Alexandre Nero revela detalhes de seu personagem em Onde Nascem os Fortes: “Um sacana”

Publicado em 28/01/2018

Depois de viver o funcionário público Geraldo Bulhosa na série Filhos da Pátria, Alexandre Nero será Pedro Gouveia, um poderoso homem considerado dono do sertão em Onde Nascem os Fortes. Nossa reportagem conversou com o ator e protagonista da nova supersérie da Globo, que estreia em abril, e ele abriu o jogo sobre seu personagem, e revelou detalhes das gravações que se iniciaram há alguns meses na Paraíba. Confira:

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Como é a história de Onde Nascem os Fortes? Como é o seu personagem?

A história de Onde Nascem os Fortes é basicamente a história de um homem, Pedro Gouveia, meu personagem, que se desentende com o Nonato (Marco Pigossi) e acontece a morte desse rapaz. Pedro é acusado da morte, e aí se inicia o enredo. Outros personagens aparecem, como o inimigo dele, o Ramiro (Fábio Assunção), juiz da cidade, tem o delegado, que logo no começo descobre-se que não é aliado dele como se pensava e sim, mais um inimigo. Até por ser muito poderoso, ele tem vários inimigos, inclusive entre os poderosos. Ele é casado com Rosinete (Debora Bloch) e tem uma amante que trabalha com ele, mas a história é basicamente essa, sobre quem matou o Nonato, e o que envolve essa morte. Tem ainda o desespero da mãe do rapaz, Cássia (Patrícia Pillar), que chega junto com a filha, Maria (Alice Wegmann), para tentar descobrir o que aconteceu.

Mas o Nonato morreu mesmo, ou tem uma chance de ele reaparecer?

Não sei muito o que dizer, porque qualquer coisa que eu falar, eu darei spoiler. Fico limitado ao que eu posso contar. É a mesma coisa de dizer na fila do cinema que o cara morre no final do filme (risos).

Seu personagem é um vilão?

Eu acho que sim, já o Zé Villamarin (diretor) diz que não, mas o acho um sacana. Dentro desse padrão da sociedade que temos, ele é um homem típico de sua região: muito machista, poderoso, mas não é um mau caráter que passa a perna nas pessoas, nem mataria facilmente. Defendo a ideia que qualquer pessoa pode matar alguém, para defender um filho ou algo assim por exemplo, então, ninguém está livre de ser acusado de assassinato.  O Pedro Gouveia brigou com esse cara, fisicamente inclusive, e no dia seguinte, o cara desapareceu, o que faz do Pedro o suspeito número um do crime.

Então poderemos ver um pouco dessa dubiedade no personagem?

Eu acho que o jogo é esse. As pessoas chegam para mim e dizem: ‘Nero, você só faz personagens que a gente nunca sabe o que são de verdade’. Eu acho que todo mundo é dúbio, somos milhões de pessoas em uma só. Eu estou até com saudade de fazer teatro infantil, porque no infantil, o bom é bom, e o vilão é muito mau. Em produções para adultos, dá para brincar mais com as várias cores de um personagem. Ninguém é bom 100% nem mau 100%, e essa é a forma como temos que enxergar. Quando existe uma história mais complexa, é sempre mais difícil, para o ator, para o autor e para o público.

Pedro Gouveia (Alexandre Nero) em Onde Nascem os Fortes
Pedro Gouveia (Alexandre Nero) em Onde Nascem os Fortes (Divulgação/ TV Globo)

Qual foi a parte mais complicada da preparação para este personagem?

A parte mais difícil é sempre me tornar um cara rico, porque isso nunca tive experiência. Nem conheço pessoas com as quais eu possa me guiar. Tirando isso, tivemos as aulas para o sotaque. A história não é localizada num lugar real como Paraíba ou Pernambuco, é apenas uma cidade fictícia chamada Sertão, que fica no Nordeste brasileiro. Propositalmente misturamos diferentes sotaques do Nordeste, de forma que ninguém vai poder falar: ‘Ah, esse sotaque está errado’. Todos trabalhamos sotaques variados dentro do Nordeste, ficamos meses gravando no sertão, e diferente de outros trabalhos em que temos contato com as pessoas, neste ficamos num lugar absurdamente afastado de tudo, a ponto de a farmácia mais próxima ficar a 20km. A cidade era quase um deserto, vocês vão ver na supersérie. As pessoas moram muito longe uma das outras. Eu falei que iria sair para caminhar, e perguntaram ‘Caminhar para onde?’, mas fui, achando que iria encontrar uma comunidade, e a comunidade se resumia a três casas.

Esse foi seu primeiro trabalho com o José Villamarin? Como foi?

Foi o primeiro encontro com ele. O Zé tem essa linguagem poética, ele dá silêncio, que é uma coisa que a TV tem perdido, aliás, não só a TV, mas o mundo. Ele dá essa respiração do ator acontecer no olhar, e é uma maneira bastante diferente. Ele gosta de trabalhar com plano sequência, então, chegamos a fazer cenas enormes. Caso errássemos, tínhamos que repetir tudo.

Diretor José Villamarin dirige Alexandre Nero em Onde Nascem os Fortes
Diretor José Villamarin dirige Alexandre Nero em Onde Nascem os Fortes (Divulgação/ TV Globo)

Como foi ficar longe do seu filho?

Difícil pacas. Estar longe dele é a parte mais difícil, e nem celular pegava lá, uma coisa maluca. Só o Wi-Fi do hotel.

Você está mais bronzeado. Essa cor é para o personagem?

Sim! Especificamente hoje é maquiagem, afinal, ficaremos gravando por 6 meses, e não tem bronzeado que aguente. Quando começamos as gravações na Paraíba, eu estava com esse bronze, e agora para dar continuidade ao processo, temos que chegar a esse tom com maquiagem. O Pedro Gouveia é poderoso, dono de fazendas, mas não é o cara que fica em escritório, não fica só negociando. É muito ativo, um cara que vai para o campo, conserta máquinas, e não fica atrás de uma mesa e como lá, o sol é incansável, optamos por deixá-lo assim, com essa pele mais queimada.

Como está sendo suas férias de novelas, você está fazendo mais séries agora, né?

Supersérie foi uma nomenclatura escolhida pela Globo por não ser uma série e não ser uma novela, e sim, um formato diferente, sem definição ainda. Digo isso porque, é muito complicado para nós, atores e equipe, gravar esse formato, porque são 50 e poucos capítulos e gravamos como se fosse uma série. Seriam 5 temporadas gravadas de uma vez só. Uma série, diferente de novela, são 12 episódios, então, você constrói essa história facilmente na sua cabeça, um filme nem se fala, já novela, que são quase 200 capítulos, e você vai entendendo a história semanalmente conforme chegam os capítulos. Na supersérie chegam os 50 capítulos de uma vez, e a gente grava o 1, depois o 20, depois o 10, depois o 50, sem ordem definida e tem uma hora que você fica louco e não sabe mais o que está fazendo e o que está acontecendo com o personagem. É uma novidade para todo mundo. A continuísta deve ficar louca.

Esse tipo de gravação fora de ordem dificulta na atuação?

Muito, completamente. Sem dúvida este é o trabalho mais difícil que já fiz. No cinema é assim, com a diferença que no cinema, são 30 cenas ao todo, isso quando você é o protagonista, aqui fazemos 30 cenas por dia. Não tem comparação. É melhor comparar com uma série, mas são 5 temporadas juntas.

Essa suposta morte do Nonato acontece porque ele se envolve com a amante do Pedro. O que existia entre o Pedro e a amante era amor?

Eu acho que é sempre amor ou talvez paixão. O casamento dele não está bem, ele se desentende com a mulher o tempo inteiro, ambos têm problemas sexuais e a amante é uma mulher bonita, fervorosa quente, sensual. Ah, por que não se separa? Se fosse fácil todo mundo separava (risos). Ali tem uma família, tem amor, tem carinho pela pessoa ainda.

Tem um quê de realidade nos personagens, correto?

A ideia de todo melodrama é sempre ser muito próximo das pessoas que estão em casa.

Lara Tremouroux, Alexandre Nero, Debora Bloch e Gabriel Leone em Onde Nascem os Fortes
Lara Tremouroux, Alexandre Nero, Debora Bloch e Gabriel Leone em Onde Nascem os Fortes (Divulgação/ TV Globo)

A Lara Tremouroux, que interpretou sua filha em Filhos da Pátria, será novamente sua filha. Como foi esse reencontro?

A relação com ela é ótima, mas agora é bem diferente em termos de personagem. O amorzinho entre pai e filha é o mesmo, mas agora é um drama, pois ela é uma menina doente, diferente de Filhos da Pátria, que era uma comédia. Perto dos filhos, esse machão que é o Pedro, se transforma numa criança, é um cara muito afetivo. Nesse universo dele, acredito que não deve ser fácil para o homem, para a mulher então, nem se fala… O homem tem que mostrar o tempo todo que é macho, que é bravo, que é mais poderoso, num lugar em que as pessoas andam com revolver na cinta. É meio faroeste. A brincadeira que o Zé está fazendo é justamente essa, claro que não falamos que é um faroeste porque fica superficial falar isso, mas existem alguns elementos como duelos de olhar, o deserto, aquele vento que bate e a poeira levanta.

Esse título, Onde Nascem os Fortes, é quase uma referência ao que vivemos atualmente, porque é preciso ser muito forte para viver com essa onda de violência que enfrentamos, não é?

Só de nascer, já precisa ser forte. Depois que meu filho nasceu, eu descobri que o intestino da criança se desenvolve só depois que ela nasce, e com isso ela sente dor. Pensei: ‘a gente já passou por isso, aí depois ele tem que aprender a andar, a falar, a gente é muito foda por estarmos aqui’. Qualquer ser humano que nasce já é forte o suficiente, se a gente for afunilar, Brasil, Nordeste, Morro do Rio de Janeiro, aí vemos onde vem a força mesmo.

Lá você não teve oportunidade de lidar com essas pessoas fortes…

Não, nosso contato era somente com as pessoas do hotel em que íamos para dormir.  Mas para falar de força, a grande criação deles lá é de bode, e cabra, porque são bichos fortes que come até pedra. O gado lá não sobrevive, porque precisa do verde, que lá não tem. O bode é um bicho que se vira, até sobe em árvore, e sobrevive com pouca coisa. E a população tem muito orgulho disso.

Você chegou a comer carne de bode?

Muito. É muito bom. A carne é forte, mas é bom.

Você acha que ele merece perdão? Acredita que o Pedro e a Rosinete vão tentar se acertar?

Eles vão tentar de novo. Não sei se ele merece perdão, mas acho que sim, todo mundo merece. Ele só não vai embora porque eles ficam tentando, não só pelos filhos, mas por eles mesmo. Eu acho que as pessoas não deixam de se amar, os envolvimentos mudam.

Como foi trabalhar com a Debora Bloch?

Foi a primeira vez e ainda não gravamos direito. Gravamos uma ceninha só, hoje vai ser o primeiro dia que iremos gravar, mas a admiração é longa, desde ‘Bete Balanço’. Até falei isso com ela.

Pedro Gouveia (Alexandre Nero) em Onde Nascem os Fortes
Pedro Gouveia (Alexandre Nero) em Onde Nascem os Fortes (Divulgação/ TV Globo)

Você teve algum tipo de influência para construir esse personagem?

O Zé Villamarin deu várias referências para a gente saber do ponto de vista estético, o que vai ser e assisti a várias coisas. Assisti ao filme Boi Neon, com o Cazarré, que está maravilhoso, mas ele interpreta um cara simples que não cabia muito no meu personagem. O Pedro é muito poderoso, fala línguas, passa o Natal em Londres, quase um coronel de antigamente, mas com um toque contemporâneo. É um cara que conhece o mundo, tem bom gosto, aprecia vinhos, queijos, vive naquele universo do sertão mas é antenado no mundo inteiro, por isso digo que foi difícil me mirar em alguém.

O seu personagem em Onde Nascem Os Fortes se parece em algo com seu personagem em Império?

Acho que sim, nesse lugar do poder, de ser um homem poderoso e acho que está próximo desse universo do Comendador. Óbvio que muita gente vai comparar, mas não vejo problema, porque sou a mesma pessoa, não tenho como trocar o olho e o nariz. Já vi personagens meus que estão muito mais parecidos que o próprio comendador. O Pedro é muito mais bem-humorado, potente, mais divertido que o Comendador, mas tem esse lugar do poder.

Ele é tão sedutor quanto o Comendador?

Ele não é um sedutor, eu nem achava o Comendador um sedutor. O Romero Rômulo (A Regra do Jogo) era sedutor de padaria, mas era, um cara que tentava.

Você vai fazer a próxima novela do Aguinaldo Silva. Como fazer para o público não enjoar de você?

Não tenho a menor ideia. Espero que esse personagem seja bem diferente. Loiro, olho azul, porte atlético (risos).

Ele disse que vai ser um homem que se transforma em lobo…

Ótimo, nasci para ser lobo. Meu nome é lobo (risos).

Como se sente em relação a esse apelo com o público feminino?

Me sinto ótimo. Se isso der ibope, está ótimo. Isso é muito particular e tem a ver com personagem sem dúvida nenhuma. O Romero não mexia com as mulheres por exemplo. O Comendador mexia com os homens também, que queriam ter aquele cabelo dele, é um personagem, e tentamos fazer  que o personagem está pedindo. Não quer dizer que a gente vai conseguir.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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