“Fazer vilão é muito divertido, mas chega uma hora que fico com saudade dos heróis”, revela Thiago Lacerda, protagonista de Orgulho e Paixão

Publicado em 07/03/2018

Considerado um dos principais galãs da Globo, Thiago Lacerda vem de novo com um papel de protagonista. Dessa vez, ele será Darcy, de Orgulho e Paixão, nova novela das 18h. O personagem é um inglês da cidade, um industrial, um homem à frente do seu tempo.

Em entrevista ao Observatório da Televisão, ele contou detalhes sobre o personagem que fará par com o de Nathalia Dill. Os dois terão um romance, mas muitos conflitos também. Lacerda chega a dizer que Elisabeta é a evolução do seu papel.

Veja também: Paolla Oliveira aceita convite de Aguinaldo Silva e entra para o elenco de O Sétimo Guardião

Ainda no bate-papo, ele fala sobre chegar aos 40 e a preocupação com a aparência. Ele chega, inclusive, a rejeitar o rótulo de galã e revela o que ainda gostaria de fazer enquanto ator. Confira.

O amor da Elisabeta e Darcy seria algo platônico? Os dois têm gênio parecido?

“Os dois têm um temperamento parecido. Ele é uma figura um pouco mais dura, ela é uma mulher com conflitos dela, mas está mais à frente dele. Eu acho que ela é a evolução da espécie dele. Acho que o Darcy olha para a frente e enxerga ela.”

O seu personagem é oriundo do livro ‘Orgulho é Preconceito’. Por ser um personagem conhecido do grande público, foi mais fácil compor esse homem?

“Sim, claro, a obra oferece muito sobre o personagem, mas também tentei aplicar um pouco de Brasil nele. A obra é apenas um ponto de partida. O Marcos Bernstein (autor da novela) tem essa liberdade e não tem responsabilidade com a obra a não ser trazer as referências que a Jane Austen apresenta, o que acho inteligente. Fazer uma adaptação, e não só recontar a obra.”

Até porque ele é um homem comum, não é? Não tem essa coisa de vilão e mocinho….

“Ele é um homem com seus conflitos, que pertence à sua época, mas possui pensamento à frente de sua época.”

E o casal tem conflitos também?

“Não sei, não li tudo ainda, mas é natural. Um encontro imediato, uma identificação imediata, que vive a turbulência do entendimento da vida. Que mulher é essa? Que cara é esse? A medida que a história vai andando, eles vão se encontrando, e imagino que no final, eles se entendam e fiquem juntos.”

Ele não é daquele lugar. Ele chega apenas para comprar as terras, não é?

“O Darcy é um homem do mundo, um homem da cidade, um industrial inglês, mas um humanista. Curiosamente, e isso é um elemento que promove conflitos: como ser um homem de negócios no auge da revolução industrial, considerando o fator humano. Ele é um homem de negócios.”

Como é voltar a fazer mocinho depois de interpretar dois vilões?

“Eu adoro os heróis, e tenho um apreço especial por personagens éticos e íntegros. Minha carreira é cheia desses caras, e eu amo. Fazer vilão é muito divertido, mas chega uma hora que fico com saudade dos heróis.”

Você se identifica com esses heróis?

“Em muitos momentos sim, gostaria até de ser eles em diversos momentos.”

Tem alguma dificuldade em fazer o mocinho?

“Eu acho que é muito difícil fazer um mocinho, e mocinha também em folhetins. Para mim, são os personagens mais complicados, mas é muito gostoso. Conheço esses caminhos dos heróis, e meu desafio é como passear por esses caminhos que já conheço e ser algo fresco e revelador. Essa maneira de encarar a dificuldade do mocinho é boa porque te mantém atento.”

Seu personagem terá um envolvimento com a Suzana, vivida pela Alessandra Negrini, não é?

“O personagem da Alessandra está ali quase um titereiro desses desencontros, porque manipula os desencontros do núcleo romântico. E ela está fazendo num tom muito gostoso e surpreendente.”

Mas ela não ganha nada fazendo essas coisas, não é?

“Eu acho que ela ganha, as razões dela são econômicas, só que é uma personagem com desvios morais, o caráter dela é estranho, e isso faz com que seja um tipo de vilã, mas não gosto muito dessa ideia de dar etiquetas. Prefiro imaginar que é uma manipuladora de desencontros.”

‘Hilda Furacão’, completa 21 anos em 2018. Você construiu uma família, uma carreira depois disso, mas você continua aquele Thiago?

“Não. 20 anos. é muito tempo para a gente ir se transformando. A vida é dinâmica, a gente vai aprendendo e vivendo coisas e sou diferente de antes, ainda bem. De alguma maneira, sou aquele com 20 anos, a mais. Já tomei muita porrada na vida, sou pai, precisa de muito mais.”

Você é considerado um galã. Você se sente pressionado em relação à sua aparência?

“Não. Nunca me senti e não é agora que vou começar a me preocupar com isso. Você não vai me ouvir dizer: ‘Eu sou um galã’. A gente lida com o que vem de fora. As pessoas têm necessidade de rotular e tento não me preocupar com o que tem escrito nele. Meu trabalho sempre teve foco nos personagens e histórias e meu compromisso comigo e com minha carreira é fazer isso da forma mais comprometida e imersa que eu puder.”

Você teve crise dos 40?

Ah cara, vou te confessar. Fiz 40 esse ano, me sinto muito bem e comecei a repensar  meus valores e conceitos para me perguntar quem pretendo continuar sendo. Não é lenda essa crise dos 40, mas não tem nada a ver com cabelo que cai, ou com o corpo que já não é mais o mesmo. Perceber o tempo passar fisicamente é legal, o que pega mais profundo que isso é: ‘Para onde quero ir na outra metade da minha vida. Essa é uma crise intelectual, ética, construtiva, benéfica e muito bem vinda. “

Thiago, você disse que deu um tempo para ficar perto da família…

“Essa é uma coisa que a idade vem me trazendo. A necessidade de me preservar mais, ficar mais em silêncio. Nossa vida no show business tem muito ruído, e para a maneira como enxergo a vida, tenho sentido necessidade do silêncio e talvez esse seja um caminho concreto na minha vida. Ficar em silêncio com meus livros, filmes e filhos.”

Eles compreenderam que sua rotina é diferente?

“Já, sentem muita falta, e sabem que trabalho muito. Quando eu paro, realmente me dou o direito de ficar com eles. Quando recomeço a trabalhar eles dizem: ‘Papai, cadê você?’. E eu digo: ‘Papai trabalha muito e espero que vocês aprendam o valor disso um dia’. É isso!”

Tem algum tipo de personagem que você ainda queira fazer?

“Vários, mas não tenho tempo (risos). Minha pesquisa de Shakeaspeare, que comecei em 2010. Vou preparar próximos projetos, já para a TV, tem muita história boa para levar para as pessoas. Adoraria continuar contando as histórias da gente para cada vez mais pessoas.”

Você já fez grandes personagens, né?

“Tenho personagens na minha carreira dos quais me orgulho muito. Jesus Cristo, Capitão Rodrigo, Hamlet, Macbeth, Matteo, Garibaldi, Tiradentes. Estou bem acompanhando nesses 20 anos de carreira (risos).”

O que te atraiu nesse personagem atual?

“O conflito dele de pertencer a uma época e ter o pensamento em outra. Como lidar com essa dissonância atemporal? A importância da discussão do espaço do feminino nas relações, e estar com a Nathália de novo, que é uma colega que adoro. A relação dos dois personagens é uma delícia porque são figuras muito parecidas.”

O Maurício Destri interpretou o mesmo personagem que você em ‘A Lei do Amor’, e agora vocês vão atuar juntos…

“É outro parceiro como a Nathália, um ator jovem, que admiro profundamente, com uma sensibilidade absurda. Inteligente, corajoso, inquieto. O Maurício tem uma natureza diferente do personagem que ele faz, e isso para um ator é um desafio gigante. Vejo ele trabalhando muito para conseguir chegar no personagem, e ele consegue.”

Tem um elenco bem jovem, não é?

“Uma garotada ótima, atenta, ligada e moderna. Uma galera dedicada, os vejo interessados na carreira e tem sido muito gostoso e revelador. A molecada dá uma energia para a história.”

Viveria tranquilo nessa época?

“Viveria, acho que sou um cara de época (risos).”

Você está casado há 17 anos. Qual o segredo para o casamento dar certo?

“Não tem segredo, não tenho essa fórmula. Vamos vivendo, construindo planos juntos, descobrindo, insistindo em tentar melhorar, e se melhorar, é o que temos feito ao longo desses anos. Muitos filósofos morreram tentando inventar essa roda da felicidade.”

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano.

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade