Marcelo Adnet fala sobre a segunda temporada do Adnight: “A segunda vez é melhor que a primeira”

Publicado em 25/10/2017

Marcelo Adnet está de volta à TV. Na noite da próxima quinta-feira (26) estreia a segunda temporada de seu programa, o Adnight, que agora recebe o título de Adnight Show. Após reformulação, a atração deixa de ser um talk show e passa a ser um grande palco para diversas formas de entretenimento, com musicais, esquetes, e muitas curiosidades sobre os artistas convidados. Durante coletiva para apresentação da nova temporada o apresentador falou sobre sua trajetória, e novidades do programa:

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Como foi planejada essa mudança de Adnight para Adnight Show?

Eu me sinto fazendo novas descobertas aqui na Globo. Lá no início passei pelo Dentista Mascarado, fiz quadros no Fantástico, o Tá no Ar que conseguiu se estabelecer e sinto esse mesmo movimento com o Adnight que começamos ano passado e esse ano estamos avançando. A gente não entende o que está acontecendo no Brasil, e ninguém sabe o que vai acontecer ano que vem. Outro dia ouvi um analista dizendo que era normal se sentir desorientado porque ele estudou isso e não fazia a menor ideia do que estava acontecendo, e nós aqui no programa estamos igualzinho. É interessante trabalhar comunicação num momento tão confuso, que sabemos tão pouco do que está acontecendo no país.

Como é a rotina de gravações?

Gravamos dois programas no palco no mesmo dia, e está sendo um exercício muito gostoso. Mudamos muita coisa, mas muita coisa mantivemos. Parte da redação, parte da equipe foi mantida. O Juliano Enrico continua como meu assistente, temos o Fly também que dirige, dança, me dá bronca, leva bronca, faz café (risos), eu busco imagens constrangedoras dele na internet (risos). Estamos aumentando a família deste programa, que está renovado.

A participação dos artistas não se limita mais a uma conversa como num talk show convencional não…

Sim. Eu coloquei o microfone na mão da Fernanda Gentil e falei “Você pode fazer o que você quiser”, e ela foi incrível. As pessoas que a gente acha que conhece, na verdade a gente não conhece. Eu tava no palco com a Carolina Dieckmann e ela disse “Eu toco Ukulele”, saí correndo pra pegar um para ela tocar.

Você se sente mais solto nesse novo formato?

Estamos fazendo um programa que nem conseguimos definir direito. É um talk show? Não é. A comunicação muda e a gente vai descobrindo, testando novas possibilidades. Tem coisas que gosto muito de fazer que estão presentes aqui como humor, conversa, esquetes, então juntamos todas essas coisas e estou muito feliz pela oportunidade de receber tanta gente e ver as pessoas felizes. Fiz um improviso pra Marisa Orth, tava até meio envergonhado achando tudo meia boca, quando olhei pro lado ela tava quase chorando (risos). A gente faz porque gosta, e as pessoas também estão vindo porque gostam, e mostrando um outro lado delas. O Malvino Salvador por exemplo, se formou em contabilidade, foi contador, aí ficamos imaginando se na hora de pagar a conta ele faz uma fórmula de Bhaskara ou se na hora de dividir a conta no bar com os amigos ele faz um cálculo maluco. Temos muito isso agora de conhecer o lado, B, C e D de artistas que antes não imaginávamos.

Na outra temporada você disse que estava aprendendo o que era apresentar o Adnight…

A gente ganha experiência, até porque mal ou bem, eu nunca tinha apresentado um programa assim com auditório. Na MTV, tinha feito o Adnet ao vivo mas não tinha plateia. Para mim o Adnight é uma experiência nova, e estava fazendo algo pela primeira vez, entendendo, vendo isso no ar, e agora sabemos mais onde estamos pisando, e estou buscando lugares onde fico mais solto e me deixam mais feliz, como falar com a plateia, enlouquecer os diretores (risos). A segunda vez é melhor que a primeira.

Como você está vivendo o humor numa sociedade cada vez mais encaretada?

Esse é um assunto interessante. Eu tinha tomado decisão de não falar sobre isso em nada na minha vida porque é muito cruel. Vemos pessoas que muitas vezes são apenas pessoas ligadas a arte que foram alguma vez dar sua opinião sobre algo e foram taxadas de comunistas, comedoras de crianças, sem coração, ou o que for, então preferia não falar muito até um ano atrás. Vivemos um fenômeno cruel que as pessoas que mais crescem no Brasil em popularidade, são pessoas ligadas a nada, pessoas que ignoram qualquer assunto político, e vivem somente floreamentos. A nova geração diz: “Quem é Caetano Veloso? Ele não é ninguém”. Fenômeno é a menina da internet que malha e a bunda só tem 2% de gordura, que em dois supinos superou a popularidade do Tom Jobim, que foi superado até por uma marmita fitness. Eu comecei a perceber que quando eu opinava sobre alguma coisa, gerava um desconforto, quase uma rejeição, então eu tinha decidido ficar calado. Agora acho que chegamos num momento tão grave, que coisas tão absurdas começam a acontecer, que acho que ficar calado é um irresponsabilidade. Ah, vamos relaxar o trabalho escravo? Isso não rola, não pode. Outro dia falei sobre a exposição do MAM, conversei com as pessoas que estavam me xingando, outras me elogiando, e acho que precisa existir um diálogo. No programa a gente fala sobre política, brincando, claro que não vamos parar o programa para fazer um tratado político por 10 minutos, mas falamos sobre esses assuntos e nos alimentamos disso.

Você teme alguma coisa com esse aspecto político? Porque a Monica Iozzi foi processada pelo Gilmar Mendes por falar sobre ele numa rede social.

Não temo porque eu não vou chegar na tela e falar diretamente com o ministro do supremo. É uma coisa estranhíssima uma comediante ser processada por um ministro, não conheço a história a fundo, mas temo pela sociedade porque a gente começa a apagar o passado, com a internet chegando e essa nova geração que não sabe muita coisa. “Ditadura militar? Não existiu isso, isso foi um contragolpe”. A gente começa a reler a história de outra forma. Meu tio por exemplo, foi preso, desapareceu por 45 dias, tomava choque elétrico toda manhã sendo torturado e é uma coisa grave achar que isso não existiu. Nosso país é frágil, muito desigual, e qualquer coisa que aconteça para desequilibrar essa dinâmica é grave. Quando o governo começa a agir contra o povo é preocupante. Tendemos com a internet a nos desligar do discurso coletivo e pensar só no individual. Infelizmente a nova geração está fazendo história, só no Instagram.

Você ainda participa da redação do programa?

Sim participo. Temos um cronograma durante o ano que no primeiro semestre é o momento de criação do Adnight e do Tá no Ar. Então as duas redações funcionam paralelamente e fico dividido entre as duas. No meio do ano, quando estamos no meio da gravação da Escolinha, começamos a gravar o Adnight, e no fim do ano gravamos o Tá no Ar, até fevereiro. Se eu não tivesse o apoio de bons redatores e chefes de redação, eu não teria como fazer. São programas que me orgulho, que chamo de “meus”, mas são feitos por muitas mãos.

Você pensa em ter um programa ao vivo?

Não pensava, agora que você falou, eu pensei (risos). Seria uma coisa muito bacana porque tem coisas que só o ao vivo faz. Adrenalina, emoção, rapidez, existe uma interação diferente, mas é muito complicado para e engenharia da televisão fazer um programa ao vivo.

Você brinca consigo mesmo. Você acha que seu sucesso é por não se levar tão a sério?

Acho que sim. Sempre atuei com uma grande despretensão, e isso sempre foi uma coisa que me guiou e me trouxe até aqui e estamos buscando isso no DNA desse programa.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano.

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