Vladimir Brichta descarta redenção de seu personagem em Segundo Sol: “Mocinho não”

Publicado em 02/05/2018

Vladimir Brichta volta ao horário nobre com um dos principais personagens de Segundo Sol, o Remy. O ator contou que ele será um vilão, seu primeiro grande personagem mau-caráter no segmento mais importante da televisão brasileira. Porém, detalhou que é possível construir um papel leve, simpático, mesmo tomando decisões negativas ao longo da trama.

Em entrevista ao Observatório da Televisão, Brichta também revelou como é retornar a Bahia para um trabalho tão importante. Ele ainda falou se precisou fazer aula de prosódia, para deixar o sotaque soteropolitano no ponto ideal.

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Também durante o bate-papo, o ator explicou como está sendo essa nova fase na carreira, em que pode escolher os projetos em que quer trabalhar. Brichta chegou a afirmar que se sentiu perdendo as rédeas da carreira, quando fez cinco novelas em cinco anos. Confira.

Para você é um fator a mais poder participar de uma novela que se passa na Bahia? 

“Para mim é especial contar uma história que se passa na Bahia. Claro que não temos como gravar a novela inteira na lá, mas espero que tenhamos conseguido absorver o máximo para trazer para a trama algo de muito autêntico que a Bahia tem culturalmente, na sua forma de expressar. Fico feliz de poder fazer parte, e tenho esperança ainda que essa novela, sem pretensões maiores, consiga jogar um pouco de luz sobre a Bahia, trazer protagonismo ao estado que precisa resolver questões urgentes que não têm a ver com entretenimento e sim com cidadania e política.”

Você não precisou de aulas de prosódia não é mesmo?

“Me perguntaram se eu iria fazer, e eu respondi: ‘Aonde? Me espere’. Foi uma reconexão com um lugar muito especial. Retomei um laço com Salvador que eu não tinha há 18 anos. Volto lá todos os anos, mas dessa vez parece que consegui me reconectar e reencontrei amigos que eu não via há muito tempo. Me deu um impulso e sentimento de pertencimento àquele lugar. Pessoalmente me fez muito bem, e voltei de lá muito feliz. Espero que eu possa imprimir isso na tela.”

É o seu primeiro vilão?

“Em novelas sim. Em ‘Justiça’ meu personagem era um cara meio dúbio, mas não tinha a função de ser canalha como o Remy de ‘Segundo Sol’. No cinema eu fiz vilões também, mas em novela, de fato é a primeira vez.”

Como está sendo? É muito diferente?

“Não. São as escolhas dos personagens que fazem deles vilões. Ele pode ser um cara leve e simpático e na verdade, ter um caso de anos com a namorada do irmão, o que o torna um canalha. O Remy por exemplo, rouba dinheiro do irmão, e pode fazer isso com a maior simpatia, com o maior sorriso no rosto, mas é um bandido. Acho que é um cara que tem suas questões, sua carga, sua bronca.”

Ele é um cara possível de existir. Você já encontrou com alguém como ele?

“Não sei dizer, mas eles existem no noticiário, na nossa vizinhança e temos que nos controlar para não termos atitudes das quais vamos nos arrepender, porque a chance de a gente atropelar o limite do outro está o tempo todo aí.”

Você vem de personagens muito fortes como em ‘Rock Story’, e é uma grande retomada sua às novelas. Como tem sido esses convites para você?

“Eu percebi há algum tempo que sou muito feliz trabalhando e muitas coisas consigo conquistar graças ao meu empenho e dedicação com a qual faço meu trabalho.  Eu estava fazendo séries de humor como ‘Faça Sua História’ e ‘Separação’, que me colocaram num lugar muito importante, que me agradava e envaidecia. Evitei nesse tempo fazer no cinema comédias que eu já fazia na televisão, e fui buscar outros gêneros, e sempre estudando. Hoje estou num ritmo embalado sim, mas também tive muita calma lá atrás. Fiquei 5 anos fazendo ‘Tapas & Beijos’, e estava confortável porque conseguia ter um respiro em relação às novelas, e por isso conseguir realizar outros projetos como atuar no teatro, e produzir. Quando surgiram os convites para ‘Justiça’, ‘Rock Story’ e ‘Cidade Proibida’, todos me agradaram, então, aquilo me motivou, e não estou fazendo nada obrigado hoje, faço um personagem porque gosto. “

A primeira disputa entre irmãos que sabemos foi entre Caim e Abel na Bíblia, e essa é uma história comum, contada até nos cinemas, recentemente entre o super-herói Thor e o Loki, seu irmão. Você acredita que o passado do Remy, devido ao pai bater nele tenha feito ele ser como é?

“Nada que ele tenha passado o justifica ser um mau caráter. Não gostaria que ele se vitimizasse,  mas não também não precisaria descontar nas pessoas em volta porque teve um pai severo em excesso na infância.  Ao mesmo tempo isso o humaniza e faz com que o telespectador tenha empatia por ele, mesmo discordando de suas atitudes. O que busco com o personagem é que ele seja vivo, falho, desonesto, mas um cara passível de amar. Ele tem na figura da mãe e do pai uma ausência que não explica, mas justifica essa rixa com o irmão, e isso está mesmo em várias histórias, seja na Bíblia ou na saga da Marvel. Eu reli uma peça chamada ‘Paloma’, que fala sobre uma atriz que namora um cara que tem um irmão, e eles disputam essa atriz e têm um ciúme louco. Achava que ali tinha startado um olhar a respeito dessa questão. Eu nunca me lembro de ter competido com meus irmãos. Eu cresci gostando e admirando, mas é absolutamente possível, e presente nas famílias algum nível de competição. Claro que ameaçar a pessoa de morte, ou desejar aquilo é um salto grande que entra na área criminosa, mas um pouco antes, essa motivação é existente e busquei referências, sobre em que momento a inveja pode surgir.”

A novela fala de escolhas, mudanças, transformações. Você passou por alguma grande transformação em sua vida, fruto das suas escolhas?

“Mudança de fato eu tive quando senti que estava perdendo as rédeas da minha carreira, sendo escolhido e não escolhendo meus trabalhos. Em 5 anos, fiz 5 novelas, e aí pensei: ‘Espera, não estou me reconhecendo atuando assim’. Aí teve esse momento.  Essa foi uma escolha, reassumi o controle, e pensei: ‘Posso não ter tanto sucesso, mas vou fazer o que eu amo’. É isso!”

Você já se viu tendo uma segunda chance?

“O tempo inteiro, até quando fui reprovado na escola e meu pai disse: ‘Eu vou pagar só mais esse ano’. Foi uma segunda chance para mim (risos). “

Você acha que é possível ele se regenerar e virar um mocinho? 

“Não, mocinho não. Ele roubou dinheiro do irmão, se relaciona com a Karola, noiva do irmão na horizontal e eventualmente na vertical. Isso de alguma forma já o condena bastante. Ele dá muitos golpes. No início da segunda fase, por exemplo, ele começa no Rio de Janeiro dando golpes.”

Ele já foi garoto de programa?

“Que eu saiba não, mas não o conheço tão a fundo.”

Para além do casamento, você e Adriana (Esteves) são parceiros no trabalho…

“Estamos sempre juntos nos trabalhos, nos ajudamos, tiramos duvidas, decoramos textos, e achamos o tom da história. A gente se gosta e vibra um com o outro. É um barato estarmos juntos na mesma novela, porque vamos poder aproveitar para tirar férias juntos também.”

* Entrevista feita pelo jornalista André Romano
* Colaborou o jornalista Renan Vieira

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