Grazi Massafera enaltece personagem em Bom Sucesso: “Há muitas Palomas por aí”

Publicado em 16/07/2019

Ela começou nas novelas desacreditada, como a Thelminha de Páginas da Vida (2016). Hoje, porém, quase 15 anos depois, Grazi Massafera vive a fase mais sólida e madura de sua carreira.

Consagrada de vez desde seu brilhante desempenho em Verdades Secretas (2015), a musa agora se prepara para voltar triunfal à telinha como protagonista de Bom Sucesso. A trama, de Rosane Svartman e Paulo Halm, estreia no próximo dia 29 (segunda-feira), substituindo o sucesso Verão 90 às 7 da noite.

Durante a festa de lançamento do folhetim, na noite desta segunda-feira (15), Grazi esbanjou simpatia ao falar com a imprensa e dar detalhes sobre este novo desafio artístico.

Por que a personagem Paloma te conquistou?

Grazi Massafera – Pela homenagem à minha mãe, que é costureira. Eu tenho ainda muita memória afetiva, o barulho da máquina de costura quando eu fecho os olhos. É muita lembrança então fazer uma personagem assim… Quando eu ia fazer uma costureira de novo para homenagear ela e tantas outras Palomas que tem por aí? Me lembrei de quanto minha mãe trabalhava, e o quando isso me ajudou a me tornar uma mulher forte e batalhadora. Conversei com a Sofia, e estou atenta a ela para administrar esse tempo.

E o que tem de você no papel?

O resgate a esse coisas popular, o público que fui durante toda uma vida. Agora não, vivo aqui dando entrevista, virei atriz de novela, saí desse lugar, mas tem a simplicidade, esse resgate que estou amando, essa coisa mais espontânea. Está sendo muito gostoso.

Representatividade

39% dos lares são chefiados por mães solo. Qual a responsabilidade de representá-las na telinha?

É muita responsabilidade porque é uma homenagem a todas. A gente está vivendo um momento feminino muito bonito, com personagens interessantes. Uma personagem assim, retratar a vida de mulheres, mesmo que da ficção, me sinto com maturidade para isso.

E o tema da morte? A Paloma acreditará estar com uma doença terminal no início da trama.

Se você para para pensar, na verdade estamos falando de vida. Se tem uma coisa que a gente tem certeza é da morte, que está presente na vida de todos, mas como estamos vivendo nosso dia a dia? Tem hora que a gente não se questiona, acha que é imortal. O fato da Paloma ter uma data para morrer faz ela se transformar e viver uma vida mais intensa, com esse contato com a finitude. É bom para a gente questionar: ‘está do jeito que eu queria?’

E como é fazer essa mãe batalhadora?

Agora eu sou mãe de três, né? É uma grande diferença. Eu sou mãe de uma criança, ela tem filhos adolescentes. Eu tive a sorte e o prazer de poder conquistar a minha independência financeira antes de ser mãe. Isso faz uma grande diferença.

Duplamente mãe

Como é ser mãe de adolescentes na ficção?

Eu ainda não cheguei nessa fase como mãe da Sofia, mas na ficção sou mãe de duas adolescentes, e do Peter (João Bravo), com 10. Eu consegui uma independência financeira antes de ser mãe. Eu me lembro da minha mãe quando teve a gente, se separou do meu pai e ficou numa situação mais complicada. Lembro que jurei para mim mesma que queria ser mãe só quando conseguisse minha independência financeira. Eu sou canceriana. Maternidade está na minha veia. Tive o luxo de poder contar com o auxílio de pessoas da minha família, anjos da guarda como funcionários, porque quando a pessoa trabalha com amor não tem preço. Eu contei com a ajuda dessas pessoas para ter um auxílio quando estou gravando novela. A Paloma – e tantas outras Palomas que tem por aí – tem uma situação muito mais complicada. Imagine ser mãe de três filhos e ter que dar conta da casa, lavar, cozinhar, passar, cuidar dos filhos, colégio. É tanta coisa… Quando são bebezinhos é tudo mais fácil. Quando crescem na hora de educar mesmo, a gente coloca no mundo e é tudo mais complicado, e estou sentindo um pouco isso na pele. Há muitas Palomas por aí e acaba sendo uma homenagem a elas.

Você está preparada para ser mãe de uma adolescente?

Não estou (risos). Eu fui adolescente do interior, outra coisa é ser adolescente no Rio de Janeiro. Aqui são muitos atrativos, então conto com o auxílio do pai [o também ator Cauã Reymond], muita conversa com ela.. Já estou desenvolvendo coisas desse tipo. Eu tinha uma coisa com a minha mãe que eu não conseguia mentir para ela, e tudo eu dizia a verdade. Criamos uma relação de amizade, e tento já ter isso com a Sofia.

Fé antes de tudo

A Paloma é muito espiritualizada, muito devota…

Eu também sou muito espiritualizada. Eu fui criada na igreja católica e hoje em dia acredito em fé. A fé é o princípio de tudo, e a Paloma é uma pessoa de fé.

Aquela também é sua santa de devoção. E quando você soube que era a mesma santa?

É muita coincidência. Eu já estou íntima da santa!

Você chegou a se colocar no lugar dela quando ela pega o exame dizendo que ela tem pouco tempo de vida?

Eu me coloco mais no lugar dela que no meu. Eu estou prisioneira do Projac, mas é muito prazeroso. É uma novela que tem muito drama, mas tem uma pitada de humor, de leveza. Eu sei que protagonista sofre do começo ao fim, e vamos lá minha gente. Vamos sofrer! Vamos enganar o organismo e os sentimentos.

O que você faria se soubesse que te restam seis meses de vida?

Talvez algo parecido com ela [Paloma]: tentar viver intensamente esses seis meses. Mandar tudo para as cucuias, e viajar com a minha filha para tudo que é lado, comer, beber, abraçar, beijar, agarrar minha pequena.

Na trama você tem três filhos. Você já pensou em ter mais filhos?

Lógico!

Tem vontade de ter quantos?

Ah, não sei. Peraí, deixa eu arrumar o pai, aí a gente decide junto (risos).

Viajando nas letras

Sua personagem tem ligação muito forte com a leitura. Você também tem essa intimidade.

Não. Sabia que lá na minha casa, eu pegava um livro para ler e minha mãe dizia ‘você é vagabunda? Vai trabalhar’. Livro era uma coisa que significava não ter o que fazer. Para a maioria do brasileiro infelizmente ainda é assim. Não julgo minha mãe, e minha família, mas é que havia uma conotação que não está fazendo nada, se está lendo. Mas é tão lindo. O hábito de ler tem que ser desenvolvido desde cedo. Hoje em dia, eu leio com a minha filha, a gente senta junto para ler, eu leio muito capítulo. Recentemente eu tava lendo o livro A Morte é Um Dia que Vale a Pena Viver – é maravilhoso esse livro. É de uma das consultoras da novela [a escritora Ana Cláudia Quintana Arantes]. Ela me deu de presente e de início pensei ‘ai meu Deus, livro falando de morte’. Mas quando você começa a ler, percebe que é sobre a vida, sobre a qualidade da vida, sobre como você viver os seus dias aqui. Porque a finitude existe para todos, mas seu tempo é diferente do outro. Se você tem uma doença, você entra em contato real com esse tempo.

Esse encontro da personagem com o carnaval te aguçou?

A personagem tem muitos pontos que me fez reviver situações. É o lado popular, é o carnaval. Desde pequenininha eu saio na escola de samba da minha cidade, depois aqui no Rio. Ela está me fazendo entrar em contato maior com a leitura também. Fagundes é uma enciclopédia ambulante, uma biblioteca, e ele presenteia a gente com livros divinos e maravilhosos. Já estou com uma listinha que ele me deu, não estou conseguindo ler, mas vou ainda. É um presente estar com esse homem.

Como você cuida do corpo?

Eu estou tentando dormir melhor, tomo vitaminas, e yoga, minha nova paixão, mas não estou conseguindo fazer tanto quanto eu queria. Gosto de esporte, gosto de me exercitar, e eu sou do dia, isso já ajuda muito. Eu estou levando dois litros de água todo dia para o estúdio. E tem uma pessoa, meu maquiador que eu amo, que me fala a hora de comer porque às vezes esqueço. Então estou fazendo essas coisas para ficar bem.

Está fácil ser solteira no Rio?

Eu só trabalho. Não tenho mais tempo, e que bom, porque preciso administrar isso.

Você prefere uma fase mais solteira ou grudadinha?

Eu gosto de namorar, mas nesse ritmo que estou está impossível.

Mente sã em corpo são

A Ingrid [Guimarães, intérprete de Silvana em Bom Sucesso] disse que você está treinando com ela…

Sim. Eu que comecei a introduzir a Ingrid no muai thay e no yoga. Mas ali a gente vai aos pouquinhos. A yoga não tem comparação, você vai no limite e evolução do seu próprio corpo. Eu não suportava. Eu brinco que é igual comida japonesa, você come uma vez, e acha uma merda, depois você vai gostando porque vai sentindo a diferença. Eu senti a diferença na minha vida, e na minha profissão. A gente não sabe respirar, porque esquece até como respira, ainda mais no mundo de hoje que é tudo numa urgência… Eu acho que essa conexão foi importante e está sendo interessante para mim. Inclusive, estou aflita por não estar conseguindo fazer todos os dias.

A Paloma vai viver dois amores na novela. O amor da vida, o Ramon (David Júnior), e o Marcos (Rômulo Estrela), a paixão arrebatadora. Como você acha que esses dois homens transformarão a trajetória dela?

Como ela mesmo diz em uma cena: quando ela descobre que vai morrer e depois descobre que não vai morrer mais, a vida dela muda. Tudo ao redor muda, coisas dentro dela mudam. Esse contato faz com que ela veja a vida de uma outra forma, e pondere, questione e viva mais intensamente as coisas. Ela nunca se daria o direito de uma paixonite, de viver aquilo com o Marcos, e depois de tudo ela se dá esse direito, e não é algo que ela controla. O Marcos é uma pessoa que mexe com ela, todo mundo já teve alguém assim. Ramon é quase um amor de infância, eles têm uma filha, e mesmo que seja algo desgastado ainda existe aquela raiz. Isso que é legal.

Você gravou na Sapucaí. Deu saudade? Voltaria a desfilar?

Eu amo, mas é muita função. Eu gosto do dia, mas a função toda deixa de ser carnaval e vira trabalho. E para mim carnaval é carnaval, não é trabalho. Fico meio confusa.

Dia a dia com a filhota

Você se imagina levando a Sofia para a balada?

Sabe que eu ia com a minha mãe amarradona no interior? Eu iria junto com ela, só falta ela não querer.

Ela já conhece o interior?

Não levei ela ainda, não consegui. Mas sempre que posso vou com ela para uma serra, e lugares que trazem essa referência.

Protagonista, rainha da publicidade, e você permanece humilde. Qual o segredo?

É saber que na vida tudo passa meu amigo, e todo mundo morre (risos). Olha, já estou falando de morte (risos). Tudo passa, a gente não é nada. Só quero deixar uma história para minha filha lembrar com orgulho e carinho de mim. De resto…

Qual resumo você faz da vida?

Eu amo malhar, amo fazer esporte, uma coisa que eu gosto e não faço pelo corpo, e sim pela saúde mental. É hábito, e hábito a gente conquista. Desde pequenininha eu era aquela criança que ia no Sesc, que queria fazer tudo o que tinha lá. Sempre gostei disso. Quando estou de férias, eu me divirto. As pessoas ficam com raiva porque eu gosto, e gosto de comer.

Sofia também é assim?

Não. Ela virou para mim e falou ‘mãe, eu odeio esporte’. A facada no peito veio de dentro. Acho que é aquele momento que quer dar uma provocada. Ela é animada que nem eu, engraçada, vou ficar aqui babando na minha filha anos…

E teatro, será que ela faria?

Ela brinca disso com as amiguinhas, mas ela não falou nada que ela ame fazer não. Estou colocando ela em várias coisas, como piano, que ela faz em casa.

E como é a relação dela com o pai dela? Vocês se falam?

Está ótima… Por que a gente não se falaria? O povo inventa umas coisas, gente…

Isso te incomoda muito?

Não me incomoda, eu só acho que é desnecessário.

Como você administra seu tempo?

Eu vou trabalhar de segunda a sábado, 11 horas por dia, de resto estou dentro de casa grudada na minha filha, e estudando texto. Eu estou ficando verde, essa minha cor bronzeada é tudo de mentira. A moça ficou de me mandar foto desse produto porque vou ter que viver disso agora (risos).

Contagem regressiva

O que podemos esperar de Bom Sucesso?

Espero que as pessoas gostem, porque estamos fazendo com carinho, gravando desde fevereiro. Está uma loucura porque tem sequências que a gente nem fechou ainda, estou gravando de trás para frente, de frente para trás. Na hora que juntar tudo nem sei, vou assistir o primeiro capítulo debaixo da cama só com um olho de fora. A gente vai falar e questionar a vida. Estamos tendo uma urgência para viver que não condiz com a qualidade de viver, então esse é um questionamento bonito para a gente ter em casa.

Você vai entrar como protagonista numa era que as mulheres dominam a teledramaturgia…

A mulherada está arrasando!

A sua personagem faz uma ligação quando descobre que tem seis meses de vida. Para quem você faria uma ligação?

Eu ia ligar para todo mundo falando ‘te amo’, ‘sinto muito’, ‘me perdoe’.

Tem alguém para quem você ligaria dizendo ‘vamos tentar’?

Olha ela querendo cavar coisas (risos). Tudo eu vivi no time das histórias, e está tudo tão bem resolvido…

Você se sente mais pronta e mais relaxada para viver uma protagonista?

Pronta nunca, relaxada nunca. Mas me sinto mais segura.

*Entrevista realizada pelo jornalista André Romano

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