Armando Babaioff viverá vilão narcisista em Bom Sucesso: “Ele se ama acima de tudo”

Publicado em 24/07/2019

Ator desde a adolescência e há 13 anos fazendo televisão, Armando Babaioff se prepara para o maior desafio de sua carreira na telinha. É dele o papel do grande vilão de Bom Sucesso, trama de Rosane Svartman e Paulo Halm que a Globo estreia na próxima segunda-feira (29), no lugar de Verão 90.

Seu personagem, Diogo Cabral, é um advogado ambicioso e inescrupuloso. Casado com Nana (Fabíula Nascimento), ele se une à assistente desta, Gisele (Sheron Menezzes), para convencer o sogro, Alberto (Antônio Fagundes), a vender a editora que por décadas tem sido o sustento de sua família.

“Diogo é um cara que se ama mais que qualquer outra coisa, autossuficiente, não precisa de ninguém. Ele está procurando o prazer, e dá vazão aos prazeres dele. E um desses prazeres é estar no risco. Ele gosta de se colocar no risco”, adiantou Armando, durante a coletiva de lançamento do folhetim.

Confira o bate papo completo com o ator global:

OBSERVATÓRIO DA TELEVISÃO – Ele é um malvado mesmo? Conta para a gente sobre esse personagem, o Diogo. 

ARMANDO BABAIOFF – Acredito que sim. Eu vi apenas duas cenas, e não faço ideia de como está imprimindo no vídeo. No primeiro momento o negócio do Diogo é dinheiro. O cara quer receber a parte dele na venda da editora criada pelo Alberto, personagem do Antonio Fagundes. Se ele consegue vender aquela editora, ele consegue ficar com o dinheiro de uma comissão, o que para ele já está valendo. Se não, ele tem um plano B, C… Ele não mede esforços para conseguir o que quer. Ele passa por cima de qualquer pessoa. Se casou por interesse e mantém um relacionamento por interesse. O relacionamento que ele tem com a Gisele, personagem da Sheron Menezzes, eu ainda não sei se é por interesse. Mas sei que ele se ama mais do que qualquer coisa. 

Mas com o plano dele de vender a editora, a Gisele quer a comissão dela, não é?

Foi o que ele prometeu para ela como pagamento. Este é um motivo pelo qual ela está ali. Mas creio que no fundo ela realmente é apaixonada por ele. 

Como você compôs esse personagem que tem um quê de psicopatia?

Este personagem já me tira o direito da dúvida. Não posso fingir que ele não é vilão, ele é, mas não gosto deste título. A partir do momento que se intitula, parece que ele vai pedir até um copo de água de forma estúpida e mal encarada, e não é assim. Já que meu personagem se veste como se veste, e é considerado vilão, comecei a pensar nele de outra forma, levando ele para o humor. Apesar da grosseria, ignorância e forma como ele trata as pessoas, usando as fraquezas delas para se beneficiar, pensei ‘por que não ir para o lado do humor?’. No fundo quero que as pessoas tenham raiva de gostar do vilão. Boa pessoa ele não é de fato. As coisas que fala e faz são assustadoras, é um sujeito amoral… Aí quero colocar o humor para justamente dar aquela graça.

E como é essa coisa da pegada, da sensualidade…

Está dentro da linha do desejo dele. Diogo é um cara que se ama mais que qualquer outra coisa, autossuficiente, não precisa de ninguém. Ele está procurando o prazer, e dá vazão aos prazeres dele. E um desses prazeres é estar no risco. Ele gosta de se colocar no risco. 

Como foi a sua construção de personagem?

Ele [Diogo] tem os tempos dele, uma forma de olhar, um olhar de sociopata e age como tal. Gosto de colocar alguns detalhes, que acho que é onde mora Deus. Gosto de brincar dessas coisas. A forma como ele vira a cabeça, a forma olha, e gesticula, é tudo pensado. É a parte que me dá mais prazer na criação. É uma criação totalmente baseada no encontro com os atores. O meu relacionamento com a Fabiula [Nascimento, que vive sua esposa na trama] é a forma como meu personagem se relaciona com a personagem dela, e é de um jeito específico, diferente da forma como ele se relaciona com a personagem da Sheron Menezzes, com o Antonio Fagundes… O mais divertido é a personalidade dele só. Ele sozinho também é ‘o ser’. Eu estou achando uma maluquice, me chamaram para fazer isso, e a primeira pergunta que diz para o Luiz Henrique Rios [diretor] foi ‘Você tem certeza? Sou eu mesmo?’. É meu primeiro vilão em televisão.

Você tem um espetáculo maravilhoso com a Kelzy Ecard, e você não pega qualquer papel…

Estou com 38 anos, faço teatro desde os 11 anos. Há 13 anos faço televisão, que veio na minha vida recentemente. Com o teatro, sendo produtor dessa peça que você falou [Tom na Fazenda], eu faço as coisas que quero fazer, textos que tenho vontade de dizer. Nesse momento acho muito importante, como ator, me colocar diante desse governo, em face das mazelas humanas nas quais a gente está vendo aí todos os dias, em todos os lugares, seja ao vivo ou pela televisão, jornal. Me sinto nesse lugar quase que como uma responsabilidade. É uma profissão extremamente importante, milenar, que fala sobre a alma humana, o comportamento humano, que é o que me interessa no mundo. Na televisão, foi preciso que eu fizesse uma peça fora para ser olhado com outros olhos, e foi aí que de repente me chega o convite para fazer Segundo Sol, com o Dennis Carvalho, que assistiu Tom na Fazenda duas vezes. E temos um outro diretor que vai ao teatro, que é o Luiz Henrique Rios, que também assistiu à mesma peça e me fez o convite para este personagem sabendo que seria um desafio para mim inclusive. Quando ele me chamou, ele disse ‘quero te chamar para algo que você nunca fez na televisão’, e isso tem um peso muito grande. É o clichê do clichê dizer isso, mas foi um presente. 

Te angustiava ter demorado a fazer na TV o sucesso que você já tinha no teatro?

Acho que, quando era mais novo, sim. Mas, depois que você chega em determinada idade, a preocupação mesmo é contar boas histórias. Eu não sou celebridade, sou um artista, um operário. Eu carrego cenário, eu produzo, eu gosto disso. O dia que eu perder isso, perco o interesse na profissão. Eu gosto de conhecer gente, meu material é humano. Se eu deixar de andar de metrô, de ônibus, deixar de entrar em lojas para comprar alguma coisa em São Cristóvão, vou deixar de ser a figura que sou. Faz parte da minha personalidade ser esse cara curioso que tem interesse em conhecer o outro. O dia que eu perder o contato com o ser humano, perco o contato com a essência da minha profissão.

(entrevista feita pelo jornalista André Romano)

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