“É a personagem que tive mais prazer em fazer”, diz Regiane Alves sobre Marli, da série Cidade Proibida

Publicado em 28/08/2017

Regiane Alves está de volta à TV após participação na novela A Lei do Amor. A atriz viverá a prostituta Marli na nova série Cidade Proibida, que estreará na Globo em breve. Em entrevista coletiva, a atriz contou como é fazer uma personagem tão diferente de outras que já interpretou na telinha:

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Pode adiantar um pouco da personagem?

Ela se chama Marli, é uma mulher independente e tem até um figurino que é um pouco à frente da época dela. Ela trabalha, tem a paixão dela pelo Zózimo (Vladimir Brichta), então tudo foi pensado para que ela tivesse à frente de seu tempo, esse cabelo que é meio anos 70, mostra isso. Foi muito bacana criar uma prostituta chique sem cair no clichê. Geralmente as séries e novelas mostram prostitutas com cabelão, e aqui conseguimos mostrar que é possível ser sensual sendo diferente.

Tem cenas sensuais? Como foi para você?

Tem sim. Foi bom, porque faz parte da história. Ela sempre foi apaixonada por ele, acredita ser a mulher dele, e tem algo engraçado na história também porque todo mundo se encontra nesse bar que é o bar Sereia, que é o submundo desses personagens, e a Marli é aquela que transita entre a sociedade e o submundo, e ela sempre está ali para tirar alguma informação. As cenas picantes que tiveram eram pertinentes para aquele momento. Tem mulheres lindas, fala de traição, assassinato, suspense.

Cabelo influencia muito. Você mudou alguma coisa em relação aos seus cuidados?

Amei o cabelo, aposentei todas as minhas escovas, o problema é ter que cortar de 20 em 20 dias. Demos uma valorizada nos brincos, que aparecem um pouco mais, a boca. Como estou usando muita maquiagem agora, tenho um cuidado com a pele de tirar a maquiagem, usar protetor solar sempre. Na série uso várias perucas, como disfarces para ajudar o Zózimo, ou em flashbacks.

Como é viver essa mulher de época com toques modernos?

Hoje a gente vive com o feminismo muito presente, e tenho o privilégio de ter todas as informações, então, tem coisas que eu vivo hoje, que vejo nela na década de 50, como morar sozinha. Ela recebe o dinheiro dela, ela está com ele e diz: “Preciso ir embora porque tenho que fechar a cota do dia, e não tem negociação”; tem um relacionamento aberto ali, e, é ótimo se colocar assim, porque quem assiste à série está em 2017, mas é uma mulher que já dava sinais do que estamos vivendo hoje.

Você acha que é sua personagem mais ousada até hoje?

Talvez, acho que sim. Acho que é a personagem que une várias coisas, é engraçada, apaixonada, solta umas coisas que ajudam ele na investigação. É uma puta que vira uma heroína, porque ela sempre ajuda a solucionar os crimes, e é a única mulher no meio de três homens. Essa é a personagem que mais estou tendo prazer em fazer. Os 12 episódios foram todos muito bem pensados.

Como está sendo atuar em uma série, já que você tem feito muitas novelas nos últimos anos?

Fazer uma série hoje em dia na Globo é o que todo mundo deseja. Venho fazendo tantas novelas, minha primeira série foi lá atrás em A Muralha, então acho que é uma oportunidade muito especial. Estamos todos muito empolgados com o projeto.

Como foi seu processo de composição?

A gente teve muitas referências de filmes para entender o que era o estilo noir, o suspense dessa época. Tive a oportunidade também de conversar com uma prostituta da época, que me explicou como era a prostituição em bordeis da época. Fiquei três horas conversando com ela, e ela me explicou que naquela época não era comum as mulheres ficarem nas ruas. Foi muito interessante entender como eram os valores, e como ela era integrada. Os prefeitos, e políticos iam nos bordéis em reuniões secretas, e as prostitutas captavam as informações deles, existia um glamour e não uma vulgaridade. Muita gente pensa que a prostituta está lá porque precisa de grana, mas muitas vezes não é assim, e me fortaleceu fazer uma prostituta que não estava dentro do clichê que temos no imaginário.

Em que situação você contrataria um detetive particular como o Zózimo?

Que difícil isso. Se eu tivesse muito desconfiada, eu realmente contrataria, mas acho que se chegar a esse ponto de contratar alguém, é porque algo já não está bem.

O Zózimo respeita a Marli como mulher?

Ele paga ela e tenta pagar o táxi embora ela nunca aceite. Ele faz porque acha mais profissional assim, mas tem uma relação que ela sempre dá dica sem querer para resolver uma situação dele. No decorrer dos episódios, ele irá chamá-la para trabalhar com ele. Ela sempre se coloca na posição de mulher dele, inclusive em um dos casos que ele vai resolver, ela finge que é realmente esposa dele.

Como foi a imersão nesse processo?

O bacana no processo de pesquisa foi poder enxergar a prostituição como uma profissão como outra qualquer sem o preconceito que às vezes a gente tem, o respeito, entender que eles precisam dos mesmos direitos de trabalho que todo mundo.

Você tinha esse preconceito antes?

Todo mundo tem. Quando você vem de uma cidade do interior, ouvir: “Fulana é prostituta”, era como se fosse um grande xingamento. A sociedade colocou isso, e agora começo a respeitá-las. Conversei com uma ex-prostituta de 70 anos, a dona Lourdes, que me disse que tinha saudade daquela época, e tinha orgulho.

Hoje em dia o preconceito continua muito presente em nossa sociedade, né?

Eu acho que hoje a gente vive um preconceito em relação a tudo, sempre tem um julgamento. Temos que respeitar, cada um tem direito de fazer o que quiser a não cabe a gente julgar se a pessoa é puta, se é gay, se não é. Precisamos aprender a respeitar o próximo. Esse trabalho me colocou num outro lugar.

Você acredita em relacionamento aberto?

Não sei. Ainda não estou preparada (risos).

Era um tipo de personagem que faltava em sua carreira?

Eu queria muito poder fazer uma série, agora que a Globo está investindo em séries, é um formato que estamos consumindo, somos fãs de Netflix, e tive a sorte de trabalhar com o Maurício, que é preciso, cuidadoso com todo mundo, e me vejo muito acarinhada, e bem recebida nesse projeto.

O ritmo é muito diferente de uma novela, né?

Tem o ritmo de cinema, mas são cenas menores. Eu acho que a gente passa a ter mais cuidado nas cenas, e por ser uma obra fechada, você trabalha mais e pensa mais pra onde vai. Fizemos uma preparação com a Daniela Carmona. Na novela por ser obra aberta, você nunca sabe para que lado o personagem vai.

Você disse que não colocaria detetive atrás do seu marido. Mas se você vai ao banheiro, o Whatsapp dele está lá apitando, você não olha?

Quem nunca fez isso?. Aposto que você já fez também, não é? Acho um perigo isso, porque às vezes você não sabe o contexto do papo, aí você pega uma frase e já fantasia. “Estou com saudade”, mas do quê? Como dizem, é melhor não procurar, senão vai achar.

*Entrevista realizada pela jornalista Núcia Ferreira

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