Salvador, orgulho japonês, amor ao teatro e futebol americano: as verdades de Ana Hikari

Publicado em 07/04/2018

Com Greicehelen Santana

O nome dela é Ana. Mas se você chamar por Tina, madrinha do shipper Limantha ou até mesmo Aninha, certamente ela vai te atender com um sorriso sincero, que mistura educação, felicidade e um pouquinho de timidez.

Esta é Ana Hikari Takenada Rosa, ou Ana Hikari. A atriz paulistana de 23 anos foi uma das protagonistas da recém findada Malhação: Viva a Diferença, certamente a mais influente e celebrada temporada da novelinha nesta década.

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Ainda celebrando o sucesso da novelinha, que acabou faz um mês, Hikari parou para respirar, porque ela também é filha de Deus. A atriz está em Salvador (BA), juntamente com o namorado, o poeta Gersino Neto – que ela chama carinhosamente de Gê.

Gê é natural de Salvador, e juntamente com ele, Ana trouxe na mala a amizade que ganhou na novelinha, a atriz Giovanna Grigio, interprete da Samantha.

Curtindo um pouco a vida, Hikari se deu ao direito de colocar uma roupa “good vibes” e encontrou este mero repórter que vos fala do Observatório da Televisão no Salvador Shopping, um dos mais populares da capital baiana.

Sentamos na praça de alimentação do local, e falamos um pouco de tudo – com pequenas interrupções para fotos com fãs, que não acreditavam que suas ídolas estavam ali, tão pertinho.

Alias, a relação com o fã foi muito discutida no papo. De longe, Hikari é a que mais conversa com quem gosta dela nas redes sociais. Não à toa, os fãs do casal Lica (Manoela Aliperti) e Samantha, os Limantha, dizem que ela é a madrinha do shipper.

Mas antes do “end game” do papo, Hikari falou sobre sua vida antes de viver a diferença, sobre como chegou ao teatro, o que a trouxe para Salvador, sobre o futuro – que não deve repetir o passado -, sobre a vida e, acredite, sobre futebol americano – que ela ama graças ao seu “boy”.

E, claro, ela não fugiu da clássica questão: como ela se define? Afinal, este é um especial sobre ela, e tão somente ela. Com vocês, um pouco de Tina, mas muito de Ana Hikari.

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Leia a entrevista na íntegra: 

Observatório – O que te trouxe para Salvador?

Ana Hikari – Eu vim passear, porque o meu namorado é daqui de Salvador. Quer dizer, ele morava aqui até três anos atrás e ele está de férias, e eu vim aproveitar as minhas férias também. Já conheço Salvador tem um tempo e estou revisitando.

Observatório – Você sente que o público ainda está de luto pelo fim da temporada Malhação: Viva a Diferença?

Ana Hikari – Sim. A gente fica triste por ter acabado esse trabalho, mas, ao mesmo tempo, eu estou muito feliz porque a gente conseguiu concluir esse trabalho de uma maneira muito bem-feita. Eu estou muito orgulhosa, tanto do meu trabalho como atriz quanto do trabalho da nossa equipe em geral, porque eu acho que a gente fez uma coisa assim, modestamente falando, muito boa. Então, eu estou tranquila. Fico triste pelas pessoas estarem triste, mas, ao mesmo tempo, estou feliz porque eles estão fazendo um movimento de rever a nossa Malhação, que eu acho muito maravilhoso.

Eu estou acompanhando dia a dia que eles (os fãs) postam que estão assistindo o capítulo um, capítulo dois, capítulo três, como se fosse uma série. E é muito legal porque muita gente acabou pegando Malhação na metade para o fim, ou tem muita gente, por exemplo, que acabou se envolvendo por conta do casal ‘Limantha’ e não assistiu o começo. Então, essa galera que pegou o bonde andando está vendo desde o começo e está se apaixonando também. Para mim isso está sendo maravilhoso, está sendo um luto feliz, eu acho.

Observatório – A ficha do sucesso de Viva a Diferença está caindo agora você e o restante do elenco? Porque a impressão que se tem daqui, de fora, é que todos vocês fizeram isso de forma muito visceral, na veia… 

Ana Hikari – Eu, que estive de dentro, posso dizer que foi visceral mesmo. Eu, como atriz, dei muito de mim para estar lá. Foi um trabalho muito intenso, foi um ano de muita dedicação e, realmente, foi muito visceral desde o começo. Tem uma história que eu sempre conto do primeiro capítulo, onde a gente passou umas três horas seguidas gravando dentro do metrô com o vagão dentro do túnel parado, numa sequência, sei lá, acho que nove cenas seguidas da sequência do parto. A adrenalina foi tanta, de verdade, que a minha mão travou. Eu tive uma câimbra e eu segurava um celular para falar com a minha mãe.

Cena em que Ana Hikari cita na entrevista onde teve dores na mão no primeiro capítulo de Malhação Viva a Diferença Reprodução

Em todas as cenas a gente se entregava mesmo porque esse foi o modo que a gente encontrou de trabalhar, que o Paulinho Silvestrini (diretor) pedia para a gente como atriz.

Observatório – Você fez parte do grupo de protagonistas que lutava pelo empoderamento feminino, contra o preconceito e outras coisas. Como foi a relação das cinco atrizes com o público jovem a partir desses questionamentos, e também entre vocês mesmas?

Ana Hikari – Quando você escolhe cinco protagonistas mulheres em um mundo onde a mídia apresenta muito mais protagonistas masculinos, muitos mais personagens masculinos. Existem pesquisas que falam sobre a quantidade de falas que homens e mulheres têm dentro de um filme e os conteúdos dessas falas, muitas vezes o diálogo entre mulheres num filme é sobre um cara ou sobre coisas banais. Viver num mundo onde a mídia apresenta esse tipo de panorama, quando a gente entra como cinco protagonistas mulheres, de fato, já um empoderamento feminino.

Para além disso, o texto que o Cao trouxe para a gente foi um texto que trabalhava o empoderamento, conscientização, que debatia questões politicas e sociais muito relevantes e colocava isso na boca dessas cinco meninas de uma maneira muito inteligente, muito forte, sem ser didático, dialogando mesmo. Eu acho que isso que era o mais importante para o público, porque a gente levantada a bola para o debate e o público na casa, na rua, na escola, cortava essa bola debatendo o que aconteceu na novela.

Observatório – E não foi uma coisa forçada, né? Foi natural… 

Ana Hikari – Eu acho que isso foi muito inteligente da parte do Cao Hamburger, ele é um autor genial, desde o começo conseguiu prender o público e trazendo esses debates de uma maneira que dialogou. Eu tenho certeza que discutir esses assuntos é delicado porque, infelizmente, a gente vive num país em que ainda tem muito preconceito, muita discriminação, mas a gente conseguiu fazer isso de uma maneira muito inteligente, e que bom. Eu recebo mensagens do público, da galera que fala assim: ‘cara, você mudou minha perspectiva em relação ao machismo’ ou ‘eu consegui fazer o meu pai mudar de ideia em relação ao racismo. Ele entendeu questões de racismos’. Isso é muito legal! Para mim é o resultado maior que eu vejo é que o público realmente interagiu.

Ana Hikari em Salvador na Igreja do Senhor do Bonfim ReproduçãoInstagram

Observatório – O racismo vivido na novela, você também viveu na vida real. Em algum momento você chegou a confundir ficção com realidade? Pirou um pouco?

Ana Hikari – Pirar não (risos). Essa questão de ser uma menina descendente de oriental brasileira, sansei, e, ao mesmo tempo, namorar um menino negro tem relação com a minha família porque a minha mãe, que era filha de japonês brasileira, casou com o meu pai que é negro e eles viveram essa história ao longo das vidas deles. E eu quando nasci também vivenciei isso muito de perto. Eu passei situações de racismo junto com o meu pai, onde ele sofreu e eu presenciei que, enfim, foram muito tristes. E eu fui tomando consciência disso por conta dessa proximidade com meu pai, e isso me ajudou muito a fazer essa personagem (Tina) porque o meu pai me esclareceu muitas coisas em relação a essa questão social. Ele fez isso de uma maneira muito sensível porque ele sempre me apresentava trabalhos artísticos, peças, exposições que tratavam desse assunto e eu fui entendendo através da arte, e aí eu comecei a conversar com ele, a dialogar, a entender as questões.

Quando eu cheguei para fazer a Tina eu já tinha todo esse plano de fundo da minha vida, da família, para poder entender o que estava acontecendo entre Tina e Anderson (Juan Paiva). Então, uma cena que mexeu muito comigo, foi muito fácil e, ao mesmo tempo, difícil de fazer porque era a minha história ali, foi a cena em que o Anderson era parado na porta do Colégio O Grupo e os seguranças barram ele, numa situação toda de racismo. Demorou duas horas para gravar essa cena e eu fiquei as duas horas chorando de desespero, de me ver ali naquela situação porque eu já vi isso acontecendo com o meu pai, dele ser mal julgado pela cor pelo segurança, nos estabelecimentos. Eu acho que me ajudou nesse sentido, eu consegui entender melhor e, talvez, até trazer isso para a minha personagem.

Observatório – Como você entrou no teatro?

Ana Hikari – Eu comecei no teatro com 12 anos. Estudei teatro dos 12 até ad infinitum e estou até hoje (risos). Comecei na verdade no palco com canto. Estudei na Escola Municipal de Música desde os 7, 8 anos de idade, me apresentei em óperas, com coral infanto-juvenil no Teatro Municipal, na Galeria Olido, ainda pequenininha com 8, 9, 10 anos de idade. Então, eu tive esse contato com o palco desde pequena, foi aí que me apaixonei.

Com 12 anos, eu resolvi entrar para o teatro, aos 17 anos eu passei, não sei como, na USP (Universidade de São Paulo) em quinto lugar. Não sei como aconteceu porque eu tinha certeza que não ia passar na Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) e passei em quinto (risos). Eu passei em quinto na USP e em segundo na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Eu fiquei assim: “Oi? O quê? Deus? @Deus, o que aconteceu?” (risos).

Observatório – Acontece nas melhores famílias… (risos) E depois disso, o que aconteceu?

Ana Hikari – Aí eu passei e entrei na faculdade, fiz intercambio para Portugal, eu estudei no Instituto Politécnico de Lisboa cinema e teatro. Fiquei em Lisboa estudando e quando voltei, eu fiz teste para Malhação e entrei. Então resumão: essa é a minha relação com o teatro. Tem duas companhias que eu faço parte, tivesse que sair por conta da novela, mas estamos aí com projetos.

Observatório – Eu fui no seu Instagram e descobri uma curiosidade: você gosta de futebol americano?

Ana Hikari – O meu namorado que é o maior responsável, ele que me apresentou. Na verdade, eu já conhecia o futebol americano, mesmo amigos gostam muito. Eu sempre tentei entender, mas o problema é que as pessoas não têm consciência de que não explicando ou achando que a pessoa tem a obrigação de saber sobre um esporte, sobre uma coisa, pode estar privando essa pessoa de gostar de algo, e isso foi o que aconteceu com os meus amigos.

Quando eu assistia com eles, eles não me explicavam, não tinham paciência para me explicar, eles achavam um absurdo porque eu não sabia o que era jarda. Meu filho, se alguém não explicar, não tem como entender? (risos). E se alguém não senta e explica, você não vai entender sozinho. E o que aconteceu foi que o meu namorado teve essa paciência de me explicar, ele é muito apaixonado e ele queria que eu acompanhasse todos os domingos os Sunday Night Football (risos). Aí ele me explicou tudinho e hoje eu fiquei muito viciada.

Observatório – E que time você torce? 

Ana Hikari – Eu torço pro Green Bay Packers. Eu escolhi pelo nome (risos) Não é um nome sonoro? (risos)

Observatório – Quais os seus próximos projetos na televisão?

Ana Hikari Agora eu estou descansando, dar uma folguinha, de férias. Esse ano são 110 anos de imigração japonesa, a gente está comemorando muito tempo de Japão aqui no Brasil. E para comemorar isso, eu estou com um projeto de peça, não posso falar mais sobre o projeto, mas em breve eu retorno com mais informações.

Tina (Ana Hikari), Lica (Manoela Aliperti), Benê (Daphne Bozaski), Keyla (Gabriela Medvedovski) e Ellen (Heslaine Vieira) em Malhação Viva a Diferença
Tina Ana Hikari Lica Manoela Aliperti Benê Daphne Bozaski Keyla Gabriela Medvedovski e Ellen Heslaine Vieira em Malhação Viva a Diferença Divulgação TV Globo

Observatório – Você teve sentir muito orgulho dessa sua primeira protagonista, a Tina, né? A primeira protagonista oriental da Globo… 

Ana Hikari – Com certeza. Foi um presente, porque além de ser a primeira protagonista oriental, a representatividade na mídia é uma questão porque eu cresci assistindo uma televisão em que as mulheres que eram referências de beleza nunca eram parecidas comigo. Ou que as mulheres que eram referências de trabalho, ou referência de qualquer coisa, nunca eram parecidas comigo, eu numa me identificava. Eu acho que esse processo de representatividade na mídia está crescendo, isso é muito bom e eu me senti honrada de ser a primeira protagonista oriental. Eu fico muito feliz e a melhor maneira que eu encontrei de lidar com isso foi me dedicando ao máximo ao meu trabalho e, ao mesmo tempo, fiquei muito feliz de ter sido com essa personagem porque além de ser uma protagonista oriental, era uma protagonista complexa, que tinha uma história original, uma história muito legal de se contar.

Observatório – Para terminar: quem é a Ana Hikari?

Ana Hikari – Eu sou uma brasileira que acredita muito na mudança do mundo e que batalho para o meu trabalho representar todas essas minhas ideologias, todas essas minhas ideias e tenho muito orgulho de estar fazendo o que eu gosto, que é o teatro e a atuação. Cada vez mais tenho orgulho de estar aqui falando as coisas que eu falo, podendo ter espaço para falar as coisas que eu falo.

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