Prestes a ser assassinado em O Outro Lado do Paraíso, Raphael Vianna fala de seu personagem

Publicado em 14/12/2017

Raphael Vianna está feliz da vida. Seu personagem Laerte em O Outro Lado do Paraíso, está dando o que falar. Ambicioso, o rapaz que é segurança do bordel Love Chic, está investigando o passado de Duda, personagem de Gloria Pires, para entender o que a dona do local esconde. Em conversa com o Observatório da Televisão, o ator teceu elogios à Gloria, e se disse extremamente feliz por contracenar com um elenco com tamanha experiência que inclui ainda Marieta Severo, Lima Duarte, Fernanda Montenegro e Laura Cardoso. Confira o bate papo completo:

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Como está sendo essa sua volta à Globo?

Eu estou muito feliz com esse trabalho. Quando a Bruna Bueno me ligou para gravar uma cena para esse personagem, eu fiquei muito interessado no texto. E depois, quando eu recebi a notícia de que ia fazer, fiquei muito feliz. Estou voltando a trabalhar aqui na Globo, em uma novela das oito, em uma novela do Walcyr e com direção do Mauro Mendonça, que são dois profissionais que eu admiro muito, sou fã do trabalho. E poder trabalhar em uma novela com um elenco maravilhoso, ter a Glória Pires (Duda) como parceira em cena, que é uma atriz que eu sou muito fã, me deixa muito feliz. A gente está fazendo um trabalho bem gostoso.

O seu personagem Laerte está no ar há pouco tempo, mas já está deixando todo mundo com muita raiva. Você já escutou, leu algum comentário sobre ele?

Sim! A internet atrai essa possibilidade de retorno imediato, então, eu sempre tento, logo depois de acabar a novela, eu dou uma olhada no que estão falando, como o público está reagindo, e é bom essa resposta imediata. As opiniões variam um pouco, mas eu sinto que as pessoas estão torcendo para que aconteça alguma coisa entre os dois. Que bom que o personagem chegou e está provocando isso nas pessoas.

Como você enxerga o Laerte? Por que ele é um vilão, né?

Você que está dizendo. O Laerte é esse homem solitário, esse segurança do bordel que está em busca de dinheiro e quando vê a chegada dessa mulher, que é uma mulher que não tem as mesmas características das outras moças, percebe que ela não pertence àquela turma. Ele fica curioso, intrigado com essa mulher e começa a querer ir atrás dela para saber de onde veio esse dinheiro, se de onde veio tem mais. Esse é um momento em que ele está investigando ela.

Eles irão iniciar um romance? O Laerte vai virar um amante da Duda?

Quem te contou isso? Como você sabe? (risos). O Laerte está fazendo essa investida, já tentou agarrar ela e roubar um beijo, e ela já mostrou que não vai ser fácil. Mas, eu acho que ele não vai desistir, ele vai continuar investindo, até porque ele quer conhecer essa mulher. Laerte vai continuar insistindo em descobrir mais sobre a vida da Duda e em conhecer mais ela.

Você acha que o personagem sente um desejo pela Duda? Ou tudo não passa de ambição?

Essa é uma boa pergunta, muito boa pergunta. Eu acho que o start disso pode ser o interesse, eu não sei se depois disso, isso se transforma. Por ele ser um cara solitário, ela está em um momento da vida dela onde é uma mulher solitária, então, eu não sei se isso muda. E quando eu falo que não sei, é sobre a história mesmo. A princípio, você vê que é pelo interesse, mas pode acontecer da pessoa se envolver, de começar por uma coisa e depois da convivência, da companhia, da coisa diária do trabalho, no ambiente de solidão, é possível ir para um outro patamar. Eu não sei como vai ser o desenrolar disso.

O Laerte vai chantagear a Duda porque descobre que ela se fingiu de morta. Você acha que um homem desse pode ter salvação? Pode virar príncipe?

Isso eu não sabia, de verdade. Até onde eu sei, ele descobre o passado. Olha lá, você está jogando pista falsa aqui (risos). Mas vamos lá, eu acho.

Esse personagem também guarda um segredo do passado?

É um personagem que tem um mistério. Eu super acredito que ele tem um segredo guardado, até porque a gente não fala muito do passado dele. Então, a qualquer momento, uma coisa pode vir à tona. O personagem tem essa abertura.

O Laerte também vai mexer com fogo ao descobrir que a Sofia era uma prostituta. E pelo que já anda circulando na internet, lá na frente, a Sofia vai armar para ele. Comenta um pouquinho sobre isso…

Isso eu ainda não vi. Mas, eu vi várias coisas na imprensa, na internet, e que me deixaram impressionado. De verdade, eu não sei o que vai acontecer. Eu só sei o que eu já li.

E pelo o que você já leu, você acha que ele é um vilão?

Eu acho que ele é um cara ambicioso, misterioso, solitário. Agora, se ele é um vilão? Eu não sei. Pode ser. Se eu colocar ele como vilão de cara, eu acho que vou limitar, de repente, desse cara ser afetado, transformar esse cara. Mas assim, a gente está falando de leitura e de impressão, da forma como vem sendo conduzida a história, ainda está em aberto todas essas questões.

Como é para você, um cara super gente boa, construir um cara dúbio? Ele é meio um Dexter, né? 

Maravilhoso, mas que tem alguma coisa por trás.

O público só está vendo a primeira face dele?

Exatamente. Eu acho que o ser humano tem todos os sentimentos, todos estados. Quando você, de repente, leva uma fechada no trânsito, vem uma coisa mais quente em você. E, talvez, por você ser uma pessoa que tem uma consciência, uma autoanálise, fica mais calmo. No nosso dia a dia, vêm temperamentos que não são seus, mas que vêm. Pode ter certeza que eu tenho tudo aqui. Eu sou uma pessoa doce, mas tenho referências de outros universos, e é isso que a gente empresta aos personagens. O Laerte tem essa coisa do mistério, da rudez, e eu tive referências disso na minha vida. Eu venho do interior, do mato, tenho essa referência da terra, do chão, e isso tudo alimenta a gente. Fora a referência de trabalho que a gente tem para usar como estudo, como elemento e como alimento. A gente teve duas semanas de preparação antes de começar a gravação, onde a gente pôde experimentar coisas e foi bem interessante, muito bacana. O Laerte é um personagem muito rico.

Como você criou as suas referências para o ambiente de bordel? Ele pode ser um ambiente pesado, misterioso. Tem várias possibilidades ali?

Eu já conversei com algumas pessoas que viveram em um bordel. Eu fiz um filme que a trilha sonora era do Zé Ramalho, e ele fala disso. O Zé Ramalho cresceu num bordel. É um ambiente, às vezes, muito diferente do que a gente imagina. Tem um carinho, um grande afeto entre aquelas meninas. As pessoas têm uma coisa de estar junto no mesmo barco, de um se confortar no outro. Tem casos de homens que se apaixonaram por uma prostituta. Amor, um grande afeto não é muito do controle racional, é dos outros elementos que a gente carrega e gera encontros.

Como é para você voltar à Globo em um master class, com Fernanda Montenegro, Laura Cardoso Glória Pires, Marieta Severo?

É uma maravilha! Eu já tinha trabalhado com o Lima Duarte, ele fez o meu pai em Araguaia (2010), na minha estreia na Globo. Com Dona Laura, eu também já tinha trabalhado. É sempre bom quando você tem esses atores em uma mesma novela, porque é bom observar eles. Eu estou impressionado com a Glória, eu nunca tinha trabalho com ela. Claro, eu já era fã do trabalho dela, mas uma coisa é você assistir ao trabalho e outra coisa é contracenar. Você como ator, observar a construção de um outro ator, principalmente uma atriz que tem um repertório e trajetória incríveis, é muito rico.

Dá um frio na barriga quando você entra em cena com eles?

Claro, toda vez. Mas, você tem que guardar isso num cantinho dentro de você e ir para o jogo defender o teu personagem, contar a tua história. Trocar, jogar com esse ator, essa atriz, que você admira e que tem uma grande bagagem, uma grande trajetória, senão, você fica espectador e perde o seu personagem.

Como é trabalhar com alguém que você já admirava no passado como espectador?

É mágico, mas é engraçado. Eu acho que certos atores, certas atrizes, que têm essa grande trajetória, que a gente já viu muitos personagens emblemáticos e nos marcaram, eles, de certa forma, também se tornam muito próximos da gente. A pessoa não conhece o ator, só conhece o trabalho e chega com uma intimidade. Parece que quando você vai para o jogo, você está mais íntimo. Quando você vira essa chave, você acessa um lugar que te ajuda.

O que mais te chama atenção na Glória artisticamente?

Talvez de outro ator eu pudesse dar uma característica específica. Ela é difícil. Ela vem e está ali. Por exemplo, quando a gente vai bater uma cena, ela já me dá um caminho de condução que é muito bacana.

Fernanda Montenegro fala que o bom ator começa no teatro, e a Glória nunca fez teatro, ela é da televisão. Você vê que ela é um pouco autodidata?

A gente tem exemplos de pessoas que não passaram pelo teatro, que a história é da televisão. Às vezes, um ator que é bom no teatro, vai fazer televisão e não consegue fazer tão bem quanto faz no teatro. São veículo diferentes.

Você tem uma certa insegurança ao ver a Glória gravar uma cena de primeira? Já aconteceu de você esquecer o texto na hora do ‘gravando’?

Decorar o texto é o primeiro trabalho, se não decorou o texto, está faltando muita coisa. Em relação a isso, eu não me preocupo. Pode eventualmente esquecer alguma coisa, mas eu sempre venho muito preparado, muito estudado. Mas isso pode acontecer, o ator é um ser humano. Tem as cenas do bordel com todo mundo, mas está tendo muita cena só ele e ela, e são cenas de desenrolar, onde tem muito material para trabalhar como ator.

Voltando para a característica da ambição do personagem. Você é um ator que já tem uma trajetória, mas não deixa de ser um jovem ator. Então, como você lida com a ambição? Aonde você quer chegar?

Eu comecei a fazer teatro com 15 anos. Quando eu subi no palco pela primeira vez em um espetáculo, eu tenho até hoje, muito claro na minha cabeça e na minha emoção, a sensação que eu senti estando em cena. E quando eu fiz o meu primeiro espetáculo, foi antes de decidir o que eu ia fazer da minha vida. Eu comecei a fazer teatro porque eu era muito tímido e era uma ferramenta para me ajudar na minha vida. Naquele primeiro espetáculo, eu tive a certeza do que eu ia fazer pelo resto da minha vida, tive muita essa convicção. Tanto que quando chegou o momento do vestibular, eu fui conversar com a minha família e falei que ia fazer Artes Cênicas. O meu intuito sempre foi trabalhar. Eu acho que o nosso mercado tem muito ator e muitas atrizes. É um mercado muito grande, onde todo ano chegam mais 300 formandos, e não consegue absorver tudo isso. Eu me formei na CAL (Casa das Artes de Laranjeira) e depois fui fazer a Faculdade de Artes Cênicas, e a quantidade de atores que eu conheci e que não conseguiram ser absorvidos pelo mercado é muito grande.

Não existe a ambição pelo dinheiro como o personagem?

Não, fora desse lugar. Eu faço parte de uma companhia de teatro há 12 anos, chamada Companhia de Teatro Íntimo. E fazer teatro em Companhia no Rio de Janeiro, num momento político-econômico difícil para a cultura, a única coisa que você quer é trabalhar, é fazer sua arte. Se a gente for conversar financeiramente, você vai ver que não é isso. Está longe de ser isso.

É difícil se manter em cena e a gente perceber que, muitas vezes, a beleza não segura carreira. Você já sofreu algum preconceito por ter uma aparência boa?

Eu acho que não. Não me lembro de nada agora para te dizer assim. Quando eu fiz a minha primeira novela aqui na Globo, que foi Araguaia, começou essa coisa de galã. Eu entendi que as pessoas olham, não necessariamente é bonito, é interessante, charmoso, mas te colocam nessa prateleira do galã. Muitas vezes, as pessoas falam limitando e não é para limitar. Depois de Araguaia, eu fiz mais quatro trabalhos na Globo, já trabalhei também em outros canais de TV aberta e TV fechada. Graças a Deus, eu estou sempre trabalhando no teatro, no cinema ou na televisão, e isso é sempre o meu desejo maior. Eu tenho uma vontade de trabalhar em uma outra língua. Fui para a Argentina, fiquei lá um tempo vendo cinema argentino, teatro argentino. A gente tem um mercado de audiovisual que vem crescendo muito nesse intercâmbio Brasil com os nossos países vizinhos no cinema, TV e teatro, então, seria um desejo de, em algum momento, poder fazer alguma coisa.

Você suspeita de alguém por trás do misterioso sócio do bordel? Qual seria o seu palpite?

O meu é o juiz Gustavo, personagem do ator Luis Melo, porque ele gosta de bastante sexo com a mulher, a Nádia (Eliane Giardini), e ele também é um homem muito poderoso.

Se duvidar, nem o Walcyr sabe ainda quem é o sócio, né?

Ele é gênio. A forma como ele conduz as histórias eu fico impressionado.

Não passou mais ninguém pela sua cabeça? Para você é o juiz mesmo?

Normalmente, se a gente for pesquisar por aí, esses lugares sempre têm alguém ligado ao controle das leis, das regras, da política. É sempre alguém poderoso, dentro da esfera do poder.

Você citou a solidão como uma característica do seu personagem. Você tem medo da solidão?

Solidão e solitário são coisas diferentes. Eu acho que ele é solitário. Eu sou sagitariano, e o Sagitário tem muito essa coisa de viajante, sabe? Um pouco dessa coisa do Laerte, desse cara que você não sabe de onde veio, essa coisa do andarilho. A solidão já um sentimento. Eu gosto, mas, ao mesmo tempo, eu sou super dos meus amigos. Às vezes eu viajo sozinho. Às vezes viajo com o grupo e quando, teoricamente, termina a viagem, me dá uma vontade de ir para outro lugar.

O que você está fazendo para ficar sempre mais bonito?

Você sempre com essa simpatia e com essa alegria, eu sinto saudade disso. Eu estou feliz. Feliz com o trabalho, de voltar a fazer uma novela aqui na Globo. Estou feliz com os meus parceiros de cena, reencontrando amigos. Feliz com o personagem, com a história, com o resultado que a gente já está tendo com esse período da segunda fase da novela. Eu acho que é isso.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano.

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