“Malhação faz o papel que caberia ao Governo: dialogar e educar os jovens”, afirma Gabriel Calamari

Publicado em 19/02/2018

Destaque na atual temporada de Malhação – Viva a Diferença, o ator Gabriel Calamari vem recebendo muitos elogios por parte dos telespectadores por conta de seu personagem, Felipe, rapaz culto e muito bem resolvido.

Felipe transita nos mais diferentes núcleos com desenvoltura e se mostra um cara sensível e sempre disposto a ajudar os amigos. Entre os temas abordados pela trama teen estão sexualidade, preconceito racial e social, além da homofobia.

Em entrevista, Calamari fala sobre os dilemas que Felipe enfrenta na novela de Cao Hamburguer, como a amizade com Gabriel, (Luis Galves), que assume ser gay, Lica (Manoela Aliperti), sua ex- que passa a viver um romance com Samantha (Giovanna Grigio) e Clara (Isabella Scherer), outra garota com quem o jovem se envolveu, mas que passa por muitos conflitos.

Em cenas apresentadas no último dia 9, a trama das faixa das 17h da Globo mostrou os amigos Felipe e Gabriel sendo agredidos por um grupo de rapazes, que por pura ignorância, deixaram os jovens bastante machucados. Vale lembrar que o Brasil é um dos países que mais registram ataques homofóbicos.

Sobre as cenas, Calamari afirma: “A ignorância humana, infelizmente, faz com que ainda seja necessário debatermos sobre a amizade entre pessoas com orientações sexuais diferentes. Malhação faz o papel que caberia ao Estado: dialogar e educar os jovens”.

A sua primeira experiência com televisão foi na série “Que Talento” do canal
Disney Channel, como foi a migração para a TV aberta em Malhação? Você sente muita diferença com relação ao feedback do público?

Acredito que foi uma migração natural. Sempre tive vontade de viver personagens na televisão “aberta” e, de repente, tudo aconteceu sucessivamente.

São processos de trabalho parecidos entre o “cabo”e a “aberta”, porém, com jornadas de exibição muito diferentes. É incrível ver um projeto ser exibido de segunda a sexta, quase que o ano inteiro, para todo o país. Me adaptei rápido e está sendo incrível.

Quanto ao feedback do público, sinto que a televisão “aberta” dialoga com mais pessoas, é natural que o retorno do público seja maior também. Me sinto honrado em ajudar a contar as histórias que fazem parte de Malhação – Viva A Diferença, e o fato de estarmos em rede nacional me enche de orgulho.

Como surgiu o convite para fazer parte do elenco de Malhação? Como se preparou para viver o Felipe? Já tinha contato com grafite e artes plásticas?

Já havia feito uma entrevista com a Ingrid Souza, pesquisadora da Globo. Um pouco depois, através do nosso querido produtor de elenco, Guilherme Gobbi, recebi o convite para fazer o teste. Alguns dias depois, recebo o telefonema com 021 na frente do número: era outro convite de Guilherme, dessa vez para integrar o elenco da nova Malhação.

Participei da preparação de elenco com todo o grupo durante um mês em São Paulo e outro mês no Rio De Janeiro. Além disso tive aulas de grafite, bateria e vivências de mountainbike.

No início de Malhação, o personagem tinha uma banda “Os Lagostins”. Na sua vida pessoal, você tem alguma relação com a música?

Vivi grande parte da minha adolescência dentro da oficina dos menestréis, tive contato intenso com música, teatro e dança. Passei por essa fase menestrel off-brodway cantando músicas que eu adorava em cima do palco. Éramos atores com poeira na cara, como dizia Deto Montenegro. Adorava – e ainda adoro – cantar, arranhava um violão, experimentava alguns personagens e, se preciso fosse, me arriscava em alguma coreografia também. Não sou profissional em nenhuma dessas coisas, mas as faço com muito amor. Pessoalmente, minha vida também.

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Atualmente os jovens lutam por causas que vão além do dia a dia, algo relacionado à cidadania. Seu personagem na novela, também acredita bastante no poder do diálogo e do protesto a favor dos direitos estudantis. Você também acredita que protestar é uma forma de mudança positiva para aquilo em que se acredita?

Sim. A capacidade de transformar o futuro se encontra na geração que está florescendo, não tenho dúvidas. Compartilho da opinião de que devemos questionar tudo, estabelecer mais diálogos e aprofundar o debate. Ao mesmo tempo, apoio uma reflexão sobre as formas de protestos que tivemos nos últimos tempos, onde o ativismo se transformou em objeto de determinadas ideologias, impostas a fórceps e a qualquer custo.

Nas redes sociais, algumas pessoas têm criticado o fato da novela mostrar duas meninas se beijando (Lica e Samantha). A novela está dando espaço para a comunidade LGBT, inclusive o Felipe mantém uma amizade com o filho do Roney que é gay. E por conta disso, os dois irão sofrer agressões de pessoas homofóbicas. O que podemos esperar dessa amizade? O que espera da reação do público?

Estou muito feliz em viver uma amizade assim dentro da novela. Passei por coisas
parecidas com as da amizade de Gabriel e Felipe em minha vida pessoal. Sempre escutei, no colégio, piadas sobre ter amigos gays e por frequentar mais aulas de teatro que as de futebol. Nunca liguei, detesto vitimismo. Além de preconceito, encaro isso como alienação e má fé por parte das pessoas que pensam com tal pequenez. Aprendi a escolher meus amigos com base em valores relevantes para uma amizade e a orientação sexual de um indivíduo não é um deles.

A amizade de Gabriel e Felipe tem um pouco dessa experiência de vida: Eles se aproximam por conta do universo do grafite, percebem que têm muito em comum e se tornam bons amigos, vivem coisas verdadeiras, divertidas e sérias. As agressões acontecem e eles encaram isso juntos, como verdadeiros amigos. É o que mais admiro nos diálogos, a maneira como encaram o mundo ao redor dessa amizade.

Não sei como o público vai reagir, mas posso imaginar: Os fãs da novela irão gostar, tenho certeza. Nos aproximamos de muita gente bacana com essa novela, as pessoas embarcam em contar a história conosco. Toda reflexão não termina com o capítulo. Nas redes sociais o diálogo se estende e, sempre que me sobra tempo, converso com a galera para saber o que acharam.

Sobre os haters de plantão: talvez sejam pessoas que escolhem amizades com base na orientação sexual do outro, talvez essas não vejam com bons olhos a amizade entre um gay, muito menos o fato da televisão abordar esse assunto às 18 horas. São as mesmas pessoas que criticam o fato da novela mostrar duas meninas se beijando. Não me preocupo, quando não tenho pena desse pensamento, tenho dó.

Como sente interpretando um papel importante como o do Felipe e todo o contexto em que ele está envolvido?

Me sinto honrado em contar a história de Gabriel e Felipe. A ignorância humana, infelizmente, faz com que ainda seja necessário debatermos sobre a amizade entre pessoas com orientações sexuais diferentes.

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A novela apresentou algo muto comum: ataques homofóbicos que muitos sofrem diariamente, em alguns casos, levam à morte…

O autor contesta, brilhantemente, a burrice coletiva acerca do preconceito. Porque só é óbvio para alguns estarmos em 2018 e ainda brigarmos entre si por conta das escolhas alheias? Se fosse repórter, daria um 10 para a Rede Globo em uma de minhas colunas sobre novela; simplesmente pela emissora fazer, em Malhação, o papel que caberia ao Estado: dialogar e educar os nossos jovens, afinal de contas, não são eles os adultos de amanhã?

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Além de ator, você também estuda cinema e está produzindo um filme “Alice e Gabriel” que traz para o Brasil um novo gênero, o Young Adult. Por que escolheu adaptar a peça de Jaime Celiberto para os cinemas?

Sou maluco por cinema e encantado pela juventude. Acho incrível os conteúdos que falem sobre essa fase única na vida do ser humano. Decidi adaptar “Alice e Gabriel” para o cinema por muitos motivos, foram alguns anos pensando sobre isso desde que fiz o espetáculo como ator. O projeto se tornou realidade quando dividi o texto com André Rodrigues – roteirista do longa e meu amigo – e logo depois com Daniel Caselli – amigo e diretor do longa -. Contei que tinha muita vontade de contar essa história com um longa, em tela grande e que fosse visto em muitas salas ao mesmo tempo. Eles se apaixonaram pelo texto assim como eu e decidiram embarcar no projeto. Desde então não paramos mais e, se tudo der certo, rodamos esse ano.

Você é novo, com apenas vinte e três anos está iniciando sua carreira como
produtor. Tem algum receio por causa da idade? Acredita que isso te afetará de alguma forma?

Tenho o receio natural de experimentar isso pela primeira vez, mas não acredito que a idade afeta em algo. Me sinto maduro o suficiente e estudo muito o que faço. Justo que em algum momento da minha vida profissional eu começasse a realizar projetos no audiovisual brasileiro, a gente só não escolhe quando esses momentos acontecem. Fico bem tranquilo com o fato de ser novo e tentar uma carreira como produtor desde já. Meus ídolos todos começaram mais novos que eu e conseguiram. Pode ser pretensão pensar assim, mas sem isso quem consegue algo na vida? Se não tentar agora como vou saber que era muito novo?

Quais são suas maiores referências no cinema?

Gosto de muitas referências, mas cito alguns diretores que tem valor maior pra mim: Tarkovsky, Coppola, Scorsese, Truffaut, Fellini e Paolo Sorrentino.

 

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