Baiano, Danilo Mesquita se identifica com o universo de Segundo Sol: “Eu sou ‘axézeiro’ demais!“

Publicado em 30/04/2018

O ator Danilo Mesquita está indo para sua terceira novela na Globo. O ator terá pela frente o Valentim, em Segundo Sol, nova novela das 21h, escrita por João Emanuel Carneiro, com estreia marcada para 14 de maio. O personagem, segundo ele, será encantador e estará circulando no núcleo central, já que ele é o herdeiro do protagonista Beto Falcão (Emílio Dantas).

Em entrevista ao Observatório da Televisão, Mesquita contou que ele vai ter uma relação de adoração com sua suposta mãe Karola, interpretada por Deborah Secco. Porém, ele destacou que a maneira ambiciosa com que ela lida com o dinheiro será motivo de divergência entre eles. Confira.

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Você está indo longe, esse já é seu terceiro trabalho em novelas, né?

“É minha quarta novela, mas aqui na Globo é a terceira. Eu tenho um currículo, cara! (risos).”

Tem uma novela que você fez aí com o Vladimir Brichta, está repetindo a parceria, né?

“É um prazer trabalhar com o Vlad, porque eu sou baiano, sou de Salvador e a gente ator e tal tem muito como referência os caras que estão ali próximo, que são  o Lázaro, o Vlad, o Wagner e todos os baianos que saíram de lá, enfim, quando eu começo a estudar, ele é uma figura de referência para mim e aí a vida me dá a oportunidade de trabalhar com ele, de a gente virar amigo e enfim… De admirar mais ainda pelo que eu conheci dele, pela pessoa que ele é. Eu fico aqui só ouvindo e aprendendo, aí a vida me dá mais uma oportunidade de fazer uma novela na minha terra, com a minha referência e outras referências, é uma delícia porque não é todo mundo que tem essa sorte.”

E vocês vão contracenar bem, né?

“Sim, na outra ele era o empresário da banda, a gente contracenava muito e nessa, ele é meu tio, é da minha família. É da minha família, então, acho que a gente vai se encontrar aí bastante.”

Agora fala como é o Valentim?

“Valentim é um baiano de 18 anos, filho desse cara que se transformou num mito, então, ele nasceu já sendo filho desse cara e é uma pessoa que todo mundo conhece na cidade, ele é o único herdeiro do Beto Falcão, ele tem a música dentro dele como algo muito forte, porque ele compõe também, a música é muito importante para ele, algo que ele quer seguir, mas ele tem medo justamente por ser filho desse cara que foi tão importante, que é esse mito, então, é uma relação de paixão e insegurança ao mesmo tempo, ao mesmo tempo que ele é um menino muito alegre e comunicativo, a insegurança dele na música é muito forte. É um meninão de 18 anos, intenso, que age muito com o coração, eu o acho encantador. É muito doido porque eu faço um personagem que a maior alegria e a maior tristeza é a mesma coisa, a maior alegria dele é ter esse pai e a maior tristeza é não ter conhecido essa maior alegria dele. Então, é um personagem que trabalha esses dois lugares o tempo todo.”

Ele não sabe muito da história, ele é inocente total?

“Ele acha que foi tudo o que aconteceu. A gente fez uma missa que a maioria dos personagens sabia que aquela missa era fake e ele foi o único que chorava atoa. Mas é muito louco essa história, né? O cara que se finge de morto e aí ele tem um filho, cria esse filho sem poder falar que é o pai, é muito doido. Acho que ele por ser jovem, essa intensidade, esse coração e as vezes ele arranja essa confusão, ele é meio briguento, acho que é por causo disso também, essa confusão toda na cabeça de um menino de 18 anos. Para ele entender isso tudo, é muita coisa, por isso que depois ele age com o coração.”

E a relação dele com a mãe, que é a Debora Secco, que ele acha que é a mãe dele…

“A relação dele com ela é uma coisa boa, eles se adoram assim no dia a dia, mas tem uma coisa que incomoda muito ele que é a relação que ela tem com o dinheiro. Essa coisa de estar o tempo todo querendo fazer dinheiro, tendo que vender essa coisa do Beto Falcão, todas as coisas, inclusive tem coisas que não são legais, para poder ter o dinheiro, para poder ter tudo de bom, ele não concorda com isso, ele acha que não precisa disso para viver. Ele tem uma relação muito boa com a mãe dele, uma relação de muito amor e muito carinho, com essa mãe que criou ele, que eles se amam muito, porém o embate deles é muito firme principalmente nessa questão do dinheiro, nessa questão também dela querer tomar conta da carreira dele, como se quisesse transformar ele num novo Beto Falcão e ele pela insegurança também não quer. Então, esses são os embates entre eles.”

Lá na frente vai ter encontro com a Luzia que é quem realmente é a mãe dele. Vai passar esse sentimento, de se dar com ela, de ter aquela afinidade?

“Sim, eles ficam muito próximos, ele já conhece meio que de longe o som dessa artista chamada Ariela e aí com o convite da galera dele para ver um show, ele fica louco pelo som dela e também logo de cara ela se apaixona pelo jeito dele, então eles viram muito amigos. Sem saber de nada, de primeira eles viram muito amigos. Acho que tem uma relação ali de admiração, de encontro mesmo.”

E a música continua com você, impressionante, né? 

“Eu tenho a sorte de amar música e que ela faz parte da minha vida, de alguma forma pago minhas contas também com música, não só com atuação. É massa, eu aproveito porque eu toco violão diariamente, a música está na minha vida diariamente, também componho, tenho um projeto com meus amigos e a gente se junta para fazer um som, então, é uma delícia ter ela perto de mim, espero que ela continue sempre e vai continuar.”

Aproveitando a respeito do seu sotaque, agora é mais fácil, é mais gostoso poder soltar seu sotaque mesmo?

“É uma loucura isso, porque eu saio de Salvador com 18 anos, e venho para o Rio, e aí venho para cá, mudo de sotaque e aí para você conseguir trabalhar eu ouvia assim: ‘Pô, o texto foi muito maneiro, mas tem muito sotaque, tem que ser menos baiano’. Eu passo oito anos da minha vida tentando ser menos baiano para trabalhar e agora que eu tenho que ser baiano, dá um medo de ser muito baiano fora do normal. Mas é uma delícia, é uma delícia principalmente contar minha história, um pouquinho da história do meu povo, um pouquinho da história da minha cidade, eu sou um nacionalista, sou um cara apaixonado pelo meu país, enlouquecido pela minha cidade, então estar podendo contar um pouco da história do meu povo, podendo falar um pouco da minha cidade, para mim, eu fico me achando.”

Você estava falando da música, você acha que foi a música que te deu esses dois últimos personagens?

“Provavelmente se eu não tocasse ou se não tivesse nenhum contato mais próximo com a música, seria muito difícil fazer, porque ‘Rock Story’ por exemplo, foi um personagem que exigiu muito, a gente cantava mesmo, a gente saia daqui e tinha um ou dois dias para pegar a voz, não era um trabalho fácil, então ajuda, me abriu as portas. Saindo da novela fui fazer um musical, passei uns 6 ou 7 meses rodando o Brasil com o musical, também música e cantando no palco e foi uma experiência nova, nunca imaginei que fosse fazer.”

Qual o musical?

“Foi o Rio mais Brasil o Musical, direção do Ulisses Cruz e foi uma delícia, então a música sempre esteve na minha vida, mas diretamente no meu trabalho acho que há pouco mais de dois anos, tem total a ver com essa minha proximidade.”

Você vai tocar e cantar na novela? Eu vi que você está com a unha maior.

“Vou sim. Essa unha é minha mesmo, todo personagem meu acaba que tem uma unha na mão direita, ninguém nunca reclamou, às vezes a pessoa fala: ‘nossa, que negócio horroroso’. Minha mãe odeia. Mas eu vou tocar e cantar na novela.”

Você mora aqui há quanto tempo no Rio?

“Moro aqui há oito anos.”

O que você mais sente falta da Bahia?

“Da minha avó, da minha família, da minha mãe. Falar da mãe eu começo chorar. Eu sinto falta de tudo, para mim é sempre difícil sair de Salvador. Eu me adaptei ao Rio muito fácil, eu vivo muito bem aqui, até porque eu vim com 18 anos, muita euforia, cidade nova, morar sozinho, mas eu sinto muita falta de Salvador, do sotaque. Eu sofro muito com comida aqui no Rio, desculpa meus amigos cariocas, eu acho que é muito ruim e caro, nem todas, tem restaurantes muito bons, eu sinto falta do tempero e da forma de fazer, sinto falta basicamente da comida da minha avó mesmo, da minha mãe, eu sinto falta da minha família inteira, do meu bairro, do meu condomínio. Eu fui criado num bairro onde minha avó mora há 40 anos, onde todo mundo me conhece, eu chego lá e fico sem camisa, descalço. Fica no bairro do Cabula em Salvador. Então eu me sinto quase que como um estranho, ainda que eu me adaptasse muito bem, eu não estou na minha terra, eu adoro o Rio de Janeiro, mas eu sinto saudade de tudo. Quando eu estou em Salvador, eu fico do lado da minha família, é o sentimento de maior amor do mundo.”

Você já pediu para sua avó te ensinar alguma coisa na cozinha?

“Não, eu mando bem! Eu faço mais o do dia a dia, o feijão, arroz, farofa, carne, isso aí eu sei fazer tudo, macarrão, lasanha, eu faço uma lasanha muito boa, tem uma comida baiana que chama arrumadinho que eu me garanto. Eu estou bem, meu pai também cozinha bem, minha família é embaçada.”

Você pensa em voltar para lá?

“Olha, se eu falar que não penso é mentira, mas eu acho que para o meu trabalho, para as coisas que eu quero, para o meu dia a dia, é realmente ficar aqui.”

Você gostaria que sua carreira de ator saísse um pouquinho do eixo Rio e São Paulo?

“Sim! Eu quero muito. Tem o cinema de Pernambuco que é incrível, Pernambuco na verdade é um lugar que eu não conheço e quero muito conhecer, o cinema de lá me interessa muito, eu assisto muito, acho muito bonito e tenho vontade de fazer. O cinema de Salvador também da Bahia, tem uma galera lá de Cachoeira que tem uma faculdade lá de cinema e estão fazendo coisas muito interessantes também, jovens, cineastas, então, eu tenho muita vontade de sair do eixo Rio/São Paulo.”

Além da saudade, teve algum outro perrengue que você encontrou aqui nessa sua vinda para o Rio?

“Todos os perrengues de quando você sai de casa com 18 anos sozinho, para ir para outro estado, sem ninguém do lado. Às vezes você quer só um abraço, um abraço de alguém que te ame cem por cento, sei lá. Mas eu também não posso reclamar não, eu sou gaiato, sou ousado e faço amizade com todo mundo. Sou cheio de amigos aqui que eles são a minha família aqui, quando eu preciso do abraço, eles estão lá. Como eu falei, são oito anos e já criei raízes interessantes aqui, às vezes vou ficar um mês em Salvador, mas eu falo: ‘pô tenho as coisas aqui, fico com saudade dos meus amigos’. Apesar de ir feliz, também já criei raízes aqui, mas essa dor é um pouco mais tranquila. Mas eu passei todos os perrengues.”

Por tudo que você tem conquistado está valendo à pena então?

“Tá, está valendo a pena. Eu sempre morei longe, nunca morei na zona sul, eu morei ali em Governador e depois morei na Penha, e eu estudava em Botafogo, e os perrengues diários que todo mundo passa, eram duas horas e meia para ir e duas horas e meia para voltar. Como eu falei sou de uma família pobre, não tinha dinheiro para gastar na rua, então tinha que esperar o dia todo para comer em casa, essas coisas que todo mundo passa, tem que passar mesmo porque é importante passar, eu achei massa que eu passei e isso tem a ver com você correr atrás, isso te dá força para quando você consegue, você dá valor, saber que não foi atoa e que foi batalha sua.”

O personagem acaba sendo uma bomba relógio, está prestes a explodir com a verdade e ele vai se tornar tipo um idealista. Como é que você está se preparando para essas emoções? Porque lá na frente, ele também vai ter o embate dele com o irmão, que ele não sabe que é meio irmão…

“O Valentim tem um grande amigo na novela que é o Acácio e eles são muito amigos e por sinal o ator que faz é o Danilo Ferreira que é o meu melhor amigo da minha vida, que é baiano e se chama Danilo também. E esse personagem que é o Acácio ele leva uma vida comunitária, ele dá aula de capoeira, ele mora num casarão ocupado onde ele recebe as pessoas e eu acho que o desejo do Valentim é que ele queria ser o Acácio, ele acabou nascendo numa cobertura, com todas essas coisas de ser filho de um ídolo, mas no fundo dele ele queria mesmo ser o Acácio. Tem a ver, tem a ver com a busca dele, talvez parta de um choque, mas tem a ver com aquilo que ele já sentia, já buscava de alguma forma e ele só vai se encontrando e indo para esse caminho.”

Ele se sente culpado por ter nascido numa situação privilegiada, é isso?

“É… Sei lá, se eu morasse numa cobertura, no corredor da vitória, talvez eu me sentisse culpado mesmo. É consciência minha, eu não sei se ele se sente culpado, acho que ele nega isso, desde só andar de chinelo sabe? Não comprar tênis caro, ele nega. Sei lá, provavelmente pela idade e como eu falei tudo bate de um jeito muito louco. Como eu falei tudo bate de um jeito muito louco, talvez tenha culpa, talvez tenha raiva, isso tudo. Mas acho que é uma negação primeiro, é uma coisa que ele realmente não se identifica com aquilo, não é a onda dele ter dinheiro, ele tem. A mãe é bem consumista. Eu não conhecia o cenário, conheci ontem e quando eu entrei eu falei: ‘poxa, eu sou rico pra caramba’. Ele nega, não por escolha, mas ele acha que não precisa daquilo tudo.”

Como é que está sendo a troca com essa nova leva de atores? Parece que você vai ter bastante cena com a Letícia Colin, com o Chay…

“A Letícia a gente se encontrou pouco porque ela estava gravando outra coisa, mas nos encontramos e trocamos uma ideia, rede social a gente já se adicionou e conversa e o Chay a gente passou dois meses juntos fazendo capoeira eu, ele e o Danilo, duas, três vezes na semana, então a gente já tem uma relação de fora. Eu acho que é massa, acho que a minha geração é uma geração de atores e atrizes, de uma galera muito boa, é assustador. Eu venho para cá para aprender, para estar com o ouvido aberto, para trocar conhecimentos um com o outro. Tem uma galera ali que apesar de ser nova tem uma carreira linda já e já fez tanta coisa.”

Você falou dessas aulas de capoeira. Como que foram essas aulas e você já tinha lá na Bahia essa relação?

“Não tinha, nunca tinha feito capoeira e acho que foi o maior presente, porque diante de tudo capoeira é resistência, é a reafirmação da nossa cultura, daquilo que é nosso e brasileiro de fato, então isso para mim já é bonito demais. É a arte capoeira né? Quando você vai para um lugar desse, que tem dança, que tem música, que tem canto e que tem um lado marcial, é completo, nenhuma outra arte ou luta engloba tanta coisa.”

Mas você achou difícil?

“Eu achei muito difícil, é muito cansativo a gente passou mal, a pressão baixava no começo, capoeira mexe com o seu corpo todo. Você nunca está em pé e nem no chão, você sempre está no meio, então é muito cansativo. Eu joguei bola sete anos, já fiz outros esportes, mas nunca vi nada parecido com a capoeira, coisa que eu fiquei bastante dolorido. A gente ficou apaixonado, bastante apaixonado. A gente tá organizando para ver se conseguimos continuar fazendo a capoeira, porque pela correria da novela a gente quer ver se consegue fazer pelo menos uma vez na semana.”

Por conta desse universo baiano e dos atores terem que ter pelo menos um leve sotaque baiano. Você está sendo também um pouco de referência nesse sentido de ajudar os atores a de repente encontrarem a embocadura certa?

“Isso, a fim mais de termo sabe? Tipo o texto está assim, como que eu posso substituir? Acho que de sotaque, musicalidade e outras coisas a galera é muito estudiosa e está mandando bem e com a Iris, junto com a Leila, nem precisou, elas já fizeram isso. Mas a gente fica mais nos termos, nas coisas do dia a dia.”

Você é uma pessoa muito apaixonada pela sua cidade, pelo seu país e você tem os ideais muito na sua vida. Quais você acha que são os erros que nós temos no Brasil e que a gente deveria melhorar…

“Eu acho que o Brasil é um bebê gigante e que sofreu a miscigenação que nenhum outro país sofreu, a quantidade de etnias de pessoas que vieram para cá e que a gente tem muito pouco tempo para entender isso, sabe? É tudo muito recente, a escravidão é recente e a gente repete os nossos erros. A gente tem uma história de violência, porque a nossa colonização foi violenta, a ditadura foi violenta. Então a gente tem esses reflexos, a gente comete os erros, justamente de ser um país colonizado e de achar que o de fora é melhor, porque a gente tem um complexo de vira-lata de achar que a gente não presta. Porque o Brasil não foi um país colonizado para dar certo, aqui era o lixo de Portugal. O grande caminho para a gente não repetir e a gente está repetindo bem os nossos erros ultimamente, eu acho que a grande coisa, falando como artista é a gente se discutir como pais, não fugir da discussão e parar com esse complexo vira-lata de achar que o de fora é melhor. Tudo que o brasileiro se propõe a fazer a gente faz bem e essa miscigenação nos deu esse diferencial do mundo inteiro, que é ter isso. Eu acho que a grande questão é a gente não fugir dessas discussões, a gente discutir o nosso país, seja montando peças com autores brasileiros, montando a nossa dramaturgia, seja fazendo a nossa música, reafirmando a nossa música, acho que a arte é um caminho muito interessante para a gente se discutir e estar ligado nos livros de história, é importante.”

Você tem esperança nas eleições? Esperança de resolver, de que as coisas vão se acertar…

“Eu sou uma pessoa que gosta de política e por gostar, eu sou uma pessoa que acredita que também a gente possa… Como a gente conseguiu recentemente um avanço muito grande no país.”

Em que questão?

“Em todas as questões, principalmente na questão social, um país que tira 30 milhões de pessoas da miséria, é uma coisa que nunca aconteceu antes na história do mundo, 30 milhões de pessoas sendo tiradas da miséria em tão pouco tempo. Isso é um avanço, que foi bloqueado, mas eu acredito, eu acredito nas eleições, eu acredito no povo e até mesmo que a gente erre nessa, que a gente erre daqui a quatro anos, gente ninguém deu um golpe para voltar para dois anos depois voltar principalmente num governo de esquerda, então vamos viver momentos difíceis, mas eu acho que esses momentos difíceis que vamos viver é justamente para nos fortalecer, se conhecer, se discutir, fortalecer o nosso intelecto, nossa história, justamente para a gente não repetir mais uma vez o aquilo que a gente repetiu lá da colonização, lá da ditadura, que é o que a gente está fazendo agora.”

Você acha que o artista tem que se manifestar politicamente, sobre política. Você acha que os artistas têm esse papel também?

“Olha, eu não acho que as pessoas são obrigadas a fazer isso, quem não está afim, quem não gosta, quem não se interessa, não é obrigado mesmo, não é. Eu Danilo, pessoa, não consigo. Não porque eu sou ator, não, eu me posiciono porque eu sou assim. Se fosse em qualquer outro trabalho, qualquer outra posição, eu me manifestaria da mesma forma, porque é o que eu acho e não sei se todo mundo concorda, provavelmente não, muita gente não concorda e também está tudo certo, a gente está falando de democracia, de um resgate da democracia, discutir ideias, eu tenho minha ideia, eu tenho o direito de expor minha opinião, você tem o direito de expor a sua, a gente vai discutir, mas ninguém é obrigado se posicionar, eu gosto.”

Como é que foi a preparação para compor esse personagem? Porque é meio dúbio também.

“A preparação foi massa, principalmente pelo encontro, foi o Milevix, mas também teve o Zebrinha que pelo amor de Deus, foi um prazer nosso ter esse cara alguns dias, ele é o diretor artístico do folclore da Bahia, é um cara respeitado no mundo inteiro, é o maior profissional da área dele no mundo e a gente teve o privilégio de ter algumas aulas com ele e justamente falando disso, falando da nossa ancestralidade que é muito presente na Bahia. Então a gente teve o Zebrinha que foi importante para trazer para o corpo essa Bahia, o jeito de andar, a ladeira que sobe e foi importante para todo mundo. As preparações do Milevix que era de personagem mesmo são ótimas porque é um momento que a gente se encontra, a gente tem um tempo para sentar e testar as coisas, porque você imagina a correria do dia a dia a gente não tem como, a gente tem tempo de bater texto só e ter esse momento acho que durante um mês, para se encontrar e ficar numa sala durante horas e experimentar coisas, se conhecer, principalmente se conhecer, é essencial, para poder a gente chegar aqui e a coisa fluir melhor.”

Você está morando perto do seu trabalho? Você mora onde?

“Não, continuo morando longe. Mas hoje eu moro no lugar que eu escolhi morar, moro num bairro que eu adoro, foi uma escolha, inclusive sabia que seria longe daqui, mas eu fico perto das atividades que eu gosto de fazer, dos meus amigos, do teatro, do cinema, da praia, eu fico perto de tudo. Fico um pouco longe do trabalho, mas faz parte.”

E o axé?

“Eu sou ‘axézeiro’ demais! Eu nasci dentro do axé, meu pai era produtor de banda de axé a vida inteira, então… Eu tenho muito ídolo, mas por exemplo e quando eu era criança eu ouvia muito. Meu pai era roqueiro e ‘axézeiro’. Eu ouvia muito Renato Russo e Cazuza, eu era e ainda sou fissurado e paralelo a isso, tudo de axé, eu ouvi muito de Netinho, Tatau. Tatau é uma figura que eu amo, sou apaixonado pelo trabalho do Tatau. Carlinhos Brown, que eu adoro, mas também Caetano, Gil, Tom Zé, Milton Nascimento é um cara que eu sou apaixonado, mas falando de axé e Bahia, eu ouço tudo o que está rolando na Bahia agora.”

Qual o hino do axé que grudou na sua cabeça e não saiu até hoje?

“Tem muita música de axé, eu gosto muito da Timbalada. Timbalada é uma banda que para mim foi uma das maiores invenções musicais do Brasil, as músicas da Timbalada me pegam muito pelo pé, mas Chame Gente do Moraes Moreira, também é uma música dessas clássicas que para a gente que gosta muito do carnaval, que nasceu em 26 de fevereiro, sou do carnaval, um pai que trabalhou 27 anos no carnaval, essas músicas me emocionam muito.”

Seu pai estava trabalhando e você ia na pipoca?

“A primeira imagem que eu tenho do carnaval quando pequeno é meu pai me pegando na arquibancada, me colocando no ombro dele e a gente na pipoca do Araketu, bem moleque e é a primeira lembrança que eu tenho. E aí eu saio desde meus 13 anos no carnaval, o carnaval me emociona muito, eu chego no carnaval de Salvador e eu choro. Eu sou apaixonado pelo Axé.”

Você já teve que trabalhar no Carnaval e rolou aquela lagriminha?

“Não, nunca tive, mas uma vez meu pai me colocou para trabalhar no ano novo e já é quase Carnaval o ano novo em Salvador e foi horrível, porque meu pai me colocou para trabalhar na portaria e o pau comendo de axé, foi horrível, mas faz parte.”

* Entrevista feita pelo jornalista André Romano
*Colaborou o jornalista Renan Vieira

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