Angela Vieira quer ir além das madames na TV: “Gostamos de viver personagens diversos”

Publicado em 11/01/2018

Presente nos palcos desde 1979, a atriz, bailarina e escritora Angela Viera coleciona mais de 30 trabalhos na TV, entre novelas e minisséries da TV Globo e da extinta Manchete. Formada em Comunicação Visual, em 2004 lançou o livro Meia Idade Inteira.

Entre os maiores destaques de sua carreira estão Por Amor, Terra Nostra, Coração de Estudante, Senhora do Destino, Cobras & Lagartos. Angela acaba de se despedir de Pega Pega, com um final à altura ao lado de Irene Ravache na trama escrita por Claudia Souto.

Repleta de personagens ricos em conflitos familiares, Angela gostaria de ter mais papéis com temáticas sociais afloradas, mulheres simples, batalhadoras, e já provou deste perfil em Coração de Estudante. Ela deseja se descolar da imagem de “madame”.

Angela relembra algumas personagens e os seus dilemas, como a Virginia de Por Amor, 1997, que descobre que o marido é bissexual: “Na época as pessoas achavam que seria menos grave que o Rafael trocasse a Virginia por outra mulher: isso é puro machismo”.

“Às vezes os conflitos podem virar motivo de reflexão”, acredita a atriz quem em 2018 se prepara para voltar ao teatro, onde já teve a oportunidade de trabalhar sob a direção do apresentador Jô Soares no espetáculo A História é uma História, de Millôr Fernandes.

Confira:

Te incomoda quando um trabalho, principalmente na TV, acaba tendo relevância apenas por questões estéticas e não pelo todo? Pelo que a personagem representa, e não estou falando de uma miss, mas de uma mulher com uma vida comum? Exemplo: ‘nossa como ela está bonita, nossa olha a idade dela… ’

A novela, por exemplo, é um produto visto, geralmente, pela família ou parte dela, então as pessoas comentam que estão vendo e é normal esse tipo de comentário. Mas todo ator gosta mesmo é que o publico fale das personagens, acompanhe a trajetória delas e vibre junto.

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Em Coração de Estudante e Terra Nostra suas personagens se envolveram com homens mais novos. Já em Por Amor, Virginia enfrenta a traição do marido com outro homem. Aqui temos um turbilhão de conflitos. O quanto isso agrega à vida das telespectadoras, principalmente? 

Cada personagem sempre tem alguma coisa com que o público se identifica. Dependendo do tamanho e densidade, acredito que às vezes os conflitos podem virar motivo de reflexão. Existem personagens que servem a campanhas e essas então, viram assunto para discussões em grupos familiares ou de amigos.

Se Por Amor fosse exibida hoje, você acredita que teria uma resistência maior por parte do público? É a segunda reprise da novela só pelo Viva, acabou em dezembro, fora a Globo, como o público reagiu ao momento conflituoso em que Alex e Virgínia passaram em 1997? 

Estamos atualmente num momento de luta pela igualdade de cada individuo ter a liberdade de escolher sua orientação sexual, e é assim que deve ser mesmo. Na época a personagem do Odilon foi criticada e a minha foi vitimizada. Hoje não sei como foi essa reação, mas espero que tenha sido menos preconceituosa. Na época as pessoas achavam que seria menos grave que o Rafael trocasse a Virginia por outra mulher: isso é puro machismo.

Império enfrentou a resistência do público, no caso o personagem do Zé Mayer, ele também era bissexual. Zé Mayer é um eterno galã da TV. Como analisa essa mistura entre ficção e realidade que o público ainda faz?

Porque o público mistura um pouco o profissional e a personagem mesmo. Idealizam um ator ou uma atriz de quem gostam muito e, às vezes, reagem com o não politicamente correto.

A Carolina Ferraz sempre faz papel de rica nas novelas, em uma entrevista recente você também afirma que quer outros personagens, entre elas, mulheres simples, do povo… Mas e o público “compraria” essa ideia?

Já comprou. Em Coração de Estudante, por exemplo, a Esmeralda era dona de um bar, criava o filho sozinha e foi uma personagem muito querida pelo público. Mas fiz poucas personagens de mulheres mais simples e o público se acostumou a me ver sempre bem vestida, bem maquiada, num universo menos popular. Mas somos atores para sermos camaleões e o que gostamos é de viver personagens diversos.

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Como analisa essa nova geração de atores? Você dá dicas, conselhos? No começo da sua carreira recebeu dicas e conselhos? Ou você não se sente à vontade para fazer isso?

Tem uma safra de ótimos atores jovens e quem tem o excelente hábito de ir ao teatro, não se surpreende quando os veem na TV. Não se faz um ator da noite para o dia e como em qualquer outra profissão, há que se estudar e se reciclar sempre. Foi o que ouvi no inicio da minha carreia e vale pra sempre.

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Em toda a sua carreira, você ainda não trabalhou com a Gloria Perez e o Walcyr Carrasco…

Fui uma telespectadora assídua de A Força do Querer. Ela fez uma novela maravilhosa. Qualquer personagem ali dá vontade de fazer. Eu nunca trabalhei, realmente, com o Walcyr e Gloria. Quem sabe um dia, falta de oportunidade, entro em uma produção deles.

Quando posou nua para a Playboy, sugeriu a Itália como locação do ensaio, usando referências do cinema local. Em tudo que faz na TV, teatro e cinema costuma dar os seus toques, indicação de algo pra personagem se ambientar?

Eu acho que a troca é sempre bem-vinda. É bom quando você ‘olha, foi isso mesmo que você quis dizer’. Uma troca, como acontece nas primeiras leituras. Eu acho importante sim. Eles têm uma visão de 60 personagens, nós temos a nossa. Eles participam dos grupos de discussão. É sempre bom levar um retorno do público.

Novos projetos? 

Tenho duas produções em teatro em andamento. Uma pra maio e outra pra 2019.

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