Ricardo Pereira comemora versatilidade de seu personagem em Novo Mundo

Publicado em 30/07/2017

Há quase 14 anos no ar em novelas brasileiras, o ator Ricardo Pereira comemora a nova fase de seu personagem Ferdinando, da novela Novo Mundo. Em entrevista para o Observatório da Televisão ele fala da importância do intercâmbio entre atores brasileiros e portugueses, e da recente parceria com Julia Lemmertz em cena:

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A Greta chegou e se aproximou de seu personagem, Ferdinando. Como ele recebe a aproximação dessa mulher?

Eu acho que para o Ferdinando é muito importante a entrada dela, não só pela mudança do visual. Ele se perdeu muito depois da mulher ter morrido, se encontrou espiritualmente, se apaixonou pela Diara, mas se prende aos valores que ele defende para não passar por cima do Wolfgang. A Greta é uma mulher que vai despertar diferentes sentimentos nele, a começar que ela é da Europa como ele, viúva como ele, tem um toque totalmente diferente. É o ponto de partida para esses personagens se aproximarem, e ela começa a influenciar o pensamento dele e levar ele onde ela quer. Ela sabe o manipular muito bem, e ele é um homem inocente nas relações humanas;

Como essa relação entre os dois foi trabalhada?

O cara é apaixonado pela natureza, teve uma mulher na vida, teve sentimentos que ele controla de forma primária. Trabalhamos muito em cima da presa e do predador, e a Julia Lemmertz faz esse papel de um jeito muito bacana, tanto que ela muda visualmente ele, o que foi importante pra mostrar o domínio que ela tem sobre ele. A arte que ela tem de manusear a navalha também era importante, porque ela vem de 3 maridos que morreram antes. São detalhes que eles quiseram mostrar agora, pra ver lá na frente o que vai acontecer. Ela tem uma capacidade de dominar ele, e ele se entrega. Há um olhar muito intenso dos dois.

Existe esse encantamento dele por ela?

Eu acho que sim. Como os autores escrevem algo tão bacana, a gente cria esse conflito do Ferdinando aparecer na casa do Wolfgang e morar lá e entrar essa outra peça no jogo, que quer o dinheiro do irmão, e se encanta por ele. Não sabemos se ela realmente se encantou por ele ou o está usando para chegar a outro fim. O bom dessa história é que tem várias possibilidades, e a entrada da Greta, que já estava prevista na sinopse deu esse frescor.

A impressão que temos é que você fez várias novelas dentro de uma só.

Eu tive a possibilidade de fazer 3 novelas dentro de uma, o que para mim é um contraponto total de Liberdade Liberdade. O Ferdinando é um personagem muito humano, com outro ritmo. Quando fui fazer o laboratório no meio do mato, eu percebi que as pessoas quando estão no meio do mato têm um outro olhar, outro respirar, outra forma de falar e queria fazer isso. Se todo mundo fala numa velocidade, eu tenho que falar numa velocidade inferior. O olhar dele é mais encantado, então a possibilidade de chegar na corte, com uma natureza incrível em torno, para ele foi lindo. A sequência da mata foi ótima, o desespero da morte da esposa foi fulminante. E o momento com os índios, foi muito pesado de se gravar e gradualmente ele está se abrindo. Ontem vi no ar o capitulo em que ele volta a sorrir, que é algo que tínhamos marcado para acontecer. E artisticamente esse personagem é muito importante pra mim. Acho que ele ajuda também a mostrar a passagem de tempo da história. Eu não cortava a barba desde novembro do ano passado. Eu estava um animal, e essa entrega como ator é boa. A possibilidade de compor densamente o personagem.

Essa é uma trama ágil, e sem barriga…

Toda hora acontecem coisas. Recebemos o bloco 22, e a Julia Lemmertz me perguntou “Você já leu o 22?” Ela me botou pilha, e hoje à noite irei ler tudo. Os autores são muito inteligentes, eles gostam de criar e dividir as ações. Os núcleos vão correndo com muita ação ao mesmo tempo, e tudo tem história. Esse movimento é uma das características que comprova o sucesso dessa novela. Algo em permanente mudança.

Como está sendo a parceria com a Julia Lemmertz?

É um prazer. A gente já se conhecia fora daqui. Ela é de uma entrega brutal, exatamente como eu gosto. A gente ensaiou antes de fazer essas sequências mas foi muito fácil, nos encaixamos no tempo de diálogo um do outro.

Para você foi um alívio essa mudança de visual?

Tirei cabelo e a barba. Essa é a minha profissão, então já estou acostumado. Quem sofre com isso é o pessoal que tenta tirar foto comigo (risos). Eu sou daqueles que se entrega à atuação e à possibilidade de criar figuras diferentes.

Você emendou um trabalho no outro, mas está vindo um bebê a caminho. Você vai descansar para ficar mais perto da filha?

Ainda vou estar aqui quando ela nascer, vai ser no começo de setembro, e vou tentar curtir esse momento porque são momentos muito especiais, mas assim que terminar a novela estarei em outro trabalho. Terei tempo de dar carinho para minha mulher, minha filhota nova e introduzir ela com os dois irmãos. Dou graças a Deus por emendar trabalhos, e realizar coisas incríveis que têm me feito evoluir.

Você se sente orgulhoso de ter conseguido abrir porta para outros atores portugueses realizarem trabalhos no Brasil?

Sim, vai vir o Pedro que fez Escrava Mãe fazer a próxima novela das 21h. O bacana disso é que estou aqui há tanto tempo, e realizando trabalhos tanto no Brasil como em Portugal, os diretores sempre começam a me perguntar o que acho de determinado ator ou me pedem indicações, e me sinto honrado em ser uma espécie de embaixador dos dois países, tanto de atores, como autores, e diretores de teatro. É importante trocarmos culturalmente.

O grande público brasileiro, não te reconhece mais como o ator português, e sim como Ricardo Pereira. Você sente que ganhou o carinho do público como se fosse naturalmente brasileiro?

Se eu passear em Portugal, e tiver algum brasileiro lá, eles dizem “Olha o nosso Ricardo”. Outro dia estava numa loja em Portugal e um brasileiro falou isso, daí um senhor português corrigiu: “Não não, ele é português, ele é nosso”, e isso acho muito bacana. Antes de mim vieram alguns atores, e depois de mim também. Eu já fiz novela com 3 ou 4 portugueses no mesmo elenco. E também ajudei, num seriado que estão fazendo em Portugal com atores brasileiros, com o Pandolfo, e Marcos Pasquim. Já me sinto brasileiro, porque o acolhimento profissional e pessoal aqui foi 300%, sinto que aqui é a minha casa. As pessoas me veem como ator e não mais como português, o que me permite fazer diversos personagens, o que era meu grande objetivo.

Você fala quantas línguas?

Quatro. O português, o inglês e o francês aprendemos de forma obrigatória em Portugal. Quando preciso fazer algo em espanhol, como fiz um filme, contrato um professor para aperfeiçoar o sotaque e mando bala. Tudo na vida exige trabalho, como dizem “até para se ter sorte se tem trabalho”.

Você gosta de se assistir?

Eu gosto, não tenho problema com isso. Hoje não tem mais essa necessidade de assistir no horário e assisto pela Globoplay depois. Marco algumas das minhas cenas, para assistir depois quando posso. Essa análise, a gente deve fazer às vezes para se enxergar. Gravamos muitas cenas seguidas e não nos vemos, então chego em casa e me assisto para ver onde posso melhorar. Existe uma frase que é “Morrendo e aprendendo”, então até o final, temos sempre que melhorar.

 *Entrevista realizada pelo jornalista André Romano.

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