Maria Eduarda de Carvalho elogia Miss Celine de O Tempo Não Para: “É uma aula de humanidade”

Publicado em 15/10/2018

Miss Celine é a prova de que ainda existem pessoas boas no mundo. Em O Tempo Não Para, a personagem de Maria Eduarda de Carvalho está sempre disposta a ajudar o próximo e convive bem com as diferenças. Para o Observatório da Televisão, a atriz de cabelos ruivos ressaltou a importância de ter uma figura que cultiva empatia todos os dias na TV. “A novela é uma oportunidade maravilhosa de mostrarmos para o Brasil que é muito importante ser tolerante e respeitar”, disse.

Ao longo da conversa, Maria Eduarda também falou sobre feminismo, relação com o público e opinou sobre a vida amorosa de Miss Celine na novela escrita por Mario Teixeira. Confira a seguir:

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Como você está vendo a repercussão da novela?

A novela é muito boa. Eu me sinto honradíssima de fazer parte dessa trama. Como eu já falei anteriormente, não é só um texto divertido. É um texto extremamente relevante, contundente nos nossos dias atuais. Ele toca em assuntos importantíssimos, todos na pauta do dia. E ele fala disso com muita delicadeza, com propriedade sobre racismo, desigualdade social, as questões da mulher, as questões de gênero, as demandas feministas.

Acho que para o momento em que estamos vivendo, um momento de retrocesso tão grande, é muito importante que um veículo, que tem o poder que a Globo tem de alcance, esteja se dispondo a tocar nesses temas. Acho que é uma possibilidade e uma chance importante da gente olhar e repensar a nossa realidade.

De todos os congelados, a Miss Celine e a Marocas (Juliana Paiva) são as mais adaptadas ao século XXI. Ao que você atribuiu esse diferencial delas?

“Eu me sinto honradíssima de fazer parte dessa trama”

Eu acho que toda mulher é uma feminista em potencial. Acho que as que não se dizem feministas é porque, talvez, desconheçam as demandas feministas e as conquistas, pelo o que as feministas lutam. E eu acho que a Marocas e a Miss Celine têm isso muito claro dentro delas. O direito da mulher, a possibilidade, a necessidade de você ser respeitada, de você ter realmente todos os direitos que lhe cabem. Você ter uma igualdade total de direitos entre os gêneros.

“Eu acho que toda mulher é uma feminista em potencial”

A minha filha tem oito anos e chegou em casa reclamando que o amiguinho da turma dela era machista. Eu não lembrava de ter tido essa conversa com ela e falei: ‘Luíza, você sabe o que é machismo? ’. E ela disse: ‘mamãe, machismo é quando a pessoa pensa que ser menino é melhor do que ser menina’. Eu achei uma aula! E acho que no alto dos seus oito anos ela já tem essa clareza. Talvez, a Miss Celine e a Marocas, mesmo com esse congelamento de cento e tantos anos, tentam chegado aqui em 2018 com essa mesma clareza e certeza da Luíza, minha filha.

Como é interpretar uma personagem com tanta empatia como a Miss Celine? Ela vai surpreender muito ao trabalhar na escola, né?

Exatamente! Ela compreendendo o que é uma criança transgênero na primeira conversa com a diretora. Ela com uma empatia profunda pelo menino que é negro e segregado na escola. Eu acho que é uma aula de humanidade. Estamos precisando muito disso no Brasil. Estamos vivendo em um momento de repúdio a diferença, que tudo que é diferente é execrado, rejeitado.

“A diferença é muito rica”

A novela é uma oportunidade maravilhosa de mostrarmos para o Brasil que é muito importante ser tolerante e respeitar. As pessoas são diferentes umas das outras, e que bom. A diferença é muito rica. Aprendemos muito respeitando e conhecendo o que é diferente da gente. A Miss Celine é uma aula de humanidade.

A Miss Celine tem um sotaque que o público adora. No início, você teve medo de cair na caricatura por conta dessa forma de falar?

Inclusive na novela, quando me falaram que estavam imitando o meu sotaque, eu falei: ‘mas eu não faço sotaque’. E falaram que eu tinha sim, que eu fazia um sotaque. O meu objetivo quando comecei a fazer a Miss Celine era falar as palavras com exatidão, pronunciar de forma correta. E isso acabou tendo uma música, mas não era um sotaque. E eu acho que talvez respaldada por isso, eu não pensei no risco de ficar caricato.

Como ela era muito estudiosa e teve um grau de ensino diferenciado, o pai dela fazia muita questão que ela se instruísse, eu achei que essa mulher falava bem e tinha uma pronuncia adequada. E partindo disso, fui criando essa música e as pessoas agora vieram me dizer que ela tem um sotaque (risos).

“Eu não pensei no risco de ficar caricato”

Você gosta de assistir suas cenas?

Eu aprendi a me assistir com o Eduardo Milewicz, que é um preparador de elenco e eu tive o privilégio de ter duas experiências com ele de preparação. Eu tinha muita dificuldade, mas através do contato com ele, eu entendi que há uma possibilidade.

O fato de você se assistir é uma possibilidade grande de mudar o que não está legal. A novela é uma obra aberta e isso é maravilhoso. Não é igual ao filme, que você vê só depois que está pronto e não tem a possibilidade de mudar.

Vida amorosa de Miss Celine

Como vai ficar o relacionamento da Miss Celine e Elmo (Felipe Simas)?

Eu torço muito pelo casal porque acho divertidíssimo contracenar com o Felipe. Ele é um parceiro sensacional, a gente descobre muitas coisas juntos. E acho que essa é uma das grandes delícias dessa minha profissão de atuar, é esse jogo da contracenação. Quando você oferece alguma coisa para o seu parceiro, ele pega aquilo e te devolve. É como um jogo de vôlei, onde você levanta e o outro corta, ou você saca e o outro pega.”Ele é um parceiro sensacional”

E eu e o Felipe descobrimos essa sintonia fina. Isso está se revelando também no ar. Eu acho que as pessoas têm gostado tanto porque o jogo da contracenação é muito rico. Eu fiquei até um pouco decepcionada quando vi que ele vai descambar para o lado da Damásia (Aline Dias). Eu fiquei decepcionada porque isso significa que a gente vai contracenar menos pelas próximas semanas.

O público aprovou o casal Miss Celine e Elmo. Como foi a sua reação com esse retorno positivo?

Totalmente. Mas também é difícil sustentar um casal junto ao longo de toda a trama. Ele (o autor) realmente precisa separar momentaneamente, assim como ele fez com o casal de protagonistas.

A Miss Celine vai sofrer com o distanciamento do Elmo?

“Ela é uma feminista em potencial”

Eu acho que não. Claro que tem uma dor, mas a Miss Celine está muito encantada e embriagada de contemporaneidade, são muitas as novidades. Eu acho que ela ainda está muito compromissada com tudo isso que ela está vivendo, que é novo, que é diferente e que ela quer mais. É muito sensacional porque ela é uma feminista em potencial. Eu acho sensacional o universo feminino. O Freud fala isso: ‘afinal de contas, o que quer uma mulher? ’.

O último encontro dela com o Elmo, que foi ao ar recentemente é maravilhoso. A confusão que ela faz com a fala dele. O que ela não entende, ou o que ele diz e ela entende de uma forma diferente. Os homens ficam loucos com a gente nesse sentido. Eu acho que a Miss Celine guarda essa característica tipicamente feminina, que o Mario sabe exemplificar muito bem. Eu acho que, na verdade, foi um pouco isso que precipitou a separação dos dois. Ele disse uma coisa, ele entendeu outra.

Existe algum outro solteirão na novela que pode formar casal com a Miss Celine?

De certo que sim (risos). Eu e o Kiko estamos fazendo o investimento do casal nas redes sociais. Eu já admirava o Kiko de longas datas, já era fã dela a distância. Aquele tipo de ator que eu via no teatro, e queria ser quando crescesse. Era até um pouco apaixonada por aquela figura, mas ele não quer nada comigo (risos). Quem sabe o Teófilo com Miss Celine (risos).

A gente acha que, no final das contas, eles vão viver todas as experiências do mundo contemporâneo e vão perceber que algo se perdeu e está se perdendo, e vão retomar aquele romantismo do século XIX. Contracenar com o Felipe Simas também é muito divertido, é sensacional.

Maria Eduarda de Carvalho fala sobre o carinho do público

Você esperava que a novela e a sua personagem seriam um sucesso?

Para a gente que está de dentro é um pouco diferente. Estamos vivendo um turbilhão de emoções. Às vezes muitas coisas ficam confusas para termos a dimensão real. Como eu disse, é uma honra poder, nesse momento do país tão incidido e intolerante, dar vida e corpo a uma personagem que tem esse olhar de generosidade e delicadeza para o mundo.

Na primeira entrevista que eu dei aqui, falei muito do meu grau de emoção em relação a Miss Celine. De como era fácil me emocionar com as falas dela e com ela. E agora, nessa nova conversa, eu realizo que seja por conta disso. Por conta desse grau de humanidade que ela tem diante de um mundo tão intolerante e de um país tão incidido.

O que você mais ouve do público sobre a personagem?

“Estamos vivendo um turbilhão de emoções”

Eu acho que mais ouço em relação ao Elmo. A torcida pelo casal é muito grande mesmo. A gente acertou na parceria e as pessoas ficam muito empolgadas. É muito divertido ler os comentários, o que eles suscitam nas pessoas. É muito bom como você pode transmitir um grau de realidade através da fantasia com essa função da arte, que muitas vezes também é desmerecida no nosso país.

Eu já falei outras vezes como um país precisa valorizar a sua cultura e a arte. Elas são realmente transformadoras. Às vezes tem uma realidade muito nublada que reapresentada, através de um ponto de vista poético e lúdico, se torna mais clara.

Você também sente um carinho do público infantil? Como é a relação da sua filha com a sua personagem e a novela?

A novela é uma comoção até entre as crianças. Isso é muito legal! A minha filha nunca tinha assistido uma novela até então. É a primeira novela que ela acompanha e ela está completamente devota do O Tempo Não Para. O engraçado é que a avó, a mãe do ex-marido, tem críticas a ela assistir. Afinal de contas, é uma novela que tem um milhão de temas e ela tem oito anos. E todo dia ela me pergunta: ‘mãe, tudo bem ver a novela? ’. E eu falo: ‘tudo bem você ver a novela’.

“Na escola é sensacional porque ela chega com notícias quentes”

Outro dia ela falou: ‘mãe, mas a censura é 12 anos. Eu vi na abertura. Mas tudo bem, né? É a novela da minha mãe’ (risos). Aí eu falei: ‘é filha, é a novela da sua mãe. Vamos abrir essa exceção’. Eu falo que o que ela não for entendendo, o que for difícil, vamos conversando. Realmente tem coisas que não estão ao alcance dela. E também eu acho maravilhoso porque é uma abertura para a gente discutir, conversar e falar do que ela ainda não conhece. E na escola é sensacional porque ela chega com notícias quentes. Ela virou uma sensação na turma.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano.

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