“A função dele na trama é criar o problema”, afirma Humberto Carrão sobre personagem dúbio em Sob Pressão

Publicado em 09/10/2018

Humberto Carrão poderá ser visto logo mais em Sob Pressão. A segunda temporada da série estreia nesta terça-feira (09), e trará como tema principal a corrupção, que impede recursos de chegarem ao hospital público onde se passa a trama.

Em conversa com o Observatório da Televisão, o ator contou como surgiu o convite, e a importância do tema, sempre presente em nossa sociedade. Ele ainda contou que foi interessante lidar com médicos reais e desmistificar suas rotinas. Confira:

Leia também: Bruno Gagliasso surge estilo ‘Adão’ e fãs vão à loucura

Como você recebeu o convite para integrar o elenco de Sob Pressão?

“Recebi o convite no início deste ano. Fiquei feliz porque tinha uma galera já acertada, e eu sabia do elenco que entraria. Alguns inclusive já trabalhei. Na hora fiquei louco com a possibilidade de reencontrar colegas como a Fernanda (Torres), que é uma grande atriz e uma pessoa importante na nossa cultura”.

E pelo que parece é um trabalho bem diferente de tudo o que você fez, não é?

“Eu acho que sim, talvez na televisão. Eu estava vindo de novelas, e acho que Sob Pressão é diferente. É uma equipe de cinema, fazendo uma série. Existe um cuidado muito grande, é um trabalho muito preciso. Foi bacana entrar”.

Humberto Carrão fala sobre personagem

Como foi fazer esse médico, o Doutor Henrique?

“O nosso consultor e roteirista nos levou a um hospital para que pudéssemos estudar como os médicos trabalham. A parte mais legal do trabalho foi o início, neste laboratório que fazemos para chegar mais perto do personagem”.

O ator tem essa oportunidade de vivenciar várias profissões. No momento em que você fez esse laboratório, a profissão de médico o interessou?

“Eu acho que não, por uma questão de inclinação. Mesmo sendo um pouco clichê, é uma das profissões mais bonitas do mundo. É importante a gente ficar ali do lado do médico durante o laboratório, verificando como é feito o atendimento. Costumamos colocar os médicos num lugar muito alto. Quando você vê a rotina, o dia a dia, com suas brincadeiras e preocupações, para o ator é precioso para entender onde temos que trabalhar”.

Como é o personagem?

“Ele é um médico que está na rede pública, mas trabalha também na rede privada. Provavelmente emenda um trabalho no outro porque está sempre muito cansado, e sem paciência. Ele escolhe o caminho mais fácil, que vai dar um dinheiro para ele que a profissão não daria sozinha. Ele é um desses caras que usa a profissão para corromper e ser corrompido. Ele entra como ortopedista do hospital, e a Renata (Fernanda Torres) entra como diretora da instituição. E a corrupção acaba passando pela área deles”.

Trabalhos Futuros

Mas ele não é um vilão?

“Não sei, é tão doido isso. Nas nossas vidas existem esses vilões que não se parecem vilões. Pessoas que cometem atos vilanescos. É uma cara que a função dele na trama é criar o problema, mas me parece que ele percebe isso a tempo. Talvez isso ou o caráter dele, o lembram o momento de ser forte e o por quê ele faz aquilo”.

Como está sua rotina?

“Estou escrevendo um roteiro de longa-metragem, estou dedicado inteiramente a isso”.

Você chegou a assistir o filme que deu origem à série?

“Vi. À partir do filme me deu muita vontade de participar da série. Achei muito afiado, com um elenco e direção muito bons. Todos os meus amigos que faziam, diziam coisas maravilhosas”.

Você falou sobre o caráter dúbio do personagem. Nas novelas, acostumamos a te ver como bonzinho. Era uma busca sua sair desse estereótipo?

“Não. Aconteceu naturalmente. Lá atrás fiz Sangue Bom e Malhação, que eram personagens vilões, mas os trabalhos recentes eram todos personagens do bem. Quando me convidaram para Sob Pressão já era essa a ideia, alguém com caráter duvidoso”.

Gravações

O cenário é uma locação na zona norte do Rio, o que é diferente de um estúdio. Como isso te influencia?

“É um hospital de verdade que tem algumas áreas funcionando. Isso é uma coisa que nos dá um estalo, nos bota num certo estado de atenção e disposição diferentes. Estamos vendo gente que estamos interpretando. É algo muito colado”.

Você chegou a visitar a parte ativa do hospital e conversar com alguém?

“Sim, algumas vezes. Gravando assim ficamos muito tempo sem fazer nada, aguardando entre uma cena e outra, então no tempo livre eu ficava passeando pelo hospital”.

Já está confirmada a terceira temporada. Você vai estar no elenco também?

“Não, devido ao roteiro que estou escrevendo, quis me dedicar integralmente”.

Você vai dirigir este longa que está escrevendo também?

“Vou. Me sinto muito honrado em escrever esse roteiro com a Ana Maria Gonçalves, uma escritora que adoro”.

Corrupção

O tema da temporada de Sob Pressão é a corrupção. Você é um jovem muito engajado. Isso te chamou a atenção no projeto também?

“Chamou. Acho que a gente tem que discutir a questão do sistema de saúde. Estamos vendo que a corrupção sempre explode primeiro no setor da saúde, porque é onde tem um fluxo muito grande de grana, de empresas. São onde os acordos são feitos. Isso me interessou muito. Temos que discutir a corrupção no país, usada sempre como moeda de troca. Estamos diante de um dos maiores absurdos da história do país atualmente. Um personagem caricato, racista, machista, que até ontem era piada e agora está sendo visto como opção para o futuro do país. A corrupção está envolvida nesse sentido, porque é sempre usado um discurso de que essa escolha é para evitar a corrupção”.

Seu personagem entra no esquema da corrupção?

“Sim, ele é ativo nesse negócio, e depois percebe o que ele fez”.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade