Marcius Melhem fala sobre o fim de Tá no Ar e novo cargo na Globo: “É um lugar de muita responsabilidade”

Publicado em 13/12/2018

Vivendo uma nova fase em sua carreira, o humorista Marcius Melhem está em seu auge na TV Globo. O ator agora é responsável pelas atrações de humor da emissora, e um de seus projetos que o fez chegar em a tal patamar dentro da empresa, o Tá no Ar: A TV na TV, está chegando em sua última temporada. Durante uma conversa com jornalistas, Marcius revelou ao Observatório da Televisão que tem novos projetos em andamento na casa e algumas novidades da temporada final do programa em que começou com Marcelo Adnet. Confira:

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O programa realmente vai acabar?  

“Vai acabar. Nem todo mundo tem certeza, mas eu tenho. Chega uma hora que tem que acabar. O Tá no Ar surgiu como uma novidade muito grande, depois ele se manteve e se mantém com um frescor, coisas novas, acompanhando as loucuras desse país e a gente poderia fazer o Tá no Ar por mais uns dez anos. Mas a gente é inquieto e quer fazer outras coisas e já temos novas ideias. Então temos que concentrar esforços na nova ideia. Se a gente não tira do ar uma coisa que está resolvida, a máquina não começa girar para você. Tem que criar um buraco naquele espaço, para a TV Globo começar a girar em função da nova ideia e a próxima ideia é muito boa.”

Mudanças

Tem a ver com esse seu novo cargo na emissora? 

“Esse lugar de cuidar do humor da TV Globo, olhar como um curador que fica recebendo projetos, conversando com as pessoas, tanto aqui como para apresentar para a Globoplay também, é um lugar de muita responsabilidade. Mas ao mesmo tempo é muito bom você ter um espaço para discutir o humor aqui dentro, um assento em reuniões muito importantes e estratégicas do futuro da empresa. E saber que não eu, mas o humor faz parte desse futuro, é muito legal.

Mas é procurar ser o mais generoso possível com os projetos que chegam, mais sincero possível e conversar. Não dá para fazer tudo o que chega, mas é fundamental olhar nos olhos das pessoas e conversar sobre o que você acredita que é legal para aquele momento. Eu olho esse lugar com muita responsabilidade e serenidade, mas também o cuidado de não fazer esse lugar me tirar do que eu mais gosto de fazer que é criar. Uma das condições ao assumir esse lugar foi que eu não deixasse de ser um criador, eu não quero ir para trás da mesa e ficar dizendo sim ou não para produtos, eu quero participar da criação.”

Novos projetos 

Esse novo projeto envolve essa galera toda do Tá no Ar? Terá outros rostos? 

“Nada disso está definido. O que eu posso dizer é que elenco é muito cedo, a gente está definindo o formato ainda; o formato nem foi aprovado. A gente vai apresentar ano que vem no começo do ano o formato, o que a gente quer. O que eu posso dizer de concreto é que esse formato está sendo criado pela redação do Tá no Ar e traz ainda mais gente, porque é um projeto maior que o Tá no Ar, tanto de minutagem, quanto de encrenca. É uma grande loucura.”

Qual o resumo que você faz de quando você começou, até agora?  

“Quando eu procurei o Adnet para a gente fazer o Tá no Ar, eu estava num desvio. Na real eu tinha acabado de sair de um projeto que eu não acreditava muito, estava sem nada e vi ali a oportunidade. Liguei para o Adnet, falei sobre o projeto, comecei a garimpar os autores, fomos construindo e eu tenho muito orgulho pelo que a gente fez no Tá no Ar. Hoje a gente tem diversos projetos que a gente trabalha, mais de 50 autores. O novo Zorra só me chamaram para fazer porque eu tinha feito o Tá no Ar. Depois as coisas que a gente foi fazendo. Agora o Choque de Cultura, esse lugar e a próxima temporada da Escolinha também vem para mim. Isso tudo porque a gente juntou gente boa no programa, só quero juntar gente boa e não perder a emoção de estar criando.”

Novidades

Conta as novidades da temporada do Tá no Ar? 

“Assim, a grande novidade é o último episódio. Mas como ele ainda não está fechado, eu não posso falar. Mas você imagina como é para nós encerrar a última temporada do Tá no Ar. Todo ano a gente termina com um especial, mas encerrar mesmo a temporada é difícil. Eu posso dizer com muita alegria que a gente vai fazer esse funeral.” 

Como foi ser chamado para esse novo cargo? Quantos projetos já chegaram na sua mão até agora? 

“Nem chegou muito projeto assim, porque acabou de acontecer. O convite foi agora no meio de setembro e eu ainda estou estruturando a área, ao mesmo tempo estou fazendo o Tá no Ar como ator e tem o especial ‘A Gente Riu Assim’, que vai ao ar no dia 20, a reta final do Zorra desse ano, mais a Escolinha do ano que vem e algumas séries. A gente vai abrir ainda uma discussão sobre projetos e vai haver uma conversa com os autores da casa sobre isso, tem que conversar olho no olho com as pessoas. A gente vai conversar sobre futuro, projetos, espaço na grade, que tipo de trabalho a gente espera, diversidade e sobre pluralidade.”

Desafios

Qual vocês acham que é o maior desafio de vocês hoje nessa linha do humor? 

“Eu acho que é jogar junto, não é competir. Acho que os talentos podem jogar aqui e lá, por exemplo o Choque de Cultura que a gente trouxe. Muita gente acha que a TV Globo suga as pessoas, mas todo acordo nosso com o Choque, é que eles continuem existindo lá fora. Só que não tiveram que parar de fazer nada do que eles fazem, nem as parcerias deles e o conteúdo deles aqui, é um conteúdo TV Globo. Com o Choque de Cultura nós queremos continuar, estamos negociando o que podemos fazer juntos ano que vem.” 

E como está sendo tomar conta da Escolinha? 

“A primeira coisa que eu fiz foi marcar uma reunião com o elenco e conversar com todos eles: ‘que escolinha a gente vai fazer?’, já é a quinta temporada, então pela minha personalidade, eu estaria pegando o programa para acabar com ele. Mas eu pensei que a gente tinha que fazer alguma coisa para mudar, outra Escolinha. Quando eu estava começando a falar para os colegas o que eu pretendia fazer, o Matheus Solano tomou a palavra e fez um discurso sobre o fato de eu estar nesse lugar. O elenco todo aplaudiu e é óbvio que eu me emociono. O poder é muito maluco se você acredita nele e eu não saio do chão, eu fico aqui, converso com todo mundo, vou todo dia para a redação. Faço texto, eu trabalho, mas é louco. Tem pessoas que eu sempre admirei e agora está me apresentando projeto.” 

Novos parceiros

Nessa função executiva, você trabalha alguma coisa com a Glória Perez? 

“A gente acaba trabalhando lado a lado. Tem o Silvio que é o diretor de dramaturgia e abaixo do Silvio, temos Glória com as séries e eu com o humor. Só que tem as séries de humor, então essas a gente discute juntos quem fica com o que. Por exemplo a Glória e o Silvio me chamaram outro dia, e o Shippados que estão gravando agora a primeira temporada, a segunda vem para mim. A Glória falou que queria que eu ficasse com Shippados porque acham mais a minha cara, eu respondi que está bom. O Ricardo me chamou para falar da Escolinha e foi a mesma coisa.”  

Você comentou sobre novos projetos na TV, mas você pensa em teatro ou streaming? 

“Super! Na verdade, a gente pensa em projetos e depois a gente vê a tela. Então tem projetos legais que a gente está desenvolvendo que é para o cabo, tem projetos como o Shippados que é para o Globoplay e outros são para a grade.”  

O Zorra continua como está diante da sua nova função?  

“Sim, o Zorra está comigo. Tem umas mudanças para a nova temporada, mas ainda estamos discutindo.”

Vocês têm a liberdade da casa para falar de alguns assuntos como política?  

“A gente tem responsabilidade, mas a liberdade é total. O que a gente faz é ter uma discussão muito ampla sobre o como dizer. Por exemplo, a gente está terminando de gravar amanhã a retrospectiva que vai ao ar dia 20, se a gente for falar dos assuntos principais do ano até a data de exibição, não dá para deixar o assunto do João de Deus de fora. Como é que uma coisa tão quente, para falar disso é muito delicado. Mas a gente buscou uma forma, alinhamos com o jurídico e vamos. Para fazer da forma mais protegida possível.”

Novos tempos

O politicamente correto, é uma coisa que te desagrada ou uma coisa que você tem uma compreensão mais tranquila?  

Eu acho que o que chamam de politicamente correto, é um avanço da sociedade. Que é você não dar porrada em quem já leva porrada. Não oprimir o oprimido, não ajudar a perpetuar machismo, racismo, misoginia. A gente vive em um país difícil de se viver para muitas categorias e acho que a função do humor é ajudar a melhorar a vida dessas pessoas e não piorar a vida dessas pessoas. Então a gente é muito vigilante mesmo.

O que a gente faz é muito importante e eu fico muito ligado em quem a gente está batendo. Tem risadas que não me interessam, eu prefiro buscar outro caminho. Esse coletivo nosso, essas pessoas que estão envoltas nesse projeto… É muito claro num país onde cada vez mais, os governantes principalmente, as pessoas que estão em lugares muito chaves, destratam muito os oprimidos da sociedade. Eu acho que a gente tem que de alguma forma jogar luz, para ajudar a dar visibilidade para essas causas e fazer com que pessoas que são esquecidas todo dia, pelo menos pela gente não sejam esquecidas.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano.

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