No ar em Jesus, Vandré Silveira opina sobre vitória de Bolsonaro: “Estamos expondo o preconceito da sociedade”

Publicado em 03/11/2018

Tudo tem um porquê na vida, inclusive a eleição de Jair Bolsonaro, que assume a presidência do país a partir de 2019. Enquanto parte da classe artística lança mão de um discurso mais ácido, é com essa perspectiva que o ator Vandré Silveira procura enxergar o resultado das urnas.

“Acho que temos que respeitar que foi a vontade da maioria. Mas eu tenho medo dessas figuras que incitam discursos de ódio contra as minorias. O presidente eleito já deu uma amenizada no discurso dele. O que espero é que realmente ele governe para todos”, afirma. Para ele, a eleição do capitão reformado mostra o quanto os brasileiros ainda são preconceituosos.

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“Mas também acho o seguinte: tudo o que acontece tem um porquê. Houve uma permissão astral, espiritual, para que esse cara governasse. É no que acredito. Acho que precisamos passar por isso. Pelo menos a coisa está sendo tirada de baixo do tapete. A gente está expondo o preconceito da sociedade.” Enquanto Bolsonaro lhe causa alguma inquietação, uma outra figura tem conduzido Vandré a um universo mais leve e altruísta: Lázaro, seu personagem na novela Jesus, da Record.

Crença

“Uma coisa que essa novela me trouxe é a questão da fé. Fé é acreditar em si mesmo. Acreditar no outro. Entender que você tem capacidade para fazer algo. Quando a gente entende isso, se fortalece. Realmente somos capazes de tudo. Por isso a fé mobiliza e é capaz de coisas ditas impossíveis”, diz o mineiro de 37 anos, amante de Yoga – prática que ele afirma ter tudo a ver com espiritualidade.

Na atual fase da trama, Lázaro e a gladiadora Susana (Barbara Reis) dão sinais de que viverão um romance. Acompanhada através das redes sociais, a química entre os atores parece tanta que muita gente anda perguntando se eles namoram de verdade. O ator garante que não. “Não é namoro [risos]. Nos tornamos muito amigos. Temos uma admiração muito grande um pelo outro. Não só profissional como pessoalmente.” Confira o bate-papo na íntegra:

A  entrada de Lázaro na novela Jesus atendeu suas expectativas?

Eu acho até que superou minhas expectativas. Logo no início, a gente não sabia muito como seria o desenrolar desse núcleo de Lázaro com as irmãs. E o que está sendo muito legal é que a história dos personagens é contada para além dessa coisa da morte e ressurreição de Lázaro. Nem gravei essa cena ainda. Falamos sobre a relação dele com as irmãs, sobre o cotidiano dele e agora essa aproximação cada vez maior com Susana. Já está rolando uma paquera declarada… Essa semana gravei parte de algumas cenas posteriores ao milagre de Maria Madalena. É ele quem a ajuda a encontrar Jesus para ele fazer o milagre. Lázaro está fazendo parte de vários núcleos estou bem feliz com essas possibilidades.

Relação com o público

Dá para ver nas suas redes sociais que o público têm mandado muita mensagem de carinho para você… Bacana, né?

Está tão bonito isso… As pessoas têm sentido a empatia do Lázaro. Ele é muito bondoso, prestativo e se coloca sempre no lugar do outro. É altruísta. E não poderia ser diferente, né? Era o melhor amigo de Jesus. Esse carinho está sendo maravilhoso.

Você e Barbara Reis parecem super entrosados. Essa parceria rola fora de cena? Vocês estão juntos?

Tem muita gente me perguntando isso (risos). Nos tornamos muito amigos. Temos uma admiração muito grande um pelo outro. Não só profissional como pessoalmente. Enfim… Acho que há uma sintonia mesmo. Estamos muito conectados. Fazemos um trabalho de entrega. É impossível ser feito de outra maneira. Estamos muito próximos e nos admiramos.

Entendi… Mas é namoro? Sim ou não?

Namoro não (risos).

Leitura

Você postou trechos de O Evangelho Segundo Lázaro, de Richard Zimler, no Instagram. Está lendo o livro todo ou só folheando?

Estou lendo e estou maravilhado. Esse texto me abriu para coisas que eu não tinha pensado antes, a respeito da ressurreição de Lázaro. O livro começa com ele acordando da ressurreição. Ele não tá entendendo nada do que está acontecendo. Não sabe que morreu. Isso está sendo muito bom para a construção do meu personagem. Eu nunca tinha parado para pensar que ele não se toca que tinha morrido, e que descobre isso posteriormente. É uma oportunidade maravilhosa de fazer essa curva de ele voltar à vida, entender o que está acontecendo e aí vir essa emoção de entender que foi ressuscitado, o poder desse milagre, da força de Jesus. Tenho grifado várias passagens que me tocam. É uma visão muito humana. Não tem uma coisa muito religiosa. É um romance, então também tem ficção. É uma abordagem muito humanista sobre Jesus e sobre Lázaro. Estou encantado.

Vandré Silveira praticando Yoga
Vandré Silveira praticando Yoga Arquivo Pessoal

Yoga

Você pratica Yoga. Na sua percepção, Yoga também tem a ver com espiritualidade?

Acho que sim. Faço particular com um professor indicado por um amigo meu. É realmente uma prática de cura espiritual. É toda baseada na respiração e respiração é tudo. Você consegue atingir um estado emocional, inclusive como técnica de ator. Ter controle sobre a sua própria respiração ajuda a trabalhar a ansiedade que todo mundo vive nesse mundo louco. Estamos sempre projetando tudo para o futuro. E isso é um tiro no pé, né? A gente fica ansioso. A prática de Yoga te conecta com o agora.

O que é mais bacana e que me surpreendo às vezes é que quando você foca na respiração, você está presente realizando a prática. Não está pensando outras coisas. No começo é difícil, mas quando você pega as posições, entende e absorve, tudo flui. É maravilhoso. Tem dias que estou cansado, mas começo a fazer mesmo assim. Quando termino, estou super energizado. Muda, transmuta a energia do corpo. É uma prática milenar, né? Nós, ocidentais, temos muito o que aprender.

Experiência na Yoga

Há quanto tempo você faz?

Tem mais de um ano. Até me surpreendi. Também estou fazendo aquela posição de bananeira [risos]. No começo eu ficava em pânico e pensava: meu Deus, não vou dar conta de fazer isso. Yoga também trabalha muito o nosso emocional, nossa autoconfiança. É só confiar que você consegue. Para fazer essa posição, você precisa de confiança. Está tudo conectado. Aliás, tem algo que acho legal de falar: uma coisa que essa novela me trouxe é a questão da fé. Fé é acreditar em si mesmo. Acreditar no outro. Entender que você tem capacidade para fazer algo. Quando a gente entende isso, se fortalece. Realmente somos capazes de tudo. Por isso a fé mobiliza e é capaz de coisas ditas impossíveis. O Yoga tem esse poder de a cada dia você avançar nos asanas [posturas de Yoga]. É um caminho de vida.

Benefícios da Yoga

Você também pratica por causa dos benefícios estéticos?

O corpo fica bonito também, mas não faço tanto pelo físico. É mais por uma questão de saúde, de trabalhar ansiedade, segurança. É uma prática mental, psíquica, espiritual. Mas claro que tem esse ganho físico.

Mas rola aquela coisa de se preparar para o verão?

Te confesso que rola (risos). Vou para a academia também, e às vezes corro. Por exemplo: amo carnaval e tenho que estar bem fisicamente pra desfilar de novo. Ou não, né [risos]. Ano passado desfilei pela Paraíso do Tuiuti. Foi um samba-enredo maravilhoso, que eu sei de for até hoje. Quero desfilar de novo. Acho bacana ter a vaidade na medida. Nada muito radical, de ficar se matando Acho legal ter um corpo saudável, que me atenda naquilo que preciso, seja profissionalmente ou na minha vida pessoal. Tenho uma flexibilidade boa, resistência física… Para mim, a coisa é mais nesse sentido.

Instabilidade política

Voltando a falar sobre controle emocional… Você tem se sentido mais ansioso nesses tempos de instabilidade política?

Acho que todo mundo. Acho que temos que respeitar que foi a vontade da maioria. Mas eu tenho medo dessas figuras que incitam discursos de ódio contra as minorias. O presidente eleito já deu uma amenizada no discurso dele. O que espero é que realmente ele governe para todos. A gente sabe que existem pessoas extremistas, radicais e preconceituosas que estão se aproveitando desse favorecimento dos discursos de ódio para poder violentar as minorias. Isso é muito triste. A gente fica com medo por isso. Temos visto vídeos de pessoas atacando as outras em nome do presidente eleito.

Ele acaba legitimando um discurso de ódio?

Exatamente. Não dá para ignorar todo o histórico dele, o que ele falou, o que está em vídeos. Mas acho o seguinte: tudo o que acontece tem um porquê. Houve uma permissão astral, espiritual, para que esse cara governasse. É no que acredito. Acho que precisamos passar por isso. Pelo menos a coisa está sendo tirada de baixo do tapete. A gente está expondo o preconceito da sociedade brasileira, que a meu ver é preconceituosa e avançou pouquíssimo em relação a isso. Tem gente que diz que a sociedade não é racista. É sim. É homofóbica. Tem a questão da mulher, que ganha menos no mercado de trabalho. Não adianta fingir que isso não existe. Isso fica escancarado quando a sociedade brasileira elege um cara com essas diretrizes no pensamento dele. Pelo menos é o que ele tem exposto ao longo dos anos. Mas espero que seja bom.

Novos projetos

Além da novela Jesus, está com algum outro projeto em vista?

Estou com o projeto de um espetáculo que quero estrear em 2019, no Rio. Vai se chamar “Francisco” e fala sobre a questão do animal, como a gente lida com eles, com a exploração e a crueldade humana. É um link com Francisco de Assis, mas vamos dar a ótica do animal, a voz dele.

Existe algum envolvimento pessoal com este tema?

Eu tenho uma relação muito forte com animais, desde criança. Tenho cachorro e vou ter um gatinho também. Amo animais e tenho uma ligação forte com Francisco de Assis. Sinto a necessidade de falar sobre isso. Sobre o consumo da carne, sobre práticas sobre as quais precisamos refletir… Senão, daqui a trinta ou quarenta anos, vamos viver um colapso. A maneira como tratamos os animais, esse número grande de animais abandonados e de maus tratos… Falar sobre isso, sobre a questão do amor. O ser humano se julga às vezes superior aos animais, mas somos todos iguais, todos parte da natureza. Então temos que ter amor sobre esses bichos e fiquei afim de falar sobre isso.

Veganismo

Você é vegano?

Não sou radical, mas acho que tem maneiras de consumir de uma forma mais responsável e com menos crueldade. Não sou vegano, mas quase não como carne vermelha. Evito e pretendo um dia parar de comer. Acho que tudo na vida temos que ter equilíbrio. Se você reduz o consumo, já está ajudando.

Me fala sobre o seu cachorro, Tito?

Tito é um Shih Tzu e vai fazer dez anos em janeiro. Ele parece um “Budinha”. Dorme para caramba. O veterinário chegou a pensar que ele tinha hipotireoidismo, por ser muito sonolento. Fizemos os exames e vimos que não tinha nada. Ele é zen. Uma companhia e tanto. Agora terei um gato, da raça Bengal, que deve chegar em dezembro. Tenho certeza que vão se dar bem. Penso em adotar algum bichinho também.

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