Carol Duarte apresenta Stefânia, sua personagem em O Sétimo Guardião: “É uma prostituta gaga”

Publicado em 17/10/2018

Carol Duarte está de volta à TV, e agora com um novo desafio: dar vida a uma prostituta. A atriz que conquistou críticas positivas ao interpretar um transexual, em A Força do Querer (2017), será Stefânia em O Sétimo Guardião – próxima novela das nove da Globo, escrita por Aguinaldo Silva.

Ainda sem conhecer profundamente a nova personagem, Carol bateu um papo com o Observatório da Televisão. De acordo com ela, Stefânia é uma mulher divertida, gaga, de autoestima elevada e que pode carregar grandes segredos. “A Stefânia chegou nessa cidade num porta-malas de um carro”, adiantou. Confira a seguir a entrevista na íntegra:

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O seu último trabalho na TV foi interpretando Ivana/Ivan em A Força do Querer. Agora você retorna com uma proposta completamente diferente em O Sétimo Guardião. Conta um pouco sobre essa nova fase da sua carreira.

É muito diferente esse trabalho. A Stefânia é uma prostituta gaga. Ela vive no bordel da Ondina (Ana Beatriz Nogueira) em uma cidade aparentemente pequena, chamada Serro Azul. Ela tem toda uma história com o João Inácio (Paulo Vilhena). Então é uma pegada bem diferente do que foi o Ivan.

“Eu até dou uma suada tentando falar gaguejando”

Como foi sua preparação para interpretar essa personagem gaga?

Eu fiz preparação com uma fonoaudióloga. Eu descobri que tem muitos tipos de gagueira. Agora com o diretor, estamos afinando que gagueira é essa. É claro que não é muito fácil. Eu até dou uma suada tentando falar gaguejando. Mas está sendo uma experiência legal para mim como atriz.

A gagueira da Stefânia pode ter sido motivada por algum trauma no passado?

Eu acho que a gagueira pode também partir de um trauma, alguma coisa que a pessoa não consegue falar com fluência. Se não me engano, pelo o que estudei, não existe uma cura para a gagueira. Existe um tratamento para a pessoa parar um pouco de gaguejar, mas não uma cura. E claro, a Stefânia tem uma coisa nela, um trauma que causou a gagueira.

A Stefânia vai ter uma técnica para tentar evitar a gagueira? Por exemplo, cantar.

Existe isso. Também que quando a pessoa não se ouve, ela não gagueja. No filme O Discurso do Rei mostra uma cena dessa. Eu acho que a Stefânia não gagueja quando canta. Mas vamos descobrir, eu não sei ainda (risos).

Conhecendo mais a personagem

Como a Stefânia foi parar no mundo da prostituição?

A Stefânia chegou nessa cidade num porta-malas de um carro. Na minha cabeça, quem pega ela para criar foi a Ondina. Então eu acho que ela sempre viveu um pouco nesse universo.

Qual será a história amorosa da Stefânia?

Acho que vai ter uma coisa com o João Inácio. Não sei em que medida isso vai se desenrolar, mas alguma coisa vai ter.

A personagem será uma figura sensual ou será mais cômica?

Eu não sei ainda disso. Quando eu penso na história da Stefênia, pode ser cômico uma pessoa gaga. Esse limite do que é cômico e do que não é, eu acho que me interessa mais. Acho que, às vezes, o engraçado quando olhado profundamente não é nada engraçado.

O cabelo vai ser mantido curto para a Stefânia?

A princípio sim. É muito diferente do que eu fiz (em A Força do Querer). É uma mulher prostituta, que gosta do próprio corpo, que se sente bem. Ao mesmo tempo, claro, tem questões. É difícil falar de prostituição sem pensar em todas as questões de como se cai na prostituição.

Contato com a vida real

Você buscou contato com prostitutas da vida real para poder compor a personagem?

Sim! Eu acho bem legal fazer isso. Uma das partes mais legais da minha profissão é encontrar esses universos diferentes. Eu falei com algumas. Existem muitos tipos também. Existe prostituição de luxo, vários tipos de mulheres na rua, no bordel. Eu tentei falar com algumas de vários lugares, mas principalmente com as prostitutas que vivem num bordel não tão luxuoso.

Eu não consegui conversar tanto (com as prostitutas). Conversei com algumas dentro do bordel, mas elas estavam trabalhando. Eu estava ali meio que atrapalhando o serviço, óbvio. Mas sentir o ambiente já é bastante coisa. O cheiro, a luz, o álcool, o cigarro. Isso tudo fica no cabelo, no corpo dessas mulheres. Eu gosto muito de olhar quando essas mulheres não estão em serviço e trazer uma humanidade. A tendência da gente é achar que é apenas prostituta.

Alguma prostituta contou uma história que te sensibilizou?

Não. Diretamente, eu não sei de uma história. Me interessa o jeito da pessoa me contar, não necessariamente o que ela está me contando ou o que ela não conta.

Algo te surpreendeu durante a pesquisa?

Tem uma coisa que eu achei engraçada. Não de todas as prostitutas que conversei, mas de algumas. Eu fiz uma pergunta: ‘vocês sentem prazer? ’. Elas disseram que não e falaram: ‘mas eles acham que a gente sente’. E elas riam muito disso. E eu percebi que é um trabalho, que não é ali que vai sentir prazer, vai sentir prazer em um outro lugar. Isso eu achei interessante. Quando elas falavam dos homens naquele ambiente, eles eram meio patéticos.

“Eu percebi que é um trabalho”

É como se elas estivem representando?

É! Eu acho que temos algo em comum, aliás. Muito em comum se a gente pensar. Eu fiz no teatro uma prostituta e, justamente, estudei o que nós duas temos em comum. Nós duas usamos o corpo, nós duas usamos a nossa imagem, nós duas representamos. Tem que separar as duas coisas, não levar tudo para a cama (risos). Eu gosto de pesquisar essas coisas. Acho que o melhor da minha profissão é ir entendendo isso tudo.

Os novos desafios de Carol Duarte

O risco de um personagem gago cair na caricatura é muito grande. Qual o cuidado que você está tendo para que isso não aconteça com a Stefânia?

Essa coisa de estudar que existem vários tipos de gagueira. Pensar que é uma mulher prostituta. Que pode ser engraçado, mas talvez não seja. Em que medida ela escolheu isso? Essa é a minha pergunta agora. Claro que é muito fácil a gente cair no estereótipo, sempre. Mas não me interessa muito cair nesse estereótipo. Não acho que é por aí.

Ao mesmo tempo a novela tem uma pegada e uma linguagem. Está todo mundo entendendo o que o Rogério Gomes está propondo, são muitas variáveis. A minha pesquisa, hoje, para essa personagem é saber que limite é esse entre o engraçado e o que não é. Se ri de uma prostituta por quê? Por que a gente ri de uma pessoa gaga?

A Ivana tinha dificuldade para se identificar com o universo feminino. Como é mudar para uma personagem como a Stefânia que, naturalmente, vai explorar mais a sensualidade?

É muito diferente. O Ivan tinha uma questão com o corpo, era um garoto trans. Então são universos muito diferentes. Além de ser um universo diferente enquanto tema, é um universo diferente enquanto estética também. A novela tem uma outra cara. É uma cidade que fica no meio do nada, que não tem muita tecnologia. Cada prostituta tem uma característica. As roupas e a estética estamos entendendo. Acho que tem uma coisa mais colorida.

“São universos muito diferentes”

Você ainda carrega aquela insegurança da época de A Força do Querer?

A outra foi a minha primeira novela. Eu não sabia o que era, como era. Era um tema muito importante que devia ser colocado da maneira mais clara possível, sem nenhum atravessamento de discurso que não eram importantes naquele momento. Então tinha o cuidado de falar direito o tema e de dar conta da cena. Nessa, os desafios são outros. A minha insegurança está deslocada, mas ela existe (risos).

Você ficou lisonjeada por ser convidada para integrar uma trama do Aguinaldo Silva?

Eu me sinto muito bem de estar aqui, do convite. Eu vejo as coisas de uma maneira, talvez, não tão glamourosa. Claro, teve um personagem que fez grande sucesso. Esse é um outro trabalho que também vai ser um desafio tremendo para mim. Parece que a gente, como ator, começa sempre do zero. É uma página em branco e você tem que criar isso tudo. Eu estou feliz com a mesma equipe. Acho que eu e o Rogério Gomes criamos um diálogo muito legal na outra novela.

“Eu vejo as coisas de uma maneira, talvez, não tão glamourosa”

Novamente, você e o Dan Stulbach estão integrando o elenco da mesma novela. Existe uma possibilidade de vocês se reencontrarem em cena?

A gente está torcendo para isso. Mas eu não sei se a gente vai ter uma cena.

Como você lida com o assédio do público?

Eu fico muito feliz com o carinho das pessoas e com a repercussão que teve (o trabalho em A Força do Querer), mas é esquisito para mim (risos). Eu sei que é meio batido falar isso, mas eu sou do teatro. Poucas pessoas vão assistir, a repercussão do trabalho é diferente. As pessoas vêm falar comigo já me conhecendo, eu não conheço as pessoas. É esquisito, mas para mim é um carinho muito grande. Me fez muito feliz aquela época, aquela repercussão toda.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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