Vânia de Brito, a Agatha de Orgulho e Paixão, fala sobre a personagem: “Ela fica imitando as mulheres da capital”

Publicado em 22/03/2018

Depois de fazer a Cecília na série futurista Supermax, Vânia de Brito vai interpretar uma personagem completamente diferente. O desafio profissional, agora, é dar vida a Agatha Cristo, dona de uma loja de chá, no Vale do Café, na novela de época das 18h, da Globo, Orgulho e Paixão.

Em entrevista ao Observatório da Televisão, contou detalhes sobre a composição da personagem, a atmosfera no elenco e, também, sobre sua vida pessoal, desde o início da carreira, quando saiu do Nordeste para o Rio de Janeiro e teve que trabalhar muito. Confira.

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Como é a sua personagem em Orgulho e Paixão?

“Ela é dona da loja de chá no Vale, ela é divertida, ela é meio durona, tem um papagaio e se diverte muito com ele. A casa de chá é onde todo mundo passa, é onde tem todas as fofocas do vale e ela está ali, entre o ambiente de servir e ouvir o tempo todo, o leva e traz. Ela é meio que uma jornalista da época, que vai ouvindo as coisas e transformando e levando, mas, ao mesmo tempo, queria ser uma mulher da capital, então, ela fica imitando as mulheres da capital, as roupas exageradas, se monta com cabelos cheios de flores, chapéus diferentes. É divertida, é alegre, ela tem esse mistério também, ninguém sabe de onde ela veio e como foi parar ali.”

Você saiu de uma série (Supermax) futurista, foi muito elogiada. Como é para você encontrar essa mulher?

“Vindo para cá, eu estou exercitando um outro lugar, porque eu não faço muito televisão. Sou do teatro, e, aí, fazia umas participações e depois abri uma agência, fui cuidar de atores, enfim… Fui escrever cinema, há 4 anos que escrevo em co-produção com a Argentina, os filmes estão já para serem produzidos e aí, veio esse convite do Marcos e um teste que eu fiz, eu já havia feito um filme com ele, esse último filme que ele fez agora, com a Cléo Pires, inclusive, fazia a mãe da Cléo. E trabalhando aqui agora em uma época, onde tem esse empoderamento feminino, onde tem essa mulher como a personagem Elisabeta, né? Tentando mostrar um outro feminismo, uma outra coisa, nesse momento que o mundo está, eu acho superinteressante a gente trazer a delicadeza dessa época, esse requinte e essas mulheres querendo abrir essa janela para a vida, para o mundo.”

E você tem muito dessa mulher, né? A gente percebe isso no seu olhar, que você batalhou para chegar aqui.

“Sim. Eu estou desde os 17 anos no Rio, eu vim estudar, vim do Nordeste. Sozinha, morei um ano com meu irmão que era da Marinha e foi morar na Bahia, e eu falei: ‘não volto mais’. A única referência que eu tinha na minha vida era o circo, que era no quarteirão da minha casa e eu me inspirava e falava: ‘é isso que eu quero na minha vida, é isso que eu quero viver’. Então, até nessa parte lúdica da personagem, eu estou trazendo de lá, dessas pessoas e desses personagens que correm a sua vida, dessas mulheres que tem uma pouco da sua mãe, da sua amiga, de uma história, de um filme, do ‘Orgulho e Preconceito’ e de tudo isso.”

Você mudou muito como ser humano para chegar até hoje, né?

“Sim, a gente cresce diariamente, né? Eu tenho uma filha de trinta anos, então, eu aprendo muito com ela, fui mãe muito cedo e ela é meio que um porto seguro ali, porque ela é muito madura, ela tem uma relação com a vida muito linda, ela trabalha muito, é muito feliz e criativa. Então, a gente tem essa inspiração nos filhos, nos amigos e nas pessoas em volta.”

E como é criar uma mulher num mundo tão machista. Agora deu uma quebrada, comentamos que no Oscar teve a primeira fotografa indicada, depois de 90 edições.

“Sim! Sabe o que eu acho engraçado? É que há 4 anos atrás, eu estava começando a escrever cinema e eu falava: ‘meu Deus, como é que é isso? Como que vou entrar nesse universo?’. Praticamente universos másculos, eu nunca estudei cinema, sou uma atriz, mas que também não estou muito em evidencia, porque a televisão no Brasil te projeta para isso, eu estou há 11 anos, com uma agência de atores, estou lançando pessoas para o mercado e foi uma coisa que me realizei muito, lancei muita gente no mercado, todos estão brilhando hoje em dia.”

Moldando sonhos, né? Você é ariana?

“Eu sou muito inquieta. Sim, sou ariana do dia 9, e minha filha é uma canceriana. Então, o que eu fiz, me separei muito cedo do pai dela, o pai dela é um artista, é minha com o Wolf e a gente foi meio que educando junto, mas o que eu passei para a minha filha que foi mais lindo é essa liberdade de ir e vir, de ser o que ela quer ser, com muita responsabilidade pelas suas atitudes, mas nunca deixar de ser essa mulher e minha mãe trouxe muito isso para mim, mesmo do Nordeste, com uma educação precária, com 85 anos hoje em dia, mas ela me mostrou muito isso, que a mulher tinha que ter uma liberdade porque ela sofreu muito com isso, ela abriu mão dos casamentos e disse: ‘vou ficar com meus filhos, eu não quero esse tipo de relação’. Eu via muito o exemplo dela lutando, batalhando, correndo atrás e que todas têm um pouco. A minha personagem tem um pouco disso, está ali no café ralando, com um papagaio no vale, ela é a solteirona do vale e tem aquele frenesi pelo Malvino, pelo coronel Brandão, ela acha ele aquele homem incrível, mas ele está ali com as meninas, com o frescor que elas trazem e acho muito divertido isso.”

Como é que está essa troca com o Malvino?

“Ele é um parceirão, todos! A gente tem se divertido muito fazendo as cenas. A Vera Holtz que eu tinha uma vontade enorme de trabalhar com ela, porque é uma atriz que eu admiro muito, Nathalia Dill é encantadora, eu já acompanho o trabalho de todas, ela, o Thiago Lacerda, que é um cavalheiro e como ele diz, é um parceiro, ‘parça’, ele fala muito isso.”

Quando você saiu de casa, a sua referência foi o circo, como você disse, essa sua personagem ela vai trazer o lúdico com um papagaio..

“Eu acho que é muito divertido e a gente está precisando disso, a gente está precisando de histórias simples de amor. O mundo já está cheio de guerra, de lutas, a gente está vivendo um momento do Brasil muito delicado, de mudanças, de transformação da nossa mente, da nossa atitude, do nosso comportamento com o outro, do respeito pelo outro e isso acho que está tudo junto agora, a gente está atento a tudo e a internet nos ajudou. Tem muita gente que diz que a internet afasta, mas acho que aproxima. Ele conecta, mas também desconecta rápido, quando tem uma notícia imediata, você resolve, você viu e já virou a página para uma outra coisa. Você estava no Brasil, daqui a pouco está no Japão e já com uma outra notícia nos Estados Unidos e por aí vai. Esse trabalho acho que ele tem sido um presente, um exercício de atenção, um exercício de amor e a gente está aqui nisso, o Fred traz muito isso e a equipe dele vem muito cheia de energia, desde a pessoas que cuida da assistência de direção de arte, até a nossa figurinista que é uma gênia, e aí vem toda essa galera de direção, o Marcos que vem do cinema e está fazendo sua primeira novela…”

Eu fiquei muito impressionado, a gente conheceu a cidade cenográfica, conheceu o café e fiquei impressionado e eu queria saber a importância das cenógrafas que são duas mulheres, para você ver a força da mulher e a importância daquela cenografia, especialmente para você.

“Eu adoro! Acho que a cidade cenográfica foi um impacto na primeira vez que eu vi, porque eu falei: ‘gente, é cinema! Eu viveria aqui nessa cidadezinha’. A gente não queria nem sair. E traz o lúdico, traz essa poesia e a gente pensa: ‘gente, isso está acabando, isso está acabando na vida’. E aí você vê o cuidado, os detalhes da casa de chá, dos bolos, das guloseimas que eu ainda não experimentei ainda, estou louca para experimentar, o cuidado da equipe em geral… É um orgulho, eu acho que essa novela vai fazer sucesso, porque ela é leve, ela é romântica, vai trazer figuras divertidíssimas, tem um lado também bonito dos figurinos, esse lado poético que traz a textura de tudo. A gente está voltando lá para trás, tinha um ditado que eu vi mais ou menos assim:’quando a gente amadurece, a gente faz o caminho de volta para casa’. E aí, eu falei: ‘gente que coisa linda’. A gente está mexendo em baús, em gavetas e tirando.”

Eu queria saber como é para você representar essa mulher mais madura, lindíssima e importante.

“Eu acho assim, que as mulheres brasileiras no geral, elas dão um show de otimismo, de coragem, de transformação, porque é um país muito incerto para a gente, a gente está em uma corda bamba o tempo todo e estamos nos reinventando. Eu sou uma mulher que me reinvento muito, eu de 10 em 10 anos ou de 5 em 5 anos, estou inquieta querendo fazer algo de novo, porque para mim a vida é um presente, é o agora, para mim não existe futuro. Ninguém nunca vai me dizer: ‘olha, eu sou o futuro’. Eu falo isso muito para os meus amigos, eu sou cercada de homens muito interessantes, talvez por eu ser uma mulher de personalidade e atitudes, eles se identificam um pouco. Tenho amigas maravilhosas, corajosas e lindas, lindas em todos os sentidos, de trabalharem, de serem mães e de correr atrás e se reinventarem e de ter alegria. Acho que a maturidade traz uma coisa que um dia eu ouvi da Glenn Close, ela traz seletividade. Você já sabe com a maturidade o que você gosta de comer, o que você quer, qual o tipo de lençol e toalha que te arranha, o tipo de bebida que te da azia, que te dá dor de estomago ou que te da ressaca, o tipo de homem que te atrai, o tipo de conversa que você quer ouvir, eu acho que essa seletividade do nosso ouvido com sentidos muito mais aguçados, eu acho que esse momento que é a maturidade. Eu estou com 56 anos, eu me sinto com 40, eu tenho uma vitalidade de 30, porque conviver com jovens é bom, mas é bom também conviver com pessoas da sua idade e o jovem traz isso, traz inquietude.”

Você falou que saiu muito jovem da sua casa e veio para o Rio e pelo nosso papo eu vejo que você é a amiga das palavras, aquela que dá os conselhos. Qual conselho você daria para aquela menina que saiu de lá, para enfrentar esse mundo tão machista.

“Isso, hoje eu moro em São Paulo, né? Estou há dois anos morando em São Paulo. Olha, não desistir, se colocar… Eu lembro que nessa situação muito jovem, eu passei por algumas situações assim de ser cantada por homens mais velhos, mas eu sempre tive muito humor e sempre me sai muito bem dessas situações, nunca me senti encurralada, mas eu sei que tem situações muito complicadas. Por eu sempre estar sozinha eu sempre me defendi muito bem, minha mãe falou: ‘vai, você tem a minha bênção’. E foi só isso mesmo, pai, filho e espirito santo e foi isso mesmo. Eu tive que me bancar, estudar e foi o tempo inteiro, desde os 16 anos, que eu trabalho, desde os 16 anos, que eu procuro me melhorar como ser humano, acho que o autoconhecimento, a busca, a persistência, saber ouvir, ter o senso de humor para virar a situação.”

Você falou dos roteiros. Você cria também essas histórias? De onde vem essas histórias?

“Da vida, eu sou observadora da vida. Meu primeiro roteiro que eu escrevi, que a gente está correndo atrás de produtora, que é o “olhos d’água”, que é direção do (não consegui entender os nomes :|), a ideia veio eu sentada num café em Buenos Aires, eu nunca imaginei que eu iria escrever… Já escrevi umas crônicas, já gostava da palavra e de repente eu me vi com a história na cabeça e falei: ‘vou colocar isso em prática, vou escrever, vou dar vazão a isso’. E aí já estou na terceira história, porque é uma luta, cinema em menos de 5 anos, você não faz e é batendo em portas mesmo, falando do projeto. Eu tenho parcerias muito interessantes na Argentina, que compra essas ideias e fala: ‘vamos fazer!’. E as histórias pinta a vida, eu gosto do ser humano, sabe? Eu amo o ser humano, eu acho que ele sempre tem coisas lindas para te entregar, para trocar, essa troca que é linda, não importa se com homem ou com mulher. Eu hoje estava fazendo uma matéria e aí me falaram: ‘me fala sobre o dia das mulheres’. E aí eu falei; ‘olha, eu sou uma mulher que adora dar flores, para os homens, adoro falar para os meus amigos, olha vamos jantar, eu não tenho essa coisa’. E eu falei: ‘façam isso com os homens que vocês amam, mandem flores’. Não precisa de data, porque eles vão gostar, eles ficam felizes, eles se emocionam, porque é tão raro, então, eu trato no mesmo lugar.”

* Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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