Projeto, opinião, novidade e referência: Jéssica Senra fala porque vai estrear na TV Bahia/Globo em maio

Publicado em 28/04/2018

Expectativa: substantivo feminino. Situação de quem espera a ocorrência de algo, ou sua probabilidade de ocorrência, em determinado momento. Mudança: outro substantivo feminino. Ato de trocar de um lugar para o outro.

Essas duas palavras definem bem o quão foi a contratação de Jéssica Senra, jornalista que trocou a Record pela Globo no mês passado. Em Salvador, a situação é peculiar: as duas emissoras brigam ferrenhamente pela liderança no jornalismo local.

Senra era apresentadora, desde 2011, do jornalístico Bahia no Ar. Apresentado nas manhãs da emissora, o programa estava na liderança desde janeiro de 2016. Mais que isso: ganhou prêmios e foi extremamente elogiado pelo seu conteúdo, virando exemplo de telejornal local em universidades pelo Brasil.

Mas em março, um antigo interesse virou casamento. Misturando um interesse da própria cabeça da rede e da TV Bahia em si, Jéssica recebeu uma proposta: ajudar na renovação o Bahia Meio Dia, telejornal da hora do almoço da emissora, que tem perdido no Ibope para o Balanço Geral, da Record.

A renovação não é apenas para recuperar a audiência, e sim, também de conteúdo. No Bahia Meio Dia, Jéssica irá iniciar um norte que será usado como exemplo por toda a rede se tratando de jornalismo local: a opinião será prioridade.

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E opinião, Senra tem. E forte, contundente, diferenciada, dizem os telespectadores e os estudiosos. Mas se engana quem pensa que ela só irá apresentar. Jéssica será editora do jornal, dando ideias e contribuindo diretamente para o conteúdo dele.

A primeira entrevista de Jéssica Senra nesta nova fase é para o Observatório da Televisão, e você lerá abaixo. Nela, a jornalista explica tudo o que todos querem saber e mais um pouco: da saída da Record, até a formulação do formato e linha editorial do Bahia Meio Dia, além de possíveis aparições na Globo para todo o Brasil.

Notoriamente, ela mostra: não teve medo de mudar. E a novidade lhe dá gás, força e, principalmente, criatividade para formular um jornal diferente. Senra mudou de casa, mas ser diferente não mudou dentro dela. E é isso que ela quer provar no Bahia Meio Dia.

Leia a entrevista na íntegra:

Observatório – Por que você decidiu aceitar o convite da TV Bahia, mesmo estando num programa líder desde janeiro de 2016 e que era sucesso também de crítica? 

Jéssica Senra – Porque me encantei pelo projeto! Pela possibilidade de realizar algo novo, de aprender outra forma de trabalhar, pelo desafio. O Bahia no Ar foi um programa construído ao longo dos últimos anos com muita dedicação, amor e com a minha visão de mundo e do jornalismo, feito muito com a minha cara, a partir do que eu encontrei de linha editorial na Record e do que eu tinha de estrutura para trabalhar. Considero que foi um trabalho muito bonito de construção de um projeto e de desenvolvimento meu também. Cresci muito ali. E fico orgulhosa dos resultados que alcançamos, não apenas em termos de números, mas da mudança de perfil daquele horário em específico e da influência que isso teve no jornalismo da emissora como um todo.

Eu realmente estava num momento confortável, líder de audiência há dois anos (único programa hoje no Brasil fora da Globo com este resultado), mas não via muito mais o que crescer ali. Sinto que encerramos um ciclo. E era hora de partir para um novo projeto. A vida é isso, é movimento. Não nascemos para ficar na zona de conforto. Estamos aqui para aprender e crescer constantemente. E, quando conversei com Eurico Meira (novo diretor de jornalismo da TV Bahia/Globo), me identifiquei totalmente com a visão dele do jornalismo e da nossa responsabilidade como comunicadores. Me senti instigada a desenvolver algo novo, alinhado com a realidade que vivemos hoje, com foco na população que mais precisa, que sempre foi o meu desejo: ajudar, levar informação de qualidade, fazer refletir, provocar mudanças. São os mesmos desejos de sempre que são renovados. E a vontade de levar minha forma de comunicar para outros lugares, para outros públicos.

Observatório – O Bahia Meio Dia tem sofrido mudanças no ar desde a chegada de Eurico Meira para a direção de jornalismo. Como tem sido a conversa com ele para a estreia do seu conteúdo? Como foram esses primeiros dias na emissora nova?

Jéssica Senra – A minha chegada foi maravilhosa! Melhor do que eu esperava, para ser sincera. Vindo de fora, imaginei que poderia haver alguma resistência por parte das pessoas que ali estão. Mas me surpreendi com uma acolhida bastante calorosa! Já na portaria, fui recebida com um largo sorriso e um “seja bem-vinda! Estávamos esperando por você!”. E assim foi em todos os setores por onde passei até agora. A equipe é incrível, muito preparada e muito generosa. Não tive oportunidade de conhecer todo mundo – a Rede Bahia é imensa! – nem de conversar com calma com quase ninguém, mas foi maravilhoso abraçar e estar próxima de pessoas que eu já admirava e conhecer outras tantas que integram a equipe da Rede Bahia.

Senti uma energia de acolhimento, de admiração pelo meu trabalho e, sobretudo, de vontade de unirmos forças para realizar juntos um trabalho de excelência, como é o padrão Globo. Com Eurico, já vínhamos conversando desde que aceitei o convite. Mesmo sem ter ido à emissora, já tínhamos nos encontrado algumas vezes e fomos trocando ideias por telefone, e-mail, WhatsApp… Nos falamos diariamente sobre este novo momento da TV Bahia, sobre as mudanças que estão sendo feitas, nossas visões e ideias para esta nova fase do Bahia Meio Dia…

Tem sido até agora um processo de desenvolvimento do conceito que queremos com as ideias para alcançá-lo de forma prática. Já chegaremos desde o primeiro dia com novidades, mas o novo Bahia Meio Dia será construído dia a dia, a partir da nossa experiência e em conversa constante com o nosso público.

Jéssica Senra no estúdio do Bahia Meio Dia (Reprodução)
Jéssica Senra no estúdio do Bahia Meio Dia Reprodução

Observatório – O que você vai trazer para o jornal do meio dia da TV Bahia? O que você pode adiantar? Já tem data de estreia? 

Jéssica Senra – Eu quero trazer uma comunicação mais próxima, que é uma característica minha. Aproximar nosso telespectador da gente, conectar mais com nosso público. Vou dar continuidade a um processo que já começou antes mesmo da minha chegada. O jornalismo padrão, na busca por ser imparcial, acabou se tornando muito frio e já não dialoga com a realidade. As pessoas querem, sim, alguém que se posicione, que fale por elas e com elas. E eu quero continuar sendo essa voz. Além disso, acredito que o jornalismo e os meios de comunicação têm o dever de contribuir positivamente com a sociedade.

E a TV Bahia é uma força poderosa! Capaz de provocar mudanças reais, de cobrar soluções para problemas históricos, de explicar a realidade, de fazer refletir e desenvolver mais e mais a nossa cidadania. Precisamos estar atentos aos anseios da nossa sociedade, sobretudo da população mais carente. Precisamos dar voz às pessoas e lutar junto com elas para que a vida de todos seja melhor. Já temos data de estreia. Começamos a campanha de divulgação na semana que vem e vamos divulgar nos próximos dias.

Observatório – Você é conhecida por ter uma opinião forte, contundente, e que defende minorias. Tem quem diga que você não vai opinar na TV Bahia. Você vai opinar ou não? Como é a questão neste sentido?

Jéssica Senra – Esse tem sido o principal questionamento das pessoas! Mas eu não fui contratada para ler teleprompter, para dizer um texto pronto escrito por alguém. A TV Bahia me convidou para desenvolver um projeto, para criar uma nova forma de fazer jornalismo, justamente por causa da minha opinião forte e contundente. Da mesma maneira que minha forma de trabalhar conquistou meu público, também despertou interesse na TV Bahia. E esta é a principal razão para que eu tenha sido contratada. Vou fazer o mesmo que fazia antes? Não. Espero fazer melhor! Como será? Só o tempo vai dizer. Isso está sendo construído por nós. Mas de antemão não me deram nenhum limite, não me proibiram de fazer ou dizer absolutamente nada.

Observatório – Na última vez que te entrevistei, você disse que estava feliz na Record. Sua saída, até onde sei, foi tranquila, com os colegas te desejando boa sorte e felicidades – tem até vídeo dos cinegrafistas da casa lhe mandando boas energias. Como foi deixar a emissora? 

Jéssica Senra – Ah, foi um misto de emoções! A Record foi minha casa durante sete anos. Ali, construí não apenas um projeto lindo, mas uma família. Tinha comigo uma equipe que acreditou no meu sonho e lutou junto comigo para conquistá-lo. Pessoas com as quais convivi diariamente, que conheço, sei dos dramas e realizações pessoais. Então, embora estivesse muito animada com o que estava por vir, não tive como não sofrer por ter que abrir mão dessa convivência.

Mas já trabalhei em outras emissoras e sei que a amizade e o amor que a gente conquista seguem com a gente aonde formos! Os amigos que fiz ali dentro continuam sendo meus amigos. Recebi inúmeras mensagens de carinho, energia positiva, palavras de estímulo e sei que há uma torcida enorme por mim e para que eu siga realizando este trabalho tão bonito. Sou grata a todas as pessoas com quem convivi por todos os ensinamentos e os bons momentos que passamos juntos. Elas seguem sempre comigo, no meu coração.

Observatório – A TV Bahia tem vivido uma má fase de audiência localmente falando, e muitos encaram sua chegada como alguém que vai salvar a pátria. É um exagero, lógico, mas hoje o Bahia Meio Dia perde para a Record. Isso te preocupa de alguma forma? Como é o planejamento neste sentido? 

Jéssica Senra – Isso não me preocupa, isso me desafia. A TV Bahia sempre foi a emissora número 1 do estado porque sempre soube dialogar com o seu público. Tem uma importância histórica para a nossa sociedade. Não apenas registrou todos os momentos importantes da história da Bahia como sempre fez questão de valorizar a nossa cultura e o que temos de melhor. É uma emissora preocupada com os mínimos detalhes, cuidadosa na produção do conteúdo, na apuração das informações, com extremo rigor ético.

Eu penso que a queda na audiência tem a ver com uma desconexão com o público em dois sentidos: nas pautas jornalísticas que não refletiam de fato os anseios da população em geral e na forma de comunicar ainda presa ao antigo jornalismo, supostamente imparcial, frio e distante. Mas, antes mesmo da minha chegada, isso já estava sendo revisto. Se você for ler os princípios editoriais da Rede Globo e a Missão da TV Bahia, vai ver que um dos principais pontos é servir a sociedade. Se em algum momento este serviço deixou de ser prestado, é preciso retomar este caminho. E diversos esforços estão sendo empregados neste sentido. Várias mudanças já foram feitas na linguagem do jornal.

Jéssica Senra (Foto: Roberto Abreu)
Jéssica Senra Foto Roberto Abreu

A própria apresentação de Fernando Sodake e Silvana Freire, que estão sendo muito importantes nesta transição, passou a ser mais próxima e mais leve. Camila Marinho faz isso muito bem no BATV. Ricardo Ishmael também está mais solto e se posicionando no Jornal da Manhã. É uma mudança no jornalismo como um todo, não apenas no Bahia Meio Dia. Eu venho dar seguimento a esse processo no BMD. Portanto, eu não sou a “salvadora da pátria”. Televisão é um trabalho de equipe, cada um é extremamente importante para o resultado. Já existe uma grande equipe trabalhando em diversas frentes para identificar o que nosso público quer e precisa ver na TV.

Além de toda a equipe de jornalismo que realiza um trabalho fantástico na produção de conteúdo padrão Globo, sob o comando de Giacomo Mancini, estarei lado a lado com Gustavo Schwabe, que veio do Rio Grande do Sul para dirigir o programa e tem muita experiência. Tem sido uma troca muito positiva entre todos. Portanto, eu sou apenas mais uma integrante desta equipe, chego com minha colaboração em um processo que é maior do que eu.

Observatório – Você recentemente postou foto com José Raimundo, um dos repórteres de rede da Globo. Você já teve contato com alguém da rede? É possível pensar numa participação sua em breve para todo o Brasil na Globo, se possível? 

Jéssica Senra – Vamos com calma, né? (risos) Meu foco agora é o Bahia Meio Dia. A foto com Zé Raimundo foi apenas tietagem! Zé Raimundo é uma lenda, um mestre do jornalismo. E, ao conhecê-lo, vi que é uma pessoa tão magnífica quanto é o profissional. Tem sido muito bom conhecer pessoalmente tanta gente que eu já admirava. Há grandes profissionais ali. E muitas mulheres retadas também! Amo a apresentação de Camila Marinho, por exemplo. A versatilidade de Andréa Silva e Adriana Oliveira, excelentes nas reportagens e nas participações ao vivo. O engajamento de Renata Menezes e a maneira doce de comunicar de Acácia Lirya. Enfim, agora é hora de reunir essa equipe maravilhosa e focar no novo jornalismo local. Depois a gente pensa em expandir!

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Observatório – Quando entrevistei Eurico Meira, ele me disse que o principal tom do jornal será a prestação de serviço, algo que eu sei que você compartilha. Qual sua outra linha editorial que deseja sugerir ou levar pro novo BMD? 

Jéssica Senra – Sim, é fundamental para mim que o Bahia Meio Dia sirva à população. Nós dois concordamos que precisamos ser a voz da sociedade e daqueles menos favorecidos. São eles que precisam da nossa força. Então, mostrar, entender e cobrar soluções para problemas da nossa cidade e do nosso estado são nosso foco. Mas vamos além. Eu, pessoalmente, quero trazer também discussões sociais mais profundas, que tenham a ver com o nosso momento atual e com os valores que creio serem importantes para nossa evolução como seres humanos e como sociedade: a igualdade de direitos e respeito entre homens e mulheres, o combate ao racismo e à homofobia, a tolerância e aceitação do outro, a auto-aceitação, a responsabilidade com o nosso meio ambiente e com todas as formas de vida… enfim, questões mais profundas, mas essenciais para o nosso dia a dia e para a compreensão da nossa realidade.

Jéssica Senra em gravação das chamadas para sua estreia no Bahia Meio Dia Reprodução

Observatório – Você vai concorrer com Zé Eduardo, que até bem pouco tempo era seu colega e com quem você mantém uma relação respeitosa. Hoje, ele tem audiência grande e vence o jornal que você vai assumir. Chegaram a conversar?

Jéssica Senra – Olha, falando assim parece que será algo pessoal eu entre e Zé, que eu e ele pessoalmente vamos duelar por público ou audiência. Não vejo assim. As nossas emissoras são concorrentes. Elas se preocupam, sim, com números. Nós, apesar de vestirmos a camisa e darmos nosso melhor para atender as necessidades de onde trabalhamos, não somos concorrentes. Somos colegas de profissão, de missão. Creio que temos interesses comuns, como o de comunicar e servir. Mas vejo também que fazemos isso de formas diferentes. Zé é um cara que sempre trabalhou mais o lado do entretenimento, apesar de seu programa trazer notícias. Já meu perfil é mais do jornalismo mesmo.

Gosto de aprofundar os fatos, de entender a realidade, de explicar, de buscar bastante embasamento e olhar os diversos pontos de vista para opinar, de colocar sensibilidade na comunicação… Portanto, acho que nossos perfis são diferentes e traremos produtos diferente. Zé tem um público que é dele, que gosta desse perfil, e eu tenho o meu, que se identifica com minha forma de trabalhar. Acho que tem espaço para todo mundo. A minha expectativa é trazer mais pessoas para me assistirem, para conhecerem a minha maneira de fazer jornalismo.

Observatório – Por fim, qual seu principal objetivo daqui pra frente?

Jéssica Senra – Meu principal objetivo continua sendo fazer o melhor jornal possível! Fazer com que meu trabalho seja uma ferramenta de transformação positiva da sociedade. Colaborar com a vida das pessoas. Levar boas mensagens e reflexões para quem me assiste. É isso o que mais me motiva. Que a minha passagem por aqui traga colaboração para todo o meu entorno.

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