Adriana Esteves fala das comparações entre Carminha e Laureta: “Elas são absolutamente diferentes”

Publicado em 02/05/2018

Mesmo tendo interpretado Inês em Babilônia (2015) e Fátima em Justiça (2016), o público ainda atrela Adriana Esteves à Carminha, vilã vivida por ela em Avenida Brasil, exibida em 2012. De volta às novelas em Segundo Sol, próxima novela das 21h, escrita por João Emanuel Carneiro, a atriz dará vida a mais uma malvada: Laureta, promoter famosa em Salvador, que esconde sua verdadeira profissão: cafetina e agenciadora de prostitutas de luxo.

Em conversa com nossa reportagem durante o evento de lançamento da trama nos Estúdios Globo, a atriz falou sobre as diferenças entre as personagens, afirmou que não é uma preocupação como atriz tentar fazer uma vilã diferente da anterior já que se tratam de mulheres com personalidades distintas, e revelou como é sua parceria em cena com o ator Vladimir Brichta, seu marido.

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Como é para você trabalhar novamente com o João Emanuel Carneiro, o autor que te deu de presente a Carminha, uma personagem que marcou sua carreira?

Eu fico muito feliz de trabalhar com ele porque tenho admiração por ele e pela forma como ele escreve novelas. Avenida Brasil foi uma das coisas mais sensacionais da minha trajetória mesmo com 30 anos de profissão. Com o texto de Segundo Sol só reafirma para mim o mestre que ele é.

Você estará novamente fazendo uma vilã, assim como a Carminha. Acredita que pode haver uma comparação entre as personagens?

Acho que podem comparar, mas eu não tenho que ter essa preocupação. A comparação é inevitável, mas para mim Laureta é algo tão diferente porque é outra mulher, numa outra época, uma outra história e ela é naturalmente diferente.

O João Emanuel Carneiro comentou que o vilão é co-autor de suas novelas. Eles o ajudam a contar as histórias…

Sabe porque eu acho que ele fala isso? Porque é um homem muito inteligente e constrói a vilania proporcional à inteligência do vilão e por isso cria vilões muito inteligentes. O desafio para o ator é corresponder a tamanha inteligência dele, do autor.

A sua personagem agora a gente vê que é uma mulher elegante, uma promoter que no fundo é uma cafetina. Você já conheceu alguma pessoa como a Laureta?

Já, conheço inclusive, mas nem que você me amarre eu conto. Minhas inspirações são todas em segredo (risos).

E o que você pode falar sobre a Laureta?

Eu estou conhecendo a Laureta ainda, e tenho uma dificuldade muito grande em falar das personagens, porque acho que elas não precisam ser faladas, porque por si só vão se contar. Não que eu queira esconder, mas só sei contar na hora do “ação”, em frente à câmera com a personagem.

Quais cuidados você toma para que seu corpo não perceba que aquelas emoções vividas pela personagem são cênicas?

Sou muito cuidadosa quando estou trabalhando, aliás não só quando estou trabalhando. Cuido do meu corpo, e me sinto uma atleta. Temos que ter fôlego, e disposição para trabalhar tantas horas por dia, decorar tantos textos, então tomo conta do meu sono, da minha dieta, e faço meu exercício físico. Meu corpo precisa estar preparado, e minha mente estar em paz para corresponder ao volume de trabalho que vai se ter.

Você só tem feito vilãs ultimamente depois de muitas mocinhas. Você tomou gosto?

As últimas em novela sim, mas tenho feito mulheres sérias no cinema. Em Justiça fiz uma mulher que era uma grande heroína, e guerreira da vida. As pessoas lembram muito de Carminha porque depois dela, não fiz nenhuma vilã, mas agora vem Laureta. Aliás, não gosto de dizer que ninguém é vilão. É personagem, uma mulher, o que ela é, ela quem vai se contar. Não gosto de rotular.

Essa novela fala de recomeço, você já teve algum recomeço na sua vida?

Meu amor, a gente recomeça todo dia o tempo inteiro. Quando me arrumei para vir para cá era um recomeço. Agora vamos recomeçar porque você vai me fazer outra pergunta, e eu vou responder, então estarei recomeçando.

Numa única frase da sua personagem num trailer que saiu da novela, as pessoas nas redes sociais foram à loucura, dizendo “a Carminha está de volta”. Você tem medo dessa comparação?

O que bombou foi o texto de João, que é certeiro. Ele sabe o texto que ele vai botar na boca de cada personagem. Não tenho medo de comparação, porque não trabalho com medo e sim com coragem, criatividade e alegria. Estar aberta ao novo. São novos personagens diferentes, atores diferentes que vão nos dar uma contracenação diferente.

Como você é no trabalho?

Sou dedicada, responsável, não gosto da palavra perfeccionismo porque na arte não existe perfeição. Tenho uma paixão e prazer imenso pelo que faço, acho que sou bastante cuidadosa, e não me contento com pouco. Quero fazer bem feito, porque amo esse trabalho.

Como está sendo trabalhar com o Vladimir Brichta?

É o auge do prazer em todos os sentidos. Não trabalho com o Vlad há muito tempo. Fizemos há dois anos Justiça, mas nossos personagens não contracenavam, agora a gente contracena, e teremos historinha para a gente criar. Não sei o que é melhor, desfrutar do grande ator que ele é, ou da companhia dele. Estamos muito mais juntos, estamos com as mesmas pessoas, vamos aos mesmos lugares

Vocês conversam sobre trabalho ou não costumam levar trabalho para casa?

Conversamos. Fazendo a mesma novela então, tudo o que a gente vê em casa, nos inspira para a novela, e está sendo muito gostoso. Estou com ele há 14 anos, e deu uma sensação gostosa de estarmos sendo criativos juntos.

E vocês dão palpite no trabalho um do outro?

A gente se dá muito palpite. Os dois são palpiteiros.

O que essa personagem tem para ser humanizada?

Muita coisa. É uma mulher com um passado misterioso. Ela se emociona, tem suas dores, sofrimentos, é guerreira também. Mulher nunca é simples, é sempre algo complexo, e toda a humanidade dessa personagem que procuro, é porque ela é cheia de conflitos e questões. Minha preocupação é contar a história do que essa mulher sente sobre uma série de coisas.

O Domingão do Faustão está comemorando 30 anos no ar, e você fez parte da história do programa…

Eu era bem menina, apresentei um quadro lá. De lá para cá foram 30 anos, muita história aconteceu.

Se arrepende de algo?

Não me arrependo. Tudo o que a gente é hoje, é porque já passou por alguma coisa.

Como faz para manter o bronzeado?

Eu gosto muito de tomar sol, preciso de sol. Tenho um hábito que sempre que está fazendo sol, faço caminhada na praia. Se eu morasse num lugar que não tivesse sol, acho que eu seria diferente, acho que eu seria uma pessoa melancólica. Me preocupo em usar protetor solar e dependendo do horário uso do mais fraquinho ao mais forte.

Existe muita gente reclamando que a novela se passa na Bahia e não tem atores negros…

Temos grandes atores negros, inclusive hoje é aniversário de um príncipe que estou tendo a honra de trabalhar que é o Fabrício Boliveira, que faz o Roberval, um grande ator.

Carminha e Laureta. O que você faz para distinguir uma da outra?

Elas são absolutamente diferentes, têm histórias diferentes. É apenas o mesmo intérprete e o mesmo autor. Acho que não existe no mundo uma pessoa mais má que a outra, nem melhor, e o grande barato dos personagens que a gente faz, é lembrar que ser humano é único. É um lugar que não existe competição.

A gente sabe que essa personagem existe, uma promoter e tudo mais. Você está copiando alguém especificamente?

Várias e estou homenageando todas elas. Quanto mais louca, mais eu copio e vou fazendo meu mosaico. Eu falo que tenho um grupo de amigas que são minha paixão. Elas perguntam: “Adriana, qual a próxima personagem?”, e eu digo: “Vocês, estou copiando todas”. Temos essa grande brincadeira.

Laureta tem um pé na comédia?

Tem, mas não sei muito.  Eu adoro novela por isso, faz tão parte da nossa cultura que é quase interativa, ainda mais agora com internet que o rumo dos personagens é dado pelo povo.

Você tem rede social?

Não tenho nada, nem planos em ter, mas como tudo pode mudar a qualquer momento, pode ser que amanhã eu pire e acordo de manhã com um Instagram (risos). Meus 3 filhos têm, mas eles usam de uma maneira que acho muito legal, não são loucos por isso, nem fazem disso um diário. Não sei se eu conseguiria fazer dessa forma, por isso eu não tenho ainda.

Hoje em dia tem muitos memes de novelas, você acha que não tendo rede social não fica mais difícil saber sobre o que estão falando?

Mas os amigos contam, passam para a gente no Whatsapp. Eu acompanho e te confesso que acho um barato. Talvez por gostar tanto é que não tenho rede social. Imagina eu não cuidar dos filhos, não trabalhar para ficar ali o dia inteiro? Seria um perigo. Talvez eu esteja me protegendo não tendo.

Fala um pouco para a gente sobre Assédio, série que você participou…

Foi uma coisa muito maravilhosa, voltar a trabalhar com Amora Mautner que é uma grande diretora. Um trabalho difícil porque a gente conta uma história inspirada numa história verídica, e foi pesado. Gosto de trabalhos desafiadores.

Conversamos com a Deborah Secco e ela falou que sempre se inspirou em você, inclusive que a Sandrinha de Torre de Babel, a inspirou para fazer a Darlene de Celebridade. Como é para você ser inspiração de alguém com quem você vai trabalhar junto?

Eu acho que tem uma coisa que faz parte da nossa profissão que é a admiração que a gente tem pelos colegas, e isso traz para a gente um aconchego. Eu me inspiro e inspirei em tantas e tantas atrizes que se eu fosse começar a falar agora, eu não pararia. Várias pessoas falam para mim que me acham parecida com a Renata Sorrah e ela é uma inspiração para mim, pela vida inteira. A Deborah é super batalhadora, jovem e tem o mesmo tempo de profissão que eu porque começou muito cedo. Eu me inspiro em mulheres e em homens. Quantas coisas já roubei de Lázaro Ramos por exemplo, até bordões.

Que importância tem para você como atriz se uma obra faz sucesso ou não, ou o quanto a parceria com diretores e autores a influencia a aceitar um trabalho?

Não existe fórmula de sucesso, porque se tivesse todo mundo faria. Acho que o que me move a aceitar os trabalhos é afinidade artística, quem eu admiro, e quem me deu e para quem eu dou meu respeito. Você vai encontrando seus correlatos, e nosso trabalho é interessante por isso. Às vezes você nunca trabalhou com a pessoa, aí você faz um trabalho com ela e ela se torna alguém muito importante na sua vida, como alguém da família. Ao longo da minha trajetória profissional fiz essa aliança com várias pessoas, algo que me orgulho muito.

A Amora disse em entrevista recente que foi você quem disse a ela que ela estava sofrendo bullying. Vocês se tornaram muito próximas, não é?

A nossa parceria é muito verdadeira. É uma das pessoas que me sinto mais à vontade em falar o que estou sentindo e ela para mim. É uma relação de coragem, confio muito nela dirigindo.

O que você está fazendo que a cada vez que a gente te vê você está mais bonita e com uma pele mais bonita?

Vai ali e pergunta para Vladimir (risos).  Não tem segredos, só fazer o trabalho que gosto, ter minha família, amigos. Claro que a gente precisa ter uma dermatologista bárbara, um cabeleireiro maravilhoso, do sol, do exercício.

Você se sente mais madura, mais segura e mais bonita agora do que no início da carreira?

Eu me sinto mais madura com certeza, os outros “mais” não sei.

Ter um marido baiano te ajuda na prosódia e construção desse sotaque da Laureta em cena?

Ajuda não só o marido, mas a família dele toda. Estou sempre com minha sogra que mora em Itacaré e meu sogro que mora em Salvador. Na novela vou ter um sotaque que consegui ter, mas isso é só uma brincadeira, o principal é poder passar a delícia do povo baiano, o lado solar dele, a dança dele, a cara dele. Não precisa ser fiel porque ninguém será fiel a um sotaque que não é o seu.

O que você tem a dizer para o público que está esperando ansiosamente a Laureta, e eventualmente pode compará-la com a Carminha?

Vou contar um segredo, Carminha aprendeu tudo na vida dela com Laureta, só isso (risos).

* Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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