a gente tira uma história inteira de anônimos e famosos. Temos alguns pesquisadores trabalhando junto com nossa equipe de roteiro para acharem essas histórias. Eles acham, mandam para os roteiristas. Nós aprovamos, mandamos para o GNT e tem algumas que surgem aqui na hora.”

Detalhes das histórias

O que você pode adiantar das histórias que surgiram nas gravações?

Surgiram histórias incríveis, por exemplo de uma mulher que tropeçou no Dalai Lama (risos). Minha ideia quando fui conversar como GNT é que eu falei: ‘quero fazer um programa aí’. E eles perguntaram: ‘um talk show?’. eu falei: ‘não, quero fazer aquilo que acho que é o mais legal de um programa desses que são as histórias que as pessoas contavam’. Quando a gente assistia Jô Soares, por exemplo, o cara ia lá se apresentar, mas o que viralizava, o que as pessoas lembravam eram as histórias. Essa é a parte mais suculenta, e era isso que eu queria me agarrar. Comecei a criar e queria que fosse só contação de história. Mas não vai ter quadro, brincadeira, nada. E eu falei: ‘não precisa, só história funciona’…”

“A gente pede as histórias dos famosos antes e pede opções”

“… Eu estava assistindo um dos últimos episódios de Game Of Thrones e o Tyrion falava: ‘Não existe nada como uma boa história para contar. No fim das contas o que sobra é uma fogueira com um pessoal em volta, contando uma história’. É nisso que eu acredito e queria fazer aqui. A gente fez um pré piloto para ver se ia funcionar. A gente pede as histórias dos famosos antes e pede opções. O que é difícil porque tem gente que você não tem intimidade. Lúcio Mauro Filho, eu sabia uma história e falei: ‘você vai contar essa’. Mas, por exemplo, Claudia Raia, eu a vi duas vezes na vida, não tenho nenhuma intimidade com ela. Liguei para convidar, ela foi um amor, e aí fiquei meio: ‘Cláudia, você já sabe que história vai contar?’. Como o programa não estreou ninguém entende direito o que é. Muita gente que eu falo para contar uma história diz: ‘Já sei, vou contar que fui para Portugal e amei. Achei lindo o país’. Mas não é essa a história que a gente quer.”

Casos inusitados

Qual a história mais inusitada que você ouvir?

A Claudia, por exemplo, mandou um áudio de 4 minutos com a história dela. Contando que ela tomou um soco de uma índia no meio do Xingu, caiu desmaiada, puxaram ela pela perna, uma história maravilhosa. Então para algumas pessoas estamos pedindo para mandarem o áudio das histórias para a gente ter uma noção do que é. No início eu pensei: ‘a gente precisa de quantas histórias?’, mas se cada um contar bem uma história, já deu. Curiosamente quando começamos a gravar o programa todo mundo tinha 3 histórias, a gente usou uma de cada e foi. Eu sei quais são as histórias, então vou puxando gancho de um para o outro, para fazer um link para a coisa fluir e não ser aquela coisa de ‘agora conte a sua’. A gente sentiu no pré-piloto que rolou. A plateia adorou! Fiquei fazendo as palhaçadas, ouvindo, porque sou um cara curioso, mas também contei a minha história. Lógico que as estrelas são eles, mas eu também tenho o poder de contar a história que eu quiser e dizer: ‘cara, comigo também aconteceu’. Decidimos apostar neste formato e fomos sentindo. A gente até tinha uma brincadeira que tínhamos criado, mas o programa estava tão fluido que não precisa criar uma maluquice, só sentar e bater papo.”

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano.

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