“Ela é ambiciosa sim”, diz Cris Carniato sobre mãe que abandona as filhas em As Aventuras de Poliana

Publicado em 19/08/2019

Em As Aventuras de Poliana a personagem de Cris Carniato, Fernanda Rios, é cheia de conflitos. A profissional construiu uma família ao lado de Durval (Marat Descartes) e das filhas, Raquel (Bel Moreira) e Lorena (Pietra Quintela), mas o sonho de trilhar uma carreira na Europa falou mais alto. Fernanda foi embora, separou do marido e se distanciou das filhas.

Ao Observatório da Televisão, a atriz falou sobre os rumos da personagem na trama infanto-juvenil. Para a artista, Fernanda não é uma vilã, mas sim uma mulher ambiciosa com ideias tortas.

Vez ou outra ela se aproxima do vilão da história, Roger (Otávio Martins). Apesar dos conflitos, aos poucos Fernanda vem demonstrando o desejo de reconquistar o carinho, a atenção e a companhia das filhas. Cris Carniato também empresta sua voz para duas canções da trilha sonora do folhetim, ee m breve irá lançar um EP, conformou contou.

Carreira

Até meados dos anos 2000 muitas mulheres focavam na carreira e depois pensavam em ter filhos, mas por conta da idade e questões biológicas, o sonho de ser mãe ia ficando para trás. De uns tempos pra cá, as mulheres já passaram a ter uma decisão mais única: carreira ou filhos, ou filhos e carreira juntos, por contarem com o apoio de alguém (companheiro (a) ou questões financeiras). Com sua personagem foi um tanto diferente. Ela casou, teve filhas, foi levando a carreira em paralelo, até que resolveu ir embora e deixou as meninas com o pai. Praticamente 90% dos homens fazem isso. Como analisa esse contexto?

É algo que ainda assusta por ser incomum, como disse esse papel era da maioria esmagadora dos homens, isso tem mudado cada vez mais. Hoje a mulher está ganhando seu espaço profissional, com isso fica o impasse, sempre uma decisão muito difícil entre carreira e filhos. Eu não posso julgar as razões da Fernanda, ela foi em busca do desejo adormecido de se realizar profissionalmente, deixou a carreira pela família e depois a família pela carreira. Acho que nesse sentido ela foi um pouco radical e que de nenhuma forma suas razões poderiam eximir suas responsabilidades com as filhas.

Como o machismo e o feminismo se relacionam com essa história?

Nesse sentido acho que a história do Durval e da Fernanda vem pra questionar paradigmas e mostrar o quanto os homens podem ser muitas vezes até melhores do que as mulheres na constituição de um lar. A Fernanda sai daquela caixa onde se espera da mulher que abdique das suas necessidades pela família. Acho que os dois enquanto casal não deram certo, mas estão mostrando os erros e acertos que nós como pais podemos passar independente do gênero.

Mãe

Fernanda (Cris Carniato) e Claudia (Leticia Cannavale) em As Aventuras de Poliana
Fernanda Cris Carniato e Claudia Leticia Cannavale em As Aventuras de Poliana Divulgação SBT

Como se preparou para o personagem?

Além das leituras com os atores que compõem meu núcleo familiar, trabalhando essa aproximação afetiva, fiz laboratório com uma grande amiga que tem uma profissão muito parecida com a da Fernanda. Ela é Head Hunter e presta consultoria para grandes empresas no Brasil. Foi muito interessante acompanhar e entender a responsabilidade e dedicação que esse cargo exige. Me ajudou a entender a pressão e a adrenalina envolvida nesse mundo corporativo pelo qual a Fernanda é apaixonada.

Conheceu alguma história parecida?

Um exemplo clássico foi a história da cantora Maysa, mãe do diretor Jayme Monjardim. Tive a oportunidade de conhecer melhor sua história quando interpretei uma grande amiga da cantora na minissérie Maysa – Quando Fala o Coração, que se passa nos anos 50, 60 e 70. Sua história chama muito a atenção por ela ter sido uma mulher à frente do seu tempo, que quebrou tabus e sofreu a pressão de uma sociedade machista.

Com sua voz ela ganhou o mundo e deixou uma linda obra, mas sua luta custou caro em relação à vida pessoal, como conta a história. Hoje as coisas são um pouco mais simples. Temos cada vez mais controle das circunstâncias da maternidade, estamos nos acostumando a ver mulheres em todas as áreas e em cargos de poder. A ajuda é sempre bem-vinda e a responsabilidade está sendo cada vez mais partilhada entre os pais, o que facilita.

Empatia

Raquel (Bel Moreira) e Lorena (Pietra Quintela) em As Aventuras de Poliana
Raquel Bel Moreira e Lorena Pietra Quintela em As Aventuras de Poliana Divulgação SBT

Você é mãe. Em algum momento se colocou no lugar da personagem? O que sentiu? Chegou a se emocionar por conta disso?

Sim, sempre me coloco. É uma questão muito complicada. Com certeza a Fernanda hoje vendo o que perdeu na convivência com as filhas, se arrepende de ter sido tão ausente. Já eu, Cris, como mãe nunca agiria dessa forma, não consigo me imaginar tanto tempo distante do meu filho que é minha maior riqueza!

E as filhas perderam o laço com ela, mesmo a mãe estando viva…

Isso é triste porque a referência da mãe é muito importante, independente dos erros e acertos, a presença e o carinho no dia a dia são o alimento pra alma e formação do caráter, eu acredito que por saberem que a mãe esteve ausente por escolha própria é algo mais difícil de digerir.

Como é a sua relação com as atrizes que fazem as suas filhas? E também com o ator que faz seu ex-marido?

É ótima! A Bel Moreira e a Pietra Quintela são muito queridas e talentosas, nos damos muito bem. E o Marat Descartes, que interpreta o Durval, é um ator maravilhoso, aprendo muito com ele. As gravações com a família são sempre uma delícia!

Conflitos

Fernanda (Cris Carniato) e Claudia (Leticia Cannavale) em As Aventuras de Poliana
Fernanda Cris Carniato e Claudia Leticia Cannavale em As Aventuras de Poliana Divulgação SBT

Que lições o público pode esperar desses conflitos?

São muitos os temas abordados, mas acredito que os mais importantes além dos que já foram comentamos aqui, sobre o papel do pai e da mãe, é a importância da harmonia dentro de casa. As brigas entre Durval e Fernanda, vão acabar influenciando negativamente as filhas e causando muitos problemas. Todas essas situações fazem com que o público se identifique e possa tirar suas conclusões.

Se fosse um homem que fosse embora e deixasse filhos e família seria diferente?

Diferente sim, mas pessoalmente acredito que não menos danoso. Em primeiro lugar a rejeição é algo difícil de lidar. Lógico que essa é uma posição muito genérica devendo se levar em conta todas as circunstâncias de cada caso, mas a verdade é que essa falta é uma lacuna difícil de preencher.

Como tem sido o retorno do público? 

É maravilhoso, é a primeira vez que faço uma obra voltada para o público infanto-juvenil e estou amando. O carinho e a aproximação dessa galerinha é muito efetiva nas redes sociais e nas ruas é muito gratificante!

Ela é uma vilã? Às vezes está com o Roger, vilão da história…

A Fernanda não é uma vilã, eu costumo dizer que ela só tem umas ideias meio erradas (risos). Acredito que a implicância dela com o relacionamento do ex-marido era mais pelo ciúmes das filhas do que propriamente por ele. A Fernanda é ambiciosa sim, mas não de uma maneira inescrupulosa, ela tem ética, pelo menos é o que tem demostrado até agora. Ela ama o que faz e é uma excelente profissional.

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