Sérgio Guizé opina sobre Gael, seu personagem em O Outro Lado do Paraíso: “Intenso, pautado pelo amor”

Publicado em 17/10/2017

Sérgio Guizé estará na próxima novela das 21h, O Outro Lado do Paraíso. Gael, seu personagem é um homem mimado pela mãe, Sophia, personagem de Marieta Severo. Ele se apaixonará por Clara (Bianca Bin), mas por ciúme e possessão será violento com a moça após o casamento. O ator, em conversa com o Observatório da Televisão, defendeu o personagem e tirou dele o rótulo de vilão. Confira:

Conta para a gente um pouco sobre esse vilão em O Outro Lado do Paraíso.

A trajetória dele não é essa. Ele é de uma família muita rica de Palmas, um herdeiro de uma família de mulheres que o criaram para ser o homem da casa, mas na verdade é um filhinho de papai sem papai, e apronta muito com o dinheiro da família. Faz muita coisa errada até conhecer o amor, e a partir daí a trajetória dele vai ser pautada pelo amor. Vão acontecer muitas coisas. A trama da novela fala muito do racismo, preconceito, homofobia, feminismo, temas polêmicos mas necessários para se discutir nesse momento. Ele não é o vilão que todos estão esperando. A grande vilã é mesmo a Sophia (Marieta Severo) mãe dele. Ele é apenas um refém dela, e desse veneno que ela tem e que pinga na família, e na novela inteira.

Você já está defendendo seu personagem não é?

Infelizmente não, porque defendê-lo seria mais fácil.

Na descrição do personagem diz que ele tem desconfiança das armações da mãe. Até que ponto ele sabe sobre os planos dela?

Acho que ele não percebe, pelo menos no início. A mãe é muito sofisticada na vilania, e os filhos são manipulados por ela, que tem muita ganancia de poder. Ela é um tipo de mulher que faz de tudo para estar no poder, no topo da pirâmide, se é que existe esse tipo de hierarquia. Os filhos não percebem.

Você já disse que não se pauta pela audiência e pela emoção do seu trabalho. Você sente a pressão de vir depois de um sucesso como A Força do Querer?

Acho que audiência é muito importante sim, porque quer dizer que o maior numero de pessoas está assistindo. Às vezes quando falamos não importar é porque o trabalho em si é muito difícil, e faz com que a gente não consiga parar para pensar em como as pessoas estão enxergando aquilo. Procuro sempre olhar para dentro para criar uma trajetória verossímil a este personagem. A novela não estreou ainda e aí não tem como saber, mas esperamos que a novela seja um sucesso porque está sendo feita com amor e dedicação. O que vejo é muita gente apaixonada pelo trabalho, direção, equipe, atores maravilhosos com os quais estou tendo a honra de trabalhar. Depois a gente se preocupa com a audiência, mas no momento todo mundo corre atrás de contar essa história da melhor forma.

É o seu primeiro bad boy. Você fez alguma preparação?

Acho que todo personagem tem sua preparação, e acabamos somando aos personagens anteriores. A novela tem isso, de juntar atores diferentes, cada um de uma escola diferente, de lugares diferentes, e durante dois meses nos conhecemos pra aproveitar melhor essa troca. Conhecer os outros sotaques, as outras experiências, e essa foi a melhor preparação, porque criamos os personagens juntos. É um jogo bem gostoso, e essa preparação de conhecer a estrutura da história, do projeto, e poder tirar o melhor dos outros personagens. Meu personagem não seria o mesmo se eu não tivesse a relação que hoje tenho com a Marieta.

O Gael é um personagem complexo. É um agressor, acha que o amor é posse. Como você constrói essa pessoa?

É um personagem intenso pautado pelo amor, acho que ele tem esses surtos por conta da criação que teve, para ser o homem, o provedor, e quando ele conhece o amor, ele percebe que é o amor é “viva e deixa viver”. O difícil é manter essa filosofia no mesmo nível quando ele está magoado, porque as explosões dele vêm daí. Ele ama muito essa mulher, mas é capaz de explodir com ela devido a relação que ele tem com o mundo.

É mais difícil interpretar um homem que bate em uma mulher?

Ele é explosivo, mas até agora não fiz nenhuma cena dele batendo em nenhuma mulher. Eu não quero ser odiado. Eu acho que vocês tem algo sobre o personagem que eu não tenho, o que eu já gravei é que ele não consegue se expressar, é um personagem muito complexo, as cenas de violências que gravei foram com vários homens, não com mulheres.

Você acha que ele é arcaico?

Acho que ele é refém de sua cultura. É uma coisa de “Faça você mesmo”, “defenda sua mulher, sua casa, sua família, seu nome”. “Olha, você não pode ser uma vergonha. Outro homem não pode falar assim com você”. É mais o ego dele de tentar provar o que ele poder ser, que ele acaba cometendo alguns erros, que é alimentado pela mãe. Ela o  manipula. Eu não estou preparado para ser odiado mesmo. Mas sei que ele não vai ser amor puro como era meu personagem em Êta Mundo Bom.

Você foi o protagonista de Êta Mundo Bom, também escrita pelo Walcyr Carrasco. Como é sua parceria com ele?

Eu acho que o bacana é que eu confio no trabalho dele e ele no meu, por isso me chamou. O que me surpreendeu é que existem muitos focos de conflito na trama toda. Vou lendo e ficando surpreso, às vezes até me esqueço que era ele quem tinha escrito o Candinho. Um escritor empresta uma parte de si muito importante para o personagem.

O Walcyr já fez a gente amar o Félix, que inicialmente era um vilão. Será que vamos conseguir amar o Gael também?

Tomara.

Você também tem uma carreira de cantor. Gravando a novela todos os dias, como fica?

Eu na verdade nem sei o que é isso de carreira, eu vou fazendo. A banda faz parte da minha história. Acabamos de gravar um disco que vai ser lançado não sei quando. Eles continuam tocando, quando der para eu tocar, eu vou e quando não der, eles estarão lá tocando. O Tio Che tem vida própria.

Sua carreira na televisão é relativamente nova, e você já está numa novela das 21h. Qual o balanço você faz da sua carreira?

Eu trabalho há 20 anos como ator, e acho que as coisas são do jeito que tem que ser. Eu não parei para pensar em nada do passado. Estou muito preocupado com a nossa estreia, e focado. Acho que vai ser lindo, e não consigo dar mais importância para uma coisa e menos para outra. Às vezes tenho que colocar a cabeça no lugar e pensar “calma, tá tudo bem”. Todo dia tenho frio na barriga e fico desesperando pensando “Será que estou fazendo certo?”, a sorte é que estou muito bem amparado.

*Entrevista feita pela jornalista Núcia Ferreira. 

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