“Galãs são meus personagens, não eu”, afirma Renato Góes

Publicado em 20/08/2017

Renato Góes está se despedindo de seu personagem, o Renato de Os Dias Eram Assim. O ator bateu um papo com nossa reportagem e revelou como se sente com o título de galã:

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De que maneira esse personagem está presente em sua carreira?

Meu embarque nessa viagem foi em novembro do ano passado quando comecei a estudar o personagem e tive uma história de amor com ele desde o início. Quando juntaram todos aqueles parceiros de cena então, foi melhor ainda, não consigo ficar cansado porque a alegria de vir gravar supre qualquer cansaço. Todo mundo está querendo caminhar junto para o mesmo lugar.

Você acredita que exista um amor tão resistente ao tempo como o de Alice e Renato?

Realmente acredito. Sou desses que quando me proponho a estar do lado de uma pessoa, é para viver uma história de amor, e acredito que se escolhi começar é porque acredito que aquela possa ser a mãe dos meus filhos e a pessoa para a vida toda. Na minha família, tive exemplos de pessoas que viveram no mínimo 10 anos juntas e a maioria permanece junta. Sou romântico à moda antiga e acredito que amor é parceria e concessão.

Você está namorando?

Não.

Você já teve uma Rimena na sua vida?

Na verdade, nunca tive um relacionamento tão longo.  A Rimena é a parceira de uma vida, então nunca tive uma história que eu pudesse ter algo do tipo. Eu não acho que ele deixou de amá-la, o carinho e o respeito não mudam, mas amor não é a única palavra para representar um estado que vai te completar naquele momento.

O acha que aconteceu com Renato e Rimena? Perderam o tesão?

Perder o tesão acho difícil ali, porque depois de 15 anos eles ainda transavam como no início. Acho que o tesão é uma coisa menor. Renato e Alice não escolheram acabar uma relação, ele começou aquilo com a certeza que seria para a vida toda e foi separado dela, e quando ele descobre que tudo o que fizeram ele acreditar sobre ela era uma mentira ele pensa: “Nossa, aquele amor gigante não teve motivo para acabar”, então ele passa a se dar o direito de viver aquilo, e podem surgir duas opções: Ou ele termina com aquela pessoa que ele está para tentar viver o que não viveu, ou continua com quem ele está imaginando como seria correndo o risco de deixar cinza um relacionamento que sempre foi azul. A Rimena nunca ocupou o lugar da Alice no coração do Renato, talvez ela até teve um lugar muito maior. Não tem como ele dar as costas para um amor que ele não pôde viver. A série inteira é muito possível inclusive pela forma como estabelecemos a relação dos dois. Acredito nessa retomada entre Alice e Renato devido ao que foi construído entre eles antes.

Ele descobre que é pai do filho da Alice. Como vai ser daí em diante?

Só ladeira abaixo no bom sentido. Uma coisa atrás da outra e essa é a maior delas. Imagina como é descobrir mais uma mentira, e da única pessoa que ele esperou que não mentisse para ele.

E tem o irmão que também mentiu para ele…

No caso não é nem uma mentira. O Renato nunca perguntou se o Gustavo traiu ele. Mas se acredita de verdade no amor dos dois, ele tem que perdoar.

Você perdoaria?

Esses dias eu li os capítulos que chegaram em relação a isso e pensei “Nossa, o cara vai atrás do amor da vida dele, pensando se vai magoar a outra e ela está lá transando com o irmão dele.” Isso me causaria revolta, mas é um ponto de vista egoísta. Preciso ver o que eu estaria causando nela nos últimos 5 anos, ela sabendo que uma outra mulher pode chegar em mim a qualquer momento e eu balançar. Perceber que ela está num país que não é o dela, com um cara que ela vê ali livre como ela, que era a história dele ter ido pra lá, um cara que tem aquela sede de vida que eu tinha quando cheguei no Chile e ele tem até hoje, e ela enxerga nele uma paz, um respiro. Tudo isso precisaria ser levado em conta.

Velho Chico era mais lúdico, o Renato já tem uma outra pegada que te coloca num patamar de galã.

Eu costumo atribuir isso unicamente ao personagem.

Isso não mexe com a sua vaidade?

Nem um pouco. Primeiro porque trabalho pra caramba, e vivo muito mais a minha responsabilidade com o trabalho do que se isso vai reverberar lá fora, então amanhã eu vou fazer um personagem no cinema que não vai dar às pessoas o mesmo sentimento que elas têm ao ver o Renato. Essas duas mulheres lindas que são a Rimena e a Alice dizendo que são apaixonadas por esse cara, qualquer um acredita, então tem uma série de coisas que ajudam. Entre séries e novelas, já fiz 9 trabalhos na Globo e muita gente nem se lembrava de mim. Eu atribuo esse rótulo de galã aos personagens. O Velho Chico foi menos tempo, mas foi um boom muito grande, era um herói épico, aqui um herói mais humano. Daqui a pouco irei estrear o filme sobre o Planet Hemp nos cinemas, em que interpreto o Marcelo D2, que vai ser outro impacto, diferente do Renato.

O rótulo te incomoda?

Não é a questão do rótulo, mas dar mérito ao personagem que estou vivendo naquele momento e não a mim.

Para você como é fazer essas cenas de maior intimidade?

Para mim a grande afinidade que eu tive com a Sophie Charlotte foi no primeiro dia de preparação com o Chico Accioli. Estávamos fazendo um exercício em que cada um andava para um lado da sala e nos conectávamos com o olho, e foi naquele momento que pensei: “Putz, a gente tem o olhar”, e nunca conversei isso com ela, mas creio que a gente tem mesmo essa conexão pelo olhar, e esse foi o nosso grande ganho. E essa entrega, quão mais respeitosa é, mais verdadeira fica na tela. Com a Maria Casadevall foi diferente, porque ela só entrou dias antes da gente viajar para gravar no Chile, porque seria a Carol Castro, e quando isso aconteceu, a história se deu mais ou menos como se deu no papel porque tive pouco tempo para conhecê-la. Como era uma viagem e todos nos demos bem, e a parceria que o Renato precisava ter com a Rimena, eu e a Maria também tivemos.

Você alcançou um lugar de maior visibilidade. Como é isso para você?

Eu sou bastante reservado e você pode ver até pelas minhas redes sociais. Eu não exploro muito o lado do Renato como pessoa, porque acho mais justo explorar o personagem que eu estiver fazendo. Se todo mundo me conhecer muito como pessoa, quando eu quiser usar a mim mesmo como inspiração, não vai funcionar. Claro que eu não fecho os olhos para o que está acontecendo, estou fazendo um personagem que é um sucesso, e o lado ruim ainda não vivi. Trabalho tanto, se tem alguém que me para e fala bem do trabalho, aquilo me revigora, e me dá força para continuar. Estou nesse personagem há 10 meses, é uma entrega muito grande. O tipo de abordagem comigo nunca foi “Você é isso, você é aquilo”, e isso me deixa feliz porque as pessoas sempre chegam para falar como elas gostaram e se identificaram com algo. A coisa de você achar ruim a exposição, você tem que se avaliar e eu cuido disso em mim, tanto nos meus passos quanto no tipo de divulgação que faço do meu trabalho.

Você lida com crianças na série. Isso aflorou em você a vontade de ser pai?

Talvez não aflore, mas isso mostre a vontade que já tenho. Falo para os meus amigos há dois anos que quero ser pai, mas comigo a história é diferente porque vai ter que ser com aquela pessoa, uma vontade dos dois, mas é um desejo que tenho em mim. Sempre tive relação boa com crianças, e agora mais ainda. Até chorei quando foi o último dia de gravação do Matheus, que fazia meu filho.

As cenas que vocês fazem são muito intensas. Você consegue ter aquela chavinha que você desliga para sair do personagem ao terminar uma gravação?

Engraçado isso, porque outro dia eu tava saindo aqui, e me perguntaram “Tá tudo bem?”, e eu estava distraído, mas era por isso, eu estava dentro do personagem ainda.

Como você faz para as cenas mais fortes, de choro por exemplo?

Acho que o cinema trouxe para a televisão nas séries, superséries, novelas das 23h, muita verdade. Não existe técnica para chorar, e sim concentração, e focar na dor do seu personagem. Não concordo com métodos do tipo “lembre de alguma coisa”.

Esse cabelo grisalho é seu mesmo?

Não. É feito pela produção.

Como será o filme do Planet Hemp?

Na verdade o filme é um recorte de 3 anos da vida do Marcelo D2 e do Skank, antes do primeiro CD ser lançado. Marcelo era camelô vendendo camisas no Largo do Machado, e os pais faziam pressão para ele sair de casa. Ele e o Skank se conheceram e foram fazer um show na Igreja. É uma história de amor, de uma amizade verdadeira entre esses dois caras. O Marcelo disse que até hoje acorda e pensa “Vou ligar pro Skank”, e se lembra que ele morreu há 20 anos, pra gente ver como esse cara foi importante na vida dele. Acho que o filme terá o nome de Legalize Já, mas não é a legalização da droga, e sim legalização de tudo, da liberdade de expressão, sem preconceito racial, de gênero. Até no filme tem uma passagem que eles se questionam se vão fazer música sobre maconha e dizem “Não, vamos fazer música sobre amor, sobre sentimentos”. É um filme muito mais bonito que pesado.

*Entrevista realizada pela jornalista Núcia Ferreira

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