Sucesso como Caetana em O Outro Lado do Paraíso, Laura Cardoso afirma: “Ficar na novela foi um presente”

Publicado em 27/02/2018

Grata surpresa aos telespectadores e ao elenco de O Outro Lado do Paraíso, Laura Cardoso deixou de ser apenas uma participação especial na trama de Walcyr Carrasco e entrou para o elenco fixo como Caetana, uma prostituta que não aguentou viver longe do agito do bordel da fictícia cidade de Pedra Santa. Na trama, sua personagem está sempre distribuindo conselhos, e dando palpites com muito bom humor e pouco pudor. Aos 90 anos de idade, a atriz dona de um extenso currículo, conversou com nossa reportagem e falou entre outras coisas sobre sua personagem, o descaso dos políticos brasileiros com a população e a situação da mulher atualmente. Confira:

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Como você enxerga essa homenagem feita à senhora através da Caetana?

“Eu fico muito feliz com o carinho dos colegas, o carinho do Walcyr, que é um grande autor. Ele está homenageando não só a mim, mas a Fernanda Montenegro, o Lima Duarte, a Nathália Timberg, e outros artistas mais velhos nesta novela.”

O Anderson Tomazzini falou da emoção que sentiu ao contracenar com a senhora. Como é estar em contato com esse elenco jovem?

“Eu amo a juventude. Sou fissurada em gente jovem, que vem com sonhos novos, ideias novas, eu amo. Esse menino é maravilhoso. Muito bom!”

O que está achando da novela?

“Maravilhosa! Está dando 50, na audiência, e estamos orgulhosos, felizes e agradecendo ao Walcyr todos os dias por toda a história. Marieta Severo e Eliane Giardini fazendo trabalhos incríveis, e dentro dessa novela temos pessoas maravilhosas.”

A sua personagem, a Caetana, faria uma participação especial na trama, e ficou. A senhora esperava esse sucesso?

“Não esperava. Achei que faria uns 20 capítulos, e tive a sorte do Walcyr, do público e do Mauro Mendonça (diretor) gostarem, e para mim, ficar na novela, foi um presente. Trabalho para mim é presente, é vida, continuação.”

A Caetana está sempre com maquiagens pesadas, decote. A senhora gosta de maquiagem?

“Eu curto sim, mas para a personagem, porque como Laura não dá. Trabalho maquiada desde os 15 anos, então, quando posso, fico de cara lavada. Acho maquiagem uma arte também, porque modifica seu olhar, seu riso, e, é um muito importante. Respeito demais os profissionais da maquiagem.”

Foi ao ar na última semana, uma cena com a Ilva Niño no julgamento do delegado, e ela foi muito elogiada pela crítica. O que a senhora achou?

“Gente, aquilo foi maravilhoso. Todos estavam extraordinários. A Ilva Niño, quando entrou, estava incrível, fez a cena com uma qualidade, uma sabedoria, e me surpreendeu. Merecia um prêmio por aquela cena.”

A senhora faz uma personagem primorosa. Uma cafetina que viveu seu auge, e hoje continua no bordel dando conselhos às meninas e dizendo o que pensa. Acredita que a idade traz essa liberdade?

“Eu sou uma pessoa muito observadora, adoro ficar entre as pessoas para observar gestos, o riso, e a vida. Isso nos dá bagagem para fazer um personagem como este, que estou fazendo, e para perceber o que os colegas estão fazendo, que são atores primorosos, gente da primeira água. Eu sou um pouquinho como a personagem de falar o que quer, e acho que a liberdade é uma coisa maravilhosa. Viva a liberdade, em todos os sentidos.”

Essa novela tem muitos atores veteranos. A senhora acha importante que mais autores assim como o Walcyr Carrasco incluam em suas tramas personagens mais velhos?

“Eu acho que sim. A juventude precisa da experiencia dos veteranos, mas os veteranos aprendem com a juventude. Há uma espécie de troca.”

O brasileiro conhece a Laura Cardoso, mas quem é a Laurinda de Jesus Cardoso?

“Ela existe, é de verdade. Como eu trabalho desde menina e amo minha profissão, acho que juntaram-se a Laura atriz e a Laurinda, mulher, mãe, avó e bisavó de um menino de 17 anos, que amo de verdade. Um neto já é maravilhoso, mas quando Deus te dá um bisneto, você pensa: ‘Deus olhou para mim’. E ele tem nome de Fernando, que era nome do meu marido, e da minha filha, que se chama Fernanda. É um nome bonito, forte, que eu amo. Fernando é o amor da minha vida.”

A senhora deu uma declaração para o canal da Antônia Fontenelle no Youtube, falando sobre política, que deu muito o que falar. Te farei uma pergunta que o Abujamra sempre fazia: Como está o seu Brasil hoje?

“Morrendo. Fizeram e ainda estão fazendo tanto mal a esse país que é abençoado. Nossa terra é santa, é uma terra que você joga um grão e ele floresce. Estou muito triste com o que está acontecendo no Brasil. Essa gente chamada políticos, lógico que tem suas exceções, porque existe gente honesta, mas tem uma turminha que merece aquele uniforme da prisão com o número 171. Uma parte dos políticos no Brasil deveria ir para um paredão, porque aí ia dar uma limpada legal. É muito roubo, muita sujeira, muita safadeza. Essa gente esquece que tem adolescentes com fome por aí. Fico emocionada, não consigo falar nas crianças e adolescentes que têm fome, frio, e vontade de ir à escola. Quero que os políticos morram.”

E essa crise parece afetar vários setores, não é?

“A saúde, a educação são muito importantes. A escola precisa ser respeitada. O saber é um presente, ninguém tira de você, então, é uma coisa preciosa. As pessoas podem te tirar tudo, menos a sabedoria.”

A senhora pretende votar este ano?

“Eu votei em todas as eleições, mas na próxima, não sei, porque ainda não sei quem escolher. Aliás, por lei, tenho direito de não votar, sempre votei, mas agora já não sei mais.”

A senhora é muito politizada. Já chegou a discursar em algum comício ou algo assim?

“Nunca fui muito fã da política. Não vou citar nomes de políticos que gostei, mas existem. Existem aqueles que são legais e querem ajudar os brasileiros, e serem brasileiros, mas o que aconteceu de um tempo para cá, foi muito ruim. Roubam descaradamente, quase um assalto a mão armada. O povo brasileiro é maravilhoso. Não devemos perder as esperanças.”

Com toda a crise no Brasil, a cultura também tem passado por momentos complicados…

“Muito difícil. O teatro que deveria ser muito apoiado, não é. O cinema no Brasil também. Deveria haver um apoio para tudo, cinema, teatro e até de circo.”

O dia internacional da mulher está próximo. A senhora acha que atualmente a mulher tem motivos para comemorar?

“A mulher tem que ser homenageada e respeitada com certeza, mas comemorar ainda não. Comemorar o quê? A mulher ainda está lutando pelos seus direitos e até pela sua vida. Tem mãe que tem seu filho, a criança chora de fome e essa pobre mulher não sabe o que fazer para sustentá-lo. Acho que a mulher está caminhando para ter seus direitos, e não ser um objeto, mas ainda falta muito.”

Cerca 50 mil mulheres morrem vítimas de abortos. A senhora é a favor da legalização do aborto?

“Eu sou. Por que fazer escondido? Era melhor ir para um hospital com todos os recursos, porque sendo proibido, muitas mulheres acabam morrendo.”

A senhora tem anos de profissão. Em algum momento de sua carreira e vida, já chegou a sofrer algum tipo de assédio?

“Não aconteceu comigo. Sempre fui muito determinada no meu trabalho e carreira e nunca dei muita atenção se alguém se aproximava assim.”

A senhora imaginou que aos 90 anos, a senhora ainda estaria tendo que falar sobre respeito às mulheres?

“Pois é. A gente passa a vida tentando conquistar coisas, mas acho que a mulher já conseguiu algumas. Acredito que hoje em dia aconteceu uma pausa nos avanços, mas não um retrocesso.”

A senhora em sua carreira já passou por uma ditadura, censura, e outras dificuldades. Ultimamente temos visto uma onda de tradicionalismo acontecer…

“Acho que a sociedade amedrontou, encaretou. Censura não deveria existir, sou a favor da censura zero. Sofremos censura, no teatro, rádio. No teatro tínhamos que dar o texto para o censor ver se podia ser feita a peça.”

Como é o carinho das pessoas?

“Fico emocionada, e gosto. Fico feliz porque é um reconhecimento do trabalho da gente. “

O que a senhora quer fazer que ainda não tenha feito?

“Eu quero trabalho, seja o que for, é vida. Um personagem é sempre um presente do autor. Não é assim: ‘Eu quero fazer a mulher má’. Eu quero um personagem, seja ele qual for. Sou grata por tudo.”

O que a senhora gosta de fazer em suas horas de lazer?

“Ler. Eu gosto de ler, amo a leitura. Gosto muito de teatro, de ver cinema, documentário. Mais ou menos isso, mas ler me preenche. Estou lendo atualmente o livro da Fernandinha Torres, que é muito bom.”

Como a senhora lida com a fama?

“Ah, não me ligo muito nisso, me ligo à qualidade do trabalho. Esse negócio de fama é passageiro para todo mundo.”

A senhora já teve uma biografia escrita. Vimos que vão fazer um filme sobre a vida da Hebe. A senhora faria um filme sobre sua vida?

“Ah, acho que não. Se quiserem fazer, podem fazer, mas eu não procuraria por isso.”

Qual o segredo para se manter tão bem aos 90 anos. É a alimentação?

“Eu sou a maior indisciplinada do mundo. Não tenho hora para dormir, não faço dieta. Como o que gosto e tenho vontade.”

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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