“Para ter dinheiro ela faz qualquer coisa”, define Marieta Severo sobre Sophia, vilã de O Outro Lado do Paraíso

Publicado em 15/10/2017

Depois de viver Fanny, dona de uma agência de modelos em Verdades Secretas, Marieta Severo será Sophia em O Outro Lado do Paraíso. Em entrevista ao Observatório da Televisão, a veterana contou detalhes de sua personagem e a definiu como uma mulher ambiciosa, que faz de tudo para alcançar seus objetivos. Confira:

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Como está sendo esse seu retorno as novelas das 9?

Eu fico sempre com saudade de trabalhar, independente do horário. Eu posso estar em qualquer horário que eu estou feliz. Claro que eu sinto que existe uma expectativa em torno desse horário em questão, que é chamado de horário nobre. É o momento que tem mais gente em casa assistindo. Então existe essa expectativa. Eu sempre tive e tenho cada vez mais uma capacidade de trabalhar fora dessas expectativas. Elas estão por ai. Mas não estão aqui em mim. Eu quero sempre fazer o meu trabalho da melhor maneira possível. Um personagem novo sempre vai mexer com as suas inseguranças, será que vai dar certo?; Ai, meu Deus, será que é um bom caminho?; Nessa coisa da criação que e assim mesmo. Que é inquieta. Eu sei que eu tenho todos os elementos de segurança a minha volta, é o que me interessa (equipe). Enfim.

É uma personagem bem extrema, né?

Eu acho essa personagem o retrato da nossa época. Ela é muito moderna, ela é de uma atualidade extrema. O grande valor da vida dela é o poder do dinheiro. Para ter o dinheiro, ela faz qualquer coisa. Ela é ambiciosa. Ela acha que o dinheiro é o valor absoluto na vida. Você reconhece isso em algum lugar. Não tem nada mais assustador que a realidade hoje em dia. A ficção não consegue chegar aos pés da realidade. A realidade está avassaladora. O ser humano está fechando o horizonte. Uma pena!

A Sophia é a grande vilã da trama?

O negócio é o seguinte, eu não consigo fazer um personagem se ela é vilã ou não. Se ela tem responsabilidade dela ser uma grande, uma media, ou uma grande vilã. Isso realmente não faz parte. Eu não penso em nenhum minuto nisso. Eu penso no seguinte: Que mulher é essa mulher?;  Quem é essa Sophia? ; Quais são os valores da vida dela?; Como ela pensa?; Quem ela é?; etc. Essas coisas, pra você criar uma pessoa, né? Afinal das contas, um personagem nada mais é, do que uma pessoa. Eu sei que ela é uma mulher com poucos escrúpulos. Ela é muito inescrupulosa. É uma mulher que os valores de vida dela são todos em função do dinheiro, do poder financeiro, que ela acredita nisso. Ela acredita que nada a impede que ela chegue aos objetivos dela. Se tem que comprar gente no caminho, ela compra, se tem que subornar, ela suborna. Enfim. Eu não sei até onde ela vai. Vai depender do Walcyr Carrasco. Mas ela é uma mulher assim. Basicamente é isso. Uma mulher do centro do Brasil, que tem poder, que tem dinheiro, quem tem uma ascendência sobre essa sociedade local, que é imitada ali. Que é meio modelo. Eu penso nessas coisas. Como ela é com esses filhos. Que tipo de mãe ela é?; né?. Ela é uma mulher que tem uma filha anã, que nega isso. Quer dizer, eu não sei se ela é uma vilã. Que ela não é uma fofinha, ela não é. Então é isso.

Ela não vai ser tão adorada como foi suas ultimas personagens, né?

Tem impressão que a Fanny de ‘Verdades Secretas’, perto Sophia é coisa pequena. O que a Fanny fazia ali só era prostituir aquelas meninas. Ela ajudava aquelas meninas a comprar o apartamento e tudo mais. Mais ela não era tão ilimitada como me parece a Sophia. A Sophia me parece um personagem sem limites. É aquele tipo de pessoa que para chegar aonde quer, não ver problema no caminho. Não a nada que a retenha. Que vá impedi-la de chegar aonde ela quer. Sabe?. É isso.

Você consegue ver algo bom nela?

Ela ama os filhos, do jeito dela. Ela vive em função dessa família, ela usa a família como pretexto para ter esse dinheiro (da exploração das pedras). Ela quer manter esse status, dentro dos valores dela, ela acha que está agindo em função da família e dos filhos. Vocês também vão ver como que são esses filhos. É uma família um tanto que disfuncional, o que me parece.

A trama vai substituir um novelão de Gloria Perez…Depois de vários fracassos, né?

As novelas não foram tão bem, assim de público. Um sucesso e um fracasso não se medem pela audiência. Tem novelas fantásticas, de alta qualidade artística, que não caíram muito no gosto do público. O gosto do público é um indicie. É claro, que numa televisão, numa empresa e tal, isso conta muito. Mas acho que para nós que fazemos, não tem que ser um dado absoluto. A gente brinca muito com isso. A gente está entrando depois de um sucesso avassalador da Gloria Perez, maravilhoso em todos os sentidos. É uma novela que abordou temas atualíssimos. Sem falar na criatividade da Gloria, na humanidade dela. Enfim… É um novelão! É claro que é uma responsabilidade grande substituir essa trama. Mas é muito bom, que a gente entra com um público muito aquecido. Muito voltado para a novela. Eles entregam também a peteca pra gente lá no alto. Eles entregam a bola maravilhosa. A gente está fazendo tudo para poder honrar isso. Agora o que vai acontecer, eu particularmente, me preocupo com o trabalho. Eu sei que tenho um autor de primeira, diretores incríveis, de um empenho sensacional. Além do elenco delicioso, forte. Ai vamos nós. Dar certo ou não, ai é outra história. Eu particularmente penso pouco nisso.

Você assiste ‘A Força do Querer’?

Assisto! Eu acompanho a novela quase toda. Eu adoro a Gloria. Eu tenho particular carinho por ela, e admiração. Mas tenho acompanhado essa reta final sim.

Você trabalhando aqui na empresa, não tem vontade de saber spoiler da trama da Gloria?

Eu nem sei direito o que é spoiler (revelações do enredo de obras como filmes e livros.). Eu adoro a surpresa. Eu não quero que me contem nada.

O que marcou você em relação a essa trama da Gloria?

Eu acho que a Gloria foi por vários caminhos. O assunto trans me comoveu muito. A maneira como ela conduziu isso, a maneira como ela colocou o publico dentro das emoções desse personagem. É tão importante isso, nesse momento atual que estamos passando. A gente está vivendo um momento tão careta. Tão careta, tão retrógrado, tão de fechamento. Né? Então de repente, ela ter colocado não racionalmente o tema, mas ter colocado por dentro do humano. É lindo. Fora as outras histórias que eu gosto. Você pediu para eu escolher, eu escolhi essa.

É uma pressão gostosa substituir essa trama?

Eles vão entregar pra gente, um público aquecido. Apaixonados por novelas mais uma vez. Então é tudo muito positivo.

O que você esta achando dessa censura à arte?

Isso é de uma tristeza inenarrável. Eu não tenho mais idade para passar por isso de novo, gente! Eu tenho 70 anos, pelo amor de Deus! O que é isso? A gente viveu isso na Ditadura. É horrível você viver com censura. Não vamos brincar com isso, pelo amor de Deus. É muito grave, é muito sério. É horrível o espaço que essas pessoas retrógradas, caretas, de mentes fechadas, o espaço que eles estão tendo de fechar uma exposição. O que é isso? Isso é revoltante. Isso não pode existir. Não vá! Como a televisão, não gosta, muda de canal, malandro. Vai ver outra coisa. É assustador. Para mim, é um motivo de tristeza, de medo, de pânico. De pensar que a gente está andando para trás. E tem um pessoal jovem regredindo. Eu acho que com 50 anos, eles vão estar doidões. Tudo pelado no meio da rua.

Qual é o outro lado do seu paraíso?

Ai, Jesus, que pergunta difícil. Meu outro lado do meu paraíso é pensar que o meu país está andando para trás. É isso. Juro por Deus, isso está sendo o meu inferno. O outro lado do paraíso é o inferno. Esse é o meu inferno.

*Entrevista feita pela jornalista Núcia Ferreira. 

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