Vivendo um cavaleiro em Deus salve o Rei, Caio Blat desabafa: “Nunca vi Game Of Thrones”

Publicado em 17/12/2017

Na próxima novela das 19h,  Deus Salve o Rei, Caio Blat será Cássio, comandante do exército do reino de Montemor. Ético, e excelente guerreiro, ele é o braço direito de Afonso (Rômulo Estrela) em suas tomadas de decisão. O Observatório da Televisão conversou com o ator durante o evento de lançamento da nova trama, que contou sobre a experiência de fazer parte de um folhetim tão diferente. Confira o bate papo completo:

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Deus Salve o Rei é uma superprodução. Foram usados muitos efeitos especiais durante as gravações das cenas?

É a novela que mais usa tecnologia que eu já vi. Eu tenho um boneco feito em 3D, todo fotografado. Tem algumas imagens com o meu rosto que eu nem fiz a cena, foi toda feita em 3D, com computadores. É um trabalho genial.

Quais as cenas foram utilizaram esse boneco?

Em especial nas cenas de batalhas. Por exemplo, no primeiro capítulo foram feitas (cenas) inteiras em 3D com os nossos rostos, mas sem a gente ter feito nada, foi tudo gerado em computadores.

Você precisou de uma preparação especial para conseguir aguentar o peso das espadas e os esforços necessários para as cenas de guerras?

Não em especial. Eu faço muito teatro e tenho uma boa preparação física por causa disso.

Mas teve preparação para as expressões faciais nessas cenas?

A gente teve que fazer expressões para os computadores captarem separados, marcar as expressões para depois eles colocarem nos personagens que são feitos pelo computador. É uma tecnologia muito louca. A gente viajou vários dias a cavalo nos meios dos galpões, e, é tudo computação, a gente nunca sabia o que ia estar atrás. Depois colocaram cenários, precipícios, castelos, a gente contracena muito com efeitos visuais. Nunca no trabalho eu tive tanto isso.

Você já sabia que iriam ter grandes efeitos antes de começar as gravações da novela? 

Sabia sim. A gente grava a cena, um mês depois, vai assistir e tem fundo, efeitos. A edição fica incrível, é um trabalho inacreditável, uma experiência nova mesmo.

Está gostando de fazer uma novela de época? Você já tem uma bagagem gigantesca, mas as pessoas estão dizendo que Deus Salve o Rei, tem uma energia diferente. Você sente isso também?

Está sendo muito especial, isso aqui é muito inspirador. Eu tenho um filho de 7 anos, e, ele ver que o pai dele está sendo um cavaleiro medieval, lutando com lança e espada é muito divertido. Está sendo uma experiência inacreditável, todo mundo fica feliz, tomado por isso. Desde que Que Rei Sou Eu?, não se fazia uma novela medieval, que investe tanto no humor, na crônica. Então, eu acho que vai ser bem especial.

Então, você vai deixar seu filho assistir a novela. Ele já viu alguma cena?

Vou deixar sim. Ele já visitou o cenário da novela. Ele adorou ver. Ele foi na academia militar, viu os treinamentos, as lutas, pegou as armas. A espada que foi difícil dele segurar, eu acho que é mais pesada que ele, deve pesar uns 10 quilos.

Deus Salve o Rei
Cássio (Caio Blat) (Divulgação/ TV Globo)

É quase um grande estúdio dentro dos galpões de gravações, né?

Esse é um jeito diferente de fazer novela também, é um outro jeito de filmar. Os estúdios são fixos, então, os cenários têm muito mais realismo porque são feitos de pedras, cimentos. A gente grava com a luz do dia, que também é muito diferente, grava cedo. É inovação em todos os setores essa novela.

Você começou a fazer novelas muito jovem. Qual balanço você faz da sua trajetória? Chegou aonde você sonhou?

Cheguei! Eu acho que já que tenho que me aposentar, o balanço que eu faço é esse. Eu estou cansado, idoso, meio caquético, cada vez mais com dificuldade de decorar o texto, para lembrar os nomes dos filhos. Estou brincando. Eu amo o que faço, nem parece que eu trabalho. Eu venho para cá pelo prazer de trabalhar com essas pessoas. Cada vez mais as pessoas aqui na TV Globo são talentosas, generosas, e depois de trinta anos trabalhando, você já conhece todo mundo, encontra pessoas de outros elencos, faz uma família. Parece que eu estou sempre trabalhando por fé, por acreditar no que faço e por prazer.

Vocês chegaram a viajar para gravar alguma cena?

Não, para lugar nenhum. É tudo feito com um pano azul e depois eles colocam a Escócia, a Islândia…

No release tinham os lugares que foram gravadas as cenas. Então, os diretores foram para registrar a passagem de tempo da trama? 

Eles (diretores) foram e fizeram tudo, mas a gente não.

Você já gostava do universo medieval e das histórias que ele traz? Ou você não conhecia muito?

Eu lembro de livros muito importante dessa época que me marcaram muito como O Perfume, O Físico, que é um livro que li na minha adolescência, onde um menino fugia na época medieval com cavaleiros, atravessava reinos, então, foi uma coisa que me marcou muito na literatura. Mas eu não tinha nada especial, nunca vi Game of Thrones, nunca vi Vikings.

Nem Senhor dos Anéis?

Senhor dos Anéis eu adorava. Esse universo é muito bom, tem a magia, as lendas e tem a coisa dos cavaleiros medievais mesmo, de carregarem esse código de honra. Naquela época não existia instituições, então, eram os cavaleiros que carregavam a honra, os valores e protegiam os príncipes. Então, no fim das contas, os reinos se deviam ao valor moral dos seus príncipes e a força dos seus cavaleiros, dos seus exércitos.

Fale um pouco do seu personagem, o Cássio? 

Meu personagem foi um erro de escalação. Eu sou um chefe da guarda, o general do exército. Tem que usar armaduras, armas medievais pesadíssimas, espadas, lanças. Foi um erro de escalação na verdade, só repararam depois, aí eu já estava contratado e falaram: “deixa”. Mas quase tudo é no close, então, a gente acaba acreditando.

É muito pesado o figurino?

A roupa é muito pesada, é toda amarrada porque não existia zíper. Então, é tudo amarrado com cordões, tudo com muito couro, as armas são muito pesadas. A gente tem que se adaptar com isso, muda a nossa postura, jeito de andar.

O que te impressionou mais sobre os costumes das pessoas dessa época medieval?

Eu acho que é fascinante pensar nesse mundo, hoje a gente vive num muito tão tecnológico, tem tudo na palma da mão. Para mandar uma mensagem para um outro reino, o cara tinha que mandar um mensageiro e demorava meses para chegar com a resposta. O povo construía um aqueduto para tentar trazer água, que é uma coisa básica, e demora anos a construção. Volta um pouco no tempo, é uma sensação de precariedade, a civilização moderna ainda não existia, então, é divertido pensar nisso no ponto de vista histórico.

O seu personagem tem um par romântico?

No começo não. Depois, lá no meio da história, ele vai se envolver com a Amália (Marina Rui Barbosa), não sei como. Não me pergunte, pergunte ao autor. Porque ele (Cássio) é o melhor amigo do Afonso (Rômulo Estrela), braço direito do Afonso, cresceu com o Afonso. Vão lutar por reinos diferentes porque o Afonso está em Artena e ele fica como chefe da guarda de Montemor. Então, eles acabam se enfrentando e, em algum momento, passam a disputar o amor da Amália.

O Brasil é o país que mais mata trans e homossexuais e o seu personagem André, em Liberdade, Liberdade, levantou uma bandeira. Qual a importância desse personagem para você?

Foi muito importante o André, e toda uma série de personagens que estão se tornando cada vez mais comuns, menos estereotipados para humanizar todos os setores da sociedade. Eles, realmente, são vítimas preferenciais de violência, discriminação. A homofobia é um crime indiscutível, imperdoável. Então, toda vez que a gente pode fazer uma boa dramaturgia, cenas boas e ao mesmo tempo estar trabalhando para trazer mais informação e quebrando tabus na sociedade é melhor.

Você emite muitas opiniões nas redes sociais. Então, eu quero saber como está o Brasil do Caio Blat?

O Brasil está de pernas para o ar, bagunçado. Eu acho que o Brasil está conflagrado, mas eu acho que o Brasil precisa voltar a dialogar para criar um novo projeto para o futuro. O país ficou muito dividido, muito bagunçado. A economia está aos poucos voltando, ainda tem muita gente desempregada. Eu acho bom quanto mais gente corrupta for presa e quanto mais renovação na política. Que o Brasil não se torne um país dividido, que a gente possa dialogar e criar uma terceira via, uma nova perspectiva para o futuro do país e da política.

O seu personagem tem a ética como um ponto forte, né?

Ele é o cavaleiro. Eu acho que nessa época carregava mesmo os valores de um reino, eram esses cavaleiros que protegiam os príncipes, que tinham uma grande moral, que eram exemplos da sociedade. Eles recebiam do povo armas, animais, era tudo organizado. Eu cheguei a ler uns textos medievais muito bonitos sobre a ordem dos cavaleiros, textos da Catalunha do século XII e XIII, e eles falam que os reinos precisavam se proteger. Então, de cada mil homens, um se tornava cavaleiro, que era o mais sábio, mais nobre, o mais ético e com mais moral. Aí esse homem recebia as armas, animais, tudo que precisasse para defender o povo, o reino, os príncipes. Assim que eram eleitos os cavaleiros, é legal pesquisar essa história.

A trama vai ter humor?

É uma palhaçada a novela, eu que destoou com essa moral toda (risos). É uma palhaçada, o reino está todo de pernas para o ar: o príncipe largou tudo porque se apaixonou, a rainha está invalida quase morrendo, o outro nunca pensou em ser rei, foi criado como um playboy, nunca teve responsabilidade nenhuma, ele olha o mapa do rei e nem sabe onde está a capital. O reino está completamente perdido e eu tenho que segurar a onda disso tudo. Acho que sou o único personagem sério da novela inteira.

O seu filho pensa em seguir a profissão de ator? Já fala alguma coisa sobre a carreira do pai?

Não, espero que não. Espero que ele nem fale disso.

Você nunca deixou ele assistir novela?

Nunca deixei ver nenhuma. Ele era muito pequeno, agora está com 7 anos, e eu acho que essa vai ser uma que ele vai poder ver, vai curtir. Ele está esperando, viu as chamadas, enfim. Uma novela com a Tatá, você acha que tem alguma coisa séria em uma novela com a Tatá? Fala sério!

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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