Galã em Orgulho e Paixão, Maurício Destri fala sobre amadurecimento na frente das câmeras: “Não tenho tanta insegurança como antes”

Publicado em 21/03/2018

Na nova novela das 18h, Orgulho e Paixão, da GloboMaurício Destri dá vida a Camilo, um jovem sensível e sábio, que nutre por Darcy (Thiago Lacerda), seu melhor amigo, uma espécie de sentimento paterno. Criado por apenas por sua mãe, a poderosa Julieta (Gabriela Duarte), o rapaz se envolverá com Jane (Pamela Tomé), e será impedido de viver plenamente o romance devido ao baixo status social da moça.

Em conversa com o Observatório da Televisão, o ator falou sobre o novo trabalho e revelou que ter interpretado Leon na supersérie Os Dias Eram Assim, significou um renascimento em sua vida e carreira. Confira o bate papo completo:

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Conte para a gente um pouco sobre o Camilo, seu personagem em Orgulho e Paixão.

A novela é uma releitura desse clássico da Jane Austen (Orgulho e Preconceito), faço o Camilo que é o melhor amigo do Darcy, um jovem romântico, apaixonado sonhador, entusiasmado com a vida, e que quer viver intensamente. Vem de uma família muito rica, é herdeiro da dona de todas as terras da região que se passa a trama. É um personagem desafiador por estar dentro desse arquétipo do mocinho, mas está sempre muito vivo. Tem uma brincadeira de corpo que vem um pouco do último trabalho que fiz. Saí de Os Dias Eram Assim, e um mês depois já estava me preparando para essa novela.

Foi um personagem que repercutiu muito bem, não é?

Foi um trabalho que me fez enxergar a vida de outra forma. Eu passei por momento delicados na minha vida pessoal e Os Dias Eram Assim marcou uma trajetória muito potente de renascimento. Sinto que renasci naquele momento. E aí veio o Camilo, de Orgulho e Paixão, que tem uma semelhança com o primeiro personagem que fiz (em Cordel Encantado), então estou tendo a chance de revisitar o lugar que comecei, mas com mais experiência porque me sinto mais leve agora, mais confortável, mais presente, mais vivo. Não tenho tanta insegurança como antes, nem aquela coisa de querer fazer tudo certo, e mostrar trabalho. Estou relaxado, confiante sobretudo com esses parceiros de cena. O Thiago (Lacerda) é extremamente generoso. Eu tenho uma relação forte com ele. Ele fez meu pai em Cordel Encantado, depois eu fiz ele mais jovem em A Lei do Amor, agora vou fazer o melhor amigo dele. A vida é uma troca. Você dá para o universo, ele te devolve, e estando conectados, a vida vai nos dando esses presentes, essas pessoas que você precisa entender e passar por elas para evoluir e aprender coisas com elas. O Thiago é extremamente atento ao outro, ao sentimento do outro e isso é muito legal.

Diferente do personagem dele que é mais turrão, o seu personagem já vem mais quebrado, mais sensível…

Cada um é uma escada para o outro. O personagem dele é fogo, o meu é água, embora exista uma dialética nisso. O Camilo se vê muito no Darcy, assim como o Darcy se enxerga muito no Camilo. Como o Camilo não tem pai, ele acaba vendo no amigo uma espécie de figura paterna. Ele é fruto de um relacionamento invasivo, então não sei se foi de fato um estupro, mas ele nasceu de forma violenta, como a mãe é quase um pai, ele transfere esse sentimento para o Darcy, por estar sempre ao lado dele. Eles estudaram na mesma faculdade, e o Darcy virou uma referência para ele. O Camilo é um grande assimilador, pega com facilidade as coisas que são boas, se joga e não está preocupado com o que vai acontecer. Ele quer viver, ser tocado e sentir emoções, chorar, sofrer por amor, sair correndo e gritar, é um personagem muito legal.

Você é um ator que sempre entrou em tramas que levantam bandeiras. Essa trama levanta para o público a questão do feminismo através da personagem da Nathalia Dill. Você veio de Os Dias Eram Assim, de um personagem muito intenso. O seu personagem te ajudou a passar pela dificuldade que você disse que passou

Isso não interferiu. Sabe o resultado quando tudo está dando certo, e a vida vem e completa com uma coisa mais interessante? Os Dias Eram Assim marcou essa trajetória porque foi o momento que entendi coisas, passei por coisas pessoais onde renasci. Era um personagem muito vivo, transgressor, trabalhava na livraria e fazia performances noturnas. Tive uma preparação corporal grande em que abri espaços de uma consciência corporal que eu não tinha percebido. Como aqui em Orgulho e Paixão foi muito rápido, eu ainda tinha reflexos do outro personagem. Engraçado que comecei esse trabalho querendo ainda ter um pé nessa transgressão mesmo não sendo essa a pegada deste novo personagem. Essa obra então tem um reflexo inconsciente desse cara mais leve. Ele quebra o quadril, tem a flexibilidade que veio do último personagem. Os personagens me dão caminhos, e aprendo com eles.

Seu personagem de Os Dias Eram Assim acabou sendo referência para outros, como o personagem que o Jesuíta Barbosa irá interpretar na nova supersérie Onde Nascem Os Fortes, que é um rapaz que faz shows na noite contra a vontade do pai…

Acho que a graça do ator é exatamente levantar questões de assuntos delicados que precisam ser falados, e para mim poder falar sobre isso e estar inserido nesse lugar é muito gratificante. Vivemos numa sociedade hipócrita com muito preconceito. Às vezes, um senhorzinho que me via como príncipe e bom moço em outras novelas, vai me ver fazendo um personagem homossexual e perceber que aquilo ali é possível. Tudo bem se você não é, mas existem pessoas que são, “Por favor respeita”, é o que pedimos. Passei por situação assim, de amigos caretas e preconceituosos, que depois que assistiram à supersérie e viram o clipe (Maurício e Jesuíta Barbosa interpretaram um casal no videoclipe da música Flutua, cantada por Liniker e Johnny Hooker), disseram: “Cara, te vendo nessa situação, vejo que é possível”. Vejo o filho do pai do interior que não tem muito conhecimento e sofre porque o filho é assim, e acaba se identificando. É legal para mim enquanto ator poder acionar um lugar que é tão importante para a sociedade. Me sinto feliz de falar sobre isso, e com pessoas tão legais. Realmente, o Jesuíta vai fazer um trabalho parecido, mas num outro lugar e com a particularidade dele.

Esse seu personagem de Os Dias Eram Assim, apagou um pouco a imagem do Destri mocinho, e príncipe. Você acha que deu um tapa naqueles que criticaram sua atuação anteriormente?

Eu não sei se dei um tapa, mas me entreguei tanto e acreditei tanto que era possível… E de novo voltando a este personagem, o Camilo, ele me deu a chance de fazer o mocinho novamente, mas trazendo coisas que ficaram no meu corpo daquele cara que interpretei anteriormente, e de alguma forma sai um pouco desse príncipe, desse estigma da beleza, do galã. Se eu não fizesse o Leon (Os Dias Eram Assim), faria o Camilo de outra forma. O Leon me libertou, me deixou mais consciente, mais potente, principalmente por levantar coisas tão importantes hoje.  No Brasil, cerca de 2 a 3 travestis são mortos por hora. Somos o pais que mais mata transexuais, e de alguma forma poder falar sobre isso e a pessoa entender isso, me deixa muito feliz.

Como é a história de amor vivida pelo Camilo?

Ele se apaixona pela Jane (Pamela tome) e vai em busca desse amor, mas tem uma mãe que não permite que a relação vá adiante. Ele estudou num colégio interno, volta para o Brasil, e encontra pessoas que vivem naquela vila, se apaixona por essa mulher e vive esse dilema, devido a ser herdeiro de uma família que não deseja o casamento dele com qualquer uma. Ele tenta sair a qualquer custo dessa prisão.

E por que a mãe dele não permite a relação?

Porque supostamente, a moça não tem dinheiro o bastante para acompanhar o padrão de vida desse cara e ele não está nem aí para isso. Se apaixona por ela e quer viver o amor. Ele adora dar festas, e cria situações para tentar trazê-la para perto, e creio que em algum momento eles devem se juntar. A gente recebeu 40 capítulos até agora e a trama ainda está sendo desenhada.

Seu personagem é baseado num personagem que tem no filme Orgulho e Preconceito?

Sim, ele é baseado no Charles Bingley mas o Marcos Bernstein (autor da novela) readaptou a história. São quase 140 capítulos que a história seria contada em 3 se seguisse o original, então ele triturou e tirou camadas bem interessantes.

Depois das críticas que você teve em I Love Paraisópolis, você ficou mais fortalecido?

Muito. Em I Love Paraisópolis eu entendi o que houve.  Eu demorei um pouco a entender o que era a televisão e como ela funcionava. Carlinhos Araújo e Chico Accioli foram duas pessoas extremamente importantes na minha vida. Carlinhos me falava uma coisa muito legal: “Você está dentro de um quadrado e precisa compor este quadrado”, e demorei a entender isso. Fui fazer direção de fotografia para entender ainda mais, e não entendia ainda. Quando fui fazer A Lei do Amor, aconteceram situações em que eu conseguia me infiltrar naquele quadrado de forma mais presente, e no meio de uma cena a ficha caiu. Preciso só estar presente e aberto para que a coisa aconteça aqui nesse exato momento. A TV é rápida, e você precisa correr porque são 45 minutos no ar todos os dias, e precisamos estar muito atentos. Quando fiz A Lei do Amor passei a me respeitar mais, me sentia mais livre, e passei a atuar de forma mais sutil, sem cobrança de acertar, e arrasar em todas as cenas.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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