Juliana Caldas fala sobre a importância de sua personagem em O Outro Lado do Paraíso: “Espero que aumente a visibilidade das pessoas com nanismo”

Publicado em 17/10/2017

Em O Outro Lado do Paraíso, novela que estreia na próxima segunda-feira (23), Juliana Caldas, dará vida a Estela, filha mais nova da vilã Sophia, interpretada por Marieta Severo. A atriz, que possui nanismo, falou ao Observatório da Televisão sobre as dificuldades de sua personagem, assim como sua importância social. Confira:

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Conte um pouquinho pra gente sobre sua trajetória…

Este é o meu primeiro personagem na televisão. Eu venho do teatro infantil, que é diferente do adulto, e mais diferente ainda da televisão. A novela traz um tema muito pesado, que é a rejeição, e foi uma mudança enorme na minha carreira.

Como surgiu essa oportunidade?

Eu fui escalada a partir de testes. Abriram testes para a personagem no Rio, em São Paulo e se não me engano no Sul.

Fazer uma novela era um sonho?

Pra mim era um sonho distante, que deixei guardado. O que eu pensava mais era fazer um papel dramático, mas no teatro. Sair do estereótipo do engraçado, e partir para um tema mais dramático, e adulto. Aí veio tudo junto com essa personagem, a questão do preconceito, do nanismo, numa trama adulta.

Você já passou por preconceito?

Já. Graças a Deus nunca tive problemas em casa, com minha família e amigos, porque foi um convívio do início ao fim, na escola, e até na rua que moro. A gente vive o preconceito na sociedade de forma geral. A acessibilidade que não existe, o que para mim é um preconceito, o pessoal caçoar de você por ser anã, debochar, nesse sentido. Uma vez fui comprar um ingresso numa casa de shows em São Paulo, e pedi na área de deficientes, que não é no meio da muvuca, e a moça da bilheteria não queria me vender o ingresso, porque segundo ela, só poderia vender para cadeirantes. Perguntei “Como assim”? E ela disse “Você não é deficiente”, aí perguntei pra ela se caso um cego fosse comprar, ela iria se negar a vender também, argumentei: “Moça, se você quiser me vender um ingresso normal eu não vou enxergar nada, eu vou ver bundas”. Tive que chamar a supervisora dela, e não adiantou nada. Liguei para um advogado amigo meu e avisei que iria processá-la e processar a casa. Achei muito constrangedor não me venderem por acharem que só cadeirante é deficiente. É chato ter que lembrar as pessoas disso. A acessibilidade está começando a aparecer porque agora é lei, senão continuaria aquela coisa de “O problema é seu”.

Nos teasers da novela, já está aparecendo a chegada da Estela, sua personagem. Como tem sido as gravações?

Agora estamos gravando bastante coisa. As primeiras cenas foram difíceis tanto para mim quanto para a Marieta Severo, e conversamos bastante porque foram cenas de crueldade. Sempre que lemos as cenas que iremos gravar, conversamos antes para esclarecer quais são as dificuldades. Hoje mesmo gravei uma cena difícil para a Estela, e que não deixa de ser para mim também, pelas coisas que ela ouve. Fui conversar com pessoas deficientes sobre rejeição e saí muito mexida. São cenas muito complicadas tanto para quem ouve como para quem fala, caso da personagem da Marieta. Acredito que está sendo um bom trabalho, e feito com muito carinho, com o cuidado de respeitar o próximo.

Você acha que essa novela pode contribuir na luta contra o preconceito?

Eu realmente torço muito para que aumente essa visibilidade das pessoas com nanismo, mas também das pessoas com outras deficiências. Eu já trabalhei com moda inclusiva, e conheci muitas pessoas. Certa vez, eu pedi a uma amiga que me deixasse andar na cadeira de rodas dela, e fiquei impressionada porque é muito difícil andar em uma cadeira de rodas. Sempre quis impor esse respeito não só pelo nanismo, afinal o respeito vale para todos, até mesmo para quem não é deficiente, somos seres humanos.

Você espera que essa oportunidade abra portas para sua carreira, até mesmo para fazer uma outra novela na casa?

Claro, eu penso nisso e espero que aconteça. Mas espero que abra oportunidades para todos, porque existem outros pequenos, como eu, que são atores também. E seria interessante não só na Rede Globo, mas qualquer outro lugar, de outra emissora, produtoras, que nos veja primeiro como atores e depois como anões. O ator é isso, ele dá vida a outras pessoas. Na sociedade existem anões advogados, médicos, e claro que quero que também haja essa visibilidade e respeito pelo nosso trabalho.

Como é a Estela? Como ela lida com tudo?

Eu a vejo como muito forte, inteligente, romântica, mas não romântica que espera somente uma relação entre homem e mulher. Ela acredita no amor em relação à família dela. Ela acha que o sentimento amor é por tudo, pelos amigos, pela família, pelos estudos, pelos livros. Ela não é depressiva nem revoltada. Os irmãos zoam ela, mas como irmãos mesmo. Eu tenho um irmão, e a gente saía de porrada, e depois estávamos conversando normalmente. Mesmo ela percebendo a rejeição da mãe, ela ama aquela mãe, e acredita que é recíproco, mas que a mãe não sabe lidar com isso. Como elas são de uma família rica, a mãe mandou ela para a Europa. A Estela acredita que ela a mãe fez o melhor para ela, eu também acredito nisso, porque estudar fora foi bom para ela e gerou uma independência.

A Estela vai se apaixonar pelo personagem do Pedro Carvalho. Como é isso?

Eu sinceramente não li nada sobre isso nos capítulos, mas o amor para a Estela é bem vindo, como é para todo mundo (risos).

*Entrevista feita pela jornalista Núcia Ferreira.

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